UTILIZAÇÃO DO GPS NO FUTEBOL

May 27, 2016 | Author: Eliana Santarém Quintão | Category: N/A
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UTILIZAÇÃO DO GPS NO FUTEBOL

Fernando da Silva Bonin 1 Gustavo Ricardo Schütz 2

RESUMO

O GPS é uma tecnologia que está sendo inserida no futebol com o objetivo de alcançar um melhor desempenho físico e tático. O presente estudo teve como objetivo verificar a utilização e os benefícios que o GPS pode trazer para o futebol, praticantes, treinadores e preparadores físicos. Foi realizada uma revisão sistemática sobre a utilização do GPS no futebol no banco de dados e livros. Verificou-se que o GPS é um importante instrumento para a utilização no futebol e que sua utilização vem crescendo cada vez mais para ajudar tanto na melhora do desempenho em geral quanto específico para cada jogador. Pode-se constatar também que o GPS mede as distâncias percorridas pelos atletas com precisão e é um instrumento válido e fidedigno. Palavras-chave: Futebol, GPS (Sistema de Posicionamento Global).

1

Graduando do curso de Licenciatura em Educação Física do Centro de Ciências da Saúde

e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina. 2

Orientador. Professor do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do

Estado de Santa Catarina.

2

INTRODUÇÃO

O Futebol é um jogo desportivo coletivo, no qual os jogadores estão agrupados em duas equipes numa luta incessante pela conquista da posse da bola, com o objetivo de introduzi-la o maior número de vezes possíveis na baliza adversária e evitá-los na sua própria baliza (CASTELO, 2004). O Futebol não se limita a apenas um jogo, mas a um espetáculo excitante e uma atividade comercial, com aspectos políticos, sociológicos e econômicos que tornam o jogo uma atividade profissional, e pela sua importância, objeto de estudo da investigação científica (ALI, 1988). Os

treinadores,

preparadores

e

pesquisadores

têm

aumentado

as

informações sobre o desempenho individual ou coletivo dos seus jogadores e equipe, que vão desde o simples registros a lápis e papel até à tecnologia mais sofisticada (FRANKS, MCGARRY, HANVEY, 1999). A tecnologia está presente em vários segmentos do nosso cotidiano e seu crescimento trouxe grandes benefícios à vida do ser humano. De igual forma, na área esportiva, a tecnologia se mostra uma verdadeira aliada ao meio. Um dos primeiros estudos para análise no futebol foi desenvolvido por Reilly e Thomas (1976) onde os pesquisadores acompanharam jogadores e usaram a estimativa visual e um gravador cassete para determinar a distância percorrida em uma partida de futebol. Para isto, determinou-se o comprimento médio de uma passada do atleta ao andar, andar de costas, trotar, correr e corrida em velocidade máxima. Withers et al. (1982) usaram a mesma técnica, com algumas melhorias e conseguiram medir o movimento lateral e o trotar para trás. Erdman (1991) após a filmagem utilizou-se um aparelho de vídeo-cassete para reprodução quadro a

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quadro, uma folha quadriculada adaptada ao monitor de TV e uma folha quadriculada maior na qual eram transcritos os pontos de correspondência relacionados a um determinado jogador. As informações foram anotadas a cada segundo durante 5 minutos. A partir dos dados sobre a posição do jogador em função do tempo, obtiveram-se os dados sobre a velocidade e a aceleração. A análise por meio de imagens mostrou ser um método prático para análise e com isto alguns métodos foram desenvolvidos nesta técnica. Ohashi et al. (1987) apresentaram um método onde apenas um jogador é observado de cada vez e determinar sua posição por técnicas de triangulação. D'ottavio e Tranquilli (1993) utilizaram a mesma técnica de triangulação e conseguiram identificar a posição do jogador em função do tempo, aceleração e velocidade. Intille e Bobick (1994) acrescentaram o rastreamento automático de trajetórias e identificação de jogadas. Choi et al. (1997) desenvolveram um método para rastreamento automático de trajetórias. Needham e Boyle (2001) utilizaram o método de armazenagem de informações dos jogadores a serem rastreados e ocorre com a identificação do jogador, trajetória percorrida e o conjunto de trajetórias. Apesar dos incrementos ao sistema de análise por imagens, ainda tem muito a ser feito. Os estudos com a utilização de sistemas de vídeo têm obtido resultados quantitativos sobre os jogadores durante uma partida completa. É um método que pode apresentar bastante precisão na obtenção da trajetória realizada pelo jogador Misuta (2004), mas há uma limitação quanto à operacionalização para obter os dados de todos os jogadores, onde o processo de digitalização das imagens aumenta consideravelmente o tempo para obtenção dos resultados. Contrário a esta limitação, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) auxilia na velocidade de obtenção desses dados.

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Inicialmente, Schutz e Chambaz (1997) apontaram algumas vantagens da utilização do GPS na localização humana como: portátil, não invasiva, medição contínua, acesso livre aos satélites, dados poderiam ser armazenados. As primeiras pesquisas validadas com o GPS são de medições de velocidade, posição e distância entre os atletas de orientação e mostrou que GPS forneceu informações precisas sobre a rota percorrida e a velocidade do atleta quando comparado com cronometragem (tempo medido) (LARSSON, 2001). No futebol de alto rendimento, autores evidenciam a utilização da tecnologia para obter dados sobre o desempenho de cada jogador durante uma partida de futebol. Fantato, citado por Camarão (2009) fala que tem se aperfeiçoado a questão da mensuração do desempenho dos atletas no quesito de deslocamento, movimentações, etc., e de forma geral busca-se mapear o que o jogador faz no campo, deslocamentos, aceleração, velocidade, percurso, com objetivo de melhorar os processos de treinamento. Assim, pela recente evolução tecnológica e emprego, este estudo teve como objetivo apontar a utilização do GPS para análise no futebol, destacando contribuições, validade e limitações deste sistema.

MÉTODO

Este trabalho pode ser descrito como um trabalho de revisão bibliográfica do tipo revisão sistemática. Uma revisão sistemática, segundo Clarke (2001), responde a uma pergunta claramente formulada utilizando métodos sistemáticos e explícitos para identificar, selecionar e avaliar criticamente pesquisas relevantes, e coletar e analisar dados de estudos incluídos na revisão.

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Foram coletados artigos científicos em banco de dados eletrônicos (Scielo, Lilacs, Pubmed), além de teses e dissertações. Foram coletadas publicações de 2000 a 2011, de língua portuguesa e língua inglesa, através das seguintes palavraschave: futebol, soccer, GPS, Sistema de Posicionamento Global, Global Positioning System. Inicialmente foi realizada a leitura dos resumos, sendo elegíveis os trabalhos que tratassem de processos de validação, aferição do GPS e/ou que este fosse aplicado diretamente como instrumento de pesquisa.

RESULTADOS

Optou-se num primeiro momento em caracterizar o desporto futebol em relação as demandas envolvidas e as bases do sistema de GPS de uma forma geral. Na sequência é destacado o uso do GPS no futebol e por fim, baseados em critérios de cientificidade de um instrumento, são apresentadas as publicações consideradas elegíveis conforme critérios descritos anteriormente.

Futebol O futebol de campo é um desporto de equipe jogado entre dois times de 11 jogadores cada um, dois assistentes e um árbitro que se ocupa da correta aplicação das normas. É jogado num campo retangular gramado, com um gol em cada lado do campo. O objetivo do jogo é deslocar uma bola através do campo para introduzi-la dentro do gol adversário, ação que se denomina gol. A equipe que marca mais gols é a vencedora (LOPES; MARESCA, 1992).

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Para Cunha (2003), o futebol é um fenômeno mundial jogado em mais de 203 países e independe de idade, gênero e nível técnico. Muitas qualidades são exigidas para o bom desempenho de um jogador de futebol como força, explosão, velocidade, resistência anaeróbia e resistência aeróbia (SANTOS; SOARES, 2001). A busca desenfreada pelo sucesso no futebol tem levado treinadores e dirigentes a perseguirem os melhores meios existentes de alcançar uma melhora no desempenho (CARLING, 2001). Sabemos que graças à observação e recolha de informação através dos nossos sentidos, e mais concretamente da visão, treinadores, professores e desportistas extraíram de situações e ações motoras, dados qualitativos e/ou quantitativos relevantes sobre o desenvolvimento e execução das mesmas (CANTÓN; CONTRERAS; ORTEGA, 2000). O futebol compreende vários tipos de deslocamentos, embora a caminhada e o trote sejam predominantes. É necessário treinar a capacidade aeróbica para que os jogadores possam se movimentar, durante os 90 minutos, com períodos de movimentos de alta intensidade, como acelerações em pequenas distâncias (YAMANEKA; ASAMI; TOGARI et al., citado por PERES, 1996). A compreensão da carga fisiológica imposta aos atletas profissionais de futebol em função da posição (perfil de movimentação, distância percorrida, intensidade de corridas, sistemas energéticos predominantes) é fundamental no desenvolvimento de programas de treinamentos específicos (DI SALVO et al., 2007). Em relação às distâncias percorridas, a maioria dos autores têm o mesmo conceito. Para Bangsbo et al. (1991), Tumilty (1993), Reilly (1996), Reilly et al. (1999), Caixinha et al. (2004) e Di Salvo et al. (2007) a distância média percorrida pelos jogadores, nos últimos 20 anos, tem se mantido entre 8.000 e 12.000 metros.

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Na maioria dos estudos realizados, entre os jogadores de linha, verificou-se que os meio-campistas percorrem maiores distâncias, enquanto que os defensores são os que percorrem menores distâncias e efetuam grande percentagem destas distâncias de costas ou de lado (BANGSBO et al., 1991; EKBLOM, 1986; REILLY et al., 1998). Ainda segundo Ekblom (1986), os meio-campistas percorrem 5% (10.600m) mais que os atacantes (10.100m) e defensores (9.600m). Complementando esse estudo, Bangsbo et al. (1991) analisaram o tempo que os atletas permaneciam parados durante o jogo e verificaram que os meio-campistas encontravam-se parados durante 14,4%, os atacantes 17,9% e os defensores 21,7% do tempo total de jogo. Os mesmos autores ainda identificaram diferenças na distância percorrida em baixa velocidade, com os meio-campistas percorrendo 3.730m, os atacantes 2.550m e os defensores 2.040m. Em outro estudo mais detalhado Pinto (1991), Rebelo (1993), Bangsbo (1994b), Campeiz (1997), Valquer (2000), Barbanti (2001), Mohr et al. (2003) obtiveram as seguintes distâncias, apresentadas na tabela 1:

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Tabela 1: distâncias obtidas em relacao a ação e posição expressa em metros [m] AÇÕES

Goleiro

Zagueiro

Lateral

Volante

Meia

Atacante

Corrida de velocidade

32

44 a 508

64 a 1.371

550

44 a 1.891

69 a 1.722

Corrida de baixa velocidade

500

1.268 a 1.596

1.588 a 1.737

2.000

1.840 a 2.159

1.177 a 1.752

Trote

1.096

2.258 a 3.859

2.907 a 5.392

3.380

2.864 a 6.085

2.017 a 2.769

Caminhada rápida

-

668 a 1.541

718 a 1.195

1.252

817 a 1.337

954 a 1.751

Caminhada lenta

1.348

668 a 1.541

718 a 1.195

1.252

817 a 1.337

954 a 1.751

Corrida de costas

1.024

395 a 675

476 a 670

476

146 a 507

88 a 498

Trote de costas

-

256

264

264

264

190

Caminhada de costas

-

739

428

466

466

729

Deslocamento lateral

-

88 a 398

144 a 383

113

83 a 214

45 a 268

Total

4.000

6.556 a 11.285

7.299 a 12.627

9.753

7.341 a 14.260

6.223 a 11.430

Fonte: adaptado de Junior (2004).

Como descrito no trabalho de Di Salvo et al. (2007), parado, caminhando e trotando, a velocidade máxima é de até 11 km/h. De 11,1 km/h a 14 km/h é configurado como corrida de baixa intensidade, de 14,1 até 19 km/h é corrida moderada. De 19,1 até 23 km/h é corrida em alta intensidade e após os 23 km/h é configurada de sprint.

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No trabalho de Randers et al. (2010), mostra que parado a velocidade vai até 2 km/h. Caminhando vai de 2,1 até 7,0 km/h e trotando vai de 7,1 até 9,0 km/h. Para corrida de baixa intensidade, a velocidade vai de 9,1 até 13,0 km/h e de 13,1 até 16,0 km/h é configurado como corrida em intensidade moderada. Já de 16,1 até 22 km/h é corrida em alta intensidade e para velocidades acima de 22 km/h é sprint. Em outro trabalho, Özgünen et al. (2010) trás outros números e coloca que caminhando a velocidade vai até 7,5 km/h, trotando a velocidade vai de 7,6 até 14,5 km/h e para corridas de baixa intensidade a velocidade vai de 14, 6 até 19,5 km/h. Para corridas em alta intensidade, a velocidade está entre 19,6 e 25,5 km/h e sprint para velocidades maiores que 25,6 km/h. Para jogadores de futebol de campo, não existe um consenso entre os autores sobre qual a velocidade máxima exercida pelo jogador que corresponde a cada intensidade determinada. Para jovens jogadores (
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