PRODUÇÃO DE DESENHOS ANIMADOS SURDOS COMO UM TIPO DE CÍRCULO DE CULTURA SURDA 1. palavras-chave: cultura surda; círculo de cultura; inclusão

February 12, 2017 | Author: Milton Garrido Miranda | Category: N/A
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PRODUÇÃO DE DESENHOS ANIMADOS SURDOS COMO UM TIPO DE “CÍRCULO DE CULTURA SURDA”1 Domingos Sávio Coelho 2

Resumo Educandos surdos e ouvintes do ensino básico e secundário ao construírem coletivamente “desenhos animados surdos” (isto é, narrativa em Libras filmada acompanhada do respectivo filme de animação que trata da vida do surdo) constituem um círculo de cultura onde discute-se 1) os significados de ambas culturas (ouvinte e surda) que são compartilhados nos filmes; 2) a legenda em português, os sinais que são criados pelos surdos e usados em novas narrativas que reiniciam o círculo de cultura em um novo patamar de experências vividas; 3) questões relacionadas a discriminação percebida pelos surdos, o aspecto pejorativo do termo “deficiência” atribuído a condição do surdo e dificuldade de ser reconhecido enquanto grupo cultural; 4) as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável do grupo de surdos que produzem a animação. O conceito de “círculo de cultura surda” pode ser ferramenta crucial para a criação de grupos de surdos coeso vivendo numa sociedade ouvinte. palavras-chave: cultura surda; círculo de cultura; inclusão

Introdução Surdos brasileiros compartilham significados, valores, história através da Língua de sinais brasileira (Libras). Contudo, dado que Libras ainda é pouco conhecida pelos pais que tem filho surdo, o acesso a Cultura Surda, em geral, inicia-se somente após a criança surda entrar em contato com outros surdos na escola e aprender Libras em cturmas exclusivas em que a professora comunica-se somente através de Libras. Após o aprendizado de Libras em turmas exclusivas, o estudante surdo frequenta classes inclusivas em que a professora regente verbaliza para os alunos ouvintes e a intérprete traduz para Libras o conteúdo apresentado. Desse modo, a inclusão escolar do surdo tem sido pensada tão-somente em termos de se ter um intérprete em sala de aula sem questionar o modelo de ensino “bancário” ao qual o surdo terá que se submeter. Analisando a perspectiva da educação inclusiva, Sisson (2009) ressalta que tal perspectiva chegou a impasses metodológicos (ao conceber inclusão somente para os alunos com deficiência excluindo os demais) e 1 2

Projeto apoiado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) Universidade de Brasília, Doutor, email: [email protected]

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conceituais (por exemplo, o sistema de ensino ao estabelecer como meta a inclusão de alunos de pessoas que vivem em alta vulnerabilidade social e de pessoas com deficiência assume que os demais estão incluídos, mas a evasão escolar, por exemplo, pode indicar a necessidade de conceber conceitualmente o aluno evadido como um grupo a ser contemplado por uma política de inclusão); Sisson propõe a ética da libertação freireana como modelo conceitual para se delinear uma proposta de educação inclusiva: “A inclusão deve objetivar a libertação de cada indivíduo participante do processo educativo. E a libertação é alcançada por meio de ações cotidianas do ambiente escolar inclusivo: ao desenvolver a autonomia individual, ao rejeitar qualquer forma de discriminação, ao conviver, aprender e ensinar com o diferente, em um movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Para Freire, o aprender, o pensar certo (...) é desenvolvido individualmente, em um trabalho de conscientização da realidade social pessoal e de politização, ao longo de seu movimento de libertação, pois, somente ao adquirir consciência de seu estado e ao agir para transformar essa realidade, é que um sujeito se torna livre” (pag. 58-59). Garrafa (2005) aproxima conceitualmente o conceito freireano de “libertação” com a noção de “empoderamento” do economista indiano Amartya Sen ressaltando a abrangência do conceito de “libertação” que “desvela as posições de poder e permite pressupor uma tomada de posição no jogo de forças pela inclusão social” (pag. 128) porque libertação é um conceito que se opõe a “cativeiro”, “submissão”, “privação do direito de escolha” e, desse modo, ao ressaltar ou desvelar que está em jogo não é apenas o poder mas a autonomia do indivíduo em transformar sua realidade. Segundo Maques (2007), criar um espaço para a diálogo é um ponto de ruptura necessário para se ter uma escola de fato inclusiva. O conceito freireano de “Círculo de Cultura” descreve o espaço em que ocorre o diálogo e se quebra a rotina da educação bancária iniciando o processo inclusivo de compartilhar significados entre os próprios surdos e de interação surdo-ouvinte. Como estabelecer significados comuns a serem compartilhados num Círculo de Cultura

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constituído por surdos e ouvintes de diferentes idades, níveis de escolaridade e culturas ? Animação é uma linguagem artística, predominantemente visual (prescinde muitas vezes da fala, no caso do dos filmes mudos), com características próprias e que possui a flexibilidade necessária para funcionar como meio de compartilhar significados comuns. Confeccionar filme de animação no computador é uma tarefa que permite a colaboração de várias pessoas com habilidades distintas (por exemplo, colorizar, musicar, roteirizar, fazer o roteiro gráfico, montagem...), exige de todas as pessoas envolvidas a construção de um processo dialógico oposto a estrutura burocrática e ao “modelo bancário” de ensino do sistema escolar. No Círculo de Cultura Surda ouvintes propõem que surdos criem narrativas sobre a vida do surdo para serem transformadas em filme. A criação da narrativa pelo surdo que participa do Círculo se assemelha a um processo de “descodificação” porque à medida em que o surdo explica ao ouvinte o porquê da narrativa, do tema escolhido o ouvitne começa a entender detalhes concretos da vida d osurdo em sociedade. Por exemplo, uma narrativa sobre o o surdo vai ao cinema e, após inspecionar os cartazes dos filmes disponíveis, vai a bilheteria e pergunta a vendedora se o filme escolhido tem legenda; a vendedora diz que nao tem legenda porque o filme é brasileiro; mas visto que o surdo comunica-se apenas por escrito a bilheteira pergunta se ele é deficiente auditivo. O surdo responde que ele não é deficiente, deficiente é sociedade que não permite a ele assistir ao filme escolhido. O diálogo prossegue e a bilheteira pouco a pouco se conscientiza que os filmes precisavam de legenda para o surdo. Nesse processo de “descodificação” o surdo que cria a narrativa possibilita aos demais integrantes do Círculo opinarem para que fique claro a audiência que assistirá o filme o tipo de sociedade que vivemos e o que precisa para se mudar. O “tema gerador” neste caso foi a ideia de “surdo concebido como deficiente x surdo concebido como indivíduo visual, que usa uma língua visual”. O “conteúdo programático” do Círculo de Cultura Surda é sintetizado pelo conjunto dos filmes que são produzidos pelso surdos, à medida em que estes filmes são apresentados a grupos de ouvintes, novos temas geradores, novas descodificações, novas narrativas e novos filmes são produzidos e, gradualmente, o conteúdo programático ganha novos contornos. Essa dinâmica na constituição do conteúdo programático nos parece em consonância com pensamento freireano que ressalta que os conteúdos numa situação

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dialógica não pdoem ser estabelecidos pelo educador-educando ou pelo educando-educador (Freire, 1983; 1968 e Marinho, 2009). Produção de desenhos animados via Círculo de Cultura Surda possibilita que surdos e ouvintes de diferentes níveis escolares, culturais e etários possam criar e compartilhar significados relacionados a temas comuns. A experência visual, a criação de sinais, poesia em Libras, movimentos sociais e políticos dos surdos, associações de surdos são conceituados por Strobel (2009) como artefatos da culturais do povo surdo e, Círculo de Cultura, são discutidos e, algumas vezes, são agregados a filmes de animação. As questões linguísticas (Libras x língua portuguesa) e culturais (Cultura Surda x Cultura Ouvinte) também são problematizadas no círculo de cultura e se tornam temas de narrativas a serem criadas e, a seguir, transformadas em animação. A desumanização causada pela dominação da cultura ouvinte sobre a cultura surda é substituída pela consciência de surdos e ouvintes de que é necessário buscar a humanidade do intercâmbio entre duas culturas que se respeitam e incentivam a troca de informações. O Projeto “Círculo de Cultura Surda” é um aperfeiçoamento do projeto de extensão “Desenvolvimento de um novo procedimento para alfabetização de surdos” do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) tem como objetivo desenvolver iniciativas culturais para a inclusão social e desenvolvimento sustentável de grupos de surdos através da produção de “filmes de animação surdos” ou simplesmente “filmes surdos”. Os filmes surdos são apresentados em escolas com o intuito de 1) promover a Cultura Surda e dar visibilidade ao Surdo dentro da comunidade escolar e 2) serem utilizados em salas de aula com o objetivo de minimizar as dificuldades e desafios encontrados pelos surdos no processo de aprendizagem em escolas regulares. Por exemplo, os filmes surdos apresentam contextos relacionados a conceitos que se referem a estados subjetivos (tédio, conflito, tomada de consciência etc) ou abstratos (sociedade, cultura, minoria...), tais contextos são dificíeis de serem apresentados estaticamente num livro texto ainda que sejam utilizadas fotos ou desenhos. O diferencial dos filmes surdos desenvolvidos pelo Círculo de Cultura Surda é que eles são integralmente produzidos por surdos, desde a criação da narrativa e roteiro, animação, interpretação e música. Os ouvintes (estudantes universitários extensionistas) auxiliam os surdos, capacitando-os na aquisição das habilidades necessárias para a

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produção dos filmes, discutem os conceitos que estão envolvidos na narrativa produzida, divulgam a produção dos surdos nas escolas, apresentam os trabalhos em congressos e exploram teoricamente os conceitos relacionados a Cultura Surda. Começamos a desenvolver o projeto em 2003; até recentemente, nossa atuação se restringia a escolas públicas do DF (Centro de Ensino Fundamental 214 sul e Escola Classe 114 sul e 308 sul). Os resultados surgiram logo nas primeiras apresentações dos filmes em salas de aula. Os alunos ouvintes começaram a entender mais sobre a realidade dos surdos (presenciando a criação de sinais, aprendendo sobre a Cultura Surda e sua relação com a cultura ouvinte através da linguagem) e os alunos surdos perceberam tanto as novas potencialidades como também se sentiam mais acolhidos pelos colegas de classe. Nossa atuação mostrou-se transformadora: a apresentação das animações gerava bons resultados, mas que poderiam ser temporários se o trabalho não se tornasse contínuo. Dessa forma, notamos que, tão importante quanto mostrar as animações, aproximando o ouvinte da realidade dos surdos, era existir um espaço em que o ouvinte pudesse aprender Libras e dar continuidade a interação com o surdo. Sendo assim, a partir de 2011, na Escola Parque 304 norte, passamos a convidar surdos e ouvintes para que trabalhassem juntos na criação das animações (do roteiro à edição final do filme), dentro do próprio espaço da escola. À medida em que surdos ensinam ouvintes a elaborarem filme de animação, os ouvintes aprendem Libras com o surdo de forma contextualizada. À medida em que ouvintes se apropriam da língua de sinais eles interagem com o surdo integrando-o à cultura ouvinte da escola, formando-se assim um círculo cultural entre surdos e ouvintes que quebra a barreira imposta pela língua e cultura. A meta é que as duas culturas (surda e ouvinte) e as duas línguas (Libras e português), através de filmes surdos, incrementem a diversidade na sociedade brasileira, contribuam para a redução das desigualdades sociais e o desenvolvimento sustentável de gerações de surdos trabalhando neste tipo de círculo cultural. A função dos alunos ouvintes de graduação da UnB que atuam no Projeto é a de auxiliar alunos surdos e ouvintes na realização das atividades. Esses graduandos estão presentes em diversas esferas do trabalho, tanto sugerindo temas e formas de storyboards para as construções das histórias, como também auxiliando os surdos na criação dos cursos de Libras. Enfatizamos os verbos “sugerir” e “auxiliar”, visto que a proposta é que o projeto seja um espaço para que o surdo aja com autonomia propondo narrativas, temas,

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abordagens novas para os temas relacionados a cultura surda os participantes devem ser protagonistas das ações.

Caracterização do público envolvido: 15 estudantes surdos secundaristas, 4 estudantes surdos do ensino básico, 1 estudante surdocego e 3 estudantes ouvintes voluntários do ensino básico e 2 estudantes ouvintes univeristários remunerados. Excetuando um estudante ouvinte universitário, todos os demais estudantes frequentam escolas ou universidades públicas.

Objetivos 1) Estabelecer filme de animação como um mecanismo de desenvolvimento social sustentável (para surdos e ouvintes que frequentam a escola atualmente e para as gerações futuras de surdos e ouvintes) onde Cultura Surda e Ouvinte possam interagir e compartilhar siginificados comuns; 2) incentiva grupos de surdos a se constituirem enquanto grupo produtor de filmes de animação; 3) Investigar o impacto do trabalho conjunto entre Surdos e Ouvintes sobre a) a criação de nomes (ou sinais em LIBRAS) para os personagens de filme de animação e seus respectivos estados internos psicológicos; b) a compreensão de textos narrativos em português.

Procedimento Utilizou-se o software Anime Studio na elaboração de filmes de animação. Dois computadores foram utilizados na confecção dos filmes de animação e duas filmadoras registraram as narrativas dos participantes. Semanalmente, formou-se um circulo de cultura para dialogar sobre a vida do surdo em uma sociedade predominantemente ouvinte; 2) Surdos criaram, coletiva ou individualmente, estórias que foram submetidas ao círculo de cultura para apreciação acerca de sua relevância, impacto sobre ouvintes, pertinência a cultura surda; 3) realizou-se o detalhamento de cada cena via storyboard; 4) no software foi criado a sequência a ser animada; 5) o filme foi animado; 6) filmou-se a interpretação em Libras da estória; 7) surdos e ouvintes construíram juntos a legenda em português do filme para diferentes níveis de complexidade do português (por exemplo, palavras isoladas sem preposições e artigos; palavras com artigos; palavras com preposições, artigos e verbos

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flexionados); 8) foi acrescentada música e efeitos visuais; 9) filme foi audiodeescrito para cegos e 10) exibiu-se os filmes em escolas, universidades e em telas de tv sem som disponíveis em lugares públicos e promovem-se debates sobre o conteúdo dos filmes. Os filmes surdos criados no Círculo de Cultura Surda (confira criação de um filme por um surdo em http://vimeo.com/27672058 aos 0:27 segundos) são exibidos em escolas públicas. Solicita-se, inicialmente, que a escola disponibilize aproximadamente 40 minutos para exibição do filme; após a exibição do filme promove-se o debate com professores e alunos. Surdos e ouvintes discutem o filme e ambos propõem alternativas para as questões apresentadas pelo filme, dúvidas sobre a língua de sinais, como dar continuidade ao filme, como efetivar o convívio entre surdos e ouvintes, alunos surdos e ouvintes foram solicitados a avaliarem esteticamente os filmes (por exemplo, criar um ranking de qual filme gostou mais) e, a seguir, foram solicitados a criarem outro roteiro para ser filmado etc (confira exemplo do debate na escola em http://vimeo.com/27672058 aos 11m38s). Finalizada a discussão em sala de aula, o grupo de surdos que criou o filme assiste a filmagem da exibição do filme na escola, discute o impacto do filme sobre ouvintes e toma decisões sobre a estrutura de um novo filme levando-se em consideração o efeito da aplicação a um público específico e, a partir do feedback deste público. Novos filmes são produzidos. Cópias dos filmes surdos são disponibilizadas para a escola e é distribuída na internet no site do projeto em http://vimeo.com/user7922942. Vários alunos surdos e ouvintes trabalham juntos na criação de novo roteiro que depois foi transformado em animação e exibido na escola para apreciação pelos colegas. Dado que o filme é antes de tudo um produto de entretenimento, ele pode ser exibido a um grande número de alunos simultaneamente e professores podem fazer usos diversos do conteúdo do filme. Por exemplo, cursos de idiomas tem se interessado em usar filmes de animação criados no Círculo de Cultura Surda para o ensino de espanhol e inglês para surdos (http://cilbsb.com.br/?page_id=849 ou http://cilbsb.com.br/?p=775). Trata-se de um uso não previsto inicialmente pelo projeto e indica flexibilidade dos filmes para potencial dos filmes. É de fundamental importância que a participação dos estudantes seja voluntária, uma vez que compreendemos nosso trabalho como uma oportunidade de gerar uma integração positiva entre surdos e ouvintes. Caso nosso trabalho se torne uma obrigação aos

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alunos, um efeito contrário pode ser gerado, como resistência tanto de surdos quanto de ouvintes.

Conclusão Atualmente surdos atuam em todas as etapas da criação do filme de animação: préprodução (concepção, roteiro e storyboard criados a partir de discussões no Circulo de Cultura), produção (desenho e animação) e pós-produção (efeitos e música, por exemplo) capacitando outros surdos jovens acerca de softwares de animação, criação de roteiros e conheciemnto, respeito e manutenção da Cultura Surda; qualitativamente os filmes pouco a pouco agregam efeitos disponíveis comercialmente que podem auxiliar na expresividade artística das narrativas criadas pelos autores. A apropriação pelos participantes do projeto destes recursos, ferramentas, linguagens e códigos da indústria cinematográfica tem sido norteada pelo critério de quão relevante pode ser para expressar uma ideia presente na narrativa ao invés de simples imitação. A apropriação de tais técnicas é um passo necessário no processo de autonomia dos integrantes do Círculo de Cultura Surda em direção a constituição de um grupo produtor de filmes de animação totalmente autogerido por surdos; o domínio softwares de animação onde as instruções e comandos estão em inglês, a busca por adequar os recursos disponíveis às necessidades de comunicação em Libras, a busca ativa por informações, tutoriais criam as condições para a autonomia e uma concepção colaborativa do conhecimento. Um dos surdos foi finalista do edital “nada sobre nós sem nós” do Ministério da Cultura em 2011 e recebeu prêmio de melhor iniciativa no salão de acessibilidade em Brasília.

Os “filmes de animação surdos" tem tido impacto positivo sobre familiares de surdos, alunos e professores em escolas públicas, o impacto é acompanhado, por exemplo, pelo tipo de apreciação estética que os alunos fazem dos filmes através de questionários aplicados após a apresentação dos filmes; a interação que surdos e ouvintes tem após a exibição dos filmes: as perguntas, curiosidades sobre a produção dos filmes, questões sobre o signficado da interpretação em Libras. Nas exibições na escola conseguimos incentivar

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surdos e ouvintes a produzirem filmes de animação pela primeira vez, com interpretação e legendas em português, surdos produziram storyboard de estórias criadas por eles próprios. Os filmes do projeto tem sido exibidos em centenas de telas de tv sem som instaladas em 57 universidades brasileiras com o apoio da Capes através do programa CAPESWEBTV (http://www.capeswebtv.com.br). O programa CAPESWEBTV permite distribuir os filmes produzidos no Círculo de Cultura Surda a milhares de estudantes, professores e funcionários das universidades públicas brasileiras. Este é um efeito quantitativo importante pois é possível alcançar informar futuras gerações de profissionais em diversa áreas. Vale ressaltar que as telas da Capeswebtv não tinham como meta exibir filmes sem som, nosso projeto foi o primeiro a fazer este uso destas telas que tinha como meta somente exibir informativos da Capes. O conceito de Círculo de Cultura pode ajudar a comprender o tipo de relação que está ocorrendo quando grupos culturais distintos e heterogêneos realizam uma tarefa tal como filme de animação. Se as pessoas em um "Círculo de Cultura" de alfabetização compartilham diferentes usos da palavra nova ou geradora que estão aprendendo a ler e escrever, em um "Círculo de Cultura Surda" ocorre um relação circular onde todos podem contribuir para a narrativa surda e a respectiva animação. Não se trata apenas de um grupo continuar a narrativa ou o filme iniciado por outro mas de compartilhar significados comuns e construir o saber de forma colaborativa. As limitações do Projeto decorrem do longo intervalo entre as apresentações dos filmes de animação (uma vez por mês) e domínio de Libras insuficiente que não permite maior interação entre estudantes surdos e ouvintes. O Projeto encontra-se em andamento. As apresentações de filme de animação em duas turmas de surdos e ouvintes mostrou que é possível surdos e ouvintes trabalharem em parceria na criação de narrativa em um formato dialógico, surdos e ouvintes reagem positivamente filme de animação narrado em Libras, ouvintes interagiram positivamente com estudantes surdos perguntando a eles quais o sinais dedeterminados estados subjetivos (indagando qual o sinal de tédio, por exemplo), surdos criaram sinais para estados subjetivos (foi criado o sinal para tédio), ouvintes continuaram a narrativa do filme de animação utilizando o sinal criado pelo surdos. Alguns pontos em comum com a proposta freireana seriam a busca da autonomia do aprendiz (os extensionistas são facilitadores no

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processo de criação de narrativas do estudantes surdos do 8° e 9° ano, por exemplo), o respeito tanto ao conhecimento prévio do aluno quanto ao seu contexto cultural, social, econômico e a partir deles buscar pontos de contato entre o centro de interesse do aluno e conhecimento formal da escola. Para que o Círculo de Cultura Surda contribua para o desenvolvimento sustentável de comunidades surdas algumas condições e etapas precisam ser contempladas. Atualmente, o Círculo de Cultura Surda busca parceiros para realizar estas etapas e estabelecer algumas condições. A saber: a exibição dos filmes surdos em telas eletrônicas Os filmes produzidos pelos surdos que atuam no projeto precisam ser vistos pelo público ouvinte e surdo em geral, não apenas o público escolar. O objetivo é ampliar os locais de exibição das animações além da escola buscando proporcionar visibilidade para as questões relacionadas a Cultura Surda e estabelecer parcerias para ampliar nossa atuação social. Os filmes são curtos (1 a 8 minutos de duração) e podem ser exibidos em telas eletrônicas (mídias localizadas em postos de gasolina, bancos, supermercados, academias, elevadores, metrô, ônibus, cafés, restaurantes, shoppings centers, consultórios, bares, lojas de conveniência, universidades, aeroportos, repartições públicas...). Os filmes mais longos (8 minutos) podem ser segmentados em partes menores. A exibição para grandes grupos dará visibilidade para o surdo e sua cultura, outros surdos terão conhecimento do projeto e poderão entrar em contato para participar ou criar outros tipos de círculos culturais. Desse modo, solicitamos parceria para que diversos tipos de organizações permitam a exibição dos filmes surdos em suas dependências. De acordo com o local, os filmes surdos podem prescindir de música pois o essencial é a força da narrativa em Libras.

Referenciais bibliográficos. Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 Freire, Paulo. Extensão ou Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984 Garrafa, Valnei. Inclusão social no contexto político da bioética. Revista Brasileira de Bioética 2005;1(2): 122-32.

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MARINHO, Andrea Rodrigues Barbosa. Círculo de Cultura: Origem histórica e perspectivas epistemológicas. 2009. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação)Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo MARQUES, Suely Moreira. Pensar e agir na inclusão escolar de crianças com necessidades educacionais especiais decorrentes de uma deficiência, a partir de referenciais freirianos: rupturas e mutações culturais na escola brasileira. 346 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007.

Sisson, Daya. A educação inclusiva e a ética da libertação em Paulo Freire. Revista Brasileira de Bioética, 5(1-4), 48-62, 2009.

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora UFSC. 2008

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