Polonicus. Revista de reflexão Brasil-Polônia. Edição semestral. Ano V 1-2/ CURITIBA - PR Publicação da Missão Católica Polonesa no Brasil

May 31, 2016 | Author: Manoel Levi Quintanilha Balsemão | Category: N/A
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Polonicus Revista de reflexão Brasil-Polônia

Edição semestral Ano V – 1-2/ 2014

CURITIBA - PR Publicação da Missão Católica Polonesa no Brasil

Esta revista foi publicada graças ao apoio do Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, com recursos do Departamento de Diplomacia Pública e Cultural do Ministério das Relações Exteriores da República da Polônia

Czasopismo ukazało się dzięki wsparciu Konsulatu Generalnego RP w Kurytybie, ze środków Departamentu Dyplomacji Publicznej i Kulturalnej Ministerstwa Spraw Zagranicznych RP

Doação para o fundo editorial da revista: Acir Karwowski – Uberaba – MG Maria Neusa de M. Esquef - Campos dos Goytacazes - RJ Pe. Jan Sobieraj SChr – Rio de Janeiro – RJ Tomasz Lychowski – Rio de Janeiro – RJ

Ficha Catalográfica: Polonicus : revista de reflexão Brasil-Polônia / Missão Católica Polonesa no Brasil - Ano 5, n. 9-10 (jan/dez. 2014) – Curitiba : v.; 23cm. Semestral. ISSN 2177 - 4730 1. Poloneses – Brasil – Periódicos.

Conselho Editorial: Henryk SIEWIERSKI Mariano KAWKA Piotr KILANOWSKI Renata SIUDA-AMBROZIAK Zdzislaw MALCZEWSKI SChr

Conselho Consultivo: Aleksandra SLIWOWSKA- BARTSCH – Universidade Candido Mendes – Rio de Janeiro Barbara HLIBOWICKA-WĘGLARZ – Universidade Maria Curie-Skłodowska –Lublin (UMCS) Benedykt GRZYMKOWSKI SChr – In memoriam Cláudia R. KAWKA MARTINS – Colégio Militar - Curitiba Edward WALEWANDER – Universidade Católica de Lublin (KUL) Franciszek ZIEJKA – Universidade Jagiellônica de Cracóvia (UJ) Jerzy MAZUREK - Universidade de Varsóvia (UW) José Lucio GLOMB – Ordem dos Advogados do Brasil-PR Marcelo PAIVA de SOUZA – Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcin KULA – Universidade de Varsóvia (UW) Maria Teresa TORIBIO BRITTES LEMOS – Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Regina PRZYBYCIEN - Universidade Federal do Paraná (UFPR) Tadeusz PALECZNY - Universidade Jagiellônica de Cracóvia (UJ) Thaís Janaina WENCZENOVICZ - Universidade Estadual do RS (UERS) Tito ZEGLIN – Vereador da Câmara Municipal de Curitiba Tomasz LYCHOWSKI – Instituto Brasileiro de Cultura Polonesa – Rio de Janeiro Waldemiro GREMSKI – Universidade Federal do Paraná (UFPR), (PUC-PR) Walter Carlos COSTA – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Wojciech NECEL SChr – Universidade de Card. S. Wyszynski de Varsóvia(UKSW)

Endereço da Redação: Caixa Postal 4148; 82501 – 970 Curitiba – PR. Brasil tel (41) 3528 3223 ou (41) 8862 1226 E-Mail: [email protected] www.polonicus.com.br

Coordenação editorial e editoração eletrônica Zdzislaw Malczewski SChr

Revisão do texto e tradução do polonês Mariano Kawka

Resumo em polonês Zdzisław Malczewski SChr

Projeto da capa Dulce Osinski Claudio Boczan Impressão Corgraf Gráfica e Editora Ltda. Fone: 41 3012-5000 www.grupocorgraf.com.br Os originais dos artigos, publicados ou não, não serão devolvidos. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

ISSN – 2177 – 4730

SUMÁRIO

EDITORIAL Wstęp POLÔNIA Polska Mariano KAWKA O MESSIANISMO POLONÊS E O PAPEL POLÍTICO SINGULAR DE SÃO JOÃO PAULO II ..............................................................23 Polski mesjanizm i nadzwyczajna rola polityczna św. Jana Pawła II ARTIGOS Artykuły Papa FRANCISCO HOMILIA DO PAPA NA SANTA MISSA EM AÇÃO DE GRAÇAS PELA CANONIZAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II, CELEBRADA PARA A COMUNIDADE POLONESA DE ROMA ...............................................................................................................35 Zdzislaw MALCZEWSKI SChr A CANONIZAÇÃO DE JOÃO PAULO II E A COMUNIDADE POLÔNICA BRASILEIRA .............................................38 Kanonizacja Jana Pawła II, a wspólnota polsko-brazylijska Marcin KULA UM DESCRENTE TENTA EXPLICAR O FENÔMENO “JOÃO PAULO II” ................................................................................................42 Niewierzący stara się wyjaśnić fenomen „Jana Pawła II” Wojciech NECEL SChr JOÃO PAULO II DIANTE DOS COMPATRIOTAS NO EXTERIOR ......................................................................................................47 Jan Paweł II wobec rodaków za granicą

Mons. Tomasz GRYSA O BRASIL NA DIPLOMACIA DE JOÃO PAULO II .......................................58 Brazylia w dyplomacji Jana Pawła II Regina WEBER INSTITUIÇÕES DA ÁREA DE DOMINAÇÃO AUSTRÍACA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE OS IMIGRANTES POLONESES ...................71 Instytucje na terenach okupanych przez Austrię i ich wpływ na polskich imigrantów Cecília SZENKOWICZ-HOLTMAN A NACIONALIZAÇÃO DO ENSINO E A ESCOLA DA COLÔNIA MURICI ...............................................................81 Nacjonalizacja szkolnictwa i szkoła w Kolonii Murici POEMAS Wiersze Tomasz LYCHOWSKI POEMAS DE KAROL WOJTYLA E TAMBÉM DO ENTÃO PAPA JOÃO PAULO II ............................................98 Wiersze Karola Wojtyły i także papieża Jana Pawła II TRADUÇÕES Tłumaczenia Karol WOJTYLA PENSANDO A PÁTRIA ......................................................................................108 Myśląc Ojczyzna RESENHAS Przegląd literacki Mariano KAWKA MAZUREK, Jerzy. Piórem i czynem (Pela pena e pela ação). Warszawa: Instytut Studiów Iberyjskich i Iberoamerykańskich UW, 2013, pp. 469...........................................................111

Wladyslaw MIODUNKA PALAVRA E AÇÃO NA VIDA DE CASIMIRO WARCHAŁOWSKI – PIONEIRO DA COLONIZAÇÃO POLONESA NO BRASIL E NO PERU ............................................................117 ENTREVISTAS Wywiady “ONDE FICA CURITIBA? QUERO VISITÁ-LA” ...........................................126 “Gdzie znajduje się Kurytyba? Pragnę ją odwiedzić” CRÔNICAS Wydarzenia INSTLADO O CONSULADO HONORÁRIO DA REPÚBLICA DA POLÔNIA EM PORTO ALEGRE ...............................131 Otwarcie Konsulatu Honorowego RP w Porto Alegre Zdzislaw MALCZEWSKI SChr O REITOR DA MCP PARTICIPA DO ENCONTRO DA PASTORAL DAS PESSOAS A CAMINHO DA CNBB ..................................................................133 Rektor Polskiej Misji Katolickiej w Brazylii uczestniczy w zebraniu Duszpasterstw ludzi w drodze Konferencji Episkopau Brazylii Zdzislaw MALCZEWSKI SChr UMA FESTA POLÔNICA INCOMUM NO RIO DE JANEIRO ........................................................................................137 Niecodzienne świętowanie polonijne w Rio de Janeiro Aleksandra SLIWOWSKA-BARTSCH 60 ANOS ... CUMPRIMENTO ...........................................................................144 60 lat ….. Powitanie Tomasz LYCHOWSKI 60 ANOS DA PRIMEIRA SANTA MISSA NA IGREJA POLONESA NO RIO DE JANEIRO (1953 – 2013) ..................148 60 lat pierwszej Mszy św. w kościele polskim w Rio de Janeiro (1953-2013)

Zdzislaw MALCZEWSKI SChr O PRIMAZ DA POLÔNIA EM VISITA PASTORAL À COLÔNIA POLONESA NO BRASIL ...........................................................150 Prymas Polski z wizytą duszpasterską wśród Polonii w Brazylii Zdzislaw MALCZEWSKI SChr COMEMORAÇÃO DOS 60 ANOS DA MISSÃO CATÓLICA POLONESA NO BRASIL ..........................................................................................................152 Świętowanie 60 lat Polskiej Misji Katolickiej w Brazylii EFEMÉRIDES Diariusz ANO DE 2014........................................................................................................162

Dedicatória

Com um sentimento de filial amor e gratidão diante da Pessoa do Papa João Paulo II, por ocasião da Sua canonização dedicamos-Lhe o presente número de Polonicus, no mundo polônico o único periódico de caráter científico. - Gratos somos a S. João Paulo II pela sua decisiva influência sobre a comunidade polônica brasileira no decorrer do Seu pontificado: desde a eleição para a Sé de Pedro até o Seu impressionante testemunho de uma morte cristã. - Foi Ele quem, oriundo da nação polonesa, como Sucessor de S. Pedro, pela Sua personalidade, pela Sua doutrina e pelo Seu exemplo, em meio aos emigrantes poloneses e aos seus descendentes das sucessivas gerações que vivem no Brasil, despertou a consciência e o orgulho das nossas raízes étnicas. - Graças a Ele os brasileiros de origem polonesa, sem renegarem a sua brasilidade e o amor à sua Pátria Brasil, despertaram em seus corações o sentimento de um vínculo cordial com a Polônia, país dos seus antepassados. - Com humildade pedimos a S. João Paulo II que interceda pela comunidade polônica brasileira, para que ela não perca a sua fé, o seu vínculo com a Igreja e a consciência da sua origem eslava!

São João Paulo II, orai por nós! Envolvei com a Vossa oração o Brasil, a Polônia e a comunidade polônica que vive, que crê e que trabalha no País do Cruzeiro do Sul! *** W poczuciu synowskiej miłości i wdzięczności wobec Osoby Papieża Jana II z okazji Jego kanonizacji dedykujemy Mu obecny numer tego jedynego w świecie – o charakterze naukowym - polonijnego periodyku „Polonicus”. - Wdzięczni jesteśmy św. Janowi Pawłowi II za Jego decydujący wpływ na brazylijską wspólnotę polonijną w ciągu całego Jego pontyfikatu: od wyboru na stolicę Piotrową, aż po przejmujące świadectwo chrze cijańskiej śmierci; - To On z polskiego rodu, jako Następca św. Piotra, swoją osobą, nauczaniem i przykładem wśród imigrantów polskich oraz ich potomków w kolejnych pokoleniach żyjących w Brazylii obudził świadomość i dumę ze swoich korzeni etnicznych. - Dzięki Niemu Brazylijczycy polskiego pochodzenia nie wypierając się swojej brazylijskości i miłości do swojej Ojczyzny Brazylii wzbudzili w ich sercach poczucie serdecznej łączności z Polską, krajem ich przodków. - Z pokorą prosimy św. Jana Pawła II, aby orędował za brazylijską wspólnotą polonijną, aby nie zatraciła wiary, przynależności do Kościoła i świadomości swojego słowiańskiego pochodzenia! Święty Janie Pawle II, módl się za nami! Otocz swoją modlitwę Brazylię, Polskę i wspólnotę polonijną żyjącą, wierzącą i pracującą w Kraju Krzyża Południa!

EDITORIAL Ao entregarmos aos nossos prezados leitores este número duplo da nossa revista, expressamos o pesar pelo fato de que, infelizmente, por falta de suficientes recursos financeiros, não tivemos condições de editar separadamente os dois números. As palavras que escrevi no Editorial do número anterior (7-8)/2013 deveriam ser repetidas também aqui. Mas não vamos nos queixar da falta de compreensão para o nosso periódico nas instituições polonesas ou do visível declínio, em meio às pessoas de origem polonesa, do sentimento de responsabilidade pelo registro da memória do nosso grupo étnico ou pelo registro dos laços de amizade e cooperação entre o Brasil e a Polônia – país da nossa origem. Lamentamos que se esvaia, em meio aos atuais descendentes dos imigrantes poloneses no Brasil, a abertura do coração para apoiar financeiramente a edição deste único periódico polônico no mundo de caráter científico. A história dos quase 150 anos da comunidade polônica brasileira apresenta um grande número de jornais, periódicos (mais de cem títulos) e livros que têm sido publicados graças à compreensão e ao apoio financeiro dos seus leitores. Alimentamos a esperança de que os polônicos brasileiros darão conta dessa tarefa e imitarão os seus antepassados na responsabilidade pelas publicações que tratam deles e que a eles são dedicadas. Dedicamos o presente número do periódico ao grande polonês que, cumprindo a responsável missão de Sucessor de S. Pedro e servindo a toda a Igreja e ao mundo, em todas as ocasiões que se lhe apresentavam testemunhava a sua genealogia polonesa. Durante as suas viagens apostólicas a tantos países, em cada um deles encontrava-se com os seus compatriotas para fortalecer neles a fé e o polonismo! Essa dedicatória ao Papa João Paulo II está relacionada com a sua canonização! Trata-se de um gesto simples, mas que brota do fundo dos nossos corações... Já que estou escrevendo de gratidão, neste lugar, em meu próprio nome e em nome de todos aqueles que lerão este número do periódico, ex-

presso o meu cordial agradecimento ao Senhor Marek Makowski – CônsulGeral da República da Polônia em Curitiba – pela sua compreensão da nossa delicada situação, pela sua sensibilidade de coração e por sair ao encontro das pessoas envolvidas pelo idealismo polônico, mas às quais faltam meios para a realização de uma das manifestações da vitalidade desta comunidade, que é a publicação de uma revista polônica própria. Pela ajuda financeira, graças à qual pudemos publicar este número duplo de Polonicus, a nossa sincera gratidão! Agradecemos do fundo do coração! Numa breve síntese, gostaria de apresentar agora aos prezados leitores o conteúdo do presente número do periódico. Na seção Polônia, publicamos o artigo rico em seu conteúdo do Prof. Mariano Kawka – nosso fiel e testado nas dificuldades editoriais membro da equipe redacional e devotado tradutor. Em seu texto ele analisa o messianismo polonês e diante desse pano de fundo deseja familiarizar os leitores com o papel político que João Paulo II desempenhou na Polônia, mas também em outros países. O messianismo polonês brotou da filosofia polonesa no século XIX num período muito difícil para a nação. Foi justamente graças a esse pensamento político que os poloneses suportaram com mais facilidade as dificuldades e os sofrimentos no período da perda da independência nacional. Durante o seu pontificado, muitas vezes em seus pronunciamentos João Paulo II dirigia aos seus compatriotas pensamentos extraídos justamente dessa típica filosofia polonesa. Para melhor compreender os propósitos do autor do texto, recomendo o aprofundamento no conteúdo do mencionado artigo. A segunda seção, intitulada Artigos, abre-se com uma homilia do papa Francisco que ele pronunciou uma semana após a canonização de S. João Paulo II na igreja polonesa de S. Estanislau em Roma e dirigiu à comunidade polonesa que vive na Cidade Eterna. Os pensamentos do papa Francisco podem – com certeza – podem ser relacionados com cada um de nós que lermos a sua homilia. O texto seguinte é de autoria do redator do periódico, que evoca da memória momentos históricos: a eleição do cardeal de Cracóvia Karol Wo-

jtyła para papa e a situação naquele tempo existente na Polônia. A seguir o autor relembra o histórico momento da solene inauguração do pontificado do papa polonês, que ocorreu na Praça de S. Pedro no dia 22 de outubro de 1978. Lembra então a histórica primeira visita apostólica do papa João Paulo II ao Brasil, o ambiente repleto de seriedade que reinava em todo o país, as alegrias e a influência sobre os brasileiros de origem polonesa. Recorda a atmosfera reinante no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, quando o papa João Paulo II se encontrou com representantes da colônia polonesa no Brasil, dirigindo-lhes palavras repletas de fé, fortalecimento e apelo à fidelidade à cruz, ao Evangelho e aos valores que os seus antepassados trouxeram da longínqua Polônia. A canonização de João Paulo II permanecerá para a coletividade polônica no Brasil como um contínuo apelo a viver com aqueles valores que durante o seu longo pontificado foram corajosamente proclamados pelo grande papa oriundo da nação polonesa. Muito interessante é o texto do Prof. Marcin Kula, que procura olhar para o fenômeno de João Paulo II do ponto de vista de uma pessoa descrente. O autor menciona a proximidade do papa João Paulo II da juventude, e não somente polonesa. Tendo em mente os seus encontros realizados em diversas partes do mundo, o autor do texto se indaga se esses encontros exerceram alguma influência sobre a vida desses jovens. Diante das diversas manifestações do mundo contemporâneo, o Prof. Kula apresenta a figura de João Paulo II estabelecendo o diálogo não somente com Deus, mas também as pequenas e as grandes pessoas deste mundo. De alguma forma todos puderam aproximar-se do papa, e especialmente as pessoas honestas puderam identificar-se com João Paulo II. O papa possuía a sua personalidade, a facilidade de estabelecer contato com as pessoas e as massas humanas, mas também o mundo demonstrava necessitar dos valores por ele transmitidos. O autor seguinte, o Pe. Prof. Wojciech Necel SChr, aborda em seu artigo o relacionamento de João Paulo II com os compatriotas que vivem fora das fronteiras da Polônia. Analisa de forma muito sintética vinte mensagens que o papa João Paulo II dirigiu aos migrantes por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, comemorado todos os anos na Igreja católica. O que o

papa escrevia aos emigrantes em geral dizia respeito também aos emigrantes poloneses que vivem em tantos países do mundo. O Pe. Necel lembra igualmente os congressos mundiais da pastoral dos migrantes e dos refugiados que durante o pontificado do papa polonês foram organizados em Roma. A seguir o autor escreve sobre a necessidade da integração do migrante. Trata-se de um desejo e de uma orientação da Igreja para as pessoas que por diversos motivos escolheram a vida fora da sua própria pátria, do seu país, no qual viviam segundo determinados valores e tradições. Na continuidade desse texto, o autor procura apresentar João Paulo II diante da necessidade eclesiástica da integração dos poloneses que vivem no exterior. Na parte final das suas reflexões, fala da pátria e do patriotismo de João Paulo II, bem como da sua influência sobre a civilização, a cultura e a fé. O texto se encerra com trechos do pronunciamento do papa à comunidade polônica brasileira em Curitiba, naquele memorável dia 5 de julho de 1980. O nosso colaborador seguinte, que escreve pela primeira vez nas páginas do nosso periódico, é o Pe. Monsenhor Tomasz Grysa, conselheiro da Nunciatura Apostólica no Brasil, que nos apresenta o papa João Paulo II no seu relacionamento diplomático com o Brasil. O autor analisa 14 pronunciamentos pontifícios dirigidos a políticos, presidentes e diplomatas brasileiros. Existem muitos outros documentos papais, que possuem um caráter pastoral. Por isso o autor procura apresentar ao leitor o desvelo pessoal e diplomático do papa pelo bem da nação brasileira. Menciona os discursos do papa assinalando a quem foram dirigidos, onde e quando. Dos mencionados pronunciamentos do papa irradia-se muita bondade, respeito e solicitude pelos brasileiros, tanto na dimensão espiritual como também na social e material. Saudamos nas páginas do nosso periódico mais uma nova autora. Estou falando aqui da Profa. Regina Weber, da Universidade Federal em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A conhecida pesquisadora da história da imigração no Sul do Brasil apresenta-nos a questão das instituições que existiam no território da Polônia ocupado pela Áustria. A autora fala da influência dessas instituições sobre os imigrantes poloneses estabelecidos no Sul do Brasil. A nova autora seguinte que passa a colaborar com o nosso periódico é

Cecília Szenkowicz-Holtman, que no seu artigo aborda a temática da escolaridade polonesa na Colônia Murici, situada nos arredores de Curitiba. Em seu artigo reflete sobre a influência da nacionalização das escolas e sobre as suas consequências para a coletividade polônica residente na mencionada colônia Murici. Na seção seguinte, dedicada a Poemas, Tomasz Lychowski – há muitos anos nosso colaborador e líder polônico no Rio de Janeiro – debruçase sobre trechos selecionados da poesia de Karol Wojtyła. Como um autor que já publicou vários volumes de poemas de sua autoria, Lychowski com certeza compreende a poesia do papa melhor que um leitor comum. Ele faz os seus próprios comentários e apresenta as suas observações sobre determinados poemas do papa polonês, alguns dos quais foram por ele traduzidos. Apresenta-os em seu texto, para que o nosso leitor tenha a possibilidade de conhecer melhor a riqueza da poesia de S. João Paulo II. Na seção seguinte, intitulada Traduções, outro colaborador nosso de muitos anos e membro da equipe redacional, o Prof. Henryk Siewierski – diretor da cátedra de língua e literatura polonesa Cyprian Kamil Norwid na Universidade de Brasília (UnB) – apresenta a tradução de um trecho do poema de Karol Wojtyła escrito em 1974, que traz o título Pensando Pátria. Espero que a reflexão poética de Karol Wojtyła sobre a pátria polonesa possa também ser útil a todos os leitores, na análise e na percepção da múltipla riqueza da sua própria pátria! Na seção seguinte, Resenhas, publicamos duas resenhas que analisam o livro de autoria do Prof. Dr. Jerzy Mazurek intitulado Pela pena e pela ação. O livro apresenta a figura histórica do líder polônico e do político Kazimierz Warchałowski, que atuou no Brasil e no Peru. O autor da primeira resenha é o Prof. Mariano Kawka, que intitula a sua reflexão A trajetória sul-americana de um líder polonês. Por sua vez o Prof. Dr. Władysław Miodunka, ao fazer a resenha da obra do Prof. Mazurek, intitula a sua reflexão A palavra e a ação na vida de Kazimierz Warchałowski – pioneiro da colonização polonesa no Brasil e no Peru. Tenhamos a esperança de que a obra apresentada será traduzida para o português e publicada no Brasil.

Na seção Entrevistas, publicamos o texto da entrevista que o Pe. Zdzislaw Malczewski SChr – reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil – concedeu ao jornal Tribuna do Paraná, e que foi publicado nas páginas desse jornal (25 de abril de 2014) na véspera da canonização do papa João Paulo II. Na parte final deste número da revista, na seção Crônicas, publicamos diversos textos que abordam fatos ocorridos em diversas comunidades polônicas do Brasil. O último registro neste periódico é a seção Efemérides, na qual o leitor poderá tomar conhecimento de muitos eventos significativos, importantes encontros e visitas que ocorreram em 2014. Ao apresentar ao prezado leitor o presente número do nosso periódico, faço votos de que a sua leitura se torne uma ocasião para obter informações sobre a atividade da nossa coletividade étnica no Brasil. Espero que os textos dos diversos autores ampliem os horizontes do leitor em relação à história e aos acontecimentos relacionados com o passado, e também com o presente dessa comunidade, que foi honrada pelo encontro e pela mensagem do papa João Paulo II. Que S. João Paulo II interceda por todos aqueles que se envolverem na leitura de Polonicus e alcance junto ao Deus da História a bênção para cada um e cada uma de nós! Zdzislaw Malczewski SChr– redator

WSTĘP Przekazując naszym Drogim Czytelnikom podwójny tegoroczny numer naszego czasopisma wyrażam ubolewanie, że niestety z braku odpowiednich środków finansowych nie byliśmy w stanie wydać oddzielnie dwóch numerów. Słowa, jakie napisałem we Wstępie w poprzednim numerze (7-8)/2013 należałoby powtórzyć również i w tym miejscu! Nie będziemy utyskiwać na brak zrozumienia dla naszego periodyku w instytucjach polskich, czy też na dostrzegalny zanik wśród osób polskiego pochodzenia poczucia odpowiedzialności za upamiętnienie historii naszej grupy etnicznej, czy też rejestru pogłębiającej się więzi przyjaźni i współpracy Brazylii z Polską – krajem naszego pochodzenia. Ubolewamy, że zanika u współczesnych potomkach polskich imigrantów w Brazylii otwartość serca na wspieranie finansowe wydawania tego jedynego w świecie polonijnym periodyku o charakterze naukowym. Blisko 150. letnia historia Polonii brazylijskiej ukazuje wielość gazet, czasopism (ponad sto tytułów), książek, które były wydawane dzięki zrozumieniu i wsparciu finansowemu. Żywimy nadzieję, że Polonusi brazylijscy staną na wysokości zadania i będą naśladować swoich przodków w odpowiedzialności za wydawnictwa traktujące o nich i im poświęcone. Obecny numer periodyku dedykujemy Wielkiemu Polakowi, który pełniąc odpowiedzialną misję Następcy św. Piotra i służąc całemu Kościołowi i światu nie unikał okazji, ale gdzie mógł tam publicznie świadczył o swoim polskim rodowodzie! Podczas swoich podróży apostolskich do tylu krajów, w każdym z nich spotykał się ze swoimi rodakami, aby umocnić w nich wiarę i polskość! Ta dedykacja Papieżowi Janowi Pawłowi II związana jest z Jego kanonizacją! Jest to gest prosty, ale płynący z głębi naszych serc…. Skoro piszę o wdzięczności to, w tym miejscu we własnym imieniu i tych wszystkich, którzy wezmą do ręki ten numer periodyku, wyrażam serdeczne podziękowanie panu Markowi Makowskiemu – konsulowi generalnemu Rzeczypospolitej Polskiej w Kurytybie za zrozumienie naszej delikatnej

sytuacji, za Jego wrażliwość serca i wyjście naprzeciw ludzi owianych idealizmem polonijnym, a którym brak środków na realizację jednego z przejawów żywotności tej wspólnoty, a jest nim wydawanie własnego, polonijnego czasopisma. Za pomoc finansową, dzięki której wydaliśmy ten podwójny numer „Polonicusa”, nasza szczera wdzięczność! Dziękujemy z głębi serca! Chciałbym w telegraficznym skrócie przedstawić Drogim Czytelnikom treść obecnego numeru periodyku. W dziale „Polska” publikujemy bogaty w treść artykuł prof. Mariana Kawki - naszego wiernego i wypróbowanego w trudnościach wydawniczych członka zespołu redakcyjnego i oddanego tłumacza. W swoim tekście omawia polski mesjanizm i na jego tle pragnie przybliżyć polityczną rolę, jaką odegrał papież Jan Paweł II w Polsce, ale także w innych krajach. Polski mesjanizm wyrósł na filozofii polskiej w XIX wieku w okresie bardzo trudnym dla narodu. To właśnie dzięki tej myśli politycznej łatwiej było Polakom znosić trudy i cierpienia niewoli. W swoim pontyfikacie papież Jan Paweł II często w swoich wystąpieniach kierował do swoich rodaków myśli zaczerpnięte z tej właśnie typowej filozofii polskiej. By lepiej zrozumieć zamierzenia autora tego tekstu, polecam zagłębienie się w treść artykułu prof. Mariana Kawki. Drugi rozdział zatytułowany „Artykuły” otwiera homilia papieża Franciszka, którą wygłosił tydzień po kanonizacji św. Jana Pawła II w polskim kościele św. Stanisława w Rzymie i skierował do wspólnoty polskiej żyjącej w Wiecznym Mieście. Myśli papieża Franciszka może – z pewnością - odnieść do siebie każdy z nas, czytających jego homilię. Kolejny tekst jest autorstwa redaktora periodyku. Przywołuje z pamięci historyczne momenty: wybór kardynała krakowskiego Karola Wojtyły na papieża i atmosferę panującą w owym czasie w Polsce. Następnie przywołuje historyczny moment uroczystej inauguracji pontyfikatu papieża Polaka, jaki miał miejsce na placu św. Piotra 22 października 1978 r. Z kolei autor przypomina historyczną, pierwszą wizytę apostolską papieża Jana Pawła II w Brazylii, panującą w całym kraju atmosferę pełną powagi, radości oraz wpływ na Brazylijczyków polskiego pochodzenia. Wspomina atmosferę panującą na stadionie „Couto Pereira”

w Kurytybie, kiedy to papież Jan Paweł II spotkał się z przedstawicielami Polonii brazylijskiej kierując do nich słowa pełne wiary, umocnienia i wezwania do wierności krzyżowi, Ewangelii i wartościom, jakie przywieźli ze sobą ich przodkowie z dalekiej Polski. Kanonizacja Jana Pawła II pozostanie dla katolickiej społeczności polonijnej w Brazylii ciągłym wezwaniem do życia tymi wartościami, jakie z odwagą przez swój długi pontyfikat głosił Wielki Papież, z polskiego rodu. Bardzo ciekawym jest tekst prof. dr Marcina Kuli, który stara się spojrzeć na fenomen Jana Pawła II z punktu widzenia człowieka niewierzącego. Autor wspomina bliskość papieża Jana Pawła II młodzieży, nie tylko polskiej. Jego spotkania organizowane w różnych miejscach świata. Autor tekstu zastanawia się czy te papieskie spotkania wywarły wpływ na życie tych młodych ludzi? Profesor M. Kula na tle różnych przejawów współczesnego świata ukazuje postać Jana Pawła II podejmującego dialog nie tylko z Bogiem, ale również ludźmi wielkimi i maluczkimi tego świata. W jakiś sposób każdy mógł się zbliżyć do papieża, a szczególnie uczciwi mogli się utożsamiać z Janem Pawłem II. Papież posiadał swoją osobowość, łatwość kontaktu z osobą i masami ludzkimi, ale i świat wykazywał zapotrzebowanie na wartości przekazywane przez Papieża Jana Pawła II. Kolejny autor ks. prof. Wojciech Necel SChr w publikowanym artykule omawia relacje Jana Pawła II z rodakami żyjącymi poza granicami Polski. Autor omawia w sposób bardzo szkicowy 20 przesłań, jakie papież Jan Paweł II skierował do migrantów z okazji obchodzonego każdego roku w Kościele katolickim „Światowego Dnia Migranta i Uchodźcy”. To co papież pisał do migrantów w ogólności, odnosiło się również do imigrantów polskich żyjących w tylu krajach świata. Ks. prof. W. Necel przypomina również światowe kongresy duszpasterstwa migrantów i uchodźców, jakie za pontyfikatu papieża Polaka były organizowane w Rzymie. Z kolei autor pisze o potrzebie integracji migranta. Jest to życzenie i wskazanie Kościoła dla ludzi, którzy z różnych powodów wybrali życie poza własnym środowiskiem, krajem, w którym żyli pewnymi wartościami i tradycjami. W kolejnym punkcie swojego tekstu autor stara się przedstawić Jana Pawła II wobec potrzeby kościelnej integracji Polaków żyjących na obczyźnie. W końcowej części swoich rozważań autor wspomina o ojczyźnie i patrio-

tyzmie Jana Pawła II, jak też o jego wpływie na cywilizację, kulturę i wiarę. Podsumowaniem tekstu są przywołane fragmenty z przemówienia papieża do Polonii brazylijskiej w Kurytybie w owym pamiętnym dniu 5 lipca 1980 r. Nasz kolejny współpracownik - publikujący po raz pierwszy na łamach naszego periodyku – ks. prałat Tomasz Grysa, radca Nuncjatury Apostolskiej w Brasílii przybliża nam papieża Jana Pawła II w Jego dyplomatycznych relacjach z Brazylią. Autor omawia 14 przemówień papieskich skierowanych do brazylijskich polityków: prezydentów, dyplomatów. Istnieje o wiele więcej dokumentów papieskich, ale one mają charakter duszpasterski. Dlatego też autor stara się przybliżyć czytelnikowi zatroskanie osobiste i dyplomatyczne papieża o dobro narodu brazylijskiego. Autor wymienia przemówienia papieskie z zaznaczeniem do kogo były skierowane, w jakim miejscu i kiedy. Ze wspomnianych przemówień papieskich przebija wiele serdeczności, szacunku i zatroskania o Brazylijczyków. Tak w wymiarze duchowym, jak też społecznym i materialnym. Witamy na łamach naszego periodyku kolejnego nowego autora. Piszę tutaj o prof. dr Reginie Weber z Uniwersytetu Federalnego w Porto Alegre, w stanie Rio Grande do Sul. Znana badaczka dziejów imigracji na południu Brazylii przybliża nam kwestię instytucji istniejących na terenach Polski okupowanych przez Austrię. Autorka przybliża nam kwestię wpływów tych instytucji na imigrantów polskich osiadłych na południu Brazylii. Kolejna nowa autorka, podejmująca współpracę z naszym periodykiem Cecília Szenkowicz-Holtman w swoim studium podjęła tematykę szkolnictwa polskiego w Kolonii Murici usytuowanej w pobliżu Kurytyby. Autorka w swoim artykule zastanawia się nad wpływem nacjonalizacji szkolnictwa i jego konsekwencjami dla społeczności polonijnej zamieszkującej we wspomnianej kolonii Murici. W następnym dziale poświęconemu „Poezji” Tomasz Łychowski nasz wieloletni współpracownik i lider polonijny w Rio de Janeiro – pochyla się nad wybranymi fragmentami poezji Karola Wojtyły. Tomasz Łychowski jako poeta mający na swoim koncie wydanych kilka tomików poezji z pewnością lepiej rozumie poezję Karola Wojtyły niż przeciętny zjadacz chleba codziennego. Autor dokonuje własnych komentarzy, spostrzeżeń nad wybra-

nymi wierszami Karola Wojtyły. Tomasz Łychowski przetłumaczył niektóre wybrane przez siebie wiersze papieskie. Postarał się je umieścić w swoim tekście, aby nasz Czytelnik miał możliwość zetknięcia się bliżej z bogactwem poezji św. Jana Pawła II. W następnym dziale, zatytułowanym „Tłumaczenia”, kolejny nasz wieloletni współpracownik i członek zespołu redakcyjnego, prof. Henryk Siewierski – dyrektor katedry języka i literatury polskiej Cypriana Kamila Norwida na Uniwersytecie w Brasílii (UnB) - przetłumaczył fragment poezji Karola Wojtyły napisany w 1974 r., a noszący tytuł „Myśląc Ojczyzna”. Mam nadzieję, że poetycka refleksja Karola Wojtyły o polskiej Ojczyźnie może także pomóc każdemu naszemu Czytelnikowi nad zamyśleniem się i dostrzeżeniem wielorakiego bogactwa własnej ojczyzny! W kolejnym dziale „Przegląd literacki” zamieszczamy dwie recenzje omawiające książkę autorstwa Jerzego Mazurka pt.: „Piórem i czynem”. Prezentowana książka przybliża historyczną postać lidera polonijnego, polityka Kazimierza Warchałowskiego działającego w Peru i Brazylii. Autorem pierwszej recenzji jest prof. Mariano Kawka, który swoją refleksję zatytułował „Trajektoria południowoamerykańska polskiego lidera”. Natomiast prof. dr Władysław Miodunka dokonując recenzji dzieła Jerzego Mazurka zatytułował swoją refleksję „Słowo i czyn w życiu Kazimierza Warchałowskiego – pioniera kolonizacji polskiej w Brazylii i Peru”. Miejmy nadzieję, że omawiane dzieło zostanie przetłumaczone na język portugalski i ukaże się w Brazylii. W dziale „Wywiady” zamieszczamy przedruk wywiadu, jakiego udzielił ks. Zdzisław Malczewski SChr – rektor Polskiej Misji Katolickiej w Brazylii kurytybskiemu dziennikowi „Tribuna do Paraná”, jaki ukazał się na łamach tej gazety (25 kwietnia 2014) w przeddzień kanonizacji papieża Jana Pawła II. W końcowej części tego numeru czasopisma w dziale „Wydarzenia” zamieszczamy kilka tekstów opisujących znaczące fakty, jakie miały miejsce w wielu brazylijskich wspólnotach polonijnych. Ostatnim zapisem w tym periodyku jest „Diariusz” , w którym Drogi Czytelnik będzie mógł dowiedzieć się o wielu znaczących wydarzeniach, ważnych spotkaniach, wizytach, jakie

miały miejsce w 2014 roku! Przekazując Drogiemu Czytelnikowi obecny numer naszego periodyku życzę, aby jego lektura stała się okazją do pozyskania informacji o aktywności naszej polskiej społeczności etnicznej w Brazylii. Mam nadzieję, że zamieszczone teksty wielu autorów poszerzą horyzonty Czytelnika odnośnie historii i wydarzeń związanych z przeszłością, jak też teraźniejszością tej wspólnoty, która została zaszczycona spotkaniem i przesłaniem papieża Janem Pawłem II! Niech św. papież Jan Paweł II oręduje za każdym, kto weźmie do ręki nasze czasopismo „Polonicus” i wyprasza u Boga Pana Historii błogosławieństwo dla każdego i każdej z Was! Zdzisław Malczewski SChr – redaktor

Polônia O MESSIANISMO POLONÊS E O PAPEL POLÍTICO SINGULAR DE SÃO JOÃO PAULO II Mariano KAWKA * O messianismo, na religião judaica, diz respeito à crença na vinda de um Messias, redentor eleito por Deus para redimir toda a humanidade por intermédio de Israel. Por extensão, significa a crença na vinda de um libertador ou salvador (um messias) que substituirá a ordem do presente, considerada má, por nova ordem baseada na justiça e na felicidade. O messianismo romântico manifestou-se na filosofia, na política e na literatura. Utilizaram-se de concepções messiânicas os primeiros utopistassocialistas, tais como o francês Claude Saint-Simon (1760-1825), que defendeu um socialismo planificador e tecnocrático, fundamentado sobre a racionalidade e a constituição de uma nova classe de industriais. No entanto, esse messianismo desenvolveu-se de maneira especial na literatura polonesa, sob a influência da situação específica da Polônia, que no final do século XVIII perdeu a sua condição de Estado independente, tendo seu território partilhado entre as potências vizinhas (Áustria, Prússia e Rússia). O messianismo polonês O messianismo polonês é uma corrente na filosofia polonesa cujo florescimento máximo ocorreu no século XIX, entre os Levantes de 1830 e 1963. Trata-se de uma filosofia especificamente polonesa, com a tendência, por um lado, de criar sistemas metafísicos especulativos e, por outro, de reformar o mundo pela filosofia. Essa corrente propagava também a visão geral de que os poloneses, como Nação, possuem alguns traços de personalidade que de maneira especial os distinguem entre as nações do mundo.

* Professor e tradutor, membro do Conselho Editorial da revista Polonicus.

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Polônia Em território polonês esse ideal teve uma popularidade especial. Nos séculos XVII e XVIII, em meio à população judia têm surgido seitas que se baseavam num líder carismático, proclamado pelos seus seguidores como um messias. Talvez em razão do contato permanente com a cultura judaica, ou talvez em razão da profunda religiosidade, já no período do Barroco (séculos XVII e XVIII) começaram a surgir na filosofia do romantismo os primeiros elementos do messianismo. A Nação polonesa, que seria originária do antigo povo dos sármatas1, teria a cumprir um papel especial na história do mundo. A República das Duas Nações2 devia ser o baluarte da cristandade, o asilo da liberdade e o celeiro da Europa. Esses ideais foram expressos por Wespazjan Kochowski (1633-1700), poeta, historiador da corte do rei João III Sobieski, representante do chamado barroco sármata. O messianismo romântico originou-se das tradições judaico-cristãs, mas reportava-se à visão do martirizado Jesus-Messias (os eslavos, a Polônia), que devia salvar e unir os pecadores (as outras nações da Europa). As principais características da filosofia messiânica, comuns à maioria dos seus representantes conhecidos, são: - a convicção a respeito da existência de um Deus pessoal; - a fé na existência eterna da alma; - a ênfase ao predomínio das forças espirituais sobre as físicas; - a visão da filosofia e/ou da nação como o instrumento para a reforma de vida e a salvação da humanidade; - a ênfase ao significado eminentemente metafísico da categoria de nação; - a afirmação de que o homem pode realizar-se plenamente apenas no 1 Povo nômade e pastoril de origem iraniana. Os sármatas invadiram a região habitada pelos citas e alcançaram o Danúbio (séc. I). No século V foram subjugados pelos godos e pelos hunos. Desapareceram, misturados com outros povos. Na literatura polonesa dos séculos XV-XIX eram tidos como os antepassados da nobreza polonesa ou dos poloneses. 2 Estado composto da Coroa do Reino da Polônia e do Grão-Ducado da Lituânia, nos anos 15691795, por força da União de Lublin (1569).

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Polônia âmbito da nação, numa comunhão de espíritos; - o historicismo manifestado na afirmação de que são as nações que determinam o desenvolvimento da humanidade. Para Józef Hoene-Wroński3, que introduziu o conceito do messianismo na filosofia polonesa, o messias que devia introduzir a humanidade num período de felicidade era a filosofia. Para o principal divulgador do messianismo na consciência de uma audiência mais ampla, o poeta Adam Mickiewicz4, esse papel caberia à Polônia. Além dos citados Wroński e Mickiewicz, os mais importantes messianistas poloneses foram: August Cieczkowski, Józef Bohdan Dziekoński, Józef Gołuchowski, Józef Kremer, Ludwik Królikowski, Karol Libelt, Wincenty Lutosławski, Andrzej Towiański, Bronisław Trentowski, Jan Paweł Woronicz. O messianismo polonês tinha um caráter especulativo-metafísico e antinaturalista. Não era a ideia geral, como em Hegel5, mas a alma humana individual que constituía a urdidura da realidade. Tinha por objetivo não apenas o conhecimento da verdade, mas a realização de uma reforma de vida e a salvação da humanidade. O agente da salvação, o “messias”, devia ser a própria filosofia, que revelaria a verdade, como julgava Wroński, ou ainda a nação polonesa, que conduziria a humanidade à verdade, como acreditava Mickiewicz. Contrariamente ao idealismo alemão, o messianismo polonês era teísta e personalista, além de ser irracionalista, visto que colocava a vontade e a ação acima do pensamento. Como corrente filosófica, o idealismo polonês perdeu o seu significa3 Józef Hoene-Wronski (1776-1853) − filósofo, matemático, astrônomo, físico, jurista, economista; principal representante do messianismo polonês; na matemática, introduziu o wronskiano (determinante chave na teoria das equações diferenciais). 4 Adam Mickiewicz (1798-1855) − poeta polonês, principal representante do Romantismo em seu país. 5 Friedrich Hegel (1770-1831) − filósofo alemão. Sua filosofia identifica o ser e o pensamento como um princípio único, a ideia, que se desenvolve em três fases: tese, antítese, síntese.

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Polônia do após a queda do Levante de Janeiro (de 1863), mas foi continuado por alguns filósofos, tais como Wincenty Lutosławski (1963-1954), o qual acreditava que o messianismo é o degrau mais elevado do pensamento filosófico e o mais próximo da verdade. O messianismo na literatura polonesa Na literatura polonesa, o messianismo se identifica de maneira especial com o período romântico, mas elementos messiânicos surgem já nos seus primórdios, por exemplo na obra do padre Piotr Skarga6, no qual o messianismo se relaciona com as advertências contra a queda da nação, que ao mesmo tempo era apresentada como permanecendo em união especial com Deus − o seu protetor. No início do século XIX surgiu na literatura polonesa como uma reação às partilhas do país. Na literatura romântica, o messianismo se manifesta após a queda do Levante de Novembro (de 1830). O messianismo é uma crença ou, antes, um conjunto de crenças relacionadas com o papel salvador de um mediador-messias que, sacrificando-se por todos, resgata a culpa de todos. Esse mediador pode ser um indivíduo ou um grupo, por exemplo uma nação ou uma classe social. O messianismo pode ter um caráter religioso ou social. O messianismo se relaciona com as tendências milenaristas, significando qualquer movimento de natureza política ou religiosa que se caracteriza pela espera da salvação iminente e coletiva deste mundo, surgindo, em geral, como resposta a uma situação de conflito. As raízes do messianismo remontam à religião judaica, tendo surgido mais tarde no âmbito de muitas culturas, por exemplo na França do século XIX. É geralmente a religião de nações fracas, ameaçadas, embora exista também um típico messianismo da dominação, relacionado com tendências nacionalistas, por exemplo na Rússia do século XIX. 6 Piotr Skarga (1536-1612) − jesuíta, escritor polonês, pregador na corte do rei Sigismundo III Waza, eminente orador.

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Polônia Na literatura polonesa, o messianismo se manifesta de forma mais visível no período do Romantismo, especialmente na pessoa do poeta Adam Mickiewicz. O messianismo de Mickiewicz, no começo individual, evolui com o tempo para coletivo, baseado na convicção sobre o papel salvador da nação. Relaciona-se também com o missionismo − a convicção a respeito da missão moral da nação polonesa, que devia fazer renascer a Europa. Convém, igualmente, registrar a antinomia do messianismo de Mickiewicz. Por um lado o poeta salienta o papel salvador do sofrimento e a necessidade de submeter-se a ele; por outro lado, especialmente nos anos 40, ordena uma mudança ativa do mundo. O Romantismo chamava a atenção para as nações e os povos como sujeitos da História. Em toda a literatura polonesa, não encontraremos o fenômeno do messianismo tão detalhadamente descrito como aquele que ocorre em Mickiewicz, na “Visão do Padre Pedro”, na cena V da III parte dos Antepassados. O Padre Pedro vivenciou uma visão que é uma resposta de Deus − um enlevo místico em que lhe é dado ver a história da Polônia e o seu futuro. Essa visão é uma realização romântica do lema do messianismo nacional, visto que o Padre Pedro vê a história da Polônia estruturada a exemplo da história de Cristo − o martírio da nação polonesa deve salvar os outros povos que lutam pela liberdade. Dessa forma, o sacrifício polonês possui igualmente um sentido universal, é como que a renovação do caráter universalmente redentor de Cristo. Esse sacrifício é feito pela liberdade e deve salvar o mundo do atual momento histórico. Deus escolheu a Polônia não apenas em razão dos seus antigos méritos em prol da fé e da liberdade, mas também em razão do caráter inocente dos sofrimentos por que havia passado. A visão do padre é como que uma resposta à catástrofe da história, que foi para os poloneses a derrota no Levante de Novembro (de 1830). Todas as visões são interpretadas numa perspectiva bíblica. Por exemplo, o motivo da ressurreição de Cristo é o prenúncio da recuperação, pela Polônia, da longamente esperada independência. As imagens da “Visão do Padre Pedro” são obscuras, repletas de símbolos, reticências e enigmas. O conjunto se assemelha às revelações bíblicas,

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Polônia por exemplo ao Apocalipse de São João. O destino da nação polonesa é apresentado nitidamente de conformidade com a história de Cristo. Os diversos acontecimentos têm as suas analogias e, por isso, toda a visão é uma realização literária da concepção “Polônia − Cristo das Nações”, o que de forma ideal se relaciona com o messianismo. Outra obra de Mickiewicz em que se manifesta o seu ideal messiânico são os Livros da nação e da peregrinação polonesa (1832), que se transformaram numa espécie de catecismo dos emigrantes poloneses. Aliás, o título primitivo dessa obra era Catecismo da peregrinação polonesa. A obra é estilizada segundo a Bíblia e os Evangelhos (a começar pelo título, porque “Livros” é o correspondente do termo grego “bíblia”) e aborda as questões políticas parcialmente em forma de parábolas. Os Livros operam com uma ética anti-individualista, estranha ao heroísmo individual. Essa obra não apenas se dirige a um herói coletivo − os Irmãos, a Fé, os Soldados − e ensina verdades que se relacionam com toda a comunidade dos emigrantes, mas é até tratada como uma obra coletiva, cujo autor reduz o seu papel ao mínimo, vendo em si o transmissor de pensamentos “recolhidos da história da Polônia, e dos escritos, e dos relatos, e dos ensinamentos dos poloneses, pessoas piedosas e dedicadas à Pátria, mártires, confessores e peregrinos e, algumas coisas, da graça divina”7. De acordo com essa intenção, a obra foi publicada anonimamente e lhe foi conferido o formato poligráfico de um manual de oração. Os Livros deviam sobretudo educar e instruir. Educar a multidão dos emigrados poloneses e ensinar a religião da liberdade e da fé na sua vitória. No entanto a obra não se concentra no sentido salvador do próprio sofrimento, mas na mudança e na renovação espiritual do mundo, que devem ser conquistadas pelo esforço humano. Não apregoam a passiva expectativa do pagamento divino pelo sangue e pelo sofrimento. O seu messianismo exige a ação e convoca os leitores a um múltiplo esforço. Os exilados, aos quais se dirigem os ensinamentos morais dos Livros daperegrinação, não são simples emigrantes, mas cavaleiros da liberdade uni7 Adam MICKIEWICZ. Księgi narodu i pielgrzymstwa polskiego. In: Pisma prozą, część II. Kraków: Czytelnik, 1952, p. 55.

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Polônia versal, escolhidos por um destino superior. Por isso Mickiewicz os chama de peregrinos, ou seja, pessoas que peregrinam em busca do objetivo messiânico de uma dupla liberdade: do seu próprio país e dos povos da Europa, além de apóstolos. Esse apostolado, assentado no modelo bíblico, devia basear-se em posturas de devotamento, sacrifício amor e humildade. O autor dos Livros da peregrinação é ao mesmo tempo profeta e político, que engajou a historiosofia e a ética da sua obra na luta pelo presente revolucionário da Europa. Em grande medida graças à potente inflexão libertária, a obra conquistou uma enorme popularidade não apenas entre os emigrantes poloneses − três edições no decorrer de três meses − mas também numa escala mais ampla, uma vez que rapidamente foi traduzida para as principais línguas europeias. O Romantismo não apenas se interessava por fatos históricos concretos, mas também criava sistemas que deviam esclarecer a regularidade do desenvolvimento da História, ou seja, os chamados sistemas historiosóficos. A visão romântica da História moldava-se em relação com as convicções milenaristas, com a expectativa de uma grande mudança e renovação da História. Generalizando essa visão, pode-se dizer que o esquema romântico da História consiste na sua apresentação como uma caminhada do paraíso perdido ao paraíso reconquistado. Essa visão possuía uma dimensão otimista no messianismo de Mickiewicz. Outro nome de destaque no messianismo romântico é o dramaturgo e poeta polonês Zygmunt Krasiński (1812-1859). Como outros filósofos poloneses com quem colaborava, foi afetado pela chamada filosofia idealista de Hegel e dos seus discípulos. Ele, porém, transformou esse idealismo à luz da doutrina católica, com a qual se identificou. Dessa forma foi capaz de inserir o destino da Polônia no plano geral da Providência, profundamente convencido de que toda nação individual − instrumento da Vontade Divina − tinha a sua própria missão a realizar no harmonioso conjunto desse plano, em benefício de todas as outras. Krasiński também via em sua nação martirizada o Messias das na-

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Polônia ções. A sua tarefa era estimular os poloneses a se envolverem na causa da sociedade internacional, buscando uma paz duradoura, baseada na justiça, liberdade e caridade. Em união com todos os românticos e messianistas poloneses, ele acreditava firmemente que essa causa, que para ele significava o advento do reino de Deus na terra, triunfaria com a ressurreição da Polônia, inaugurando uma nova era na história da humanidade. Dentro do Romantismo polonês, insere-se também no messianismo o poeta e dramaturgo polonês Juliusz Słowacki (1809-1849). De certa forma Słowacki tinha uma rivalidade com Mickiewicz e diferenças com Krasiński a respeito das suas opiniões políticas. Questionando o martírio e o sofrimento passivo da Polônia, ele adota uma postura eminentemente ativa, ou seja, conclama à luta e à ação (por exemplo no seu drama político Kordian). Proclamava o progresso social compreendido como a revolta do espírito, “eterno revolucionário” (como no poema historiosófico e místico O Rei-Espírito). A Polônia daquele período histórico turbulento era um símbolo da Europa. Representava todas as grandes ideias que se revoltavam em vão contra uma ordem estabelecida unicamente pela força. Esse país estava perfeitamente qualificado a representar o ideal da liberdade, que havia sido o ideal condutor de toda a sua história, e cujo aparente malogro, ainda que temporário, lhe era mais penoso do que a qualquer outra nação. E a Polônia não estava menos qualificada para representar o ideal da nacionalidade, porque, pelo próprio fato da sua existência, era uma testemunha de quão falso e artificial é identificar a nação8 com o todo-poderoso estado, já que a nação podia sobreviver à destruição do estado e recusar-se a ser amalgamada com as potências vitoriosas que a dominavam politicamente. A Polônia estava também qualificada para representar o ideal de uma nova ordem internacional baseada em princípios morais, não porque ela mesma estivesse acima de qualquer censura, como às vezes os messianistas pareciam proclamar, mas porque estava expiando da forma mais terrível todas as faltas que havia cometido. 8 O que é a “nação”? − Responde o papa São João Paulo II: “é a grande comunidade dos homens que estão unidos por várias ligações, mas sobretudo, precisamente, pela cultura”.

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Polônia O grande papel político do papa São João Paulo II São João Paulo II surge para a Polônia num momento histórico que guarda certas analogias com a Polônia repartida do século XIX e início do século XX. O ressurgimento do Estado polonês9 após o término da Primeira Guerra Mundial (1918) − por obra de Józef Piłsudski (1867-1935), Ignacy Paderewski (1860-1941), Roman Dmowski (1964-1939) e muitos outros grandes poloneses − veio certamente atender aos ideais pregados pelos ideólogos messiânicos e sonhados por todos os membros da nação polonesa, que por mais de um século havia sido reprimida, mas não inteiramente dominada por potências estrangeiras. A independência recuperada deu início a um período de esforços pelo progresso econômico e cultural e pela consolidação política, mas que − infelizmente − durou apenas duas décadas. Já em 1399, a Segunda Guerra Mundial trouxe um novo tempo de martírio, sofrimento e lutas pela preservação da nacionalidade e da autonomia política, que durante os anos da guerra provocaram milhões de mortes10 e a destruição material quase total do país. Esse foi um período em que a Polônia sofreu novamente uma dupla agressão e uma dupla ocupação − por parte da Alemanha e da União Soviética. O ressurgimento da Polônia após a guerra não foi exatamente aquele pelo qual seus filhos haviam lutado, dentro e fora das fronteiras da pátria. Em fevereiro de 1945, na Conferência de Yalta, as três potências − os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética − haviam realizado a divisão das influências na Europa. Nessa nova “partilha”, a Polônia permaneceu na órbita da influência soviética. Embora formalmente livre, passou então a ter a sua autonomia política seriamente controlada e manipulada pela União Soviética − que estendia a sua total influência à chamada República Popular da Polônia e a outros países da Europa Central e Oriental que se encontravam nas mes9 A Polônia, como Estado, surge em 966, quando Mieszko I (? - 992) aceitou o batismo cristão e deu início à organização eclesiástica em seu país, tendo fundado em Poznań, a capital do Estado, o primeiro bispado polonês (968). 10 Em 1939, a Polônia tinha uma população total de cerca de 35 milhões de habitantes, dos quais durante a guerra pereceram cerca de 6 milhões (sendo cerca de 3 milhões deles judeus).

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Polônia mas condições. Essa situação se estendeu por quatro décadas e meia, até 1989. A luta contra o regime imposto tornou-se inevitável e começou a intensificar-se sobretudo a partir dos anos oitenta do século passado, com o surgimento do Sindicato Solidariedade, liderado por Lech Wałęsa. Na época do comunismo a influência da Igreja católica sempre foi profunda, e era principalmente nela − quase como se fosse um partido político − que em razão das circunstâncias se concentrava a resistência da sociedade polonesa. Em tais condições, a eleição do cardeal Karol Wojtyła para o trono pontifício, no dia 16 de outubro de 1978, teve nessa luta e nessa resistência um reforço incalculável. Não se tratava certamente do poderio temporal do papa, mas da sua força moral, que incutiu nos poloneses um novo alento e novas atitudes. Os poloneses se conscientizaram da sua força. Foi o cristianismo, presente na alma dos poloneses desde a constituição do Estado polonês há mais de mil anos, que trouxe essa força capaz de transformar a História. Foi assim que ocorreu a libertação da Polônia e de outros países europeus do comunismo, em que o papa polonês desempenhou um papel de primeiro plano. Para João Paulo II, o cristianismo era um elemento decisivo na configuração da unidade da Europa e da sua missão no mundo. Ele estava convencido de que a “genealogia espiritual” da Europa é a premissa da sua unidade. O papa polonês sentia que a Polônia, ao libertar-se em 1989, teve um papel na libertação de outros povos da região e pode tê-lo na recuperação das raízes cristãs comuns ao continente. “A nação ressurgirá − tinha escrito Mickiewicz nos Livros da peregrinação − e libertará todos os povos da Europa da escravidão”. A entrada da Polônia na União Europeia foi por isso definida por Wojtyła como um “ato de justiça histórica”. As forças de resistência contra o comunismo tiveram como o seu grande ponto de referência o Solidariedade, que foi antes um Movimento que um Sindicato, e foram galvanizadas sobretudo pela pessoa de João Paulo II, tendo levado finalmente ao colapso do sistema comunista não só na Polônia, mas também em outros países na Europa Centro-Oriental. Com certeza, as reformas políticas e econômicas promovidas por Mikhail Gorbachev11, assim 11 Mikhail Sergueievitch Gorbachev (n. 1931) − político russo, secretário-geral do Partido Comu-

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Polônia como a política dos presidentes Carter12 e Reagan13, também contribuíram para impulsionar esse movimento e para provocar o histórico outono dos povos, quando até o final de 1989 os sistemas comunistas caíram em toda a Europa Centro-Leste. Não obstante, a ação de São João Paulo II nesse sentido teve um peso preponderante. Especialmente as viagens do Papa à Polônia em 1979, em 1983 e em 1987 (para mencionar apenas as anteriores à queda do comunismo) constituíram uma ação muito significativa para alargar os espaços e defender a liberdade dos concidadãos. Esse papel do pontífice polonês foi reconhecido por eminentes representantes da política internacional. Para Zbigniew Brzezinski14: “Sem o Papa, sem a sua tenacidade, sem aquele conjunto de moderação e de obstinação que são o seu estilo, muitas das coisas que se realizaram diante dos nossos olhos nunca teriam começado a acontecer”15. Helmut Kohl16 também foi um grande admirador do papel político do papa polonês para a queda do comunismo. Basta lembrar a sua visita à Berlim unificada e a passagem simbólica do papa e do chanceler sob a porta de Brandeburgo. O significativo papel político que o Papa João Paulo II desempenhou para o bem da Polônia e do mundo é um aspecto da sua biografia que o enaltece entre as grandes personalidades que marcaram presença na História munnista soviético (3/1985-8/1991), presidente do Soviete Supremo (10/1988-3/1990), instaurou um programa de reformas políticas e econômicas (perestroika, reorganização) e adotou posições especialmente inovadoras na política internacional (tratado de desarmamento de Washington, 1987). Eleito presidente da URSS pelo Congresso (3/1990), mas incapaz de impedir a desagregação soviética depois do golpe de estado que tentou derrubá-lo (8/1991), entregou o cargo em 31/12/1991. 12 Jimmy Carter (James Earl C., dito) − n. em 1924, foi presidente dos Estados Unidos no período 1977-1981. Mostrou-se um fervoroso defensor da paz, dos direitos humanos e da democracia. 13 Ronald Wilson Reagan (1911-2004) − político americano, presidente dos Estados Unidos no período 1981-1989. Em 1987 assinou com M. Gorbachev um acordo para a destruição dos mísseis de médio alcance na Europa. 14 Zbigniew Kazimierz Brzezinski (n. 1928) − cientista político polono-americano, geoestrategista e estadista que serviu como conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos do presidente Jimmy Carter de 1977 a 1981. 15 Apud: RICCARDI, Andrea. João Paulo II − A biografia. São Paulo: Paulus, 2011, p. 369. 16 Helmut Kohl (n. 1930) − político alemão. Foi chanceler da República Federal da Alemanha (1982-1998) e teve papel importante na reunificação do país (1990).

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Polônia dial. É um grato dever recordar essa sua atuação no ano da sua canonização e no ano em que a Polônia comemora os 25 anos da recuperação da sua plena soberania e os 10 anos da sua presença na União Europeia. Bibliografia HALECKI, Oskar. A History of Poland. New York: Barnes &Noble Books, 1992. MALCZEWSKI, Zdzislaw (org.). Polônia e Polono-Brasileiros − História e Identidades. Curitiba: Vicentina, 2007. PRZYBYLSKI, Ryszard; WITKOWSKA, Anna. Romantym. Warszawa: Wydawnictwo Naukowe PWN, 1997. RICCARDI, Andrea. João Paulo II − A biografia (trad.: António Maia da Rocha). São Paulo: Paulus, 2011. www.pl.wikipedia.org/wiki/Mesjanizm_polski

RESUMO − STRESZCZENIE Artykuł omawia koncepcję historiozoficzną zwaną mesjanizmem, która się rozwinęła w Polsce zwłaszcza po powstaniu listopadowym. Koncepcja ta przypisywała narodowi polskiemu posłannictwo „zbawiciela” ludzkości i została rozpowszechniona przez filozofów polskich i pisarzy okresu Romantyzmu (przeważnie A. Mickiewicza), głównie w pierwszej połowie XIX w. Nawiązując do tych idei i do momentu historycznego, w którym żył i sprawował swoją misję papież a obecnie święty Jan Paweł II, autor komentuje ważną rolę polskiego papieża w zmianach politycznych, jakie zaszły w Europie po obaleniu systemu politycznego narzuconego Polsce i innym krajom Europy Środkowo-Wschodniej po zakończeniu II wojny światowej.

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Ar tigos HOMILIA DO PAPA NA SANTA MISSA EM AÇÃODE GRAÇAS PELA CANONIZAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II, CELEBRADA PARA A COMUNIDADE POLONESA DE ROMA São João Paulo II ajude-nos a sermos caminhantes ressuscitados No trecho dos Atos dos Apóstolos escutamos a voz de Pedro, que anuncia com força a ressurreição de Jesus. Pedro é testemunha da esperança que está em Cristo. E na segunda leitura é ainda Pedro que confirma os fiéis na fé em Cristo, escrevendo: “Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus” (1, 21). Pedro foi o ponto de referência da comunidade porque foi fundado na Rocha que é Cristo. Assim foi João Paulo II, verdadeira pedra ancorada na grande Rocha. Uma semana depois da canonização de João XXIII e de João Paulo II, reunimo-nos aqui nesta igreja dos poloneses em Roma, para agradecer ao Senhor pelo dom do santo Bispo de Roma filho da vossa nação. Nesta igreja, onde ele veio mais de 80 vezes! Sempre veio aqui, nos diversos momentos da sua vida e da vida da Polônia. Nos momentos de tristeza e de desânimo, quando tudo parecia perdido, ele não perdia a esperança, porque a sua fé e a sua esperança eram fixas em Deus (cfr 1 Ped 1, 21). E assim era pedra, rocha para esta comunidade, que aqui reza, que aqui escuta a Palavra, prepara os Sacramentos e os administra, acolhe quem tem necessidade, canta e faz festa, e daqui parte novamente para as periferias de Roma… Vocês, irmãos e irmãs, fazem parte de um povo que foi muito provado em sua história. O povo polonês sabe bem que para entrar na glória é preciso passar pela paixão e a cruz (cfr Lc 24, 26). E o sabem não porque estudaram isso, mas

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Ar tigos sabem porque viveram isso. São João Paulo II, como digno filho da sua pátria terrena, seguiu este caminho. Ele o seguiu de modo exemplar, recebendo de Deus um despojamento total. Por isto “a sua carne repousa na esperança” (cfr At 2, 26; Sal 16, 9). E nós? Estamos dispostos a seguir este caminho? Vocês, queridos irmãos, que formam hoje a comunidade cristã dos poloneses em Roma, querem seguir este caminho? São Pedro, também com a voz de São João Paulo II, diz a vocês: “Vivei com temor durante o tempo da vossa peregrinação” (1 Ped 1, 17). É verdade, somos caminhantes, mas não errantes! Em caminho, mas sabemos para onde vamos! Os errantes não o sabem. Somos peregrinos, mas não errantes – como dizia São João Paulo II. Os dois discípulos de Emaús na ida eram errantes, não sabiam para onde iriam no final, mas no retorno não! No retorno eram testemunhas da esperança que é Cristo! Porque tinham encontrado Ele, o Caminhante Ressuscitado. Este Jesus é o Caminhante Ressuscitado que caminha conosco. Jesus está aqui hoje, está aqui entre nós. Está aqui na sua Palavra, está aqui no altar, caminha conosco, é o Caminhante Ressuscitado. Também nós podemos nos tornar “caminhantes ressuscitados”, se a sua Palavra aquece o nosso coração e a sua Eucaristia abre nossos olhos para a fé e nos alimenta com a esperança e a caridade. Também nós podemos caminhar próximo aos irmãos e às irmãs que estão tristes e desesperados, e aquecer o seu coração com o Evangelho, e partir com eles o pão da fraternidade. São João Paulo II ajude-nos a sermos “caminhantes ressuscitados”. Amém. Roma, 4 de maio de 2014.

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Ar tigos RESUMO – STRESZCZENIE Papież Franciszek podczas sprawowania w kościele polskim w Rzymie Mszy św. dziękczynnej za kanonizację papieża Jana Pawła II wygłosił specjalną homilię. Zachęcał w niej Polaków do naśladowamnia ich Rodaka!

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Ar tigos A CANONIZAÇÃO DE JOÃO PAULO II E A COMUNIDADE POLÔNICA BRASILEIRA Zdzislaw MALCZEWSKI SChr * Em relação com a canonização do papa João Paulo II, surge a necessidade − pessoal e interior minha − de recordar o grande acontecimento que foi a eleição do cardeal Karol Wojtyła, metropolita de Cracóvia, para a Sé de Pedro, o qual escolheu o nome João Paulo II. Eu gostaria de partilhar esses meus pensamentos pessoais justamente no contexto da minha então espera pelo visto de permanência no Brasil. Após receber a ordenação sacerdotal no dia 11 de maio de 1976 na catedral de Poznań, solicitei ao Pe. Dr. Czesław Kamiński SChr − superior geral da Sociedade de Cristo para os Poloneses Emigrados − que me fosse dada a possibilidade de realizar o carisma da Congregação justamente no seio da comunidade polônica brasileira. Após dois anos de prática pastoral em Stargard Szczeciński, eu tinha sido dispensado das funções pastorais. No dia 16 de outubro de 1978 eu me encontrava na casa da Congregação em Poznań, onde residia, esperando que me fosse concedido o visto para entrar no Brasil. Nas últimas horas daquele dia, pelo nosso convento, como um relâmpago, espalhou-se a notícia de que durante o conclave havia sido nomeado novo sucessor de Pedro o cardeal Karol Wojtyła. Surpresa, alegria, desconfiança − são os sentimentos de que me recordo daquele dia histórico. Dia histórico não somente para a Igreja, mas também para a Polônia e para os católicos que viviam num país escravizado por um sistema desumano que nos tinha sido trazido nos tanques do Exército Vermelho no final da Segunda Guerra Mundial. A notícia, confirmada pela Rádio Vaticano, provocou entre os religiosos a espontânea vontade de dirigirem os seus passos à capela, a fim de, numa oração de ação de graças, expressar a alegria pela escolha do Papa ∗

Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil.

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Ar tigos como sucessor de São Pedro e de confiá-lo à Providência Divina e à proteção d’Aquela que nos foi dada como ajuda e defesa − a nossa Mãe Maria, que ocupa um lugar especial na vivência da fé da nossa nação polonesa. À noite reunimo-nos diante do único televisor que tínhamos no refeitório. Estávamos curiosos de ver como a televisão polonesa transmitiria essa extraordinária notícia: a escolha de um cardeal polonês para papa! A televisão estatal daquele tempo, da mesma forma que a rádio polonesa, praticamente não transmitia quaisquer informações sobre a Igreja. Se algumas informações eram transmitidas, era unicamente nas categorias da difamação, de falar mal da Igreja católica e dos seus pastores. Podia sentir-se o embaraço, o nervosismo, a perplexidade do jornalista do regime transmitindo a notícia de que o conclave havia escolhido o cardeal Karol Wojtyła, de Cracóvia, como o novo papa da Igreja! Pelas janelas do convento ouvia-se o som dos sinos das igrejas que confirmavam em Poznań a alegria nacional dos poloneses. Pela primeira vez na História, um compatriota nosso se tornara papa! Após alguns séculos de ininterrupta história de que era um italiano que se tornava papa, de repente essa tradição havia sido interrompida. Pela primeira vez, era escolhido papa um cardeal proveniente da Cortina de Ferro. Naquela tarde tornamo-nos testemunhas do sinal de que estava começando a acontecer algo novo não somente para a Igreja, mas também para a nossa nação e para os nossos vizinhos − os povos eslavos! No domingo, 22 de outubro de 1978, aconteceu a solene inauguração do pontificado de João Paulo II. Pela primeira vez na história da Polônia do pós-guerra a televisão pública, dirigida e controlada pelos comunistas, transmitiu diretamente do Vaticano a santa missa que inaugurava o pontificado do papa João Paulo II. Permanecíamos sentados diante do aparelho de televisão em recolhimento e silêncio, como fiéis presentes num santuário, participando do Mistério da Eucaristia que estava sendo celebrado. Cada gesto, cada palavra, cada imagem − transmitidos por intermédio do sinal televisivo da Praça de São Pedro − era por nós espontaneamente absorvido como uma realidade de que nós poloneses nos sentíamos participantes diretos. Muitas

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Ar tigos reflexões, muitas emoções. Recordando após tantos anos aqueles momentos, tenho diante do olhar da imaginação a homenagem prestada pelo cardeal Stefan Wyszyński ao novo papa. Esse gesto especial de João Paulo II gravou-se profundamente no meu coração e na minha memória. O papa faz levantar-se o cardeal que estava de joelhos e ambos, por alguns instantes, permanecem num fraternal abraço. Diria depois João Paulo II, durante uma das suas primeiras peregrinações à Polônia, que não teria havido um papa polonês se não fosse a firme, profunda fé do cardeal Stefan Wyszyński! No dia 30 de junho de 1980 o papa João Paulo II inicia a sua primeira visita apostólica no Brasil. A primeira cidade a receber o sucessor de São Pedro é a capital − Brasília. Naquele tempo, havia alguns meses eu me encontrava na paróquia da montanhosa vila de Carlos Gomes, na região norte do estado do Rio Grande do Sul. Quando o avião do papa estava pousando em terra brasileira, o modesto e pequeno sino da torre paroquial batia alegremente para saudar o peregrino polonês. A localidade, habitada na maior parte por descendentes dos colonos poloneses, parecia morta. Todos os seus habitantes se haviam sentado diante dos aparelhos de televisão, querendo dessa forma participar desse singular acontecimento: pela primeira vez na História do país, vinha visitá-lo um papa, e ainda polonês! Na vila, como em toda a paróquia, mais de noventa por cento da população é constituída de descendentes de colonos poloneses. Quando escrevo estas palavras, surge diante de mim neste momento a imagem de uma das mais idosas brasileiras de origem polonesa, chorando de felicidade e profunda emoção − da senhora Wietrzykowska. Após termos assistido à transmissão da saudação do papa no Brasil, encontramo-nos por acaso numa estrada de terra batida. Naquela ocasião pudemos partilhar as nossas vivências! No decorrer da visita oficial de João Paulo II ao Brasil, o clima de felicidade em meio aos meus paroquianos − descendentes dos nossos colonos − crescia cada vez mais! Eu percebia como em meio àquelas pessoas, que não conheciam a Polônia, mas que confessavam ser poloneses, só que nascidos no Brasil, intensificava-se a cada dia o orgulho de que em suas veias, como nas veias do papa, corria o sangue polonês!

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Ar tigos Da mesma forma que a escolha do cardeal Karol Wojtyła para papa influenciou a nação polonesa, esse histórico acontecimento também não permaneceu indiferente no ambiente polônico brasileiro! A eleição do papa João Paulo II despertou a consciência do polonismo em brasileiros de raízes poloneses muitas vezes já para isso adormecidos. O encontro do papa com a colônia polonesa em Curitiba, no dia 5 de julho de 1980, no Estádio Couto Pereira, e o seu discurso influenciaram a comunidade polônica de então e até o dia de hoje sentimos entre os brasileiros de origem polonesa o orgulho do seu polonismo, ainda que muitas vezes eles já desconheçam a língua dos antepassados. Após a canonização de João Paulo II, o seu culto no seio da comunidade polônica local transformou-se em mais um estímulo não apenas para expressar a fé católica, mas também para enfatizar o polonismo de todos que fazem parte da nossa comunidade polônica − irmanada com outros grupos étnicos, que juntos formam o belo mosaico étnico no Brasil! RESUMO – STRESZCZENIE Autor wspomina atmosferę panującą w Polsce po wyborze papieża Jana Pawłą II. Przybliża także pierwszą wizytę papieża w Brazylii, Jego spotkanie z Polonią tego kraju w Kurytybie. Kanonizacja papieża Jana Pawła II wpływa także na brazylijską wspólnotę polonijną.

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Ar tigos UM DESCRENTE TENTA EXPLICAR O FENÔMENO “JOÃO PAULO II”1 Marcin KULA ∗

A tentativa de explicar a posição de João Paulo II no pensamento dos poloneses é arriscada na medida em que se pode facilmente enredar em obviedades ou banalidades. Entre as primeiras encontra-se o fator religioso, no caso do qual, para um descrente, como sou, torna-se difícil ser um bom comentarista. Entre as segundas, isto é, entre as afirmações banais, encontra-se o fato de que um cardeal polonês elevado ao trono pontifício, e ainda naquele período da história da Polônia, constituindo certo contrapeso para o comunismo, tinha de tornar-se uma grande autoridade para os poloneses. O poeta polonês Kazimierz Brandys assim se pronunciou a respeito da eleição do papa:

No dia da eleição de Karol Wojtyła como papa, as pessoas em Varsóvia corriam pelas ruas gritando de alegria. Um velhinho em lágrimas abraçou uma senhora que caminhava pela Rua Świętojańska: “A senhora ouviu? Um milagre! Um milagre!” − Não foram os poetas poloneses que inventaram o messianismo polonês. De repente, na mesma hora, todos se tornaram messianistas, como se há duzentos anos estivessem aguardando o dia da Vinda. Esse tipo de reação coletiva de irracionalismo podia ser transmitido apenas pelos genes de uma nação que no decorrer de dez gerações havia perdido a fé na justiça terrena da história. 1 A versão original do presente texto foi apresentada durante a discussão “João Paulo II − educador dos jovens”, organizada pelo Clube dos Intelectuais Católicos de Varsóvia, pela revista Przegląd Powszechny [“Revista Universal”] e pela Associação “Aliança das Famílias”, no âmbito do VIII Dia do Papa, em outubro de 2008. Na sua versão atual o texto foi publicado em: M. KULA. Kartki z socjologii historycznej. Warszawa: Wydawnictwo Naukowe SCHOLAR, 2014. ∗ Prof. Dr. Leciona na Universidade de Varsóvia.

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Ar tigos Foi preciso que houvesse tantos dilúvios domésticos, tantas partilhas e traições para que aquilo que em outros países é pensamento político, consciência cívica ou senso de direito aqui se transformasse na visão de um sinal sobrenatural vindo dos Céus.

Brandys acertou muito bem no alvo quando diagnosticou: “O ser humano no polonês clama hoje ao Papa: Resgata-nos, devolve-nos a dignidade de uma grande nação e diz ao mundo quem somos!”2

Examinando o mencionado fenômeno, várias vezes tenho refletido porém em suas outras fontes, especialmente naquelas que explicassem o indubitável sucesso de João Paulo II entre os jovens (e não apenas poloneses!). Não alimento a exagerada fé de que essa juventude ouvisse os ensinamentos do papa. A minha fé diminui principalmente quando olho para a maciça produção de colas dos estudantes, que de outra parte com certeza são religiosos. Mas afinal o papa tornou-se próximo da juventude. Quais podem ser as causas disso? A primeira é, na minha opinião, o colapso das ideologias até então existentes, que − para o bem ou para o mal − no século XX atraíam muitos jovens. Outros, muitas vezes também jovens, opunham-se a elas − mas mesmo nesse caso essas ideologias também os organizavam como seus adversários. O liberalismo que restou na oferta ideológica parece não ter essa força de atração por sua natureza. O caráter massivo da sociedade diminuiu a percepção das normas e muitas vezes eliminou o bem-compreendido controle. No âmbito das atuais mudanças ocorreu a relativização de muitas questões. Em razão do apressado ritmo dessas mudanças, o resultado é que nem os pais sabem muito bem como educar seus filhos. Diante desse pano de fundo o papa, que repete algumas verdades que permaneceram (embora talvez tenham perma2 Kazimierz BRANDYS. Miesiące. Warszawa: NOWA, 1980, p. 82-83.

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Ar tigos necido somente para uma parte da sociedade?) e que não hesita em fazer uma revisão dos pecados da própria Igreja em nome da verdade, apresentou-se como uma autoridade. Diante disso até o conservantismo dos costumes podia tornar-se uma pedra em que era possível apoiar-se. A segunda causa, a meu ver, é a circunstância de que a política muitas vezes deixou de ser um serviço social e, no caso de muitos políticos, tornouse uma forma de vida. Os políticos são percebidos como jogadores. E a mídia fortalece essa impressão. O papa, ao moldar o seu papel não como o papel de um político, mas até apresentando-se como “antipolítico”, ganhou na opinião de muitas pessoas. A terceira causa me parece ser a destruição da autoridade, que é demolida pela política ou − antes − os políticos com eficácia se destroem mutuamente. A atual civilização, tendo criado − com a ajuda da mídia − pouco numerosas autoridades seculares, diminuiu o que é o mais importante no processo da educação − o fato de que as autoridades eram, ou pelo menos podiam ser, pessoas próximas dos jovens. Com a exceção de algumas, ou de algumas dezenas de grandes personalidades, até na ciência ocorreu a mcdonaldização e a mediocrização de tudo. Na grande maioria dos casos o professor que passa pelo corredor já não é uma autoridade autônoma, mas apenas − na melhor das hipóteses − um instrumento para a transmissão de pensamentos surgidos em algum lugar distante; é um professor como que técnico. Para os jovens, os atletas locais eram autoridades. Hoje a distância entre a mediocridade e as grandes estrelas é grande demais. O papa ingressou naquele campo na melhor das hipóteses diluído das autoridades − ainda que ele mesmo fosse um produto da civilização contemporânea, no sentido de que sem os seus meios não teria sido percebido por tantas pessoas. A cultura pop é muito medíocre, mas é popular. Em certas áreas o papa foi capaz de ingressar na sua forma, o que lhe foi útil − e ele foi capaz de substituí-la por uma outra proposta. A sociedade contemporânea é fortemente atomizada. Aparentemente a internet nos assegura o contato com o mundo todo, mas a civilização atual

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Ar tigos atomiza. Trata-se de uma civilização incompreensível para a maioria das pessoas. Aparentemente temos tudo ao alcance do mouse do computador, mas os antigos mundos da aldeia ou da cidade pequena eram mais fáceis de ser compreendidos do que as decisões que ocorrem no âmbito do Fundo Monetário Internacional, da União Europeia, na bolsa de Tóquio, ou mesmo “somente” no seio do governo de determinado Estado. A nossa civilização é também uma civilização da concorrência, que muitas vezes opõe as pessoas umas às outras de forma brutal. É uma civilização nitidamente assinalada pela divisão em grupos que funcionam, como dizem os franceses, à deux vitesses − naqueles que tiveram sucesso e têm oportunidades para o futuro e nos restantes. Além disso, na nossa civilização se afirma que tal divisão é boa, até indispensável. Afinal, até na educação superior os estudantes com frequência cada vez maior são educados à deux vitesses. Já não existe o esporte médio − há apenas, por um lado, a mediocridade ou quase a mediocridade e, por outro, o grande mundo do esporte, onde em razão de poderosos interesses luta-se por uma pequena parcela de segundo. No entanto o papa acolhia a todos em seu coração. Ele se utilizava da experiência sociotécnica acumulada pela Igreja católica por dois mil anos e que lhe sugeria como ser universal, sendo ao mesmo tempo uma figura próxima de cada um em separado; como ser próximo dos grandes e como sê-lo ao mesmo tempo dos pequeninos; como criar um espaço de contatos não apenas com Deus, mas também com as outras pessoas; como contrapor a cultura do homem bom à concorrência ou até à brutalidade da vida diária. O papa era ajudado nisso pelo seu carisma pessoal e pela sua biografia, justamente bem conhecida na Polônia. O caminho de vida de João Paulo II permitia que muitas pessoas modestas com ele se identificassem. Muitas pessoas de grande potencial não se fizeram conhecer mais amplamente e não exerceram uma influência significativa sobre a História porque não se identificaram com o seu tempo. Não foi Colombo que descobriu a América. Ela foi descoberta pelos viquingues (para já não falarmos de

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Ar tigos hipóteses mais remotas!) − mas disso não resultou nada de permanente. Se não fosse a Revolução Francesa, Napoleão seria um tenente na Córsega. Bem, talvez como um jovem oficial capacitado tivesse avançado a capitão. Muitas grandes personalidades futuras tornaram-se grandes visto que entraram numa brecha ou, mais concretamente, no campo criado por uma necessidade surgida. Talvez a grandeza consista na percepção da necessidade, da possibilidade, numa postura decidida. Naturalmente, é preciso ter algo para propor em tal ocasião. João Paulo II tinha isso, mas o mundo lhe ajudou − inclusive pelas suas fraquezas.

RESUMO – STRESZCZEN W swoim artykule prof. Marcin Kula stara się z pozycji człowieka niewierzącego spojrzeć na fenomen papieża Jana Pawła II.

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Ar tigos JOÃO PAULO II DIANTE DOS COMPATRIOTAS NO EXTERIOR Wojciech NECEL SChr *

1. Introdução O ano da canonização do beato João Paulo II fornece uma oportunidade para uma nova percepção do testemunho de santidade de vida do Papa polonês e uma ocasião para uma nova interpretação da sua multifacetada doutrina, inclusive o testemunho e a doutrina dirigidos a milhões de poloneses que vivem no exterior, seja na primeira geração, seja nas gerações seguintes, ou ainda daqueles que em diversos países já constituem diásporas étnicas. Desde os primeiros momentos do pontificado de João Paulo II verificou-se que o seu ministério de Pedro à Igreja Universal e ao homem atual seria assinalado por peregrinações aos mais distantes recantos do mundo e a todas as pessoas de boa vontade e, junto a isso, pela sensibilização às necessidades de 250 milhões de migrantes e refugiados e a minorias étnicas que vivem distantes das suas comunidades natais1. Num contexto tão amplo, torna-se necessário empreender tentativas de sistematização do multifacetado ministério de João Paulo II diante dos vários milhões de pessoas que envolvem a diáspora polonesa em todos os continentes e nos países visitados pelo Papa dos emigrantes. O tema proposto pode induzir a estatísticas e cálculos que de forma sociométrica poderiam apontar para os quilômetros de sucessivos caminhos de peregrinação percorridos por João Paulo II e enumerar a quantidade dos encontros realizados com os poloneses espalhados ao longo desses caminhos de peregrinação, bem como poderiam levar à sintetização dos discursos papais pronunciados durante os encontros com as colônias polonesas, inclusive com a do Brasil. Um outro imFaculdade de Direito Canônico da Universidade Cardeal Estêvão Wyszyński em Varsóvia. 1 Cf. E. CLARIZIO. Pastoral Assistance to Seafarers.People on the Move, 9 (1979), n. 3, p. 54.

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Ar tigos portante elemento de tal trabalho seriam com certeza os numerosos encontros do papa polonês com grupos de peregrinos polônicos que têm ido a Roma e que com muita emoção têm vivenciado as audiências gerais das quartas-feiras e os encontros dominicais durante a oração do Ângelus, bem como as audiências especiais para os poloneses. De fato, frequentemente as capelas e os salões do Palácio Apostólico no Vaticano ou o pátio da residência de verão em Castel Gandolfo têm sido preenchidos pelo murmúrio da fala polonesa já com estrangeirismos emigratórios, mas sobretudo pelo pulsar dos corações que em João Paulo II buscavam o consolo paternal, a mitigação da dor emigratória e a animação da fé dos antepassados. Com base em numerosos testemunhos, podem ser observadas as mudanças que, independentemente do caráter específico do grupo emigratório (p. ex. de guerra, do pós-guerra, do Solidariedade ou do pós-Solidariedade), apontam para a elevação do cardeal Karol Wojtyła à dignidade de papa e para todo o pontificado de João Paulo II como para a causa direta da animação ou até do despertar da consciência cultural e da identidade nacional dos poloneses2. No entanto, da mesma forma que não se pode perceber a emigração polonesa e a diáspora dos poloneses que vivem fora das fronteiras da pátria fora do fenômeno da mobilidade em geral, também não se pode interpretar a mensagem de João Paulo II aos poloneses emigrados fora do contexto da sua mensagem dirigida a todos os migrantes ou, enfim, fora do contexto de toda a sua doutrina. 2. Mensagens de João Paulo II para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado Um importante documento da solicitude de João Paulo II pelos migrantes na Igreja, e portanto também pelos poloneses que vivem na diáspora, 2 Cf. J. GRUSZYŃSKI. Refleksje ze spotkań papieza Jana Pawła II z Polonią i Polakami w świecie. In: R. DZWONKOWSKI; S. KOWALCZYK; E. WALEWANDER. Papież Jan Paweł II a emigracja i Polonia 1978-1989. Lublin, 1991, p. 273-283; D. MOSTWIN. Znaczenie pontyfikatu Jana Pawła II w przemianach tożsamości Polonii amerykańskiej. In: D. DZWONKOWSKI; S. KOWALCZYK; E. WALEWANDER, op. cit., p. 139-152.

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Ar tigos fora das fronteiras da pátria, são as 20 sucessivos mensagens dirigidas aos fiéis cristãos por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Inicialmente essas mensagens tinham o caráter de uma carta do cardeal Secretário de Estado ao presidente da Comissão Pontifícia da Pastoral dos Migrantes e dos Turistas3. Depois de 1985, em razão da importância do problema, bem como em razão do aumento do número dos emigrantes, refugiados e fugitivos, bem como daqueles que viviam fora da própria comunidade nacional ou étnica, o próprio Santo Padre começou a dirigir mensagens especiais relacionadas com a situação religiosa, bem como social e política das pessoas “a caminho”. Essas mensagens eram dirigidas a todos a quem era próximo o desvelo pelo bem espiritual e religioso, mas também existencial, do emigrante e do refugiado. Muito amplo é o âmbito dos temas nelas propostos para a reflexão e das orientações para o empreendimento de ações que tivessem por objetivo a solução de certos problemas concretos, desde a preocupação com o respeito aos direitos fundamentais do homem diante do recém-chegado até a sua integração no ambiente em que se estabeleceu na comunidade eclesiástica local. Na primeira delas João Paulo II apontava para a integração eclesial dos recém-chegados no lugar em que se estabeleceram como para um efeito do direito deles à liberdade de escolha do lugar de residência (1985/1986)4. Por duas vezes o Santo Padre abordou diretamente o problema da família do migrante (1986/1987; 1993/1994), bem como as dolorosas questões relacionadas com as mulheres que vivenciavam a migração própria e a dos seus familiares (1994/1995). Por duas vezes também abordou a questão da difusão do Reino de Deus através dos movimentos migratórios, chamando a atenção ao proselitismo religioso que acompanha esse apostolado (1989/1990; 1990/1991), bem como enfatizando o papel de Nossa Senhora na solicitude do migrante pela sua identidade cultural e religiosa (1988/1989). O Santo Padre chamou também a atenção para o papel do laicato da Igreja católica romana diante dos migrantes (1987/1988) e apontou para a migração como para um fenômeno 3 Cf. Index of Subject Matters. People on the Move, 60 (1992), p. 1-50. 4 A primeira data aponta para o ano da assinatura da mensagem, a segunda, para o ano da celebração do Dia Mundial do Migrante para o qual a mensagem papal foi escrita.

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Ar tigos de encontro multicultural dos que recebem e dos que chegam (1991/1992), enfatizando especialmente entre os imigrantes aqueles que em razão da migração são privados dos direitos humanos (1995/1996). João Paulo II chamou igualmente a atenção ao relacionamento do fenômeno da migração com o desenvolvimento de determinado país ou região, tendo definido a própria migração em certos casos como indispensável (1992/1993). As três mensagens pontifícias seguintes para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que precederam o Ano do Grande Jubileu − 2000 abordaram a temática da fé diante dos problemas da migração (1996/1997); do papel do beato João Scalabrini como exemplo de recepção dos que chegam (1997/1998), bem como da percepção da migração através da virtude cardeal da caridade (1998/1999). Dessa forma João Paulo II preparou a Igreja para a sua grande mensagem no ano jubilar, na qual apontou as diretrizes da solicitude da Igreja pelas multidões dos migrantes nos diversos recantos do mundo (1999/2000). As mensagens anuais seguintes, já no início do terceiro milênio do cristianismo, apontam para a solicitude da Igreja pelos emigrantes como para um elemento comum do ministério sacerdotal (2000/2001), para o diálogo inter-religioso como traço essencial da pastoral em prol dos migrantes (2001/2002) e para a necessidade da superação de todas as xenofobias e nacionalismos que perigosamente podem acompanhar a presença do recém-chegado no seu novo lugar de estabelecimento e residência (2002/2003). Nas duas últimas mensagens, João Paulo II apontou para a migração como para um fenômeno da edificação da paz (2003/2004) e para a integração intercultural como para um processo que caracteriza o atual fenômeno da migração (2004/2005). 3. Congressos Mundiais da Pastoral dos Migrantes e dos Refugiados Para analisar a solicitude de João Paulo II pelos poloneses emigrados, é preciso também lembrar os cinco grandes Congressos Mundiais da Pastoral dos Migrantes e dos Refugiados que durante o seu pontificado realizaram-se em Roma. Esses congressos têm abordado temas muito importantes e programáticos para o engajamento apostólico da Igreja em prol dos migrantes. No primeiro deles foi abordado o problema da responsabilidade dos bispos

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Ar tigos e dos sacerdotes diante da pastoral dos migrantes no contexto da atual situação social e eclesial do migrante (12-17/03/1979)5. O congresso seguinte abordou o tema da integração eclesial do imigrante na Igreja ad quem como uma consequência do seu direito à liberdade (14-19/10/1985). A solicitude pelos atuais movimentos migratórios e o multifacetado e solidário desvelo pelos migrantes foram o tema do III Congresso Mundial da Pastoral dos Migrantes e dos Refugiados (30/09-05/10/1991). Da universalidade dos movimentos migratórios e da sua inserção estrutural na história do homem ocupou-se o IV Congresso, que se realizou no limiar da passagem dos séculos (05-10/10/1998). O último dos grandes Congressos Mundiais da Pastoral dos Migrantes e dos Refugiados (17-22/11/2003) procurou novamente abordar a temática do apostolado dos migrantes, apontando para a necessidade da volta a Cristo de maneira a haurir do Único Sacerdote e Mediador a força e o poder no desvelo pelo bem espiritual dos migrantes. 4. A integração do migrante como princípio da solicitude da Igreja pelos migrantes e refugiados Para João Paulo II, a migração da população, em toda a sua dramaticidade, que culmina no refúgio e na expulsão, é um fenômeno inserido na história do homem, enquanto que os próprios migrantes são aqueles que caminham para uma nova realidade, diferente daquela que deixaram, muitas vezes difícil, e por vezes até cruel, e trazem em si e consigo uma enorme riqueza, que é a sua herança espiritual e cultural6. Na origem da migração encontra-se o direito natural do homem a escolher o lugar de residência, e muitas vezes os variados conflitos e os urgentes problemas sociopolíticos, étnicos ou nacionais. As causas da migração encontram-se, então, na falta da ordem social, nas desigualdades econômicas, nas crônicas desavenças, na injusta distribuição dos bens materiais e na depreciação cultural dos pobres e de outros 5 Esse Congresso foi planejado ainda durante o pontificado de Paulo VI e devia realizar-se em novembro de 1978. 6 JOÃO PAULO II. Przemówienia do Polonii i Polaków za granicą 1979-1987 (red. R. Dwonkowski). London, 1988, p. 67.

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Ar tigos grupos. Na passagem dos séculos João Paulo II, como que sintetizando dois mil anos de cristianismo, apontou os caminhos da evangelização do terceiro milênio ao falar que “o caminho da Igreja é o homem”. Abordando a problemática dos emigrantes − daqueles que deixaram os seus países, as suas terras, as suas comunidades nacionais ou étnicas pátrias, as suas famílias e os seus familiares − o Papa, como Pai dos emigrantes e refugiados, apontava às comunidades que os acolhem a necessidade de abrir-se aos recém-chegados em espírito de solidariedade e respeito à sua dignidade. Por suas vez os próprios recém-chegados devem assumir a tarefa da responsável inserção na vida da sociedade que os acolhe, no plano profissional, cultural e cívico, com todos os direitos e obrigações no novo lugar de residência, preservando os valores da cultura nativa7. Para João Paulo II, a fonte da integração do imigrante é, por um lado, a vivência da própria identidade cultural e religiosa e, por outro, a positiva abertura à situação social, política e cultural do lugar de residência. O processo assim esboçado de integração, envolvendo várias gerações, conduz ao pleno respeito da identidade cultural e religiosa do migrante e ao seu pleno ingresso nas condições do novo lugar de residência. Para o Santo Padre o processo da integração do migrante, em razão da sua complexidade, é multifacetado e, sobretudo, envolve várias gerações e não se realiza em todas as áreas da vida no mesmo ritmo. Em suas mensagens aos migrantes, ele muitas vezes tem enfatizado que a diversidade cultural e religiosa é a que se prolonga por mais tempo. É ela que atinge o ser do homem e cria um fio invisível e dinâmico na educação das gerações seguintes8. A integração sociocultural 7 Idem. Przemówienie do Polonii francuskiej: “Tu powstało wiele największych arcydzieł kultury”. L’Osservatore Romano 1980, n. 6, p. 10: „A integração é certamente uma questão importante e necessária a todos. Hoje ninguém pode fechar-se em seu próprio gueto. Deveis servir ao país em que viveis, trabalhar por ele, amá-lo e contribuir para o seu desenvolvimento, desenvolver a vós mesmos, a vossa própria humanidade, aquilo que em vós se encontra, que vos constitui, sem falsificação, sem apagar aquelas linhas que apontam para trás”. 8 Idem. Do Polaków zamieszkałych w Szwajcarii: “Nowe czasy i nowe warunki, ale sprawy i zadania podobne”. L’Osservatore Romano, 1984, n. 6, p. 11: „Vós vos encontrais diante do importante problema do ingresso num ambiente diferente, da integração, com a simultânea preservação e com o aprofundamento da própria identidade: daquilo que trazeis em vós, que moldou em vós a fé, o rico formato da história, a história da salvação da nossa terra, a cultura nativa e a história pátria, que registraram e continuam a registrar a sua página [...]”.

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Ar tigos do migrante, entendida como sinergia de valores, conduz afinal à integração eclesial do migrante, isto é, à plena participação na vida da Igreja local a quo e da paróquia do lugar de residência. Dessa forma o imigrante, na primeira geração e nas seguintes, com a sua fé anima a vida da Igreja do lugar de estabelecimento e residência, bem como o capacita e mobiliza ao diálogo intercultural. Por sua vez a própria comunidade paroquial, de monocultural transforma-se em multicultural, aberta não apenas aos imigrantes católicos de outras culturas, mas − em espírito de solidariedade e de serviço evangélico − também a todos os cristãos e aos adeptos de outras religiões, bem como a todos os outros migrantes que buscam a Deus. 5. João Paulo II diante da integração eclesial do polonês no exterior Ao enfatizarmos o multifacetado e voluntário processo de integração necessário na pastoral de língua polonesa em prol dos poloneses emigrados, vale a pena também chamar a atenção para o fato de que João Paulo II conhecia o importante papel dos sacerdotes nos ambientes polônicos. Era a respeito deles que dizia: “Penso com gratidão em tantos sacerdotes poloneses que em bons e maus momentos, com sacrifício e dedicação, têm servido e continuam a servir aos emigrados. O fato de os emigrados poloneses não terem perdido a sua fé é um mérito deles. Foram eles que em grande medida contribuíram, apesar de inúmeras dificuldades e obstáculos, para a preservação da identidade, da língua e do vínculo com a Pátria, haurindo inspiração da nativa, cristã e católica cultura polonesa e nela buscando apoio”9. Fazendo referência ao princípio da integração sociocultural do migrante como fundamental na pastoral em prol do estranho e do recém-chegado, João Paulo II apontava coerentemente para o processo de integração eclesial apropriado à pastoral emigratória. O desvelo pelo encontro do compatriota-emigrante na Igreja local do lugar de residência manifesta-se em toda a doutrina de João Paulo II direcionada aos poloneses que vivem no estrangeiro. Em sua peregrinação a diversos recantos do mundo, o Santo Padre 9 Idem. Spotkanie z Polonią: “Przywiozłem tu także obraz Matki Boskiej Częstochowskiej”. L’Osservatore Romano, 1980, n. 5, p. 16.

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Ar tigos sentia-se especialmente responsável pelos compatriotas encontrados e pelo seu reencontro no novo lugar de residência. Durante um encontro com os poloneses na Austrália no dia 28/09/1987 afirmou: “Ao mesmo tempo tenho a obrigação de vos lembrar e desejo lembrar-vos, caros compatriotas, uma dupla responsabilidade: a responsabilidade por aquilo de onde procedeis, por aquilo em que se fixam as vossas raízes, a vossa identidade, e também a responsabilidade por aquilo em que vos inseris, que criais, pela vossa nova pátria. Essa responsabilidade se chama solidariedade”10. Durante os encontros com os poloneses João Paulo II apontava para o processo de integração sociocultural que os introduz organicamente na vida da Igreja do novo lugar de fixação e residência. A obrigação de preservar a própria identidade cultural11 e a criação conjunta de uma comunidade de fé, esperança e amor no novo lugar de residência constituem, na opinião do Santo Padre, duas direções no final coincidentes do processo de integração eclesial do polonês que vive fora das fronteiras da pátria. Em Detroit, no dia 19/09/1997, João Paulo II observava: “Continua sempre muito vivo e atual o processo de integração, e de uma integração em duplo sentido: trata-se da integração, do crescimento da consciência e da maturidade no seio da própria comunidade polônica e trata-se da integração no âmbito do país que é a vossa pátria. [...] quanto mais estiverdes conscientes da vossa consciência, espiritualidade, história e cultura cristã da qual se originaram vossos avós e pais, e da qual também vós vos originastes, tanto melhor servireis à vossa nova pátria, tanto mais capazes sereis de multiplicar o bem dos Estados Unidos”12. Para o papa polonês, a herança cultural dos seus compatriotas é um elemento essencial da integração e não possui um caráter estático, mas é um valor que permite de formas variadas ingressar na vida da Igreja a quo, e transformar a própria pastoral em prol dos migran10 Idem. Spotkanie z Polakami i przedstawicielami innych narodów: „Odpowiedzialność nosi imię solidarność”. L’Osservatore Romano, 1987, n. 3, p. 26. 11 Idem. Przemówienie do Rady Koordynacyjnej Polonii Wolnego Świata. Duszpasterz Polski Zagranicą, 2 (1980), p. 16: „E a respeito do futuro não se pode pensar tranquilamente quando se esquece do passado. Sem ele não podem ser encontradas aquelas raízes das quais se brota, porque elas são a chave para a compreensão de nós mesmos. E são a chave porque se inseriram em Cristo e em Sua Igreja”. 12 Idem. Spotkanie z Polonią. Duszpasterz Polski Zagranicą, 1 (1988), p. 17.

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Ar tigos tes numa pastoral “para os migrantes” e numa pastoral “com os migrantes”, fazendo dela uma parte estrutural do ministério comum de uma paróquia territorial multicultural. Dessa forma João Paulo II tem apontado como que as prioridades da pastoral em língua polonesa, e para todos os envolvidos em prol do bem espiritual da comunidade polônica. Ao desvelo pela fé e pela participação na vida, primeiramente do núcleo pastoral de língua polonesa, e ao desvelo pela identidade e pela língua pátria seria preciso acrescentar − segundo o papa polonês − o desvelo pela família e pela preservação dos vínculos com a pátria e a cultura polonesa cristã13. 6. A pátria e o patriotismo reinterpretados Desde o início do seu pontificado, João Paulo II tem enfatizado coerentemente as suas raízes polonesas. À juventude reunida em Gniezno, durante a sua primeira peregrinação à Polônia, dizia que era polonês, um emigrantes polonês “que desde o início deve a sua formação espiritual à cultura polonesa, à literatura polonesa, à música polonesa, à plástica, ao teatro, à história polonesa, às tradições cristãs polonesas, às escolas polonesas, às universidades polonesas”14. Muitos novos impulsos para a moldagem da pastoral em língua polonesa no início do século XXI são encontrados pelos próprios sacerdotes poloneses, mas também pelos poloneses que vivem fora das fronteiras da Pátria, na reflexão transmitida por João Paulo II em Memória e identidade. Diálogos na passagem dos milênios15, na parte intitulada “Pensando pátria... Pátria − nação − Estado”. No contexto da reflexão a respeito da pátria, do patriotismo, da nação, da história, o Santo Padre observa que “a pátria [...] é uma herança, e ao mesmo tempo é um estado de posse resultante dessa herança − incluindo também a terra, o território, porém mais ainda os valores e os conteúdos es13 Cf. E. SZYMANEK. Wskazania pastoralne zawarte w przemówieniach Jana Pawła II do Polonii. In: R. DZWONKOWSKI; S. KOWALCZYK; E. WALEWANDER, op. cit., p. 121-137. 14 Jan Paweł II w Polsce 1979-1983. Homilie i przemówienia. Warszawa, 1986, p. 34. 15 JOÃO PAULO II. Pamięć i tożsamość.Rozmowa na przełomie tysiącleci. Kraków, 2005.

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Ar tigos pirituais que compõem a cultura de determinada nação”16. Na reflexão realizada, analisado o relacionamento Pai e Filho e a vinda do Filho à terra e a Sua volta ao Pai, o Santo Padre aprofunda igualmente o tão importante conceito da pátria − de maneira especial no ambiente emigratório. Na opinião de João Paulo II, “o Evangelho conferiu [...] um novo significado ao conceito de pátria. A pátria, no seu sentido primitivo, significa o que herdamos dos nossos pais e das nossas mães terrenas. O patrimônio que devemos a Cristo direciona o que pertence à herança das pátrias humanas e às culturas humanas em direção à pátria eterna. [...] O afastamento de Cristo ampliou o conceito de pátria em direção à escatologia e à eternidade, mas sem retirar nada do seu conteúdo temporal. [...] A pátria como patrimônio procede de Deus, mas ao mesmo tempo procede também de certa forma do mundo. Cristo veio ao mundo para confirmar a eterna lei do Pai, do Criador. Mas ao mesmo tempo deu início a uma cultura completamente nova”17. 7. Contribuição necessária para a civilização, a cultura e a fé A título de conclusão ou de síntese, uma reflexão estimulante para hoje. Que a análise apresentada sirva antes de contribuição para a continuidade de uma análise aprofundada do múltiplo empenho de João Paulo II pelo bem espiritual dos poloneses e dos seus descendentes que vivem fora da pátria e, dessa forma, de contribuição para a realização do programa que ele deixou à comunidade polônica brasileira, aos seus pastores e aos líderes polônicos durante o encontro no dia 5 de julho de 1980 em Curitiba. Naquela ocasião o papa primeiramente lembrou aos presentes a história dos seus antepassados, que “buscavam terra neste imenso país que lhes podia oferecê-la. Mas sabemos muito bem como foi difícil a vida deles em terra estrangeira. Eles deixavam o seu país de mãos vazias, algumas vezes talvez famintos. Partiam, no entanto, com a profunda fé que lhes havia sido incutida pelos pais, com a cruz, sinal de salvação, embutida em seus corações, e essa foi a força para a vitória deles”. Tecendo a seguir uma reflexão a respeito da história da mino16 Ibidem, p. 66. 17 Ibidem, p. 69.

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Ar tigos ria étnica polonesa no Brasil, desvendou mais um traço da especificidade da emigração polonesa. “Quando aqui chegaram [os emigrantes pioneiros], as áreas melhores já haviam sido ocupadas por outros. Estabeleciam-se então no interior do país, onde havia mais terra: no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina. Era preciso primeiramente derrubar a mata. Algumas terras eram pouco produtivas, pedregosas e montanhosas. Além disso, não estavam preparados para a agricultura num clima e em condições diferentes. Tiveram de trabalhar muito pesado nos lotes recebidos, vivendo espalhados por uma grande área e com o seu próprio suor e sangue orvalharam esta terra na qual vós agora viveis”, e por isso “numa das praças de Curitiba encontra-se o monumento do Semeador, que simboliza e torna memorável a contribuição que a emigração polonesa, ao lado de outras nações, tem dado e continua a dar para a edificação deste enorme e jovem país. Contribuição para a sua civilização e cultura, contribuição para a sua fé”18.

RESUMO – STRESZCZENIE

Ks. Prof. Wojciech Necel TChr, w zamieszczonym powyżej artykule, stara się przybliżyć czytelnikowi wpływ papieża Jana Pawła na społeczność polonijną w świecie. Papież podczas wizyt apostolskich odbywanych w różnych krajach spotykał się także ze swymi rodakami. Autor wspomina także o przesłaniach papieskich na Światowy Dzień Migranta i Uchodźcy. Przybliża czytelnikowi patriotyzm św. Jana Pawła II i jego wpływ na cywilizację wiarę i kulturę

18 Papież Jan Paweł II do Polonii i Polaków za granicą (red. R. DZWONKOWSKI). Ząbki, 2007, p. 81-82.

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Ar tigos O BRASIL NA DIPLOMACIA DE JOÃO PAULO II Mons. Tomasz GRYSA *

Todo papa é também o chefe da diplomacia da Santa Sé. Ele realiza essa tarefa através dos seus colaboradores na Secretaria de Estado e enviando aos países independentes os seus representantes − os Núncios Apostólicos. Mas algumas vezes o próprio papa se envolve na atividade diplomática, especialmente por ocasião de encontros com chefes de Estado e com diplomatas, tomando a palavra em questões relacionadas com a situação internacional, os direitos do homem, os conflitos armados ou as relações Igreja-Estado. Além do seu incomum carisma pastoral, o Santo Papa João Paulo II possuía também grandes aptidões diplomáticas. Estas se evidenciaram mais na frente europeia oriental, principalmente durante as viagens à Polônia, onde as suas palavras e o apoio moral a uma renascente comunidade cívica contribuíram para a derrubada pacífica do regime comunista em sua pátria e em outros países do Pacto de Varsóvia. Menos conhecida é a contribuição pessoal de João Paulo II para o desenvolvimento das relações entre a Santa Sé e o Brasil, e creio que esse tema possa interessar a comunidade polônica residente no país. Os empenhos diplomáticos de João Paulo II em prol da Igreja católica no Brasil foram realizados no dia a dia por quatro sucessivos Núncios Apostólicos. Foram eles: o arcebispo Carmine Rocco, nomeado ainda por Paulo VI (1973-1982), o arcebispo Carlo Furno (1982-1992), o arcebispo Alfio Rapisarda (1992-2002) e o arcebispo Lorenzo Baldisseri (2002-2012), cuja atividade envolveu igualmente o pontificado de Bento XVI. Durante o pontificado de João Paulo II, no dia 23 de outubro de 1989, foi assinado o Acordo entre a Santa Sé

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Conselheiro da Nunciatura em Brasília – DF.

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Ar tigos e o Brasil relacionado com a pastoral militar, que na realidade nunca foi ratificado, mas tornou-se de facto o ponto de referência para a assistência pastoral nas Forças Armadas brasileiras. No entanto, as mais interessantes são as intervenções pessoais de João Paulo II assinalando a direção da ação diplomática pontifícia no Brasil. Expressam-se elas em 14 discursos, que podem ser definidos com o título de “diplomáticos”, contendo as ideias e os pontos de vista fundamentais do Santo Padre a respeito do povo brasileiro, dos condicionamentos políticos e das relações Igreja-Estado. Naturalmente, os pronunciamentos de João Paulo II sobre o Brasil são muito mais numerosos, mas a maioria deles têm um caráter pastoral, e apenas em ocasiões especiais são abordados temas sociais e políticos. No entanto os discursos aqui apresentados possuem um caráter eminentemente diplomático, em razão do seu conteúdo e das circunstâncias em que foram pronunciados. Menciono-os em ordem cronológica, para depois citar unicamente o número do discurso: 1. Discurso ao Presidente e às Autoridades da República Federativa do Brasil, Brasília, 30 de junho de 1980. 2. Discurso aos membros do Corpo Diplomático acreditado no Brasil, Brasília, 30 de junho de 1980. 3. Discurso a S. Exa. Sr. Antônio Corrêa do Lago, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 21 de novembro de 1981. 4. Discurso a S. Exa. o Sr. Carlos Frederico Duarte Gonçalves da Rocha, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 21 de janeiro de 1985. 5. Discurso a S. Exa. o Sr. Affonso Arinos de Mello-Franco, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 3 de março de 1986. 6. Discurso a S. Exa. o Sr. José Sarney, Presidente do Brasil, Vaticano, 10 de julho de 1986.

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Ar tigos 7. Discurso a S. Exa. o Sr. Gilberto Coutinho Paranhos Velloso, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 2 de abril de 1990. 8. Discurso ao Presidente às Autoridades da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 de outubro de 1991. 9. Discurso aos membros do Corpo Diplomático acreditado no Brasil, Brasília, 14 de outubro de 1991. 10. Discurso a S. Exa. o Sr. Francisco Thompson-Flôres Netto, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 11 de novembro de 1995. 11. Discurso a S. Exa. o Sr. Fernando Henrique Cardoso, Presidente do Brasil, Vaticano, 14 de fevereiro de 1997. 12. Discurso a S. Exa. o Sr. Marco César Meira Naslausky, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 12 de novembro de 1998. 13. Discurso a S. Exa. o Sr. Oto Agripino Maia, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano, 7 de abril de 2001. 14. Discurso a S. Exa. a Sra. Vera Barrouin Machado, Embaixadora do Brasil junto à Santa Sé, Vaticano 11 de outubro de 2004. Todos esses discursos foram publicados, nas datas correspondentes, em Acta Apostolicae Sedis e em L’Osservatore Romano. 1. As prioridades da diplomacia pontifícia Já durante a sua primeira peregrinação ao Brasil, em 1980 , o Papa João Paulo II enfatizou o caráter excepcional das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Brasil, existentes há mais de um século e meio, “ininterruptas e cada vez mais sólidas” (Discurso n. 1). Efetivamente, o primeiro Embaixador do Brasil, o monsenhor Francisco Corrêa Vidigal, entregou as credenciais ao Papa Leão XII já em 1826. Desde então as relações diplomáticas nunca foram rompidas, mesmo no período da chamada Questão Religiosa (1872-1875).

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Ar tigos João Paulo II gostava de fazer referência a essa tradição ininterrupta em diversas ocasiões (cf. Discursos n. 3, 7 e 11). Durante a segunda peregrinação, no encontro com o Corpo Diplomático na Nunciatura Apostólica em Brasília, o Papa explicava a razão por que a Santa Sé estabelece relações diplomáticas com os Países. Dizia então: A Sé Apostólica envia os seus representantes aos vários Países que colaboram não só para o desenvolvimento das Igrejas locais, mas também para o bem civil e humano das populações. A Igreja, que é depositária de um “humanismo novo”, um “humanismo cristão”, é capaz de realizar uma tarefa humanizadora em sintonia com sua tarefa primeira, que é a evangelizadora. Ela exercerá com tanto maior impacto e eficácia sua função humanizadora − de fermentação cultural, promoção humana, alfabetização e educação de base, assistência social, conscientização popular − quanto mais fiel for ela à sua missão primordial que é, e seguirá sendo, religiosa. É sob este prisma que a Igreja se faz presente em todas as Nações onde mantém Representações diplomáticas, e aspira iniciá-las onde isso ainda não foi possível (Discurso n. 9). Esse aspecto religioso da diplomacia pontifícia era abordado por João Paulo II quase que em cada um dos citados discursos e, de maneira geral, em numerosos pronunciamentos de caráter diplomático. Ao mesmo tempo o Papa enfatizava que as missões da Igreja e do Estado encontram-se num ponto comum: “o homem e o bem da Pátria”, condicionado com premissas adequadas, que são “o entendimento respeitoso, a preocupação de independência mútua e o princípio de servir melhor ao homem, dentro de uma concepção cristã” (Discursos n. 8 e 14). Dirigindo-se aos diplomatas acreditados no Brasil, durante a sua primeira peregrinação, o Santo Padre chamou a diplomacia “uma via de sabedoria, neste sentido: conta com a faculdade dos homens de boa vontade de se escutarem e compreenderem, de encontrarem soluções negociadas e progredirem a par, em vez de se enfrentarem” (Discurso n. 2). Chamava também a atenção ao fato de que a Igreja sempre tem considerado como uma ferramenta

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Ar tigos indispensável na solução dos problemas o diálogo inter-humano, que permite perceber no semelhante um irmão e − à luz do Evangelho de Cristo − também um filho de Deus. Resulta daí a nobre obrigação de países mais desenvolvidos, tais como o Brasil, de demonstrar solidariedade com os países que com suas próprias forças não teriam condições de chegar a um justo e racional nível de desenvolvimento, a um nível adequado à dignidade da pessoa humana (cf. Discurso n. 9). Por outro lado, a Igreja estimula toda nação a agir em prol da melhoria das relações internacionais, não apenas para afastar a ameaça de um conflito ou diminuir a tensão entre os países, mas para solidariamente fazer frente aos grandes desafios dos quais depende o futuro da humanidade (cf. Discurso n. 2). No caso do Brasil, já no seu primeiro discurso João Paulo II esboçou as três questões principais que têm permanecido no centro da atenção da diplomacia pontifícia durante todo o seu pontificado. São elas: a ecumenicidade brasileira, a evangelização e a dinâmica juventude da sociedade. 2. “Ecumenicidade brasileira” Pelo conceito de “ecumenicidade brasileira” o santo Papa compreendia o traço “capaz de integrar povos e valores de diversas etnias, os quais contribuem decerto para as características de abertura e universalidade da cultura deste País” (Discurso n. 1, cf. Discurso n. 4). Mas, para que essa integração se possa realizar e fortalecer, o país necessita da paz − da paz exterior e interior: Pode parecer banal sublinhar ter cada país o dever de preservar a sua paz e segurança no interior. Mas deve em certo modo “merecer” esta paz, assegurando o bem comum de todos e o respeito dos direitos. O bem comum de uma sociedade exige que esta seja justa. Onde falta a justiça, a sociedade está ameaçada pelo interior. O que não quer dizer que as transformações necessárias para conseguir maior justiça devam operar-se na violência, na revolução e na efusão de sangue, porque a violência prepara uma sociedade de violência, e nós, cristãos, não podemos concordar com ela. Mas quer dizer que há trans-

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Ar tigos formações sociais, às vezes profundas, para serem realizadas constantemente, progressivamente e... realismo, por meio de reformas pacíficas (Discurso n. 2). Essas palavras foram pronunciadas durante a primeira peregrinação ao Brasil, quando ainda perdurava a ditadura militar. Alusões ao final dessa ditadura podem ser encontradas no discurso do Santo Padre por ocasião da cerimônia da entrega das credenciais pelo Embaixador Carlos Frederico Duarte Gonçalves da Rocha, quando o Papa falava do momento histórico na vida da nação brasileira, ao qual “corresponde uma expectativa geral, que desejo venha a ser felizmente satisfeita”. João Paulo II expressou então a convicção de que na realização desse desejo universal da nação seria útil sobretudo “a índole generosa da sua gente. Esta continuará a empenhar-se, por certo, pelo maior bem de cada brasileiro, para que disponha de meios suficientes para uma realização integral, numa participação responsável e esclarecida na vida e nos destinos da comunidade” (Discurso n. 4). O Santo Padre tem expressado por diversas vezes a convicção acerca da especial aptidão dos brasileiros para a edificação de uma sociedade aberta e hospitaleira a todos, falando do “povo muito querido: bondoso, dócil e hospitaleiro, ao mesmo tempo que possuidor de um rico patrimônio cultural”, dotado de numerosas virtudes: “compreensão, tolerância, afabilidade e compaixão; dotes que, na grande maioria, se mostram valorizados pelos ditames da fraternidade, inseparáveis da condição cristã” (Discurso n. 5). No entanto o Papa tinha consciência das dificuldades que se apresentam no caminho da plena integração social e por isso, num discurso ao Presidente José Sarney, que precedeu uma missa no Vaticano, mencionou alguns problemas urgentes do período posterior à ditadura militar: Vamos pedir por todo o Brasil e cada um dos brasileiros, para que a solidariedade e o amor social, vivificados pela caridade, levem a remediar e prevenir, neste imenso e dileto País, situações de pauperismo e desequilíbrios econômicos; que ninguém fique excluído do desenvolvimento e dos bens do progresso; que uma vez mais neste momento de mutação, como noutras situações

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Ar tigos de impasse, se conjuguem boas vontades e esforços para salvaguardar e aumentar o patrimônio de valores espirituais e morais − a riqueza mais segura e veraz de um País imensamente rico − e para responder aos desafios que se apresentam à grande família brasileira (Discurso n. 6). Para atingir o objetivo que é o progresso e o desenvolvimento social, João Paulo II apontava para a necessidade da solidariedade, no seu aspecto nacional e internacional. Na dimensão ética, a solidariedade “obriga a evitar abusos de liberdade por parte de uns, em detrimento da liberdade de outros; e a todos obriga também a comungar a determinação firme e perseverante pelo bem comum, de maneira que todos se sintam verdadeiramente responsáveis por todos” (Discurso n. 7). A uma solidariedade assim entendida o Papa encorajou várias vezes durante a sua segunda peregrinação ao Brasil, e ao presidente Fernando Collor de Mello, que logo depois encerrou o seu governo em razão de um impeachment, disse claramente: “O Brasil atravessa, neste momento da sua história, uma fase que todos sabem ser delicada, face aos imensos problemas sociais e econômicos cuja solução não admite mais dilações. O Povo de toda a Nação tem voltados seus olhos para as decisões que tomais, na esperança de um porvir mais luminoso e feliz para os seus filhos” (Discurso n. 8). Essa “etapa delicada” na história do Brasil, que num discurso ao Presidente Fernando Henrique Cardoso o Papa chamou de “uma fase turbulenta da sua história mais recente”, tem sido objeto de especial solicitude da sua parte. Por isso, por ocasião de uma visita do Presidente Cardoso no Vaticano, ele esboçou as principais áreas da vida social que exigiam o esforço e o engajamento comum: O cenário da vida brasileira aponta na direção de um esforço geral, em vias de aperfeiçoamento, para que a justa distribuição da riqueza seja um fato sempre mais abrangente, para cobrir as distâncias entre pobres e ricos, na atenção e solidariedade para com os menos favorecidos e carecidos de ajuda. O respeito pelas populações indígenas, o empenho por uma reforma agrária atuada de

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Ar tigos acordo com as leis vigentes, a preservação do meio ambiente, entre outras motivações, justificam iniciativas sempre corajosas visando o enobrecimento da causa democrática. Por outro lado, cabe ressaltar também os inegáveis direitos de toda pessoa humana onde possam cultivar-se os valores culturais, espirituais e morais − patrimônio comum a ser promovido e assegurado. E isso, começando pelos setores vitais para a comunidade, como sejam: a família, a infância e a juventude, a instrução e a previdência social (Discurso n. 11). Com efeito, a integração e a solidariedade social só podem realizarse quando se leva em conta − como o definiu de forma lapidar João Paulo II na sua encíclica programática Redemptoris missio − “o homem todo e todos os homens” (Discursos n. 7, 10, 13 e 14). Para atingir esse objetivo, torna-se necessária uma ética verdadeiramente universal, acima das ideologias, “que devolva confiança ao mundo e dê sentido à vida” (Discurso n. 13), e cujas raízes o Brasil pode encontrar na herança da fé cristã, “desde as origens do seu povo, pela evangelização plantada pelos seus descobridores há mais de cinco séculos” (Discurso n. 14). 3.“Terra da Santa Cruz” O primeiro nome dado ao Brasil foi “Terra da Santa Cruz”, em memória de um cruzeiro levantado no litoral da terra recém-descoberta, há mais de 500 anos. João Paulo II utilizava-se dessa definição com frequência e de bom grado, apontando para as raízes cristãs da nação brasileira e aludindo à obra da evangelização (cf. Discursos n. 3, 5, 8, 12 e 13). Segundo o Papa, a evangelização no Brasil realizou-se “em moldes tais e com uma tal continuidade que deixou marcas profundas na vida deste Povo, proporcionando-lhe sem dúvida, na medida em que isso cabe na missão da Igreja, luzes, normas e energias morais e espirituais com as quais foi plasmando a comunidade humana e nacional” (Discurso n. 1). Desde 1500 o Evangelho tem sido pregado por uma multidão de missionários, entre os quais se distinguem santos e beatos mencionados pelo Santo Padre em seus pronunciamentos: S. José de Anchieta − beatificado por João Paulo II no dia 22 de junho de 1980, e no dia 3 de abril

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Ar tigos de 2014 canonizado pelo Papa Francisco −, que atuou “em perigos [...] esforçados, mais do que permitia a força humana” (Discurso n. 3); S. Frei Galvão, “por todos conhecido como o homem da caridade e da paz”− beatificado por João Paulo II no dia 25 de outubro de 1998 e canonizado pelo Papa Bento XVI no dia 11 de maio de 2007 −, que “sinaliza a todos os homens de boa vontade o caminho de uma Nação cada vez mais justa e mais fraterna” (Discurso n. 12); os beatos Protomártires do Brasil, beatificados por João Paulo II no dia 5 de março de 2000, que preservaram a herança da fé “à custa do derramamento do sangue” (Discurso n. 13). Essa “diplomacia dos Santos” serviu ao Papa para reivindicar os valores que têm as suas raízes na herança cristã do Brasil. Entre eles, apresenta-se em primeiro lugar uma visão cristã do homem, a respeito do qual João Paulo II falava já durante a sua primeira peregrinação ao Brasil: O homem não pode abdicar de si mesmo, nem do lugar que lhe compete no mundo visível; o homem não pode tornar-se escravo das riquezas materiais, do consumismo, dos sistemas econômicos, ou daquilo que ele mesmo produz; o homem não pode ser feito escravo de ninguém nem de nada; o homem não pode prescindir da transcendência − em última análise, de Deus − sem amputação no seu ser total; o homem, enfim, só poderá encontrar luz para o seu “mistério” no mistério de Cristo (Discurso n. 1). Por diversas vezes o Papa tem enfatizado a necessidade de preservar o caráter transcendental da pessoa humana, que é membro tanto da Nação como da Igreja (cf. Discurso n. 4). E apontava para a longa e exemplar tradição da cooperação da Igreja católica com as autoridades civis do Brasil na obra da moldagem dos valores e da busca do bem comum. Mas, acima de tudo, o Santo Padre defendeu com determinação a santidade da vida humana: Será sempre na fidelidade a Deus e ao seu plano salvífico que a Igreja colocará o homem na primeira linha do seu empenhamento pastoral, proclamando que a dignidade e a vocação da pessoa, como a sua vida, são algo sagrado; que todos não somos demais para que se mantenha a sacralidade da vida de cada

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Ar tigos ser humano, assegurando-a em todos os momentos de sua existência; todos não somos demais para salvaguardar os bens preciosos da família e do matrimônio, com suas inseparáveis características e suas indeclináveis funções em relação à vida e educação da prole. Sim, todos não somos demais para ajudar o homem a ser mais homem, auxiliando-o: a passar da “margem” para a estrada firme da vida autêntica; a saber distinguir as suspeições e propagandas com bases ideológicas que não levam a Deus e, enfim, a saber vencer perplexidades e perturbações em suas escolhas éticas (Discurso n. 5). O tema do respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural e do respeito ao direito da família a gerar e educar os filhos aparece com frequência nos pronunciamentos de João Paulo II (cf. Discursos n. 1, 6, 8, 10, 11, 13 e 14). Ao mesmo tempo conclamava ele a que o Brasil − baseando-se em seus fundamentos cristãos − edificasse o bem comum sobre as bases evangélicas do amor e da justiça: O Brasil, na sua condição de país prevalentemente católico, cuja influência marcante foi celebrada dentro das comemorações dos 500 anos do seu descobrimento, manifesta a identidade espiritual, cultural e moral do próprio povo. Insistir sobre este aspecto não será nunca demasiado, haja vista que o elemento formativo cristão foi determinante entre os fatores que contribuíram para a paz e a estabilidade da vida nacional, sem conturbações de maior relevo, ao longo destes cinco séculos de história. Por isso, a Igreja, ao recordar os princípios básicos do Evangelho na vida de cada cidadão e da comunidade, nada faz mais que zelar por esse patrimônio espiritual e moral, conservado muitas vezes à custa do derramamento de sangue de mártires do presente e do passado (Discurso n. 13). Entre os direitos fundamentais que resultam do caráter cristão da nação brasileira, ocupa um lugar especial a liberdade religiosa, “que encontra neste Brasil, que nos hospeda, um digno exemplo” e que estimula a sociedade a buscar a autêntica liberdade e o autêntico progresso (Discurso n. 9). E o progresso moral e espiritual tornou-se possível também graças à atividade

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Ar tigos educacional e caritativa da Igreja no Brasil: Digna de menção, sem dúvida, é a paciente e corajosa ação dirigida a elevar o nível cultural e moral da vossa gente, através de uma tradição mais do que centenária de instituições religiosas de ensino e de uma formação do povo nas dioceses e nas paróquias disseminadas no vasto território nacional. Ao mesmo tempo, não é possível olvidar a firme determinação do episcopado brasileiro na defesa dos pobres e dos humildes − os mais desprotegidos da sociedade − que têm o direito a aspirar por uma vida melhor e mais digna. Esta, que tem sido sempre uma constante na vida e na consciência da Igreja no Brasil, recebe agora um novo impulso por parte de diversas entidades não governamentais que colaboram, não sem inúmeras dificuldades, para uma verdadeira mobilização de solidariedade cristã, visando aliviar o peso dos sofrimentos de uma vasta camada da sociedade (Discurso n. 10). João Paulo II tem enfatizado essa singular contribuição da Igreja para a educação no espírito dos autênticos valores morais e espirituais (cf. Discurso n. 11), apontando que dela depende o futuro da nação, especialmente o futuro da família. Foi por isso que, levando em conta o imenso potencial dos jovens, o Papa escolheu para a celebração do II Encontro Mundial com as Famílias, nos dias 2-5 de outubro de 1997, a cidade brasileira do Rio de Janeiro. No discurso ao Embaixador Meira Naslausky, o Santo Padre lembrou as suas palavras da homilia pronunciada para o encerramento do encontro, assinalado que “através da família, toda a existência humana é orientada para o futuro. Nela, o homem vem ao mundo, cresce e amadurece. Nela, ele se torna um cidadão sempre mais maduro do seu país, e um membro da Igreja sempre mais consciente” (Discurso n. 12). 4. “A maior riqueza de um País imensamente rico” Essa definição, extraída do discurso de João Paulo II ao Embaixador Affonso Arinos de Mello-Franco (cf. Discurso n. 5) e repetida por ele alguns dias mais tarde durante a visita ad limina dos bispos brasileiros da Regional Leste-2 (8 de março de 1986), expressa muito bem a convicção do Santo Padre

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Ar tigos a respeito do dinamismo da juventude brasileira, que é, “com suas respeitáveis tradições e qualidades peculiares, garantia segura de que a Nação há de superar os obstáculos que for encontrando na sua caminhada histórica, rumo a um amanhã melhor” (Discurso n. 1). A fé na juventude e o contato próximo com os jovens é um traço característico de todo o pontificado de João Paulo II; por isso, não é de admirar que ele muitas vezes tenha chamado a atenção ao papel que pode e deve desempenhar a geração dos brasileiros jovens na vida da Igreja e da sociedade. Falando da Igreja no Brasil, o Papa enfatizava: Sobre a vitalidade das dioceses, das paróquias e demais comunidades de vária ordem, em que se processa a vida eclesial na sua pátria, se fundamenta a confiança de que, animada pelo espírito do Evangelho, a Igreja no Brasil vai prosseguir a fomentar nos corações, sobretudo dos jovens, dos muitos e esperançosos jovens brasileiros − “a maior riqueza de um país imensamente rico” − abertura salutar aos verdadeiros valores universais: amor sem fronteiras, liberdade esclarecida, solidariedade fraterna, paz como bem supremo na peregrinação terrena do homem, justiça social” (Discurso n. 5). Com efeito, um traço característico do Brasil é o fato de ser ele uma nação jovem, “que acredita em si mesma, cheia de esperança num amanhã melhor, consciente do seu futuro e empenhada em libertar-se de entraves ao desenvolvimento e realização que todos desejam” (Discurso n. 7). O Papa olhava para essa jovem nação com esperança, chamando ao mesmo tempo a atenção para a necessidade da plena integração dos jovens na sociedade: “O Brasil não pode abrir mão de sua maior riqueza − o imenso contingente de crianças e jovens que precisam ser integrados plenamente na vida social, no trabalho, na efetiva cidadania” (Discurso n. 8). E é justamente a esperança, baseada no fenomenal dinamismo dos jovens, a última palavra da diplomacia pontifícia diante do Brasil. O desejo de João Paulo II era que “cada brasileiro se sinta mais ativo de tal esperança, a fim de encontrar a coragem e a generosidade para aqueles esforços que exige

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Ar tigos de todos a superação de contrastes” (Discurso n. 7). O potencial da juventude coloca também o Brasil numa situação internacional privilegiada e fornece ocasião para “que o Brasil possa contribuir, neste limiar do terceiro milênio, ao clima de estreitamento das relações cordiais e de sincera cooperação no Continente sul-americano, o Continente da Esperança” (Discurso n 10). Por ocasião da entrega das credenciais pelo Embaixador Oto Agripino Maia, o Santo Padre confessou: “As viagens pastorais realizadas no vosso solo pátrio marcaram-me profundamente, consolidando a esperança de que o Brasil queira prosseguir como guia de muitas nações latino-americanas” (Discurso n. 13). A história dos últimos anos mostra como o Brasil − ainda que com dificuldades − está dando conta desse papel e como se mostrou previdente a intuição de João Paulo II e a sua fé nos jovens. Apesar das dificuldades que os brasileiros ainda terão de enfrentar, a última palavra permanece sendo a esperança: “a esperança de que este País-Continente saberá equacionar os seus problemas, para desempenhar bem o papel de primeiro plano que lhe toca, no concerto dos Povos, neste momento histórico” (Discurso n. 5).

RESUMO – STRESZCZENIE

Ks. Prałat Tomasz Grysa, jak Radca Nuncjatury Apostolskiej w Brazylii mając dostęp do dokumentów związanych z kontaktami papieża Jana Pawła II z brazylijskimi politykami i dyplomatami, w artykule powyższym, zarysował przed czytelnikiem bogactwo myśli, jak też szacunku papieża do Brazylijczyków i ich kraju.

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Ar tigos INSTITUIÇÕES DA ÁREA DE DOMINAÇÃO AUSTRÍACA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE OS IMIGRANTES POLONESES Regina WEBER ∗

Por motivação de um evento acadêmico intitulado “Imigrantes do Império Austro-Húngaro”1 busquei situar os dados sobre imigrantes poloneses no sul do Brasil em temos de sua procedência da área sob dominação austríaca. Inicialmente, observei que, tomando por base a bibliografia existente, não seria possível mensurar em números e porcentagens os dados sobre os imigrantes provenientes de cada uma das três regiões ocupadas. Os dados sistematizados por Kazimierz Gluchowski, o primeiro cônsul (no Paraná)2 da Polônia livre após o fim da Primeira Guerra Mundial, são, segundo suas próprias palavras, “apenas aproximados”. Usando de modo cauteloso os dados estatísticos “oficiais”, Gluchowski (2005, p. 15) preferiu elaborar seus próprios cálculos, “fundamentados ora no contato direto com as respectivas pessoas e questões, ora em dados que me foram fornecidos por líderes muito bem familiarizados com determinada região”. Este texto clássico, agora disponível em português, é um dos que se utiliza da noção “febre brasileira” (intensificação da emigração para o Brasil na década de 1890), e, tal como sistematiza Wachowicz (1981, p. 18), a região mais atingida foram cidades do domínio russo. Gardolinski (1956, p. 12) justifica o predomínio de imigrantes oriundos da região de ocupação russa, seja para o Brasil, seja especificamente para o estado do Rio Grande do Sul, pelo inclemente domínio político e econômico da Rússia tzarista, cujos efeitos manifestaram-se em imigrantes camponeses, sem “bens materiais ou intelectuais” e sem proteção do governo Prof. Dra. Leciona na UFRS. 1 Simpósio Temático do XVII Congreso Internacional de AHILA (Asociación de Historiadores Latinoamericanistas Europeos), realizado na Freie Universität de Berlin, em setembro de 2014. 2 Em termos do sul do Brasil, o consulado em Curitiba foi uma referência tão ou mais expressiva do novo estado polonês que a embaixada no Rio de Janeiro. O primeiro embaixador foi Ksawery Orlowski (WACHOWICZ, MALCZEWSKI SChr, 2000, p. 368).



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Ar tigos de sua pátria.3 Entretanto, mesmo que, em termos numéricos, a imigração proveniente do Império Austro-Húngaro não seja tão expressiva como as oriundas da região sob dominação russa e alemã, a produção bibliográfica resultante de pesquisas tem indicado uma recorrente referência a líderes étnicos vinculados a instituições situadas na área sob dominação austríaca. O objetivo deste artigo é destacar estas referências e interpretá-las sob a partir da noção de “agente étnico”, a qual tem norteado algumas publicações de minha autoria.4 Resultante de uma apropriação específica da noção de “agente” do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1989), a expressão “agente étnico” tem por pressuposto que, ao se proporem como “representantes” de um conjunto de indivíduos, e serem reconhecidos como tais, os “agentes” operam simbolicamente em favor da existência deste coletivo. Por dedução, o campo de atuação do agente étnico é um grupo étnico, em maior ou menor amplitude (local ou regional). Nas reflexões que seguem, pretendo destacar representantes de instituições polonesas com sede na antiga Galícia austríaca5, 1) os membros da Sociedade Comercial e Geográfica da cidade de Lwów, 2) agentes consulares do Consulado Austro-Húngaro, enquanto este teve existência, e 3) os missionários vicentinos vinculados à Província vicentina de Cracóvia. As considerações aqui expostas possuem semelhanças com a tipologia elaborada por Ruy Wachowicz (2009, p. 49), publicadas em texto póstumo, para descrever o “espectro político-ideológico existente na sociedade polonesa” que teria reflexos no Brasil, no qual havia quatro correntes principais: latifundiários poloneses que visavam deter o movimento emigratório; grupo de intelectuais naciona3 No início do século XX, em função de perseguições, houve uma corrente imigratória composta por operários, provenientes da cidade de Lódz, famosa por sua indústria têxtil (GARDOLINSKI, 1956, p. 27). 4 Recente foi publicado o artigo “Líderes, intelectuais e agentes étnicos: significados e interpretações” (WEBER, 2014), e encontra-se em fase de avaliação para publicação o artigo “Agentes étnicos religiosos e laicos entre os poloneses”, ambos resultado do pós-doutoramento realizado na Universidade Federal do Paraná. 5 Galícia austríaca é o nome da região do estado polonês que ficou sob domínio austríaco.

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Ar tigos listas de Lwów; grupo de intelectuais de formação esquerdista; padres católicos. O presente artigo faz um recorte diferente, direcionando a análise para um recorte regional e institucional. Poderiam, certamente, ser destacados alguns militantes políticos em prol da libertação da Polônia, exilados ou não, que promoveram as instituições polonesas brasileiras, não raro fomentando discussões políticas que se sobrepuseram a outros papéis que estas entidades pudessem ter (culturais, assistencialistas); contudo, mesmo que há estudos memorialísticos que permitem localizar a procedência regional destes ativistas6, seriam necessário identificar um perfil “regional” de atuação. O que se pode afirmar com mais clareza é que os militantes nacionalistasatuavam na América em prol de uma identidade polonesa única, superando, portanto, as diferentes procedências. A longa dominação estrangeira sobre a Polônia não deixou de ter seus efeitos sobre os dominados, visíveis entre a população camponesa imigrante: “Os colonos brigavam entre si porque um era do domínio austríaco (galicianos), outro do alemão e outros ainda do Reino7chamados moscovitas” (WACHOWICZ, MALCZEWSKI SChr, 2000, p. 340). As ações dos agentes mencionados, as quais tiveram início no final do século XIX, foram concomitantes nas primeiras décadas do século XX, e continuaram a ter efeitos mesmo quando o Império Austro-Húngaro deixa de existir no final da Primeira Guerra Mundial, momento em que a Polônia ressurge como estado independente, após quase um século e meio de dominação estrangeira. Faz-se necessário duas observações, uma de ordem metodológica e outra de ordem interpretativa. Em termos de fontes, este artigo se ancora basicamente em fontes bibliográficas, consistindo, portanto, em uma releitura direcionada de reconhecidos pesquisadores da imigração polonesa e memo6 O melhor estudo histórico-biográfico da imigração polonesa para o Brasil é o escrito por Ruy Wachowicz e Zdzislaw Malczewski SChr (2000). Sobre missionários vicentinos, ver Biernaski (2003). 7 A região sob domínio russo era denominada “Reino da Polônia”.

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Ar tigos rialistas, que publicaram livros e artigos acessíveis em português. Em termos heurísticos, este artigo retoma a proposição de Ruy Wachowicz (1981, p. 33), a de que o debilitamento do Império austríaco teria amenizado a dominação na área sob seu controle, e, com o abandono da política de germanização por parte de Viena, o polonês foi reintroduzido. No âmbito religioso, foi permitida a fundação da Província [vicentina] de Cracóvia, em 1865, após a cassação da Província de Varsóvia (BIERNASKI CM, 2003, p 5). Ainda que não houvesse, na área galiciana, uma classe burguesa com papéis na industrialização regional, existiam grupos intelectuais concentrados nos dois maiores centros urbanos, justamente Cracóvia e Lwów8 (WACHOWICZ, 1981, p. 35). Na esteira destes argumentos, afirma-se que as condições mais propícias à afirmação de uma identidade polonesa na área galiciana, teve seus efeitos sobre os imigrados Evitando a obrigatoriedade do russo, caso se dirigisse a Varsóvia, o socialista e nacionalista Miguel Sekula foi a Cracóvia realizar seus estudos (WACHOWICZ, MALCZEWSKI SChr, 2000, p. 339). Sekula chegou ao Brasil em 1908. Através da compilação e tradução, realizada por Ruy Wachowicz (1972), de cartas recebidas por Edmundo Wos Saporski, cognominado “pai da imigração polonesa no Brasil”, sabe-se que a Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów já era promotora da imigração de poloneses ao Brasil desde, pelo menos 1894; e, em uma das correspondências enviadas pela entidade, é mencionada uma “febre emigratória” da Galícia para o Brasil (WACHOWICZ, 1972, p. 105). Os extratos das cartas permitem conhecer as relações dúbias da Sociedade com o governo austríaco, pois, por um lado, há registro de que este nem sempre aprovaria a emigração de poloneses, e, por outro, o Estado Austríaco, ao preocupar-se com os imigrantes “austríacos” também solicitava informações sobre poloneses e ucranianos, vistos como “nosso imigrante” (WACHOWICZ, 1972, p. 104-105).Tais informações estavam sendo solicitadas prioritariamente à embaixada austríaca no Rio de Janeiro, mas o fato de Sa8 Está sendo mantida a grafia Lwów, presente em vários textos. Os tradutores do livro Os Poloneses no Brasil (GLUCHOWSKI, 2005), optaram por Lvov, grafia mais similar à atual denominação ucraniana cidade, Lviv, uma vez que a mesma passou a domínio soviético em 1945.

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Ar tigos porski ser consultado mostra que o governo austríaco reconhecia seu papel mediador junto aos imigrantes poloneses. A Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów atuava como mediadora de poloneses de outras áreas que não a Galícia interessados em emigrar para o Brasil, mais especificamente para o Paraná (id., p. 105). A correspondência recebida por Saporski também dá notícia de um dos membros do grupo de Lwów que pode ser considerado um dos mais atuantes entre os imigrantes poloneses no Brasil, Stanislau Klobukowski. A repercussão da ação de Klobukowski como representante da Sociedade pode ser aquilatada também pelo registro de sua passagem no interior do Rio Grande do Sul promovendo o associativismo polonês, com um viés nacionalista (CUBER, 1975, p. 28). A atuação da Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów no processo da imigração polonesa foi assinalada por Gluchowski, o primeiro cônsul da Polônia livre no Brasil, em texto publicado originalmente em 1927, segundo o qual a intensa imigração polonesa para o sul do Brasil motivou, a partir de 1897, a ideia da “Nova Polônia”, que seria viabilizada através de projetos divulgados através do Jornal Comercial e Geográfico e da Revista de Emigração, como a fundação de escolas e envio de livros para as sociedades poloneses fundadas no Paraná e outros estados do Brasil (GLUCHOWSKI, 2005, p. 189, 191). Em termos de efeitos sobre a população emigrada polonesa, é digna de nota a criação de um consulado austríaco no Paraná, como resultado da parceria entre a Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów e o Círculo dos Deputados9 no Parlamento de Viena; e, sob a notável influência de Saporski, o Ministério das Relações Exteriores da Áustria acatou a sugestão de que o cônsul em Curitiba deveria conhecer a língua polonesa e também autorizou seu consulado a atender imigrantes poloneses oriundos de outras partes da Polônia ocupada (WACHOWICZ, 2000, p. 142-143). Certamente como uma 9 Gluchowski (1927, p. 247) menciona o “Círculo Polonês”.

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Ar tigos estratégia política, o primeiro cônsul austro-húngaro que chegou ao Paraná foi um silesiano, e não Saporski, como era esperado pelos agentes poloneses galicianos; por outro lado, pode-se deduzir, a partir das análises de Wachowicz (2000, p. 142-143) que havia interesses comerciais na produção dos colonos por parte da Áustria em sua permissão de ampliar a esfera de proteção do consulado aos poloneses não austríacos. Gluchowski (2005, p. 247) situa os cônsules austríacos poloneses entre as “forças intelectuais” em prol dos imigrantes. Quando ocorreu, em 1905, um atrito interno à comunidade polonesa do Paraná, entre anticlericais e vicentinos, que resultou na expulsão de um dos missionários, o consulado austríaco manifestou-se tentando evitar a expulsão do vicentino.10 Presos que estavam à sua condição de representantes do estado da Áustria, os agentes consulares certamente não expressavam o mesmo ativismo que líderes nacionalistas, mas não deixaram de ter expressão em termos de uma identidade polonesa. Francisco Szuber, funcionário do corpo consular do Consulado Austro-Húngaro em Curitiba desde 1911, era conhecido como “cônsul polonês”, tendo sido convidado a permanecer no posto quando houve a instalação da embaixada do novo governo no Rio de Janeiro (WACHOWICZ, MALCZEWSKI, 2000, p. 368). Alguns destes funcionários consuladres permaneceram no Brasil na condição imigrantes, agregando, aos numerosos imigrantes camponeses, famílias com um padrão cultural que lhes davam uma certa notabilidade na comunidade emigrada. Como exemplo, podemos citar Mariano Gardolinski, um tenente do exército austríaco que, na condição de professor, foi contratado pelo consulado austríaco para ministrar aulas, em escolas de Santa Catarina e Paraná, a filhos de emigrantes nascidos no Brasil, completando seus rendimentos com a atividade de topógrafo, e, após encerrado seu contrato, permaneceu no país (WACHOWICZ, MALCZEWSKI SChr, 2000, p. 118). Seu filho nascido no Brasil, Edmundo Gardolinski, graduou-se 10 O missionário havia publicado, em veículos internos à comunidade religiosa, suas impressões sobre a situação de imigrantes, que apresentavam uma visão negativa do Brasil e de seus habitantes, as quais foram traduzidas e publicadas na imprensa local pelos “livre-pensadores” poloneses, o que motivou a prisão e expulsão do vicentino (BIERNASKI, 2003, p. 22-23).

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Ar tigos como engenheiro e tornou-se um dos mais expressivos agentes étnicos do Rio Grande do Sul (WEBER, WENCZENOVICZ, 2012, p. 168). Dos três grupos citados, os vicentinos certamente foram os agentes cujo alcance foi mais amplo em termos geográficos e longevo em termos temporais, haja vista que as palavras aqui escritas se ancoram em textos produzidos com base em acervos vicentinos, quando não editados sob auspícios de sua entidades. Os vicentinos poloneses foram notáveis memorialistas, arquivistas e mesmo historiadores e mantêm até hoje arquivos muito importantes para a história da imigração polonesa, tanto na sede de Curitiba, quanto na sede central na Cracóvia, de onde vieram os primeiros missionários em 1903 (BIERNASKI, 2002). Foram também editores, de periódicos e livros e, na década de 1920, criaram uma gráfica que subsiste até hoje. A instalação, na década de 1920, da Vice-Província Polonesa da Congregação da Missão (Congregatio Missionis), é um indicativo da atuação dos vicentinos poloneses, pois a institucionalização, além de os diferenciar dos vicentinos não poloneses, dá aos missionários uma maior autonomia com relação à entidade-mãe na Polônia e uma coordenação de suas atividades no Brasil. Quando, em 1952, foi criada por ato papal a Missão Católica Polonesa no Brasil, a qual centralizava a atuação de várias congregações religiosas, masculinas e femininas, compostas por missionários poloneses, a direção da pastoral foi confiada a um vicentino (BIERNASKI, 2002). A iniciativa de trazer padres poloneses para dar assistência aos imigrantes poloneses partiu do primeiro bispo da diocese de Curitiba, criada em 1892, com abrangência sobre os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o qual, com orientação de um membro da Congregação da Missão, escreveu ao superior geral da Congregação em Paris em 1899 (BIERNASKI, 2003, p. 9, 5). Ampliando sua presença, os vicentinos passaram a disputar paróquias com os missionários da Sociedade do Verbo Divino, os “verbitas”, tidos como espiritualmente germanizados (GLUCHOWSKI, 2005, p. 124). Além destas disputas internas ao clero católico, e com emigrados poloneses

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Ar tigos anticlericais, os vicentinos se defrontarão com a hierarquia católica local, que buscava o “enfraquecimento da posição polonesa” e “a forte ênfase ao seu caráter brasileiro” (Id., p. 127). Provavelmente, mais que estas disputas, em geral manifestadas em debates em periódicos, a ação social do clero junto aos colonos teve, a longo prazo, um efeito maior no sentido de preservação de uma identidade polonesa. Em termos deste trabalho social, é preciso destacar o papel das missionárias religiosas, as quais eram subordinadas aos padres, porém essenciais por sua atuação como professoras, enfermeiras e catequistas. As Irmãs da Sagrada Família de Lwów chegaram ao Paraná a partir de 1906 (WACHOWICZ, MALCZEWSKI SCHR, 2000, p. 392). Finalizando estas reflexões, pode-se dizer que este artigo tem um caráter ensaístico, pois, para comentar a especificidade das instituições da área austríaca, em termos de sua influência sobre a imigração polonesa para o Brasil, seria necessário escrutinar a situação, sob os mesmos aspectos, das correntes imigratórias provindas da área sob dominação alemã ou russa. Entretanto, espera-se, com os apontamentos acima, ter assinalado a atuação de instituições da área austríaca, ou de indivíduos que estiveram ligados às mesmas, em favor de uma identidade polonesa na América.

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Ar tigos ções”. Diálogos (Maringá. Online), v. 18, n.2, p. 703-733, mai.-ago./2014. Disponível em: http://www.uem.br/dialogos/index.php?journal=ojs&page=issue&op=current&path%5B%5D=showToc

RESUMO - STRESZCZENIE

Autorka w zamieszczonym powyżej artykule rozpatruje wpływ liderów i pzrywódców etnicznych mających powiązania z instytucjami znajdującymi się na terenach Polski okupowanych przez Austrię, a imigrantami polskimi osiedlonymi na południu Brazylii.

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Ar tigos A NACIONALIZAÇÃO DO ENSINO E A ESCOLA DA COLÔNIA MURICI A Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural por meio da Língua Polonesa Cecília SZENKOWICZ-HOLTMAN * Um pouco de história Ao se propor como tema de estudo a Nacionalização do Ensino e suas consequências na História local, a escolha foi pautada no fato deste ser um conteúdo pouco trabalhado e que traz ao menos para a comunidade da Colônia Murici, uma nova oportunidade para se estudar a história local e as influências externas que afetaram o cotidiano das famílias de imigrantes poloneses num período conturbado da história nacional. Valquíria Renk (2009, p. 12) lembra que a questão da nacionalização das escolas eslavas não é um tema recorrente, embora exista uma vasta bibliografia sobre a cultura deste grupo étnico. Isso dificulta ainda mais o conhecimento e a apropriação desta parte da história já que o tema não figura nos Livros Didáticos. Ainda que o recorte temporal da temática seja o período da nacionalização compulsória (1937-1938) e a ideia central seja analisar os efeitos desta na escola local e no futuro da colônia, faz-se necessário adentrar um pouco mais na história, para entender como e por que se chegou a este recorte. A febre imigratória, nos séculos XIX e XX atingiu e modificou profundamente o Brasil.

* Aluna do curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa; Responsável pelo Museu Casa da Cultura Padre Karol Dworaczek, na Colônia Murici em São José dos Pinhais – PR.

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Ar tigos Fenômeno mundial aconteceu no Brasil dentro dos quadros e da dinâmica de uma sociedade forjada pela presença de numerosos povos indígenas e pela ação de três séculos de colonialismo português, centrado no regime escravista de produção. O país, que acabara de conquistar sua independência política em 1822, começava a debater seu futuro e sua posição frente à imigração estrangeira. (ZULIAN, 2011, p.34)

Vistos como trabalhadores pacíficos e disciplinados, a vinda de imigrantes europeus, além de propiciar uma sociedade mais ordeira e produtiva, frente ao caboclo e ao afro-descendente (fosse este escravo ou liberto), considerados incapacitados para o trabalho livre, contribuíam sobremaneira com a política de branqueamento idealizada por intelectuais e governantes. (RENK, 2009, p.32-35) O período de imigração também coincidiu com o projeto de romanização do catolicismo no Brasil, o que resultou num incentivo, por parte da igreja católica na manutenção de costumes e tradições das regiões de origem destes imigrantes, pois estes, por já estarem habituados à Igreja tridentina2, poderiam contribuir para essa romanização e, à medida que perdessem seus laços culturais com a região de origem, perderiam também sua fé, o que atrapalharia os planos das autoridades eclesiásticas. 1

Assim, ainda que Estado e Igreja tivessem propostas diferentes para a moralização da sociedade, ambas compreenderam e investiram na educação como norte para a realização de seus intentos. (ZULIAN, 2011, p.35-48)

1 Atribui-se o nome de romanização ao processo de reafirmação do poder espiritual da Igreja sobre o mundo, defendendo a primazia da autoridade espiritual sobre o poder político, da fé sobre a ciência, bem como a incompatibilidade da Igreja com a sociedade laicizada. (AZZI, 1994, apud ZULIAN, 2011, p.25) 2 A Igreja era assim chamada por estar de acordo com as decisões conciliares promulgadas pelo Concílio de Trento (1545-1549) onde foram reafirmados os dogmas da fé cristã – fontes da fé, pecado original, justificação, sacramentos, etc. – diante das afirmações protestantes. Entre a série de medidas introduzidas nas estruturas eclesiais, durante o período, chama a atenção o catecismo romano, dito do Concílio de Trento (1566). (GRANDE ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA LAROUSSE CULTURAL, vol. 23, 1993, p.5871)

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Ar tigos A partir de 1889 com o advento da nova forma de governo no Brasil, a escola foi o meio ideal para a veiculação do projeto republicano: a construção de cidadãos ordeiros e progressistas integrou o programa político do nosso regime. No entanto, essa proposta conflitava com a da escola católica, a qual, por meio do episcopado nacional e estadual condenava o ensino leigo, entendendo-o como veículo deformador da juventude e opinião pública. (ZULIAN, 2011, p.40) Muitas comunidades eslavas solicitavam às Congregações europeias para que enviassem religiosos para lecionar nas escolas locais na sua língua de origem. Isto possibilitava a presença da Igreja nos mais longínquos espaços, opondo-se à laicização3 do ensino pregada pelo governo, o que causou diversos atritos e divergências de ideias. A questão das escolas étnicas passou a chamar a atenção da sociedade e das autoridades, a partir da Primeira Guerra Mundial, quando a imprensa passou a denunciar a influência estrangeira na educação. O período entre guerras foi marcado por um nacionalismo imposto pelo governo, principalmente por meios escolares. O Decreto-lei nº 2.157 de 8 de abril de 1922, do Governador paranaense Caetano Munhoz da Rocha intensificou o propósito da nacionalização das escolas imigrantes, obrigando as escolas, além de se registrarem na Inspetoria de Ensino, a adaptar a grade curricular para incluir as disciplinas de português, história e geografia do Brasil. (RENK, 2009, p.100) Vistos antes como trabalhadores pacíficos e disciplinados, “os imigrantes passaram a ser identificados como pessoas resistentes em assimilar a cultura brasileira”. (RENK, 2009, p.35) 3 Sua origem está no termo laicidade, concepção e organização da sociedade fundada na separação entre a Igreja e o Estado que excluem as Igrejas do exercício de todo poder político ou administrativo e, em especial, da organização do ensino. (GRANDE ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA LAROUSSE CULTURAL, vol. 14, 1993, p.3537)

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Ar tigos Era preciso valorizar o elemento nacional. Sendo a população imigrante já branca e trabalhadora, era necessário melhorar seus hábitos e moral, por meio da escola. Esta deveria uniformizar os saberes e inserir a população imigrante na comunidade nacional, homogeneizando-a. O imigrante polonês e a escola na Colônia Murici Ao contrário de outras etnias que buscavam urbanizar-se, o imigrante polonês buscou o interior, atendendo à sua sede por terra, tentando construir aqui no Brasil, o que lhe foi tirado em sua terra natal. Aqui, longe de outras influências, podiam construir suas casas e produzir seu alimento conforme seus conhecimentos ou rezar e cantar em sua língua materna. Mantinham assim, sua cultura viva, passando-a para as novas gerações, ou seja, brasileiros com descendência polonesa. Doustdar (1990, p.82) explica que, além da questão da reafirmação da identidade, no caso do imigrante polonês, seu patrimônio cultural, expresso através de seus símbolos tornou-se, diferentemente de outros nacionalismos europeus, um “conjunto de sentimentos patrióticos ligado ao amor próprio de povo ferido e humilhado, e não na defesa de interesses nacionais propriamente ditos”. Assim, o temor de se perder o domínio cultural, tal como foi perdido o domínio político e econômico, o que terminaria por descaracterizar completamente a nação, estava inserido no cotidiano do camponês, e imigrou, junto a este, para as colônias brasileiras. A Colônia Murici, em São José dos Pinhais, criada em 1878, durante a terceira etapa de colonização promovida pelo governo da Província (TURBAŃSKI, 1978, p.09) - espaço de interesse desta análise -, recebeu, em sua grande maioria, poloneses e, assim como em outras colônias, a instalação e os primeiros anos não foram fáceis. Deve-se ressaltar, no entanto que, também nesta perseverou um profundo sentimento religioso, que serviu de elemento de união para estes imigrantes. Logo, que se estabeleceram, procuraram construir uma capela para

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Ar tigos ofícios religiosos onde, além de cumprirem os deveres católicos, podiam exercer seus direitos sociais, convivendo com os seus pares. (TURBAŃSKI, 1978, p.24-25) A preocupação com a educação surgiu ainda na fase de implantação da colônia, pois o próprio Departamento de Colonização previa a construção de um espaço escolar em cada nova comunidade. No entanto, assim como em outras colônias, na Colônia Murici também o governo não providenciou tal espaço, o que não foi motivo para que os moradores locais permanecessem com seus filhos analfabetos. Turbański (1978, p.29-44) menciona, em seus escritos que Jan Przepióra, um simples colono, foi o primeiro professor da localidade e que, em 1880, os moradores se organizaram para trazer Józef Cetnar para lecionar. A casa paroquial, construída em 1885 serviu como espaço escolar até a vinda do Padre Karol Dworaczek, em 1900. A partir desta data, o padre assumiu a função de professor e iniciou a construção de um novo espaço escolar. Durante a visita do bispo D. Duarte Leopoldo e Silva em 1905, à Colônia Murici, este já relatou o problema da falta de ensino da língua portuguesa: Infelizmente não se ensina ahi a língua portugueza ficando assim incompleta a educação dos alumnos, acarretando lhes assim prejuízos, que mais tarde, se farão sentir, com a privação de uma disciplina indispensável no meio em que se acham. Acresce que esses alumnos são brazileiros natos, ainda que filhos de estrangeiros, como taes, não devem desconhecer a língua do paiz em que viram a luz do dia, e onde receberam os primeiros elementos da fé christã. Recomendamos muito ao Ver. Capellão que, com prudência e vagar procure corrigir essa lacuna, certo de que praticará uma obra de caridade e muita benemerência. (apud TURBAŃSKI, 1978, p.41)

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Ar tigos Em 1907 chegaram à Colônia Murici as primeiras Irmãs Franciscanas da Sagrada Família, vindas de Lwów (Polônia) para trabalhar nos ofícios religiosos e na escola local. Até que as mesmas dominassem o novo idioma, as aulas de português ficaram a cargo do Padre Dworaczek. É fato que a língua nacional seja um importante elemento para a construção de uma identidade nacional e que a recomendação de se lecionar a língua do país é indiscutível. No entanto, percebe-se que mesmo entre os dirigentes católicos, grandes responsáveis pela existência e manutenção de escolas étnicas no Brasil (que com estas práticas buscavam atender ao requisitos da romanização que se instalava no país), não havia unanimidade quanto a imposição da língua nacional. Turbański aponta, que enquanto D. Duarte, em 1905, solicitava que se corrigisse esta lacuna, D. João, em 1927, afirmava ser uma obrigação das crianças polonesas frequentarem escolas polonesas. (1978, p. 41-43) A maneira de se conduzir o ensino nestas escolas étnicas era bastante precário. A grande maioria das escolas na região da Colônia Murici eram multiseriadas, ou seja, uma professora ou professor dando aulas para turmas diferentes num mesmo espaço e num mesmo período, conforme se observa nos relatos: Eram passadas todas as matérias, era uma freira quem dava aula e tinha mais de uma turma em uma sala só. Amélia Burakoski Sary, 80 anos, moradora da Colônia Murici. No período da manhã, até o meio-dia, andava à pé, e lá não era servido lanche, com tanto que eu tinha que levar de casa broa com alguma coisa. Minha mochila era um bocó de uma alça só e caderno não existia, era usado lousa preta. Aurélia Burakoski, 85 anos, moradora da Colônia Murici.

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Ar tigos Mesmo nas escolas que não eram dirigidas pelas Irmãs da Sagrada Família, havia rigorosa disciplina e a religiosidade também se fazia presente. O ensino era muito diferente do que nos dias de hoje, tudo começava com uma oração e devia manter-se muito respeito com o professor, caso contrário ia para o castigo na frente de todos os outros alunos. Não podia falar nada em polonês, e o professor só falava em português, o que nos primeiros dias tornava um pouco difícil a comunicação pois os alunos, na maioria dos casos não sabiam o português. Era um ensino muito pesado para os alunos. Meu professor se chamava Júlio Carvalho Gomes e vinha da comunidade de Roça Velha. Ana Liceski Toczek, 82 anos, moradora da região da Colônia Murici.

Não freqüentei a escola na Colônia Murici, mas estudei com uma única professora, de primeiro ao quarto ano. Antonio Carlim Alves Fontes, 68 anos, morador da região da Colônia Murici. A era Vargas e a nacionalização Getúlio Vargas assume o governo federal em 03 de novembro de 1930, após uma sucessão de fatos e articulações que se iniciaram com a sua derrota nas eleições do mesmo ano. Foi estabelecida uma aliança entre a oligarquia do Rio Grande do Sul e os tenentes para articular a derrubada do presidente Washington Luís. Ao receber apoio de outros estados, esta aliança ganha força e, com o assassinato do presidente da Paraíba, João Pessoa, acelera-se os preparativos do movimento que, segundo as ordens do próprio Getúlio, junto com Osvaldo Aranha, no dia 03 de outubro acatou três posições militares em Porto Alegre, iniciando uma marcha que culminou com sua chegada, em 03 de novembro

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Ar tigos ao palácio presidencial, por onde permaneceria por 15 anos. A descoberta de um suposto plano de insurreição comunista em setembro de 1937, conhecido como Plano Cohen deu margens para que Getúlio Vargas desse um golpe de Estado, em novembro do mesmo ano, fechando o Congresso e outorgando uma nova Constituição, que concentrava amplos poderes nas mãos do Executivo. Apesar de sua proposta de organização do Estado ter diversos pontos em comum com os modelos fascistas, a iminência de uma nova guerra de proporções mundiais colocou Getúlio diante de um dilema, ao ter que escolher entre os países do Eixo e os Aliados. Ainda que tentasse manter-se neutro no início do conflito e muitos integrantes do governo demonstrassem simpatia pelos países do Eixo, o Brasil foi pressionado pelos Estados Unidos, que fornecia importante auxilio econômico ao país a participar ao lado dos Aliados. Assim, O ano de 1938 pode ser considerado como “fatídico” para as escolas étnicas. Dois documentos oficiais determinaram o fechamento de todas as escolas que não ministrassem o ensino em língua nacional: o Novo Código Escolar Estadual e o Decreto Federal 406. Essas leis inviabilizaram a manutenção das escolas bilíngües ou em língua estrangeira e fecharam as sociedades-escola, afastando professores e diretores de suas funções. Neste mesmo ano e nos anos seguintes, várias leis e decretos federais e estaduais foram instituídos para nacionalizar os jovens nas áreas de imigração. Livros, revistas e jornais estrangeiros foram proibidos de circular nas colônias e uma escola com feições “nacionais” se impôs. As aulas de educação moral e cívica, educação física, história e geografia do Brasil, os cantos e manifestações patrióticas ganharam mais espaço entre as matérias escolares, fazendo parte da construção de uma moldagem cívica dos alunos. (RENK, 2009, p.148)

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Ar tigos Turbański (1978, p. 68-124) lembra que, antecipando os decretos de nacionalização, já em 1936 a escola da Colônia Murici passou a ministrar seu ensino todo em português. Mesmo tendo solicitado apoio do Estado para manutenção e nomeação de professores, a escola continuou sob responsabilidade das Irmãs da Sagrada Família e seu prédio permaneceu como propriedade paroquial, diferentemente de outras escolas étnicas que, ou foram fechadas ou passaram totalmente para os cuidados do Estado. Desde 1928 funcionavam cinco turmas (classes) e o português, ministrado por uma jovem de nome Eva Nalepa e pela irmã Henrica era ensinado no último ano. No caso da Colônia Murici, apesar da manutenção da religiosidade por parte de Congregações europeias, a língua nacional foi introduzida já nos primeiros anos. Era no espaço escolar que muitos tiveram o primeiro contato com a língua portuguesa. Após 1938, em todas as escolas étnicas, o ensino passou a ser ministrado somente em português. No entanto, em muitos lugares - e na escola da Colônia Murici não foi diferente - criaram-se estratégias de tradução para que os alunos pudessem compreender os novos conteúdos. Além disso, os lares continuavam a dialogar no idioma materno, numa forma de resistência silenciosa. Trabalhei nos Escrobotes e eles só falavam polonês, mas comigo não! Tereza Mazza Schapieski, 70 anos, moradora da região da Colônia Murici. Eu não sou polonês, não morei na Colônia Murici, mas lembro que os “polacos” se comunicavam em polonês na igreja e até hoje se comunicam em vários encontros. Antonio Carlim Alves Fontes. Entre os mais velhos, que precisaram aprender uma nova língua imposta na escola, seus relatos, em geral apontam para uma experiência negativa:

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Ar tigos Não ter praticado a língua polonesa na escola foi ruim, porque poderia ter estudado mais a fundo a língua e falar mais fluentemente. Amélia Burakoski Sary. Ruim porque dificultou muito no aprendizado, na comunicação e pelo modo como fomos obrigados a deixar de manter nossas origens. Aurélia Burakoski. Foi ruim pelo fato de ter entrado na escola sabendo falar apenas o polonês. Mas não foi tão difícil assim aprender o português e em cerca de vinte dias já sabia muitas coisas e a comunicação com o professor ficou mais fácil. Ana Liceski Toczek. Valquiria Renk (2009, p.224), ao concluir seus estudos, observa que: A geração que aprendeu a língua estrangeira como primeira língua procurou ensiná-la para os filhos (como primeira ou segunda língua) e hoje muitos descendentes de eslavos, apesar de brasileiros, são bilíngües. (...) Também percebiam que a língua do grupo não incorporou elementos lingüísticos contemporâneos dos países de origem e sim manteve algumas expressões que atualmente são desconhecidas na Polônia e na Ucrânia.

Essa observação de Renk vai ao encontro dos relatos colhidos por Arns (1977, p.89) na região próxima a Colônia Murici: Os mais velhos sentem que não falam tão bem quanto os pais. Este sentimento é também participado por seus filhos e netos em relação à geração imediatamente anterior. Isto acontece principalmente em função da escola, em português e das amizades. Em 1977, 33,33% dos moradores da Roça Velha ainda conservam a língua.

Realmente, com o passar dos anos e as mudanças de gerações, muito deste patrimônio tem se perdido. No entanto, há um desejo, ainda que tímido,

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Ar tigos de se resgatar esta língua, sua importância para a comunidade local, e isto está presente nas falas da comunidade: Gostaria que as futuras gerações aprendessem a língua, pois é muito bonito ver os jovens mantendo essa cultura acesa. Ana Liceski Toczek. Sim, tudo o que se aprende é bom. Seria bom se todos falassem e se entendessem falando polonês, mas é difícil agora, depois de velho falar polonês, difícil aprender. Tereza Mazza Schapieski. Seria legal se os jovens soubessem as duas línguas, mas os jovens não se interessam. Madalena Lipinski, 78 anos, moradora da Colônia Murici. É muito importante que aprendam, para cultivar a cultura. Amélia Burakoski Sary. Sim, seria interessante os jovens aprenderem a falar o polonês. Antonio Carlim Alves Fontes. Assim como o inglês e tantas outras línguas são tão essenciais, no ponto de vista da maioria, o polonês também deveria ser. Aurélia Burakoski. Assim, pode-se observar que, apesar da nacionalização imposta nas escolas, muitas famílias da Colônia Murici e região procuraram manter a comunicação no lar utilizando a língua do seu país de origem. No entanto, um maior contato com outros grupos e a própria imposição na escola proporcionaram um desuso sistemático desta língua. Conclusão Desejo do governo brasileiro, desde os tempos do Império, a construção de um sujeito nacional foi amplamente trabalhada nas escolas, perpas-

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Ar tigos sando as décadas, estando presente, inclusive, no período do governo militar. No entanto, foi com a nacionalização imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas que as escolas étnicas mais sofreram. Considerado por diversos historiadores como um ano fatídico para as escolas das comunidades imigrantes, 1938 apresenta dois documentos que impunham o fechamento de escolas que não atendessem à ordem de ministrar o ensino em língua nacional. Eram estes, o Novo Código Escolar Estadual e o Decreto Federal 406. Seja pela questão da valorização do sujeito nacional, ou por causa dos regimes totalitaristas que se difundiam pela Europa e prenunciava novos tempos de Guerra, o fato é que o Governo de Getúlio Vargas mudou para sempre os destinos dos moradores das colônias imigrantes. Segundo a pesquisadora Valquíria Renk (2009, p.148): A experiência de uma geração que viveu tempos de guerra são lembranças de uma época de temor e repressão que deixou marcas profundas (...). Essa geração foi marcada pelo nacionalismo de um governo e pela formação de um sentimento de brasilidade por meio da escola.

Ao conversar com moradores da Colônia Murici que estudaram neste período, percebe-se que aqui também havia o temor da guerra e esse era o motivo explicado para que não se utilizasse mais a língua polonesa nas escolas. O motivo explicado era apenas o início da guerra, onde as irmãs nos levavam para a Igreja para rezar e pedir proteção a todos. Na escola quem falasse polonês automaticamente estaria se submetendo a brincadeiras de mau gosto, eram excluídos e chateados, por ser proibido (falar polonês). Aurélia Burakoski, iniciou seus estudos na escola da Colônia Murici em 1936.

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Ar tigos Assim como na grande maioria das famílias de imigrantes, em especial os eslavos que se estabeleceram no Paraná, a língua portuguesa era uma segunda língua: Dominava muito bem a língua polonesa, que aprendi desde pequena em casa. Já o português, aprendi na escola, em casa só se falava em polonês. Ana Liceski Toczek. Mesmo após a nacionalização, as famílias continuavam a ensinar seus filhos na língua eslava. Mas o uso do português para comunicar-se em diversas situações sociais, aliado ao preconceito de quem tinha dificuldades em utilizar a língua nacional acarretaram o desuso do polonês: Desde que nasci, falo português, minha mãe falava português, meu pai sabia polonês, mas não falava no dia a dia. Minha avó era portuguesa e meu avô era polonês, que veio da Europa e casou-se com uma negra. Por isso, entendo algumas palavras, mas não sei muita coisa, quando tinha contato com o avô, sabia falar melhor. Tereza Mazza Schapieski. Se não estudasse ou não dominasse o português sofria castigos como palmadas, varadas... Madalena Lipinski. Nestes relatos, pode-se perceber o quão traumático foi a experiência da proibição da língua materna em espaços públicos. No caso do descendente de polonês, esta privação gerava um sentimento ainda maior, pois seus antecedentes já haviam sido privados do uso de sua língua, pelas potências estrangeiras que ocuparam os territórios poloneses a partir de 1795. (DEMBICZ & KIENIEWICZ, 2001, p.17) Turbański (1978, p.41) aponta que estes moradores das colônias imigrantes entendiam que poderiam ser cidadãos da nova pátria, sem precisar romper com a polonidade. Então, mesmo após a imposição da nacionalização,

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Ar tigos em 1938, na Colônia Murici continuou a se praticar o idioma polonês: Em casa só em polonês, na igreja só em polonês, raramente em brasileiro, sempre em polonês. Não havia nada de estudo em polonês, era tudo em brasileiro, mas o catecismo era só em polonês. Madalena Lipinski. Já a catequese era toda em polonês e aprendíamos as orações, a confissão em polonês. Quando o padre, por um acaso, falasse somente em português, a pessoa confessava em polonês mesmo assim, e o padre apenas dava a benção, pois não tinha outro jeito. Mas o pároco mesmo era europeu e falava só em polonês. Ana Liceski Toczek. Renk (2009, p.15) lembra que para se entender a persistência da identidade étnica eslava, se faz necessário entender primeiramente que durante o processo migratório, estes grupos não abandonaram seus valores culturais, mas selecionaram aqueles elementos que proporcionassem unidade e coesão ao grupo, como foi o caso da língua e da religiosidade. O professor Mariano Kawka (in RODYCZ, 2002, p.26) complementa: Apesar de se terem tornado parte orgânica da pátria brasileira e de sinceramente lhe demonstrarem lealdade cívica, os descendentes daqueles imigrantes pioneiros não deixam de cultivar sentimentos de simpatia e interesse pelo país de seus antepassados e pelas realizações daqueles que por motivos diversos o deixaram para fixar raízes em outras partes do mundo.

Como legado deste período, a nacionalização homogeneizou a língua e os conteúdos escolares, impôs o elemento nacional, numa construção moral e cívica que moldou o país. No caso da Colônia Murici, o uso da língua vernácula4 tanto na escola como nos ofícios religiosos determinou aos poucos o 4

Língua nacional considerada no que tem de próprio, isenta de formas provenientes de uma

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Ar tigos desuso da língua polonesa, inclusive nos lares. As tradições religiosas foram mantidas, porém, adaptadas ou traduzidas para o português. No entanto, apesar dos reflexos da nacionalização não permitirem uma demonstração de outras culturas, em 1974 surgiu na Colônia Murici o grupo de danças folclóricas, que existe até hoje. Muitas famílias ainda se utilizam da linguagem eslava no interior de suas residências, notadamente entre os mais velhos. Na década de 1990, após a redemocratização, foram iniciados projetos de ensino da língua polonesa, tanto para adultos, quanto para crianças, porém, sem muita adesão. (TURBAŃSKI, 2005, p.127) Isso permite concluir que a nacionalização compulsória comprimiu as manifestações étnicas. Todavia, apesar de abafadas, as tradições mantiveram-se e de alguma forma, foram passadas para as gerações seguintes, que buscam, na atualidade, resgatar a essência sufocada durante a Era Vargas. Atualmente, é difícil encontrar jovens que se comunicam em polonês, e os que o fazem, o fazem em suas casas. Mesmo assim, um interesse pelo resgate vem se manifestando também nas novas gerações. E isso é um passo importante para que este patrimônio não se perca. Agora, quando já se sabe os porquês do desuso e a intenção dos mais novos em resgatar essa língua de origem, por que não iniciar um movimento para um curso de língua polonesa? Fica aberta a pergunta, e se espera que sua resposta não tarde a chegar. REFERÊNCIAS UTILIZADAS: ARNS, F. J. Roça Velha, Realidade Circunstancial e sua Resposta metodológico-linguística. Dissertação de Mestrado em Letras, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1977. Arquivo digital impresso.

língua estrangeira. (GRANDE ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA LAROUSSE CULTURAL, vol. 24, 1993, p.6045)

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Ar tigos DEMBICZ, A.; KIENIEWICZ, J. Polônia e Polono-Brasileiros. História e Identidades. Varsóvia, Cesla, 2001, 117p. Tradução: Almir Gonçalves. Direito de publicação na internet: Província Sul-Americana da Sociedade de Cristo. Arquivo particular impresso 72p. DOUSTDAR, N. M. Imigração Polonesa: Raízes Históricas de um Preconceito. 1990, 157p. Dissertação (Mestrado em História do Brasil). Curso de Pós-Graduação em História. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1990. NOVA CULTURAL. Grande Enciclopédia Ilustrada Larousse Cultural. Vol. 14, 23 e 24. São Paulo, Círculo do Livro, 1993. RENK, V. E. Aprendi a falar português na escola! O processo de nacionalização das escolas étnicas polonesas e ucranianas no Paraná. Tese (Doutorado em História da Educação) Curso de Pós-Graduação em Educação, área de Concentração em História da Educação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009, 242p. RODYCZ, W. C. (org) Colônia Lucena – Itaiópolis: Crônica dos imigrantes poloneses. Florianópolis, Braspol, 2002, 559p. TURBAŃSKI, S. SVD. Murici, Terra Nossa. V. 1. Curitiba, Vicentina, 1978, 244p. ______. Murici, Terra Nossa Vol. II – 1978-2003. São José dos Pinhais, Amaro, 2005, 180p. ZULIAN, R. W.; PEREIRA, D. Tópicos Temáticos em História e Sociabilidades. Ponta Grossa, UEPG/NUTEAD, 2011, 87p.

ENTREVISTAS: BURAKOSKI, Aurélia, 85 anos, moradora da Colônia Murici. Entrevista realizada por Luiza Gabriela Sary entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014. FONTES, Antonio Carlim Alves, 68 anos, morador da região da Colônia Murici. Entrevista realizada por André Fontes da Silveira entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014.

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Ar tigos LIPINSKI, Madalena, 78 anos, moradora da Colônia Murici. Entrevista realizada por Miguel Angelo Lipinski entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014. SARY, Amélia Burakoski, 80 anos, moradora da Colônia Murici. Entrevista realizada por Tânia Mara Dariz entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014. SCHAPIESKI, Tereza Mazza, 70 anos, moradora da região da Colônia Murici. Entrevista realizada por José Ismael Shapieski entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014. TOCZEK, Ana Liceski, 82 anos, moradora das Gamelas, região de Colônia Murici. Entrevista realizada por Bruna Leschnhak entre os dias 08 e 23 de setembro de 2014.

RESUMO - STRESZCZENIE Aczkolwiek kolonia Murici stała się miejscem osiedlenia polskich imigrantów i wiele ich tradycji spotykamy współcześnie w życiu codziennym ich potomków to, jednak aktualnie mało znają oni język polski. Autorka zastanawia się nad tym, co doprowadziło do takiej sytuacji. Badaniami swoimi sięgnęła do okresu Getúlio Vargasa, a dokładniej do nacjonalizacji edukacji w 1938 roku. Autorka podjęła się zadania, aby przeanalizować, w jaki sposób przebiegała nacjonalizacja w szkolnictwie i jakie wywarła konsekwencje dla społeczności kolonii Murici. Autorka wyraża zatroskanie na rzecz ochrony dziedzictwa kulturowego polonijnej wspólnoty.

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Poemas POEMAS DE KAROL WOJTYLA E TAMBÉM DO ENTÃO PAPA JOÃO PAULO II (comentários e fragmentos) Tomasz LYCHOWSKI ∗ Os comentários a seguir, em sua grande parte, foram extraídos do texto de autoria de Giovanni Reale sobre o Tríptico Romano de João Paulo II. A tradução do Tríptico Romano foi feita do italiano por Maria Judith Sucupira da Costa Lins. A tradução diretamente do polonês foi feita por mim em 2003. Houve muitos Papas filósofos e muitos Papas teólogos, mas Papas poetas nem tanto. Os comentários abaixo, e também fragmentos dos poemas de Karol Wojtyla fazem essa conexão e esclarecem muita coisa sobre o autor e a sua visão do mundo e do homem. * (...) Uma das questões que se põem ao falarmos de obra poética de João Paulo II é se há, ou não, a possibilidade de haver uma conexão entre a filosofia e a poesia. Paul Valéry, por exemplo, sustentava que poesia e filosofia não se podem fundir e que são incompatíveis entre si, já que a filosofia cria noções, enquanto o poeta exprime estados de ânimo. O grande poeta e pensador T. S. Eliot, retomando estas afirmações de Valéry e confrontando-as com a poesia de Dante, refuta-as de modo perfeito. E o que ele disse relativamente à poesia de Dante vale também para a poesia de Wojtyla. “O poeta pode tratar os conceitos filosóficos, não como matéria de discussão, mas como matéria de visão” E ainda: “A poesia de Dante é uma ∗

Poeta, pintos, líder polônico no Rio de Janeiro.

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Poemas imaginação visível”. Resumindo: o filósofo enquanto criador de conceitos é um “pensador”, o poeta enquanto criador de imagens é um “visionário”. Enquanto “visionário”, o poeta pode “ver” e exprimir por “imagens” aquilo que o filósofo e o teólogo exprimem por “conceitos”. No Tríptico Romano os termos “visão”, “imagem”, “ver” aparecem com frequência. Escreve Wojtyla: Verbo – perene visão e enunciação. Aquele que criava, via – viu “que isto era bom”, discernia com um olhar diferente do nosso. Ele – o primeiro Vidente – Via, descobria em tudo um traço do seu Ser, da sua plenitude – Via... E um pouco mais adiante, acrescenta: No Vaticano há uma capela, que espera o fruto da tua visão! A visão espera a imagem. Desde que o Verbo se fez carne, a visão, desde então, espera.

Então, o Invisível, primeiro faz-se visível no Logos; depois, faz-se visível nas imagens da pintura de Miguel Ângelo e, em seguida, nas da poesia de Wojtyla.

O Tríptico Romano de Karol Wojtyla é um texto poético belo e tocante, mas não é de fácil leitura e compreensão.

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Poemas Em primeiro lugar, devemos chamar a atenção para a dupla raiz da composição: a “polonesa” e a “romana”. Trata-se de duas vozes fundidas harmoniosamente numa só. Numa carta, na época da publicação das Obras Literárias, o pontífice escreveu: “Para esta “sinfonia” secular, contribuíram também a história e a língua da nação de que sou filho. Agradeço ao Senhor por me conceder a honra e a alegria de participar deste empreendimento cultural e espiritual: inicialmente com paixão juvenil e, depois, na sucessão dos anos, com uma perspectiva progressivamente enriquecida pela comparação com outras culturas e, sobretudo, pela exploração do imenso patrimônio cultural da Igreja. Deste modo, a minha voz permaneceu sem dúvida polonesa, mas tornou-se, ao mesmo tempo, europeia, segundo a dupla tradição oriental e ocidental”. Num Discurso aos jovens, de 1979, especificava: “A inspiração cristã não deixa de ser a fonte principal da criatividade dos artistas poloneses. A poesia polonesa flui sempre como uma grande corrente de inspirações, que tem a sua fonte no Evangelho.” Numa dimensão da visão metafísico-poética, Wojtyla, na Capela Sistina, vê-se também a si próprio enquanto vota no conclave de agosto de 1978, no cardeal que se torna o Papa João Paulo I, e no de outubro do mesmo ano, no qual ele próprio é votado e se torna João Paulo II. Parece entrever também aquele que será o “Com-clave”, que depois da sua morte, deverá transferir as chaves do Reino para o sucessor, e escreve: Enfim, é preciso que lhes fale a visão de Miguel Ângelo. “Com-clave”: uma partilhada solicitude do legado das chaves, das chaves do Reino. Eis que se veem entre o Início e o Fim, entre o Dia da Criação e o Dia do Juízo. É concedido ao homem morrer uma só vez, e depois o Juízo! Também a terceira tábua do livro, intitulado “Colina na região de Moriá”, é composta em estilo análogo do “poeta visionário”. A vida de Abraão é apre-

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Poemas sentada como um símbolo daquela que será a paixão de Cristo: Ó Abraão, tu que sobes a Colina de Moriá, existe um certo limite da paternidade, um certo limiar, que tu não ultrapassarás. Um outro Pai receberá a Consagração do Filho (...) Ó Abraão – Deus amou de tal modo o mundo, que entregou o seu Filho, para que todo aquele que acreditar nele possa alcançar a vida eterna. A primeira composição do Tríptico Romano, que se intitula “Torrente”, é, aparentemente a mais fácil, mas na realidade é bastante difícil. O primeiro dos textos que compõem essa composição – “Assombro” – já é por si mesmo muito indicativo. Que sentido tem falar de “assombro”, ou seja, de “maravilha”, em relação a uma torrente? A resposta à questão é dada pelo próprio Wojtyla na sua obra filosófica maior, que se intitula Pessoa e ato.

Como é sabido, Platão e Aristóteles sustentavam a tese segundo a qual a filosofia nasce exatamente do assombro e da maravilha. E tal é também a convicção de Wojtyla. Mas, para ele, o assombro e a maravilha não são tanto aquele sentimento experimentado diante de fenômenos do cosmos, mas, ao contrário, é aquele que se experimenta diante do ser humano. A torrente que flui é uma metáfora que exprime a vida do homem, naquela dinâmica que lhe é típica. Vejamos os versos centrais, com a incessante repetição dos termos “assombro” e “maravilha” em relação com a figura do homem: As águas descendentes não se maravilham e os bosques descem silenciosamente ao ritmo da torrente - porém, um ser humano maravilha-se.

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Poemas A abertura que um mundo cruza através do homem é do assombro o limiar (uma vez, exatamente este portento teve por nome “Adão”) E estava só, com o seu assombro, entre as criaturas que não se maravilhavam - para as quais existir e fluir era suficiente. O homem, com elas fluia sobre a onda do assombro! Maravilhando-se...

O homem é o “lugar de encontro com o Verbo Primordial”, diz Wojtyla. Na segunda composição, sob o título “A Nascente”, busca-se a origem de mesma torrente, e por isso o Verbo Primordial, ou seja a nascente da qual nasce o homem. Wojtyla escreve:

Se queresencontrar a nascente deves continuar para cima, contra a corrente. Wojtyla reúne em si – em diferentes medidas – as três grandes forças espirituais mediante as quais o homem sempre buscou a verdade: “arte”, “filosofia”, “fé e religião”. A união entre estas três forças, na unidade em que se encontra em Wojtyla, constitui o que Platão chamava a “paixão” com a qual o homem nasce e pela qual é acompanhado toda a vida, e que certos psicólogos modernos chamam de “código da alma”. É justamente esta paixão que acompanha Wojtyla, e que está constantemente presente em tudo o que ele faz e diz. No drama de autoria de Karol Wojtyla Irmão do nosso Deus e dedicado a Adam Chmielowski, que se fez monge com o nome de irmão Alberto (canonizado em 1989), lê-se um texto que nos revela muito bem aquela “paixão” ou “códi-

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Poemas go da alma” de que falávamos: Continua a procurar. Mas o quê? Talvez a tenha procurado bastante. Procurei entre muitas verdades. Porém, estas coisas só podem amadurecer assim. Filosofia... Arte... A verdade é o que, enfim, chega à superfície como o azeite sobre a água. Deste modo, é a vida que no-la revela... pouco a pouco, em parte, mas continuamente. Por outro lado, ela está em nós, em cada homem. E é precisamente aqui que ela está próxima da vida. Trazemo-la em nós, ela é mais forte do que a nossa fraqueza. E em Nascimento dos confessores, lê-se: Mas se a verdade está em mim – deve explodir. Não posso rejeitá-la, rejeitaria a mim mesmo (...) * Ao copiar trechos dos poemas do Papa João Paulo II e ao traduzir alguns, tive o mesmo assombro (para usar a palavra já glosada acima) que tive ao copiar os Sonetos de Shakespeare. Ouvir um poema, ou lê-lo, não é a mesma coisa. Ao copiar palavras, frases, elas assumem uma tridimensionalidade ausente em outras formas de expressão. E como se as tocássemos, apalpássemos. Essa deve ser a sensação do escultor que arranca do mármore, lasca após lasca, a visão que ele teve de sua obra ao contemplar a pedra bruta. Isso tudo, para dizer que me encantei com a profundidade da arte poética de Karol Wojtyla. Poemas que se leem, que se tocam e que se VEEM. E também para lamentar que sua obra literária seja tão pouco divulgada. Fui a três livrarias católicas, nenhuma delas tinha um livro de poemas do Papa, somente os documentos oficiais da Igreja de sua autoria. É uma pena. Por isso espero que essa breve, muito resumida introdução à poética do Papa desperte o interesse dos leitores e com isso pressione as livrarias a oferecer algo mais do que as suas Encíclicas, por sinal também belíssimas. A seguir mais alguns fragmentos de seus poemas: COMEÇA O COLÓQUIO COM DEUS Na história, o corpo humano morre mais vezes, e morre antes do que a árvore.

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Poemas Perdura o homem além do limiar da morte, nas catacumbas e nas criptas. Perdura o homem que parte em todos aqueles que vem depois dele. Perdura o homem que chega em todos aqueles que antes partiram. Perdura o homem, para além de qualquer partida ou chegada em si e em Ti in “Vigília Pascal” traduzido do italiano por Pe. Mauricio Ruffier

* Os a seguir foram traduzidos por mim do polonês:

Leva-me, Mestre, a Éfrem e permite-me lá ficar contigo onde os silêncios da costa distante caem nas asas dos pássaros, como o verde, como a onda exuberante, intocada pelo remo como o amplo círculo na água, que a sombra do medo não espanta. In “Canto sobre o Deus oculto” * Não temas. O feito humano localiza-se entre largas margens Não é permitido aprisioná-las em leito estreito por longo tempo Não temas. O humano econtra-se há séculos Naquele para o qual olhas através do martelar ritmado In “A pedreira” (obs. o Papa trabalhou numa pedreira quando jovem) *

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Poemas Quero descrever a Igreja a minha Igreja, que nasce comigo porém não morre comigo – eu tampouco morro com ela – a Igreja que sem cessar me ultrapassa – Igreja: a profundeza do meu ser e o seu cume In “Estanislau” * Oh, esplendor! Oh, olhar do Criador, do qual brotam sempre novas criaturas e novos mundos nascem secretamente. In “Canção sobre o sol inesgotável”, 1944 * Falta muito para chegar à fonte? Afinal, em Ti estremece tanta gente transluminada com o esplendor das tuas palavras como as pupilas iluminadas pelo esplendor da água... a toda essa gente conheces em seu cansaço e também em sua luz in “Canto do esplendor da água”, 1950 * Mas eu te digo que é apenas o teu olhar que percebe as pessoas tão mal, atraído por anúncios luminosos. Na realidade o que as revela é o que há de mais oculto nelas e que nenhuma chama consegue devorar. In “Canto do esplendor da água”, 1950 *

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Poemas Porque desejo abrir espaço para as Tuas mãos estendidas, porque quero aproximar a eternidade para que receba o Teu sopro

O Amor tudo esclareceu, o Amor tudo solucionou por isso glorifico o Amor, onde estiver in “Canto sobre o Deus oculto”

OSenhor, ao brotar no coração, é como uma flor, sedento do calor do sol. Venha, pois, oh luz da profundeza do dia incompreensível e apoie-se na minha margem Arda não demasiadamente próximo do céu e tampouco longe demais. Guarda, coração, esse olhar, no qual a eternidade te espera. In “Canto sobre o Deus oculto”

Vocês também gostaram de ler, de vislumbrar e de tocar esses pequenos fragmentos da poesia de Karol Wojtyla? Então me ajudem a divulgá-la como nossa modesta homenagem por ocasião de sua canonização. Rio, abril de 2014.

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Poemas RESUMO – STRESZCZENIE

Tomasz Łychowski, jako doświadczony poeta posiada większe wyczucie na poezję Karola Wojtyły, aniżeli przeciętny zjadacz codziennego chleba. Zaprezentował on czytelnikowi wybrane wiersze Jana Pawła II i podjął się krótkich komenatrzy do cytowanych wierszy papieskich.

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Poemas PENSANDO A PÁTRIA (fragmentos) Karol WOJTYŁA

Pensando a pátria... A Pátria, quando penso, me expresso e enraízo, é o que me diz o coração, fronteira oculta que de mim se estende aos outros para os abarcar todos num passado mais antigo que cada um de nós: dele é que surgo... quando penso a Pátria – para guardá-la em mim feito tesouro. Pergunto a cada hora como multiplicar, como alargar o espaço do seu domínio. (...) Refrão Quando penso a Pátria, procuro o caminho que corta as encostas como a corrente de alta tensão, passando em cima – assim ele sobe correndo íngreme em cada um de nós e não nos deixa parar. O caminho percorre as mesmas encostas, volta aos mesmos lugares, e tornase um grande silêncio que cada entardecer visita os pulmões cansados da minha terra. Pensando a Pátria, retorno a árvore... 1. A árvore da ciência do bem e do mal crescia a margem dos rios da nossa

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Poemas terra, crescia conosco ao longo dos séculos, encravando-se na Igreja com raízes das consciências. Carregávamos os frutos que pesam e que enriquecem. Sentimos o tronco rachando-se no fundo, embora as raízes penetrassem o mesmo solo... A história reveste a luta das consciências com a camada dos acontecimentos. Camada em que vibram vitórias e quedas. A história não as encobre, mas sim as realça... Pode a história correr contra a corrente das consciências? 2. Em que direção ramificou-se o tronco? Em que direção seguem as consciências? Em que direção cresce a história da nossa terra? A árvore da ciência não conhece limites. Só a Vinda é o limite que unirá num Corpo só a luta das consciências e os mistérios dos tempos – e transformará a árvore da ciência numa Fonte da Vida a jorrar sem parar. Mas até agora cada dia traz a mesma desagregação em cada pensamento e em cada ato, da qual a Igreja das consciências cresce nas raízes da história. 3. Que nunca percamos da vista a nitidez com que nos vêm os acontecimentos perdidos numa torre imensurável, em que, no entanto, o homem sabe para onde está caminhando. O amor, o amor só, contrabalança o destino. Que nunca estendamos a dimensão da sombra. Que o raio solar alcance a cada coração e ilumine as penumbras das gerações. Que o fluxo de poder penetre as fraquezas. Não podemos nos conformar com a fraqueza. 4. É fraco um povo que se conforma com a sua derrota e esquece que foi enviado para aguardar vigilante a sua hora. As horas sempre retornam no grande mostrador da história. Eis a liturgia dos tempos. A vigilância é a palavra do Senhor e a palavra do Povo que vamos receber sempre de novo. As horas se transformam num sal-

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Traduções mo das conversões perpétuas: vamos participar em Eucaristia dos mundos. 5. Vamos então em tua direção, ó terra, para te alargar em todos os homens – a terra das nossas quedas e vitórias que te ergues em todos os corações com o mistério pascoal. –

Ó terra que não cessas de ser a partícula do nosso tempo. Aprendendo a nova esperança, atravessamos esse tempo rumo a terra nova. E te elevamos, ó terra antiga, como um fruto do amor das gerações que superou o ódio.

Kraków, 1974. Tradução de Henryk SIEWIERSKI

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Resenhas MAZUREK, Jerzy. Piórem i czynem (Pela pena e pela ação). Warszawa: Instytut Studiów Iberyjskich i Iberoamerykańskich UW, 2013, pp. 469.

Mariano KAWKA *

A trajetória sul-americana de um líder polonês

Neste seu último livro, o Prof. Jerzy Mazurek apresenta-nos, com riqueza de detalhes baseados em farta documentação, além de numerosas ilustrações, a pessoa de Kazimierz Warchałowski, uma liderança polonesa que deixou marcas indeléveis na história da imigração polonesa no Brasil e na América Latina.

Nos primeiros cinquenta anos da colonização polonesa no Brasil é visível o predomínio dos camponeses simples e nada ou pouco letrados que, tentados pela perspectiva de melhorar as suas condições de vida e de se tornarem proprietários de terras, migravam aos milhares, estabelecendo-se principalmente nos estados meridionais − Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os estudiosos do assunto calculam que no início do século XX o seu número já beirava a cifra de 100 mil.



Membro da redação da revista Polonicus.

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Resenhas Aesses imigrantes juntavam-se também, aos poucos, alguns intelectuais que deram à imigração polonesa a possiblidade de ela se organizar melhor e de refletir sobre a sua condição e o seu destino. Os primeiros representantes dessa categoria foram os sacerdotes. Posteriormente, surgem nomes de cidadãos proeminentes em áreas diversas, que se gravaram na história da colonização polonesa no Brasil. Entre eles, podem ser citados, por exemplo, Jan Hempel, Stanisław Konrad Jeziorowski, Szymon Kossobudzki, Jadwiga Jahołkowska, Michał Sekuła, Juliusz Szymański, Witold Wierzbowski, Witold Żongołłowicz e também o protagonista do livro em análise − Kazimierz Warchałowski. Kazimierz Warchałowski nasceu no dia 24 de novembro de 1872 em Woronez, uma cidade situada a 500 quilômetros ao sul de Moscou, numa família de intelectuais e de raízes aristocráticas. Nos anos 1889-1894, Casimiro estudou Ciências Naturais na Universidade de São Petersburgo. No entanto, ele não concluiu esses estudos. O jovem Casimiro, nos anos da sua juventude, realizou viagens por diversos lugares da França e da Itália. Em 1897 casou-se com Janina. Warchałowski teve o primeiro contato com o Brasil em 1901, quando, em companhia de sua esposa, fez ao país uma viagem de reconhecimento de três meses. No Paraná teve uma impressão positiva da comunidade polonesa local, para a qual via apenas a necessidade da elevação do nível cultural. Warchałowski se posicionou a favor da emigração polonesa ao Paraná e propagou essa ideia tanto na imprensa polonesa como também no seu jornal Polak w Brazylii (O polonês no Brasil). Em 1903 Warchałowski viajou ao Brasil com a família (que incluía os filhos Jorge, Luís e Estanislau) e fixou residência em Curitiba. A cidade contava naquela época cerca de 25 mil habitantes, dos quais cerca de dez por cento eram poloneses. O primeiro empreendimento de Warchałowski em Curitiba, já em 1903, foi a construção de um pavilhão, no estilo de Zakopane, no qual foi organizada uma exposição dos produtos agrícolas produzidos pelos co-

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Resenhas lonos poloneses da região. Em breve adquiriu na região do Bacacheri uma propriedade onde instalou uma serraria, uma fábrica de fertilizantes e um depósito de máquinas agrícolas. Após uma viagem à Europa em 1906, instalou em São José dos Pinhais uma serraria. Costumava visitar regularmente a sua terra natal (em geral a cada dois anos), mas fixou-se definitivamente em Curitiba. Na Praça Tiradentes, mantinha a Livraria Polaca e a redação do jornal Polak w Brazylii, por ele fundado em 1905. Esse periódico semanal proclamava os ideais republicanos e democráticos, popularizava as ciências naturais e sociais, difundia a literatura polonesa e consolidava a fé na libertação da Polônia. Ao mesmo tempo Warchałowski visitou quase todos os maiores núcleos poloneses e dedicou-se à propagação do ensino, à fundação de bibliotecas e círculos agrícolas, procurando elevar o nível cultural dos colonos e torná -los conscientes dos seus direitos e deveres. Nesse sentido, foi uma espécie de intermediário entre o mundo urbanizado e moderno e o mundo muitas vezes anacrônico em que viviam os colonos poloneses residentes no interior. No período da I Guerra Mundial, a atenção dos líderes poloneses, inclusive nas áreas dos emigrados, concentrava-se nos esforços pela recuperação da independência do país. Também nessa área Warchałowski granjeou grandes méritos. Ele tinha um bom relacionamento com Rui Barbosa, com o presidente Venceslau Brás e com o então ministro das relações exteriores Nilo Peçanha. Foi em grande parte graças aos seus empenhos que o Brasil foi o primeiro país da América do Sul a reconhecer a independência polonesa após a Primeira Guerra. Warchałowski voltou à Polônia independente em 1919. O seu jornal − Polak w Brazylii − foi adquirido por uma sociedade fundada pelos padres Vicentinos, o que deu origem ao jornal Lud (O Povo). Esse jornal circulou de 1920 até 1999. No período de entreguerras, a Polônia − que havia saído de um pe-

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Resenhas ríodo de mais de um século de dominação estrangeira − teve de envidar esforços para a reconstrução do país. Nesse período o país enfrentava sérios problemas, como o superpovoamento das aldeias e o desemprego nas cidades. Naquele tempo, de uma população de 27,4 milhões, cerca de 20 milhões (quase 76% da população) viviam nas aldeias. Nos dez anos após a recuperação da independência, voltaram ao país 1.710.000 pessoas e dele emigraram 1.080.000, ou seja, a população da Polônia aumentou em 630 mil habitantes. Nessas condições, muitas pessoas viam na colonização ultramarina a única chance de melhora de vida para essas enormes multidões de camponeses e operários. Para essa situação, Warchałowski continuou a ver a solução na ação emigratória e colonizadora que − na sua opinião − devia ser direcionada à América do Sul. Ele via nisso também uma fonte de vantagens econômicas e políticas para a Polônia. Foi nesse contexto que em 1926 foi criada em Varsóvia a Sociedade Colonizadora (Towarzystwo Kolonizacyjne), que em 1928 promoveu a colonização polonesa no Espírito Santo, na região de Águia Branca. Em 1925 Warchałowski organizou uma expedição de reconhecimento pela América do Sul. Nessa época ele elaborou um projeto de colonização polonesa no Peru. No período de entreguerras foi um dos maiores propagandistas dessa ideia e finalmente se envolveu nesse empreendimento pessoalmente, por intermédio de uma cooperativa colonizadora, a chamada Kolonia Polska (Colônia Polonesa). Em 1927 obteve do governo peruano uma concessão para colonizar 350 mil hectares no leste do Peru (na região de La Montaña). Essas terras se encontravam na Amazônia peruana, ao leste dos Andes, nas margens do Rio Ucayali, que juntamente com o Rio Marañón dá origem ao rio Amazonas. Não era uma área adequada para a colonização, principalmente em razão das grandes distâncias dos centros urbanos (a cidade mais próxima, Iquitos, ficava a 1.500 km de distância), e por ser uma região sujeita a periódicas inundações. O primeiro grupo de colonos poloneses na Colônia Polonesa do Peru

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Resenhas chegou ali no dia 14 de maio de 1930. No dia 6 de outubro de 1930 (com o quarto grupo de imigrantes), viajou para lá o Pe. Francisco Sokół, delegado do primaz da Polônia, para organizar ali a primeira paróquia polonesa. No total, em oito grupos, normalmente em intervalos de um mês, viajaram ao Peru 235 pessoas, sendo 107 adultos. Esses colonos não encontraram ali o que lhes havia sido prometido, sentiram-se frustrados e finalmente se dispersaram. Alguns permaneceram no Peru, outros viajaram ao Brasil ou voltaram à Polônia. Todo o projeto encerrou-se em 1935, quando o Pe. Sokół, acompanhado de um grupo de 20 emigrantes, viajou para Curitiba. Algum tempo depois esse padre se estabeleceu na colônia polonesa de Águia Branca, no Espírito Santo. Enfim, todo o empreendimento resultou num grande fracasso. Foi um projeto mais baseado em ideologia do que na realidade, o que não podia ter produzido um resultado diferente. Warchałowski e sua esposa voltaram a Varsóvia já em 1931. A questão da colonização no Peru lançou uma sombra sobre os últimos anos da vida de Warchałowski. Mesmo que as suas intenções tivessem sido as melhores, a culpa pelo fracasso do empreendimento recaiu sobre ele. Após essa empreitada malsucedida, ele não se engajou mais na atividade colonizadora. No final de 1935 viajou mais uma vez à América do Sul com o objetivo de avaliar a possibilidade de exportação de produtos poloneses para os mercados locais. Warchałowski viajou ao Rio de Janeiro em 1937 e depois a Buenos Aires. Em 1938 voltou à Polônia e a partir de então dedicou-se à atividade jornalística e literária e a fazer palestras. Entre os livros por ele escritos estão: Do Parany (Ao Paraná), Cracóvia, 1905; Picada. Wspomnienia z Brazylii (Picada − Recordações do Brasil), Varsóvia, 1930; Na krokodylim szlaku (Na trilha dos crocodilos), Varsóvia, 1936; Na wodach Amazonki (Sobre as águas do Amazonas), Varsóvia, 1938. Faleceu em Varsóvia, durante a Segunda Guerra Mundial, no dia 28 de maio de 1943, e ali foi sepultado. Kazimierz Warchałowski foi uma personalidade de destaque, ainda que por vezes controvertida, na vida da colônia polonesa no Brasil e na América Latina. Grande idealista, buscou a realização do que acreditava ser o me-

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Resenhas lhor para os seus compatriotas. A leitura da sua biografia, em Piorem i czynem, é uma profunda aula de história sobre a diáspora polonesa na América Latina. Para quem desconhece a língua polonesa, o livro apresenta um resumo em inglês, português e espanhol.

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Resenhas PALAVRA E AÇÃO NA VIDA DE CASIMIRO WARCHAŁOWSKI – PIONEIRO DA COLONIZAÇÃO POLONESA NO BRASIL E NO PERU Władysław T. MIODUNKA *

O Prof. Dr. Jerzy Mazurek dedica-se a pesquisar a comunidade polônicana América Latina, especialmente a brasileira, há mais de vinte anos. Inicialmente ele elaborou e publicou trabalhos que tinham o caráter de estudos locais, antologias ou artigos em trabalhos coletivos, no entanto já ali surgiam com frequência cada vez maior temas que deviam depois ser os dominantes no seu trabalho científico: a emigração camponesa de terras polonesas, a história do movimento popular, bem como o surgimento e a história das coletividades polonesas na América Latina, especialmente no Brasil. Confirmam isso duas importantes antologias: Polonia brazylijska w piśmiennictwie polskim [A comunidade polônica brasileira na literatura polonesa) (2000) e Polonia argentyńska w piśmiennictwie polskim [A comunidade polônica argentina na literatura polonesa] (2004), o livro Muzeum Historii Polskiego Ruchu Ludowego [Museu da História do Movimento Popular Polonês] (2004) ou a monografia Kraj a emigracja. Ruch ludowy wobec wychodźstwa chłopskiego do krajów Ameryki Łacińskiej [A Polônia e seus emigrados: o movimento popular diante da emigração camponesa aos países da América Latina] (2006). Esse seu patrimônio científico ampliou-se em 2013 com a publicação de um livro muito interessante, Piórem i czynem. Kazimierz Warchałowski (18721943) – pionier osadnictwa polskiego w Brazylii i Peru [Pela pena e pela ação: Casimiro Warchałowski (1872-1943) – Pioneiro da colonização polonesa no Brasil e no Peru]. A dissertação do Dr. J. Mazurek concentra-se na vida e na atividade

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Prof. Dr. Leciona na Cátedra de Língua Polonesa como Estrangeira da Universidade Jaguiellô-

nica de Cracóvia – Polônia

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Resenhas de Casimiro Warchałowski, aqui chamado “pioneiro da colonização polonesa no Brasil e no Peru”. Não há dúvida de que a figura de C. Warchałowski foi bem escolhida, visto que foi ele no início do século XX uma pessoa que acreditava no significado da emigração polonesa à América do Sul, especialmente ao Brasil, e que procurou de diversas formas influenciar o destino da colonização camponesa nesse país, principalmente no Paraná. A sua atividade no Brasil e as suas publicações que surgiram na Polônia fizeram dele após a I Guerra Mundial um conhecido líder polonês, que procurou utilizar-se da experiência e da posição ocupada com o objetivo de promover diversas iniciativas. Na introdução da sua monografia, o autor apresenta esta caracterização geral do seu herói: “[...] atuou com variável sucesso como uma pessoa cheia de iniciativa, que não temia o risco de um empresário e ao mesmo tempo de um pioneiro que desejava abrir novas áreas para a colonização agrícola. Foi um elo entre as culturas polonesa e russa, polonesa e brasileira, polonesa e peruana, mas sobretudo entre as culturas dos emigrados camponeses da Polônia e os grupos sociais nos países que recebiam os emigrantes – o Brasil e o Peru” (2013:7). É preciso reconhecer que se trata de uma apresentação positiva, capaz de estimular a um conhecimento mais profundo da biografia de C. Warchałowski, na realidade “herói num plano mais distante dos acontecimentos” (2013:7), mas digno de atenção e de ser lembrado. Jerzy Mazurek localiza a sua monografia na zona fronteiriça dos estudos regionais e dos estudos culturais, adotando no seu trabalho a oficina das ciências históricas e da bibliografia. No que diz respeito à oficina histórica, é preciso enfatizar que o autor recorreu a muitas fontes publicadas e manuscritas em consequência de uma profunda pesquisa realizada em coleções arquivísticas polonesas e estrangeiras, graças à qual teve acesso a um material rico e detalhado. Utilizou-se desse material para apresentar a figura de C. Warchałowski e a sua atividade, mas vale a pena observar que esse personagem é apresentado diante do rico pano de fundo de toda a coletividade polonesa – tanto daquela parte que emigrou à América do Sul como daquela maioria que permaneceu na sua pátria. Ao ler essa monografia, eu voltava com a mi-

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Resenhas nha memória às aulas de história da comunidade polônica polonesa brasileira, apresentadas na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, pelo Prof. Ruy Wachowicz, nos anos 1996-98, para os estudantes de pós-graduação, no âmbito dos quais dirigi dois módulos: o linguístico e o didático. O Prof. Wachowicz foi, como se sabe, um eminente historiador regional, um historiador do Paraná. Nas suas apresentações, falava de pessoas suas conhecidas graças à influência de seu pai, também um líder polônico, de pessoas que havia visto e que analisava no amplo contexto da história polonesa e brasileira. Das suas aulas esboçava-se a imagem do diversificado ambiente polônico, no qual rivalizaram pela influência líderes de orientação nacional-cristã com líderes mais ou menos socialistas (a simpatia do Prof. Wachowicz estava do lado destes), e rivalizaram também pelo menos duas gerações: a geração dos pais, poloneses no Brasil – os fundadores das colônias com a geração dos filhos, que se consideravam como brasileiros de origem polonesa (o Prof. Wachowicz pertencia à geração dos filhos que conseguiram fazer no Brasil uma carreira científica, do que ele se orgulhava). Essas aulas voltavam à minha memória, visto que Mazurek, em sua narrativa, aborda muitas questões e conflitos a respeito dos quais eu ouvi do Prof. Wachowicz. Além disso, na monografia de Mazurek encontro muitos detalhes valiosos, para cuja análise não havia tempo durante as aulas. Isso faz com que eu aprecie muito a rica base das fontes em que se baseou todo o trabalho. Toda a monografia é composta com base na apresentação cronológica da vida e da atividade de C. Warchałowski, que ocupa toda a primeira parte e que conta cinco capítulo e mais de 280 páginas. A segunda parte é constituída pelo capítulo sexto, no qual o autor analisa a visão que Warchałowski tinha da emigração, o seu relacionamento com os judeus e caracteriza brevemente a sua atividade de escritor (2013:309-369). O trabalho se encerra com uma síntese da monografia, uma árvore genealógica da família de C. Warchałowski, um resumo em inglês, português e espanhol, a bibliografia, a relação de ilustrações e um índice onomástico.

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Resenhas Como já afirmei, a maior parte da monografia analisada é a biografia do seu herói, bem como uma descrição e uma análise das suas ações: desde o início da atividade social na região de Kiev, o começo do interesse pelo Brasil sob a influência das publicações de Dmowski e o reconhecimento do Brasil na segunda metade de 1901, passando pela sua estada com a família no Paraná nos anos 1903-1919, com a atividade social, cultural e política por ele empreendida naquele período e as funções exercidas até o desencadeamento da “febre peruana” em 1926 e a ação colonizadora ali desenvolvida, que terminou numa evidente catástrofe. Vale a pena assinalar que as ações empreendidas por Warchałowski são detalhadamente descritas no capítulo II: a instalação da serraria a vapor e da olaria a vapor, a fundação e publicação do periódico Polak w Brazylii [O polonês no Brasil], a fundação da Sociedade da Escola Popular, que devia melhorar o funcionamento das escolas polonesas no Paraná, a abertura da Livraria Polonesa em Curitiba, que era também uma editora, e finalmente a criação dos círculos agrícolas, que deviam conduzir os camponeses poloneses no Brasil a uma economia racional. Ao apresentar a vida e a atividade de Warchałowski, o Prof. Mazurek parece evitar uma avaliação direta das diversas formas da sua atividade. Naturalmente, não evita a citação de pronunciamentos de pessoas contemporâneas de Warchałowski que fazem dele uma avaliação que – como a uma pessoa pública – não lhe poupavam críticas. Graças a isso, durante o tempo todo o leitor tem a possibilidade de observar as disputas e discussões travadas em torno da emigração camponesa à América Latina e da política colonial polonesa. Por outro lado, o leitor pode ter a impressão de que o autor antes mostra que analisa e avalia as ações do herói do livro (a tarefa de um historiador é antes a reconstrução dos fatos do que a sua avaliação – afirma Mazurek na p. 381), guiando-se por uma opinião geralmente positiva da sua atividade. Confesso que eu mesmo tive várias vezes essa impressão e por isso li com especial atenção a conclusão, na qual o autor faz uma síntese de toda a atividade de Warchałowski, preservando um equilibrado criticismo. O período brasileiro da atividade do herói (os anos 1903-1919) é por ele avaliado positivamente, com ênfase aos seus méri-

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Resenhas tos para a divulgação da leitura em meio aos colonos poloneses ou os seus empenhos junto às autoridades do Estado brasileiro pelo reconhecimento da Polônia renascida após a I Guerra Mundial como um Estado (2013:375-8). Por outro lado, o autor afirma que “a avaliação da maior parte das suas iniciativas e pontos de vista do período do entreguerras não pode ser positiva [...]. As conclusões da análise da sua atividade não despertam dúvidas – as iniciativas empreendidas por Warchałowski nesse período constituem uma série contínua de derrotas e descréditos [...]. Em suas concepções, não particularizadas com suficiente clareza, os colonos, tratados como objetos, foram apenas um instrumento em seus utópicos projetos emigratório-coloniais” (2013:381). O Prof. Mazurek afirma com justiça na página seguinte da monografia que Warchałowski é o total responsável pelo fracasso da ação colonizadora no Peru. Em síntese, portanto, constata-se que na avaliação de toda a atividade do seu herói o autor preserva a objetividade e a honestidade. Ao ler o livro, fiquei pensando se foi bom que os pontos de vista de Warchałowski a respeito da emigração e das questões étnicas na Polônia tenham sido destacados e localizados num capítulo separado. Com efeito, os pontos de vista constituem a base da ação e, por outro lado, as ações empreendidas, os seus sucessos ou malogros influenciam (devem influenciar!) a correção desses pontos de vista. Na forma apresentada pela monografia as ações foram separadas dos pontos de vista, o que pode dar margem a certas restrições da parte dos leitores. Com leitor do trabalho e pessoa interessada pela história da colonização polonesa no Brasil, devo afirmar que a monografia em análise permitiume compreender melhor muitas questões, em razão de ter sido introduzida nela a dimensão humana, encerrada na biografia de C. Warchałowski. Por outro lado, quero dizer que não encontrei no trabalho respostas a alguns problemas que me inquietam. Uma delas é a questão do conhecimento da língua portuguesa pelos colonos poloneses e pelos seus filhos, que aqui quero relacionar com o herói da monografia e indagar a respeito do conhecimento do idioma português que possuía Warchałowski. Estou propenso a supor que ele

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Resenhas conhecia o português pelo menos num nível médio, porquanto atuava como intermediário entre os colonos e as autoridades brasileiras e mantinha contato com essas autoridades no Rio de Janeiro. Se assim era, com certeza familiarizou-se com a língua do país no decorrer dos seus muitos anos de permanência nele. No domínio da língua portuguesa foi-lhe útil o conhecimento de outras línguas (latim, francês e – embora em menor grau – russo). Na monografia não se encontram, no entanto, afirmações claras a esse respeito. Apesar disso, podem ser encontrados nela trechos que permitem a um linguista a reconstrução do estado de coisas nessa área. Assim, na p. 62 o autor cita o trecho de uma entrevista com Warchałowski, publicada na Gazeta do Povo de 16/19 de novembro de 1901, nos seguintes termos: “Os filhos dos colonos poloneses nascidos no Paraná falam muito bem o polonês, independentemente da sua idade, embora a maioria conheça a língua portuguesa, da qual se utilizam com total fluência no relacionamento com os brasileiros”. Eis que esse “excelente conhecimento do polonês” era na realidade a utilização do dialeto polonês que os pais (ou avós) haviam trazido da Polônia. Se as crianças não frequentavam a escola, onde pudessem aprender a língua polonesa oficial, literária, escrita, elas tinham apenas a capacidade de falar e compreender aquele dialeto. A afirmação de que “a maioria conhecia a língua portuguesa” também deve surpreender, visto que ainda em 1955 Wilson Martins, no seu livro Um Brasil diferente, escrevia o seguinte: “Existem grandes problemas da parte dos poloneses e dos japoneses no aprendizado da língua portuguesa, maiores que entre qualquer outra etnia” (Miodunka, Bilingwizm polsko-portugalski w Brazylii / O bilinguismo polono-português no Brasil, 2003:49). Ainda que, como escrevo no meu livro, Martins fosse indisposto diante dos poloneses e sustentasse julgamentos estereotipados a respeito deles, mesmo assim a sua opinião, expressa mais de 50 anos depois, deve ser levada em conta. Por outro lado, em 1925 o Pe. Rzymełka afirmava: “No dia a dia a juventude polonesa urbana fala principalmente em português, embora também essa língua deixe nela muito a desejar” (Miodunka, 2003:97-98). Como se percebe, o Pe. Rzymełka era bem mais sensato que Warchałowski, visto que falava somente da “juventude urbana” e chamava a atenção para as falhas nesse conhecimen-

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Resenhas to. Pode-se, então, concluir que o Pe. Rzymełka falava (bem) em português, e Warchałowski em 1901 ainda não falava nada, donde a sua admiração diante daqueles que falavam pelo menos um pouco nessa língua. A conclusão geral dessa análise linguística do trecho da entrevista de Warchałowski é a seguinte: Warchałowski não via a realidade tal como ela se apresentava, mas tal como ele queria vê-la. Além disso, expressava julgamentos claramente exagerados a respeito (“falam muito bem o polonês”, a maioria se utiliza “com fluência” da língua portuguesa). Essa é uma habilidade útil e importante para um político, mas prejudicial – no meu entender – para alguém que queira agir em prol de qualquer coletividade, a fim de transformá-la. Além disso, um linguista pode afirmar que Warchałowski via o conhecimento do português como uma ameaça ao conhecimento do polonês, o que se comprova pela utilização da conjunção “embora” (“os filhos falam muito bem o polonês, embora a maioria conheça a língua portuguesa”). Por ocasião da análise da monografia sobre C. Warchałowski, vale a pena fazer uma breve apresentação do seu autor. Jerzy Mazurek é formado pela Faculdade de História da Universidade de Varsóvia, na qual concluiu duas direções de estudos: primeiramente a biblioteconomia e informação científica (mestrado em 1988), e depois – a história (mestrado em 1991). Após os estudos, estabeleceu vínculos com a imprensa aldeã, trabalhado como redator-chefe de Gazeta Rolnicza (Jornal Agrícola) e publicando artigos em diversos jornais e revistas. Desde 1988 trabalha no Museu da História do Movimento Popular Polonês em Varsóvia, onde é vice-diretor e empreende muitas iniciativas relacionadas com os seus interesses científicos. Como a mais importante e a mais visível delas deve ser reconhecida a redação da “Biblioteca Ibérica”, uma série publicada desde 2006 pelo Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade de Varsóvia e pelo Museu da História do Movimento Popular Polonês. Ele iniciou a colaboração com o Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade de Varsóvia em 2004, onde dá aulas sobre a história da comunidade polônica na América Latina. Como o momento crucial para o seu envolvimento no trabalho científico pode

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Resenhas ser reconhecido o ano 2006, no qual obteve na Universidade de Szczecin o doutorado pelo trabalho O movimento popular diante da emigração camponesa aos países da América Latina (até 1939). O doutorado pode ser reconhecido como o momento crucial no seu desenvolvimento científico, visto que, por um lado, permitiu-lhe uma colaboração científica e didática cada vez mais estreita com o Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade de Varsóvia e – por outro – o desenvolvimento dos seus interesses científicos, cujo coroamento é a sua monografia publicada em 2013, objeto da análise do presente artigo. Em síntese, certamente se pode dizer a respeito do Prof. Mazurek que desde a conclusão dos estudos ele foi um aficionado da pena, tendo-se tornado um pesquisador e trabalhador científico no decorrer dos anos mais recentes. Merecem uma atenção especial os seus méritos organizacionais, que certamente devem ser divididos em duas partes: aquele relacionado com o trabalho na direção do Museu da História do Movimento Popular Polonês em Varsóvia e o relacionado com a redação da “Biblioteca Ibérica”. A respeito do primeiro deles podem falar de preferência os habitantes de Varsóvia. Eu direi apenas que desperta a minha admiração o fato de que o Prof. Mazurek trabalhe na função de diretor do Museu há 15 anos. Isso é muito para uma cidade onde a cada período de alguns anos tudo vira de pernas para o ar! A respeito da “Biblioteca Ibérica”, que o Prof. Mazurek redige desde 2006, não se pode falar senão com reconhecimento e admiração. Com reconhecimento, porque os trabalhos são publicados na “Biblioteca Ibérica” independentemente das crises econômicas que sempre ocorrem na Polônia e na União Europeia. Com admiração, porque na “Biblioteca” já foram publicados 41 livros, o que, segundo quaisquer critérios, deve ser reconhecido como um número incrivelmente grande. Além disso, é preciso dizer que na “Biblioteca” são publicados trabalhos que seria muito difícil publicar numa outra editora, em razão do conteúdo e do estilo (preponderam os livros científicos que, na opinião dos editores na Polônia, quase não se vendem). Na realidade desconheço a fundo a realidade de Varsóvia, mas fico pensando se, ao falar dos

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Resenhas méritos do Dr. Mazurek no caso da “Biblioteca Ibérica”, o verbo “redige” não deveria ser substituído pelo verbo “edita”. Sintetizando as minhas observações, quero ainda afirmar que a sua monografia Pela pena e pela ação: Casimiro Warchałowski (1872-1943) – pioneiro da colonização polonesa no Brasil e no Peru é um trabalho importante, baseado numa imponente base de fontes, que permite ao autor não apenas fazer uma apresentação multilateral da figura do protagonista, mas também apresentá-la diante do pano de fundo dos líderes poloneses que na primeira metade do século XX atuaram no Sul do Brasil. Visto que a maior parte da produção dos historiadores tem sido relacionada com a história da colonização, isto é, dos colonos provenientes do povo, não havia até agora um trabalho que apresentasse a trajetória e a atividade de um indivíduo que sobressai à média, e tal personagem é sem dúvida Casimiro Warchałowski. É nisso que consiste o valor desse trabalho para os estudos polônicos em geral, e para a história da comunidade polônica no Brasil em particular.

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Est revistas “ONDE FICA CURITIBA? QUERO VISITÁ-LA” ∗ No próximo domingo, os papas João Paulo II e João XXIII serão canonizados pelo papa Francisco e a partir de então passam a ser considerados santos. Quem conviveu com o futuro São João II garante que sua santidade se fez presente por toda sua trajetória e a canonização é apenas uma confirmação daquilo que foi feito durante 27 anos de papado e 84 anos de vida. O momento é visto com grande importância para a Igreja Católica e fiéis de todo mundo que pediram pela canonização de Karol Wojtyla quando ele morreu em 2005. Para a comunidade polonesa no Brasil, a canonização também é de grande expectativa, principalmente pela importância de João Paulo II na história do país. “João Paulo II está sendo considerado herói, o maior polonês da história da Polônia. Com seu ensinamento não exclusivamente religioso, mas também a sua atuação social, sua intervenção um pouquinho política que ajudou para que a Polônia se libertasse”, avalia o Padre Zdzislaw Malczewski, reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, que faz uma análise de todo o papado de João Paulo II. TRIBUNA- Que avaliação o senhor faz do papado de João Paulo II? Padre Zdzislaw Malczewski: Fazer uma avaliação do pontificado de João Paulo II é muito complicado por várias razões. A primeira é que depois de 400 anos de pontificado dos italianos foi eleito um papa do bloco comunista sob influência soviética. Por outro lado o Karol Wojtyla era diferente dos seus veneráveis antecessores, os papas italianos, porque ele não tinha nenhum conhecimento da Cúria Romana. Então veio alguém de fora, com outras visões da igreja com assuntos internos, como também do relacionamento da igreja com os estados, os países, as nações. Quando olhamos os 27 anos de pontificado de João Paulo II observamos que entrou muita coisa nova no relacionamento entre a igreja com os estados. As próprias visitas que o papa fazia, chamadas visitas apostólicas- ele ∗

Entrevista publicada na „Tribuna do Paraná” aos 25 de abril de 2014, sem pag.

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Est revistas percorreu mais de 120 países- isso também aproximou o povo. Um simples católico da América Latina, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia passou a saber quem era o papa, porque o papa se tornou mais próximo do povo. E olhando da nossa Curitiba também é uma coisa excepcional. Quem escolheu a cidade de Curitiba para ser visitado por ele. Não foi uma decisão da Conferência Episcopal que preparava a viagem, foi o papa que perguntou “onde fica Curitiba? Quero visita-la”. O presidente da Conferência respondeu que não estava no trajeto e ele disse “não faz mal, eu quero visitá-la”. Para nós que moramos em Curitiba, os curitibanos que viemos de fora, é um privilégio porque o próprio pontífice escolheu a cidade para ter um encontro aqui. Mudou muita coisa. Ele reformou o Direito Canônico da Igreja, a lei interna da igreja; pediu a preparação do novo catecismo católico. Certas coisas foram atualizadas. O João Paulo II é reconhecido como criador da Jornada Mundial da Juventude, era chamado o Papa do Jovem, que começou com um encontro de jovens em Roma e depois decidiu que se realizasse de dois em dois ou três em três anos. Percebemos isso no ano passado, no Rio de Janeiro, quanta coisa maravilhosa aconteceu com quase 4 milhões de jovens em Copacabana fazendo sua festa sem violência, sem coisas pejorativas que muitas coisas acontecem em outros ambientes jovens. A próxima Jornada vai acontecer em Cracóvia, na cidade de João Paulo II, o papa Francisco já escreveu uma carta aos jovens informando que o papa já São João II vai ser considerado o patrono das jornadas mundiais. O que representa a transformação de João Paulo II em santo? Pe. ZM.: Não é a própria canonização que vai fazer do João Paulo II um homem santo. É apenas a igreja, pela voz do Santo Padre, nos dizendo que este homem, durante toda vida, fazia esforço para levar a sério aquilo que nos diz a Bíblia. Quando a gente participava das audiências com João Paulo II, do

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Est revistas rosto dele emanava uma serenidade, uma paz, uma luz. A gente percebia que aquele homem levava uma vida sobrenatural muito intensa, uma vida de oração. A canonização é uma festa para o povo católico, a igreja reconhece que temos um intercessor diante de Deus. Nós não adoramos santos, nós admiramos e procuramos seguir o exemplo da vida deles na nossa vida católica, na nossa vida cristã cotidiana. Por se tratar de dois papas, existe algum diferencial em relação às demais canonizações? Pe. ZM.: Os peregrinos do mundo inteiro, no dia do enterro de João Paulo II, estavam gritando lá na Praça de São Pedro e colocavam faixas escrito: santo, súbito! que significa ´santo, já!. Quer dizer, o próprio povo reconheceu a santidade de João Paulo II. A maneira da igreja fazer o processo de canonização antes de fazer a beatificação é simplesmente uma resposta ao desafio que o próprio povo fiel estava fazendo à igreja. A relação da comunidade polonesa com a Igreja ainda é forte? Pe. ZM.: João Paulo II está sendo considerado o herói, o maior polonês da história da Polônia. Com seu ensinamento não exclusivamente religioso, mas também sua atuação social, sua intervenção um pouquinho política que ajudou para que a Polônia se libertasse. Dizem que o comunismo tinha algumas coisas boas, mas era doloroso. E o Papa com sua visita em 1979, quando terminava sua homilia em Varsóvia, ele encerrou sua oração dizendo ´que desça o Espírito Santo sobre a Terra´ e acrescentou ´sobre esta Terra´. A partir daquela oração o povo polonês mudou sua mentalidade e sua maneira de viver. Já começaram a respirar espiritualmente a sua libertação. E depois veio toda a transformação sem derramamento de sangue. Aconteceu uma mudança política, social, econômica no país e depois o comunismo morre e nem foi dado um tiro nem morreu ninguém. É a intervenção de Deus.

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Est revistas Quando o papa fazia visitas apostólicas ele sempre se encontrava com a comunidade polonesa. Até nos países onde a comunidade polonesa é bem pequena. E o que virá daqui para frente? Pe. ZM.: Eu acredito que irão acontecer muitos milagres. Quando o povo busca ajuda de Deus e temos tantos intermediários que chamamos de santos e santas, certamente teremos muita ajuda espiritual para o povo brasileiro. Creio que vão surgir novas igrejas e novas capelas dedicadas a São João Paulo II. Temos no Parque João Paulo II aquela casinha de tábuas de madeira que os primeiros imigrantes fizeram no início do século 19 e ela se tornou uma capela. As pessoas chegam, turistas de várias regiões do país, e a primeira coisa quando entram fazem o sinal da cruz. Não podemos eliminar e dizer que é apenas um bosque de preservação dos imigrantes poloneses, mas também vai ser um centro espiritual de João Paulo II. Como é processo para virar santo? De acordo com o padre Zdzislaw Malczewski o papa, através da Congregação para Canonização e Beatificação, cria uma comissão especial e eles vasculham toda a vida do “candidato”. “Os documentos, correspondências, testemunhos de vida. Tudo é feito sob juramento, porque não pode entrar nenhuma mentira”, diz. Passada esta etapa, só um milagre eleva ao grau de beato. “A beatificação precisa de pelo menos um milagre. Por exemplo, os médicos vão dizer que a ciência da medicina não tem condições de explicar porque alguém gravemente doente de repente recuperou a saúde”, exemplifica. Para acender ao grau de santo, o processo se torna mais rigoroso. A canonização precisa de dois milagres, mas o papa tem o poder de decidir. João Paulo II já fez dois milagres João Paulo II realizou dois milagres que foram comprovados por uma comissão do Vaticano. O primeiro registro é o da freira Marie Simon-Pierre, que ter sido repentinamente curada de mal de Parkison dois meses após a

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Est revistas morte do pontífice. O segundo milagre foi registrado na Costa Rica, com Floribeth Mora. Ela garante que em 2011 foi curada de um tipo raro de aneurisma cerebral após pedir a intercessão de João Paulo II. Na época ela tinha 48 anos de idade e surpreendeu os médicos com sua cura.

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Crônicas INSTALADO O CONSULADO HONORÁRIO DA REPÚBLICA DA POLÔNIA EM PORTO ALEGRE No dia 20 de junho de 2013, foi instalado o Consulado da República da Polônia em Porto Alegre. A solenidade foi relaizada nas dependências da Sociedade Polônia da capital e contou com a presença do Sr. Marek Makowski, Cônsul-Geral de Curitiba, do Sr. Fabiano Pereira, Secretário Estadual da Justiça, representando o Governador do Estado, do Desembargador José Aquino Camargo, representando o Tribunal de Justiça, do Sr. Gernot Haeberli, Cônsul Honorário da Suíça, presidente da Associação do Corpo Consular do RS, do Sr. Paulo Ratkiewicz, Presidente da Sociedade Polônia de P. Alegre, do Sr. André Hamerski, Vice-Presidente da BRASPOL para o RS, do Sr. Olívio Dutra, ex-Governador do Estado, do Sr. Sérgio Stasinski, ex-Deputado Estadual, prefeitos e de outras autoridades e convidados. Na oportunidade, tomou posse no cargo de Cônsul Honorário o Sr. Wilson Rodycz, designado pelas autoridades para atuar pelo período de cinco anos. O Consulado funcionará na Rua Gen. Lima e Silva, 1066, sala 204, P. Alegre. A atuação do Consulado priorizará o estreitamento das relações culturais e comerciais entre a Polônia e o Estado do Rio Grande do Sul, buscando mostrar aos brasileiros a moderna Polônia e as amplas possibilidades de turismo, de intercâmbio cultural, inclusive estudos nas suas Escolas Técnicas e Universidades, de troca comercial nas mais variadas áreas, sem descuidar de incentivar o cultivo das tradições, ajudando na difusão do folclore, muito bem conservado pelos descendentes dos imigrantes. O atendimento dos cidadãos poloneses e daqueles que pretendem obter a cidadania polonesa continuará sendo feito pelo Consulado-Geral de Curitiba, mas os interessados poderão realizar alguns atos do processo em Porto Alegre, através de funcionários que lá comparecerão para recolher documentos, etc.

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Crônicas RESUMO – STRESZCZENIE

Ważnym wydarzneiem dla społeczności polonijnej w Porto Alegre, stolicy stanu Rio Grande do Sul, jak też i żyjącej w tym stanie, była uroczysta inauguracja Konsulatu Honorowego RP. Otwarcie odbyło się 20 czerwca 2013 r. w obecności konsula generalnego RP p. Marka Makowskiego, przedstawicieli władz brazylijskich, a także społeczności polonijnej.

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Crônicas O REITOR DA MCP PARTICIPA DO ENCONTRO DA PASTORAL DAS PESSOAS A CAMINHO DA CNBB Zdzislaw MALCZEWSKI SChr ∗ Nos dias 15 a 18 de julho de 2013, na cidade portuária de Santos realizou-se o encontro nacional do setor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para assuntos de mobilidade humana. Dos três dias do encontro participaram os coordenadores nacionais das pastorais que servem às pessoas que se encontram a caminho. O encontro abordou o tema: “Mobilidade humana, grandes acontecimentos e comércio humano”. Da coordenação do setor da mobilidade humana cuidam de forma dinâmica irmãs religiosas da congregação das escalabrinianas, as irmãs Claudina e Rosita. Os participantes do encontro apresentaram o belíssimo mosaico da Igreja preocupada com a pessoa que por diversas razões ou em razão da profissão exercida encontra-se afastada da família e da própria comunidade. A tais pessoas, através de pastorais específicas, a Igreja assegura a assistência espiritual, bem como serve de diversas maneiras. Participaram do encontro os coordenadores das pastorais: dos migrantes, das pessoas do mar, das pessoas das estradas, dos trabalhadores dos circos, dos parques de diversões, dos ciganos, dos estudantes estrangeiros, dos imigrantes poloneses e japoneses. O bispo Dom José Luiz Ferreira Salles (ordinário da diocese de Pesqueira, no estado de Pernambuco), que participou ativamente do encontro, representou a comissão da CNBB para assuntos de ministério no amor, na justiça e na paz. O mencionado hierarca acompanha o setor da mobilidade humana representando o episcopado brasileiro como o chamado bispo referente.



Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil.

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Crônicas

No primeiro dia do encontro, expressou palavras de fraternal solidariedade diante dos participantes o bispo Dom Jacyr Braido − ordinário da diocese de Santos. No segundo dia, participaram do nosso encontro: o bispo Dom Tarcísio Scaramussa − bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo e ao mesmo tempo o chamado bispo referente do setor para assuntos das universidades e do ensino da religião da comissão da CNBB para assuntos da cultura e educação, bem como o bispo Dom Júlio Endi Akamine − bispo auxiliar da mesma arquidiocese e ao mesmo tempo membro da mencionada comissão do episcopado. O mencionado hierarca é o primeiro bispo brasileiro de origem japonesa. Em razão da sua origem étnica, ele apoia ativamente a pastoral dos japoneses brasileiros. O objetivo principal do encontro deste ano era o fortalecimento da articulação das pastorais, o estímulo ao progresso na busca comum de respostas aos desafios sociorreligiosos que se apresentam, bem como a consolidação das ações pastorais empreendidas na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. No âmbito da responsabilidade comum pela pastoral das pessoas a caminho, tivemos a possibilidade de ouvir a palestra de um canonista a respeito da elaboração canônica do estatuto das diversas pastorais que entram na composição do setor do episcopado para a mobilidade humana. No segundo dia do encontro participamos de uma missa celebrada pelo Pe. Miguel Staron, CM num caminhão-capela − especialmente adaptado para servir às pessoas das estradas brasileiras. Esse caminhão encontravase num estacionamento fechado no porto. Os participantes dessa Eucaristia, para nós algo “atípica”, posicionaram-se em volta do caminhão e graças a isso pudemos familiarizar-nos de forma um pouco mais concreta com um dos elementos da assistência da Igreja às pessoas que percorrem as estradas brasileiras, que é a celebração da santa missa. Como esclarecimento, é preciso mencionar que a pastoral rodoviária no Brasil foi inaugurada por um missionário vicentino polonês − o Pe. Mariano Litewka CM − há 36 anos. Atualmente os

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Crônicas filhos espirituais de S. Vicente (da província meridional da congregação, na sua maioria de origem polonesa), em três equipes, viajam com os seus caminhões-capelas pelos 23 estados da federação brasileira. Eles celebram missas para caminhoneiros em postos de combustíveis. Com alguns meses de antecedência, nos postos são colocados cartazes que informam a respeito do lugar e da data da missa a ser celebrada. Além disso, durante a sua presença num determinado dia, o padre que atende às pessoas a caminho fica à disposição dos motoristas, mecânicos e operários dos postos de combustíveis (os vendedores de combustível, os borracheiros, os mecânicos, os funcionários dos restaurantes e dos hotéis, etc.). Muitos se utilizam do ministério do sacramento da confissão, buscam apoio espiritual ou ainda a possibilidade de uma conversa tranquila com o sacerdote. Os padres vicentinos permanecem na estrada por três meses. Voltam por algum tempo para a sua base ou à casa provincial e partem novamente para mais três meses de trabalho. Os participantes do encontro tiveram também a possibilidade de visitar o porto de Santos − o maior na América Latina, de conhecer de perto a sua estrutura, bem como os desafios que se apresentam à pastoral das pessoas do mar. O terceiro dia do nosso encontro iniciou-se com uma missa celebrada sob a presidência de Dom Luiz Ferreira Salles, na capela da pastoral das pessoas do mar sob o patronato de S. Edviges da Silésia. O ministério nos portos brasileiros (Rio de Janeiro, Santos, Rio Grande) é exercido pelos padres escalabrinianos (Congregação dos Missionários de S. Carlos). Além da Eucaristia, pudemos conhecer de perto o trabalho do padre responsável e do bem organizado grupo de voluntários, que em muitas dimensões do ministério pastoral fazem companhia aos marinheiros, pescadores e operários dos portos. Participando de mais um encontro das pastorais da mobilidade humana, tive a possibilidade de apresentar aos presentes a problemática da nossa pastoral polônica, bem como de familiarizar os participantes com as mais importantes realizações da Missão Católica Polonesa (MCP) no Brasil nos úl-

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Crônicas timos dois anos. Convém esclarecer que encontros de todas as pastorais que servem às pessoas a caminho realizam-se a cada dois anos em Brasília. O atual encontro, por proposta da pastoral das pessoas do mar, realizou-se em Santos. No próximo ano ocorrerá um encontro dos coordenadores das mencionadas pastorais na capital do Brasil, nos dias 15-22 de junho de 2014. Encerrado o encontro, voltei a Curitiba com a consciência de que tais encontros apresentam o samaritano e humanitário desvelo da Igreja pelas pessoas que por diversas razões permanecem fora do seu ambiente de origem. Além disso, houve também uma ocasião para envolver nesse belo mosaico dos variados ministérios em prol das pessoas a caminho a nossa pastoral polônica, que se expressa no serviço aos nossos imigrantes e aos seus descendentes que vivem neste belo país, onde a Igreja demonstra um grande desvelo pelas pessoas que se encontram em sua concreta situação existencial.

Curitiba, 18 de agosto de 2013.

RESUMO – STRESZCZENIE

W dniach od 15 do 18 lipca 2013 r. w Santos odbywało się coroczne zebranie przedstawicieli duszpasterstw zajmujących się ludźmi w drodze. Tematem zebrania była kwesta mobilność ludzi, wielkich wydarzeń i handlu ludźmi. Kosciół w Brazylii, jak ewangeliczny Samarytanin pochyla się nad niedola współczesnego człowieka, aby w mmiarę swoich możliwości mu służyć.

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Crônicas UMA FESTA POLÔNICA INCOMUM NO RIO DE JANEIRO Zdzislaw MALCZEWSKI SChr ∗

No domingo 25 de agosto de 2013 a comunidade polônica do Rio de Janeiro celebrou a solenidade da sua Padroeira − Nossa Senhora do Monte Claro, bem como os 60 anos da utilização da histórica capela de Nossa Senhora da Piedade (situada na parte meridional da cidade, no bairro do Flamengo), que funciona como o centro da paróquia pessoal polonesa no Rio de Janeiro. O ponto principal dessa dupla comemoração foi a solene missa concelebrada, naturalmente cantada e celebrada inteiramente em língua polonesa. Antecipadamente o pároco Pe. João Sobieraj SChr convidou o abaixo assinado − reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil − para presidir a Eucaristia e pronunciar a homilia ocasional. O Padre João, que atende à colônia polonesa do Rio, inicialmente cumprimentou cordialmente todos os presentes nesse histórico santuário. Importa assinalar a presença do Sr. Jacek Such − Cônsul-Geral da Polônia, especialmente vindo de São Paulo para as solenidades, além da presença de um numeroso grupo de poloneses e pessoas de origem polonesa. Entre os compatriotas mais idosos que participavam da missa, podiam perceber-se muitos rostos jovens. Eram polonesas e poloneses que ultimamente escolheram o Rio de Janeiro − a mais bela cidade do mundo − como o lugar da sua residência. A participação dessas pessoas jovens na solene Eucaristia é um sinal de que, vivendo num ambiente estranho, elas não perderam os valores da sua fé, mas participam ativamente da vida religiosa da paróquia pessoal polonesa. Gostaria de registrar aqui uma observação muito pessoal. Eis que a liturgia da missa foi muito bem preparada. O engajamento dos nossos ∗

Redator da revista Polonicus.

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Crônicas compatriotas, pessoas leigas, demonstrou a beleza do crescimento espiritual daqueles que dela participaram ativamente. Não posso deixar de mencionar, na liturgia e na vida da paróquia polonesa, a ativa presença das Irmãs Missionárias de Cristo Rei. Essas irmãs servem aos compatriotas no Rio de Janeiro desde 5 de outubro de 1989. Além disso, chamava a atenção a discreta, bela, mariana, mas também patriótica decoração do santuário, o que é um mérito do engajamento pessoal do pároco Pe. João Sobieraj SChr, que − apesar dos seus 80 anos de vida − demonstra muita energia, iniciativa e juvenil vitalidade. Antes do término da missa, tomou a palavra a Professora Doutora Aleksandra Sliwowska-Barth. Representante de uma sucessiva geração polônica (neta de imigrantes poloneses), em seu pronunciamento em língua portuguesa ela enfatizou a fé dos poloneses, o seu culto e o amor a Nossa Senhora do Mundo Claro, bem como a história dos 60 anos da igreja polonesa no Rio de Janeiro. Na fala da intelectual polônica não faltaram palavras de memória e gratidão da colônia polonesa do Rio aos sacerdotes da Sociedade de Cristo, que desde 1963 prestam assistência aos compatriotas estabelecidos na Cidade Maravilhosa − a antiga capital do País. Logo após o término da solene Eucaristia, o pároco, Padre João, convidou todos os participantes a um salão adjacente à igreja, para um banquete preparado com muita arte e esmero culinário e oferecido aos compatriotas. Na preparação dessa parte da festividade envolveu-se a Sociedade Beneficente Polônia, uma organização muito meritória para o polonismo, surgida no dia 29 de novembro de 1890. A mencionada Sociedade não apenas assinou há sessenta anos o contrato de aluguel da histórica capela, mas todos os meses paga ao proprietário − uma irmandade eclesiástica − a soma de dinheiro estipulada para que a comunidade polônica possa ter ali garantido o seu local de culto e sentir-se no santuário como em sua própria casa, na distante Polônia. Recordo neste ponto − do meu período de pastoral em prol da colônia polonesa carioca − a solene comemoração do centenário dessa Sociedade,

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Crônicas comemorado no dia 11 de novembro de 1990, com a participação do cardeal Francisco Macharski − Arcebispo de Cracóvia. Sempre esse tipo de encontros ocasionais dos concidadãos − deliciando-se com os excelentes frutos do engajamento, do trabalho e das aptidões culinárias das polonesas − é ocasião para longas conversas, recordações, lembranças de pessoas que já se encontram na Casa do Pai e que muito contribuíram para o desenvolvimento e o dinamismo da coletividade polônica. Parece que em tais ocasiões a língua pátria se torna ainda mais bela e é expressa com maior reverência, respeito e amor. Há 60 anos, o popular jornal carioca O Globo, em sua edição do dia 11 de julho de 1953, publicou uma reportagem especial intitulada “Novo santuário para os católicos poloneses”. Com relação ao mencionado artigo, já no final deste texto, permito-me apresentar um trecho da minha monografia, onde descrevo as circunstâncias relacionadas com o aluguel do santuário que há tantos anos serve aos poloneses e à comunidade polônica como o seu centro espiritual e ao mesmo tempo igreja paroquial. Por muito tempo, em ocasiões especiais e durante as comemorações cívicas, os poloneses utilizaram-se de diversas igrejas do Rio de Janeiro Em razão dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, veio ao Rio de Janeiro um grupo maior de imigrantes poloneses. Uma comunidade polonesa mais numerosa tinha maiores chances de contar com uma pastoral própria. Dessa forma, passados anos, após numerosas tentativas fracassadas, surgiu a perspectiva de criar um centro pastoral polonês naquela cidade. No dia 3 de setembro de 1950, representantes da coletividade polonesa e da Sociedade Polônia − a Sra. Stefania Lincoln-Nodari, o duque Olgierd Czartoryski, o coronel Stanisław Kara, Edward Chmurzyński e Karol Gręziak − enviaram ao bispo Dom José Gawlina, que se encontrava em visita pastoral, um pedido para que lhes fosse enviado um padre polonês. Em razão do pedido apresentado, no dia 4 de maio de 1951 veio ao Rio de Janeiro o Padre Monsenhor Ladislau Słapa. No início, o Padre Ladislau fixou residência com os Padres Salesianos em Niterói, a seguir com as Irmãs Felicianas. Para as celebrações polonesas foi desti-

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Crônicas nado um altar lateral na catedral do Rio. O Pe. Ladislau Słapa começou a visitar os compatriotas e deu início à catequese das crianças polonesas. Antes da sua vinda ao Rio de Janeiro, essa catequese era promovida pelas Irmãs Felicianas de Niterói. Elas também abrilhantavam as celebrações polonesas na catedral tocando o órgão e executando cânticos poloneses, participando de bom grado da vida polônica local. Mais tarde foi destinada para as celebrações polonesas a igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na Rua Praia de Botafogo (na parte sul do bairro de Botafogo). A colônia polonesa começou também a mobilizar-se com o objetivo de assegurar meios de subsistência para um centro pastoral. Com esse objetivo surgiu o “Fundo Pastoral”. Para presidente do “Fundo” foi escolhido o engenheiro Tadeu Bobak. Ao mesmo tempo iniciou-se a procura de um lugar adequado que pudesse servir como centro pastoral da colônia polonesa. Em dezembro de 1952, E. Boston (de origem polonesa), adido da embaixada americana, avisou ao coronel Kara a respeito da possibilidade do aluguel de uma igreja (utilizado pela colônia inglesa) na Rua Marquês de Abrantes. Graças à ação enérgica de Lucyna Haczyńska e Janina Valeri, iniciou-se a coleta de dinheiro entre os poloneses para o aluguel da igreja de Nossa Senhora da Piedade, na Rua Marquês de Abrantes, 215 (na bairro do Flamengo). Embora essa iniciativa tivesse partido da Sociedade Polônia, envolveu-se nela toda a colônia polonesa, com o eficiente apoio do Pe. Ladislau Słapa. Até o dia 15 de maio de 1953 foi coletada para o aluguel da igreja a soma de 69 mil cruzeiros (Maria Tarnowska destinou para esse objetivo 25 mil cruzeiros). Dessa forma a diretoria da Sociedade Polônia, com base nessa significativa importância, pôde dar início às negociações com a proprietária dessa igreja, a Irmandade Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. No dia 6 de junho de 1953 foi assinado o contrato do aluguel da igreja. Da parte da Sociedade Polônia, o contrato foi assinado por Bolesław Śliwowski e Lucyna Haczyńska. A assinatura oficial do contrato de aluguel da capela de Nossa Senhora da Piedade ocorreu no dia 11 de junho de 1953, no 17º Tabelionato do Rio de Janeiro, na Rua da Alfândega, 111 (registro: livro 1065, p. 89v). Da parte da Sociedade Polônia, o contrato foi assinado por: Aleksander Bolesław Śliwowski (presidente), Lucyna Haczyńska (vice-prfesidente), Mikołaj Kisiel-Kiślański (secretário) e pelos membros do conselho: Stefan Gabryś e Marian Klimczewski. Os mencionados compatriotas, com a ajuda do engenheiro Tadeu Bobak, de Roman Buszta, Marian Dąbrowski, Waleria Gajewska e Kazimierz

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Crônicas Sienkiewicz, deram início aos preparativos para a inauguração da igreja polonesa. Em período posterior, Edward Kubiczek e Kazimierz Sakało esculpiram com recursos próprios o altar de Nossa Senhora de Częstochowa, que até hoje adorna a igreja que serve aos poloneses. No dia 12 de julho de 1953 realizou-a a inauguração da igreja polonesa. A missa foi celebrada pelo bispo Dom Helder Câmara, e o sermão foi pronunciado pelo Monsenhor Benedito Maninho de Oliveira. No final da solenidade falou o núncio apostólico, Arcebispo Dom Carlo Chiaro, que se apresentou naquele dia com uma grande faixa da Águia Branca e da Polonia Restituta. [...] Graças aos empenhos do Pe. Benedito Grzymkowski SChr, surgiu no Rio de Janeiro a paróquia pessoal polonesa de Nossa Senhora do Monte Claro. A solenidade relacionada com a sua instituição realizou-se no dia 8 de novembro de 1970, com a participação do cardeal Dom Jaime de Barros Câmara. [...] Queremos neste ponto registrar também os encontros de representantes da hierarquia da Igreja Polonesa − no âmbito do seu ministério pastoral − com a colônia polonesa do Rio de Janeiro. Os poloneses residentes nessa cidade tiveram a honra de recepcionar os primazes da Polônia: o cardeal August Hlond (1934) e o cardeal Józef Glemp (1984), o cardeal Franciszek Macharski e os seguintes bispos: Teodor Kubina, Ignacy Krause, Jerzy Stroba, Zygmunt Kamiński, Stanisław Stefanek SChr, Henryk Tomasik e os bispos responsáveis pela pastoral dos emigrados: Józef Gawlina, Władysław Rubin e Szczepan Wesoły (diversas vezes). É preciso ainda mencionar um grupo de hierarcas poloneses que celebraram uma missa na igreja polonesa e que fizeram companhia aos jovens poloneses que participaram na Jornada Mundial da Juventude em julho de 2013: o cardeal Stanisław Dziwisz, o cardeal Kazimierz Nycz e o bispo Henryk Tomasik. Sacerdotes responsáveis pela pastoral polônica no Rio nos últimos 60 anos: Monsenhor Ladislau SŁapa, Monsenhor Ludwik Stanuch, Pe. Roman Ogiegło − salesiano. Desde 1963 essa pastoral é dirigida pelos Padres da Sociedade de Cristo. Prestaram assistência à comunidade polônica os seguintes

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Crônicas sacerdotes dessa Congregação: Pe. Czesław Czartoryski, Pe. Zygmunt Szwajkiewicz, Pe. Benedykt Grzymkowski, Pe. Zenon Gąsiorowski, Pe. Paweł Piotrowski, Pe. Zdzislaw Malczewski, Pe. Jan Flig, Pe. Jan Sobieraj. Esboço da história da igreja que serve à colônia polonesa do Rio há 60 anos A capela alugada de Nossa Senhora das Dores, que serve à colônia polonesa carioca como igreja paroquial, foi construída num terreno em que se encontrava um palácio pertencente à rainha Joaquina, esposa do rei Dom João VI. Segundo dados históricos, já em 1720 existia nesse terreno uma modesta capela. Em 1810 Joaquina, esposa de Dom João VI, comprou essa capela e utilizou-a como oratório particular, visto que residia nas proximidades. Em 1818 foi realizada uma reforma da capela. Em 1842 o terreno foi comprado por Miguel Calmon di Pin e Almeida, e a seguir pelo Marquês de Abrantes, que ordenou a construção da capela de Nossa Senhora das Dores no estilo em que a conhecemos atualmente. O projeto da capela foi elaborado pelo major José Maria Jacinto Rabelo. O construtor foi Venâncio José da Costa. A bênção da capela ocorreu no dia 3 de outubro de 1864. Com a morte do Marquês de Abrantes, o palácio e a capela foram herdados por sua esposa Carolina, que se casou novamente com o Barão Catete (Visconde da Silva de Portugal). Em 1903 faleceu o Visconde da Silva, e os seus bens foram divididos entre os herdeiros. O palácio, juntamente com a capela, tornouse propriedade de Carlos de Araújo Silva, irmão do Visconde. Em 1916 falece Carlos de Araújo Silva. O seu patrimônio é herdado por Sarah de Freitas Borges com a restrição de que após a sua morte a capela se tornaria propriedade da Irmandade Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. De acordo com o testamento de Carlos de Araújo Silva, a Irmandade foi obrigada a preservar o culto na mencionada capela. (Cf. Arquivo Central Nacional do Instituto do Patrimônio Histórico-Artístico do Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro − pasta: “Capela Nossa Senhora da Piedade”; Arquivo da paróquia polonesa − pasta: “Capela Nossa Senhora da Piedade” (dados históricos da capela de Nossa Senhora da Piedade); cópia do testamento de Carlos de Araújo Silva do dia 26/05/1916, que foi registrado no Juízo de Direito da 3ª Vara de Órfãos e Sucessões − Cartório do 2º Ofício no Rio de Janeiro). No dia 7 de junho de 1926 os representantes da Irmandade assinaram nesse mesmo Cartório a obrigação

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Crônicas quanto à execução do testamento de Carlos de Araújo Silva, garantindo que seria mantido o culto na capela de Nossa Senhora da Piedade. No dia 28 de maio de 1926, por decisão judicial, a capela de Nossa Senhora da Piedade passou a ser propriedade da Irmandade acima mencionada. De 1922 a 1951 a capela foi alugada por ingleses. (Cf. Arquivo da Paróquia Polonesa − Questionário relacionado com os dados históricos da capela elaborado para o Instituto Estadual para Assuntos de Herança Cultural no Rio de Janeiro). No dia 14 de junho de 1978, por decisão do Instituto Estadual para Assuntos de Herança Cultural, a mencionada capela foi registrada como monumento histórico. (Cf. Z. MALCZEWSKI SChr. A presença dos poloneses e da colônia polonesa no Rio de Janeiro. Lublin: 1996, p. 121-138). Fotos da solenidade podem ser vistas no portal da Missão Católica Polonesa no Brasil: www.polska-misja.com.br Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2013, na solenidade de Nossa Senhora do Monte Claro, Rainha dos poloneses que vivem nas margens do Vístula e dispersos pelo mundo inteiro.

RESUMO – STRESZCZENIE

Wspólnota polonijna w Rio de Janeiro obchodziła uroczyście 60-lecie sprawowania Mszy św. we własnym kościele. Chociaż historyczna kaplica jest własnością katolickiego bractwa i Towarzystwo Polonia jest jej dzierżawcą to, jednak Polonia riowska uważa ten kościół za swój. Bogata jest historia religijna tej polonijnej wspólnoty i tego szczególnego dla niej miejsca.

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Crônicas 60 ANOS ... CUMPRIMENTO Aleksandra SLIWOWSKA BARTSCH ∗   Senhoras e Senhores,  Disse o Beato João Paulo II no decálogo do imigrante: Lembre-se de que você é filho da nação, onde a Mãe e Rainha é Maria. Repita frequentemente a oração presente nos corações poloneses: “Estou junto a Ti, lembro, vigio”. Além disso, João Paulo II ainda acrescentou que devemos lembrar que ter uma família-nação, é um grande privilégio do direito dos homens e que não devemos esquecer de que a Pátria constitui-se numa grande responsabilidade. Desde que os poloneses escolheram a Cidade Maravilhosa para reconstruírem suas vidas, o senso de responsabilidade, que se expressa através da consciência da importância em se honrar as suas raízes, esteve presente. Primeiro com a fundação da Polonia Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro, há quase 123 anos e mais tarde, com o encaminhamento de um pedido ao Arcebispo Józef Gawlina em visita ao Rio de Janeiro para que fosse enviado um padre polonês e a posterior escolha de uma Igreja onde os poloneses pudessem ter a sua Casa Espiritual. Há exatos 60 anos o local escolhido foi esta Igreja, fato festejado tanto pela colônia polonesa de então, quanto pela sociedade brasileira que se manifestou através de uma manchete na primeira página do Jornal O Globo de 11 de julho de 1953, um dia antes da Missa de inauguração da Igreja que foi celebrada pelo bispo Dom Helder Câmara e pelo núncio apostólico, arcebispo Carlo Chiarlo. Vale lembrar que o destaque foi dado no Globo um dia antes da celebração, pois naquela época, aos domingos, não havia circulação de jornal. ∗

Profa. Dra., diretora de Assuntos Culturais da Polonia Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro.

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Crônicas Hoje nos recordamos de todo um grupo, que dentro das possibilidades de cada um de seus integrantes, se uniu em torno de um ideal: o que criar um ponto de referência para os poloneses e seus descendentes, que pudessem encontrar nestas terras distantes, de cultura e realidade tão diferentes um local onde sob o manto da Virgem Negra estivessem protegidos e tivessem suas esperanças renovadas. O nosso querido e eterno pároco aqui presente, Padre Zdzislaw Malczewski, em sua tese de Doutorado em História abordou a imigração polonesa no Rio de Janeiro, o que resultou no livro “A presença dos poloneses e da Comunidade Polônica no Rio de Janeiro” Na página 110 deste fabuloso livro, vamos encontrar, relatado pelo Padre Malczewski: “Apesar da iniciativa sair da Sociedade Polonia, toda a colônia polonesa foi envolvida, com o apoio destacado do Monsenhor Wladyslaw Slapa. Até 15 de maio de 1953, as contribuições para o aluguel da igreja atingiram 69 mil cruzeiros (Maria Tarnowska contribuiu com 25 mil cruzeiros). A Diretoria da Sociedade Polonia, tendo um fundo tão importante, começou a negociar com a proprietária desta igreja, a Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. No dia 6 de junho de 1953 foi assinado o contrato de aluguel da igreja. Do lado da Sociedade Polonia, o contrato foi assinado por Aleksander Boleslaw Sliwowski e Lucyna Haczynska”. Este contrato encontra-se arquivado, disponível para consulta na Polonia Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro. Senhoras e senhores, a Igreja que um dia servira de abrigo espiritual aos ingleses católicos, estava abandonada, repleta de lixo. Toda a colônia polonesa se mobilizou e preparou-a para a inauguração. Cada um daqueles grandes patriotas doou o que tinha de mais precioso, de mais belo, que foi o amor pela pátria polonesa e que se manifestou das mais diferentes formas. Um amor por uma terra, retalhada, cheirando a pólvora, mas repleta de exemplos inspiradores para a humanidade. Ainda nas pesquisas do Pe. Malczewski, vamos encontrar que a colônia polonesa celebrava suas missas no altar lateral da antiga Catedral e

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Crônicas depois na Igreja da Imaculada Conceição, em Botafogo. A conquista desta Igreja abriu caminho para que em 1970, graças ao trabalho do Pe. Benedykt Grzymkowski fosse fundada a Paróquia Pessoal dos Poloneses de Nossa Senhora de Monte Claro. Cabe ressaltar que nossa história, ao longo desses 60 anos foi ainda mais fortalecida, pois tivemos o apoio inestimável da Ordem Sociedade de Cristo como responsável por esta paróquia, cuja padroeira celebramos no dia de hoje. Queridos párocos, Zdzislaw Malczewski e Jan Sobieraj, recebam o nosso muito obrigada por tantos anos, onde tivemos na Ordem que os senhores representam o alicerce que torna as dificuldades bem mais fáceis de serem superadas e permite trilhar o caminho da paz e da oração, nos tornando mais dignos de sermos chamados de católicos. Estejam certos que os senhores com sua dedicação e competência tornam realidade os valores do saudoso Padre Benedykt Grzymkowski. No dia de hoje, a recordação da estória de uma imigração se faz presente através de uma exposição de fotos e convido a todos para que após da Missa se dirijam ao salão paroquial, onde haverá uma confraternização oferecida pela Polonia Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro e os senhores poderão encontrar 28 fotografias que retratam diferentes momentos desta trajetória.  Estão ali registrados: o encontro com o Arcebispo Gawlina, quando foi encaminhado o pedido para o envio do Padre Polonês; o nosso primeiro padre Monsenhor Slapa; as visitas ilustres como de Dom Jaime de Barros Câmara, do Cardeal Primaz da Polônia Józef Glemp, do Presidente da Polônia e Nobel da Paz Lech Walesa, entre outros, bem como de diferentes momentos vividos pelos paroquianos poloneses como Primeiras-comunhões, celebrações patrióticas, Missas solenes em memória do Soldado Polonês por iniciativa da Associação dos Ex-Combatentes Poloneses, Jornada Mundial da Juventude, além da relíquia de João Paulo II que foi presentada pelo Cardeal Stanislaw Dziwisz, na época da JMJ. O Cardeal Dziwisz foi o secretário pessoal do Beato João Paulo II. Os senhores também poderão ver a reprodução da matéria de capa do Globo, mencionada anteriormente. Agradeço imensamente às senhoras Jadwiga Matic e Jadwiga Sliwowska que cederam seus arquivos pessoais,

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Crônicas que deram origem a esta exposição. Agradeço também profundamente a cinco pessoas que trabalharam muito para que esta comemoração se tornasse possível: Pe. Jan Sobieraj, Irmã Stanislawa, Marilene Greziak Stofel, Genowewa Szczepura e Jaroslaw Rogowski. Agradeço profundamente pelas presenças ao Consul Geral da Polônia Sr. Jacek Such, ao Reitor da Missão Polonesa no Brasil, nosso querido pároco Pe. Zdzislaw Malczewski, bem como a todas as senhoras e senhores presentes nesta Celebração. Cada um dos senhores, assim como nossos antepassados com muito carinho e patriotismo contribuiu para que este dia se tornasse realidade. Muito, muito obrigada. Senhoras e senhores, nossa trajetória não termina agora. Está em nossas mãos não nos esquecermos dos valores de nossos antepassados, bem como da responsabilidade de continuar a propagar um país que em 2016 completará 1050 anos como estado soberano e em função disso, será o destino de milhões de jovens peregrinos que buscarão na terra de Copérnico, Chopin, Lech Walesa e João Paulo II renovar sua fé. Que Nossa Padroeira Nossa Senhora de Monte Claro, nos ilumine para que continuemos trilhando esta trajetória, que nossa bandeira, verde amarela – branco-vermelha, seja a referência de paz, união e respeito ao próximo, aos valores de nossos pais e avós e nossa inspiração para a continuidade deste trabalho. Muito obrigada.

RESUMO – STRESZCZENIE

25 sierpnia 2013 r w Rio de Janeiro odbywały się uroczystości związane z 60-leciem sprawowania Mszy św. w kościele polskim. Pod koniec Mszy św. przemówiła prof. dr. Aleksan dra Sliwowska-Bartsch - przedstawicielka młodszej generalcji polonijnej. Tekst jej przemówiernia zamieściliśmy powyżej.

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Crônicas 60 ANOS DA PRIMEIRA SANTA MISSA NA IGREJA POLONESA NO RIO DE JANEIRO (1953 – 2013) Tomasz LYCHOWSKI ∗ Um emigrante polonês vindo do interior do Brasil ouve de repente ao seu redor o som de sua língua materna. Sai do isolamento étnico para o convívio com os seus conterrâneos. Sente-se em casa. Depois, passados os anos, já é um ex-estranho na terra do Cruzeiro do Sul. O Brasil, que gentilmente o acolheu, é agora, de verdade, o seu lar. Mas o início é custoso, cada emigrante passa por isso. Uma língua nova, novas tradições, clima e natureza, adentram aos poucos o seu ser, o transformam, o “naturalizam”. O contato interpessoal, mormente o contato não apenas étnico, mas também religioso, ajudam o emigrante a se integrar à nova realidade. A primeira santa missa, rezada e cantada em polonês, teve esse efeito no jovem polonês recém chegado ao Rio de Janeiro. Era o ano de 1952, e a igreja, “emprestada”, a Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Botafogo. Mas depois veio o grande dia. Em 1953, foi rezada a primeira santa missa na igrejinha Nossa Senhora da Piedade que, posteriormente, veio a ser a Paróquia Pessoal de Nossa Senhora do Monte Claro. A partir daquele ano - e graças a mobilização da comunidade polonesa no Rio de Janeiro, liderada pelo Mons. Wladyslaw Slapa, pela senhora Lucyna Haczynska e pelo então Presidente da Sociedade Polônia, Boleslaw Sliwowski – tínhamos finalmente a nossa própria igreja. Ilustres pessoas passaram por ela, mas também as não menos importantes almas anônimas que ajudaram a manter a chama acesa. Sobretudo, gerações de dedicados sacerdotes, de um modo especial os da Sociedade de Cristo e as Irmãs da Congregação do Cristo Rei. Com freqüência, vem agora à Santa Missa dominical, católicos oriundos da Polônia e de outros países que aqui trabalham ou estudam e muitos outros que são atraídos pela beleza da Cidade Maravilhosa. Entre os paroquianos, encontram-se ainda fiéis da igreja dos poloneses que lembram aquela primeira santa Missa celebrada em 1953. Eram tempos de ∗

Membro do Conselho Consultivo da revista Polonicus.

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Crônicas total isolamento da Polônia e ao final de cada celebração pedíamos a Deus que, pela intercessão de Nossa Senhora do Monte Claro, nos devolvesse a pátria livre. Agora esse grande dom já é uma realidade. Devemos esta grande graça de poder continuar rezando e cantando em língua polonesa e assim manter um vínculo vivo com a própria Polônia e com a sua fé milenar ao Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Jaime de Barros Câmara o qual também apoiou a iniciativa do Pe. Benedito Grzymkowski de, mais tarde, transformar a nossa paróquia em paróquia pessoal dos poloneses. Todavia, embora polonesa, a nossa igrejinha continua também sendo o ponto de encontro de brasileiros que amam a Polônia e de poloneses que amam o Brasil. O pe. João Sobieraj, o nosso atual pároco, é um maravilhoso representante dessas gerações de sacerdotes que, há tantos anos, prestam o seu incansável serviço a Deus e às suas ovelhas. Ovelhas não apenas polonesas e que vivem em bairros distantes, mas também brasileiros que moram longe e que se sentem atraídos pela beleza da liturgia e dos cânticos religiosos. E essa, afinal, parece ser a inequívoca conclusão: polonesa, ou brasileira, o sentido da pertença, de aconchego, de lar, que tão claramente percebemos, provém da mesma fonte: é a fé, da qual todos partilham. E que fez com que aquele jovem emigrante se sentisse aceito e acolhido na terra de Santa Cruz.

RESUMO – STRESZCZENIE

W związku z 60-leciem sprawowania Mszy św. w kośclele polskim w Rio de Janeiro, Tomasz Łychowski - nasz stały współpracownik, dzieli się z nami swoimi myślami i przeżyciami związanymi z tym szczególnym dla katolickiej Polonii miejscem.

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Crônicas O PRIMAZ DA POLÔNIA EM VISITA PASTORAL À COLÔNIA POLONESA NO BRASIL Zdzislaw MALCZEWSKI SChr



Entre os dias 5 e 17 de novembro de 2013 o Primaz da Polônia, Arcebispo Dom José Kowalczyk, realizou uma visita pastoral oficial à colônia polonesa no Brasil. O Protetor Espiritual da Emigração Polonesa veio ao Brasil a convite do reitor da Missão Católica Polonesa. O Arcebispo de Gniezno encontrou-se com as comunidades polônicas que residem nas metrópoles brasileiras, e também com aquelas presentes no interior deste hospitaleiro país, que no passado ofereceu a milhares de poloneses a perspectiva de uma vida melhor e liberdade, com a possibilidade de ganhar o pão de cada dia. O Primaz veio acompanhado do Pe. Tadeu Gerlach, seu secretário. O principal objetivo da vinda do Arcebispo metropolitano de Gniezno Dom José Kowalczyk ao Brasil foi presidir as solenidades relacionadas com os 60 anos da Missão Católica Polonesa. No dia 5 de novembro o Primaz da Polônia, em companhia do seu secretario Pe. Tadeu Gerlach, desembarcou em Curitiba. O Protetor Espiritual da Emigração Polonesa foi recepcionado na sala VIP do aeroporto. O CônsulGeral da Polônia, Sr. Marek Makowski, o Cônsul Sr. Jacek Szczeniowski, o secretário do Consulado Sr. Paulo César Kochanny e o Pe. Zdzislaw Malczewski SChr – reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, saudaram o ilustre hóspede – graças aos empenhos do Consulado Geral da Polônia e da cortesia da direção do aeroporto – no interior das instalações do aeroporto. Após a conversa e um cafezinho na sala VIP, Sua Excelência o primaz da Polônia foi levado à casa paroquial da paróquia S. João Batista, no bairro de Tingui. ∗

Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil.

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Crônicas Sua Excelência o Arcebispo metropolitano de Gniezno foi saudado no escritório paroquial pelo Pe. Aloísio Laimann SChr e pelas funcionárias da nossa paróquia. Foi entregue ao Primaz um buquê de cravos brancos e vermelhos. Durante a sua estada em Curitiba, o Primaz polonês foi hóspede da paróquia de S. João Batista, onde o reitor da MCP exerce a função de pároco.

RESUMO – STRESZCZENIE

W dniach od5 do 17 listopada 2013 r. J. E. Arcybiskup Metropolita Gnieźnieński Józef Kowalczyk, Prymas Polski przebywał z oficlaną wizytą duszpasterską wsród brazylijskiej Polonii. Powyżej zamieściliśmy reportaż z pierwszych chwil pobytu Prymasa Polski w Brazylii.

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Crônicas COMEMORAÇÃO DOS 60 ANOS DA MISSÃO CATÓLICA POLONESA NO BRASIL Zdzislaw MALCZEWSKI SChr



O bom tempo ensolarado da primavera possibilitou uma bela e rica vivência espiritual a todos aqueles que no domingo 10 de novembro de 2013 vieram à igreja de S. João Batista, dos Padres da Sociedade de Cristo, em Curitiba. Uma solene procissão da casa paroquial até a igreja deu início à incomum solenidade dominical, cujo momento principal e mais importante foi a celebração da Eucaristia. Eu disse solenidade incomum, ainda que seja pela razão de que participaram dela dois arcebispos metropolitanos – o Arcebispo local de Curitiba, Dom Moacyr Vitti, e o Arcebispo de Gniezno, Dom José Kowalczyk, Primaz da Polônia. E também incomum visto que veio especialmente da Polônia – para a solene comemoração dos 60 anos da Missão Católica Polonesa – o Pe. Ricardo Głowacki SChr, Superior Geral da Sociedade de Cristo. Das solenidades polônicas participou igualmente o Monsenhor Tomás Grys – conselheiro da Nunciatura Apostólica, que veio especialmente para essa comemoração de Brasília. A solenidade na igreja iniciou-se com o cântico do Hino Nacional da Polônia e do Brasil. Toda a liturgia foi abrilhantada pelo Coral polônico João Paulo II. O ilustre Primaz da Polônia e as outras importantes personalidades foram saudadas pelo Prof. Mariano Kawka em língua polonesa. Eis as palavras por ele pronunciadas:



Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil.

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Crônicas No início da celebração de hoje, em nome da comunidade polônica de Curitiba, eu gostaria de dirigir palavras de cordial saudação a Sua Excelência o Arcebispo Metropolitano Dom José Kowalczyk, Primaz da Polônia e Protetor Espiritual da Emigração Polonesa, a quem hoje temos a honra de hospedar nesta capital polônica do Brasil em razão das comemorações dos 60 anos da Missão Católica Polonesa no Brasil. A Sua presença, bem como a presença de outros dignitários da Igreja, especialmente da Congregação da Sociedade de Cristo, enfatiza o significado deste histórico acontecimento. A esta celebração religiosa adiciona-se hoje o não menos importante e solene 95º aniversário da recuperação da independência da Polônia. Para a comemoração dessa data, adiciona solenidade e significado a presença de representantes das autoridades locais, bem como de representantes das autoridades diplomáticas polonesas na pessoa no nosso Cônsul-Geral Sr. Marek Makowski. A celebração de hoje nesta igreja, envolvendo igualmente os 48 anos de existência da paróquia local de S. João Batista, alude à tradição do vínculo da comunidade polônica brasileira e do seu envolvimento no solícito cultivo dos mais elevados valores culturais, cívicos e religiosos que pelos colonos poloneses foram plantados nesta Terra da Santa Cruz e do Cruzeiro do Sul. Trata-se de motivos mais do que suficientes para despertar a satisfação e a alegria em nossos corações polono-brasileiros, que – aqui enraizados – incessantemente voltam os seus pensamentos ao país dos seus antepassados, que hoje goza da liberdade e da possibilidade de uma vida livre e do desenvolvimento dentro da família dos países europeus, do que também nós temos orgulho e pelo que também nos sentimos felizes. Alegra-nos também a presença, entre nós, dos nossos ilustres Hóspedes, aos quais cordialmente saudamos!

A seguir, o Arcebispo de Curitiba, os representantes das autoridades civis e do judiciário e os fiéis brasileiros foram saudados pelo Sr. César Glodzienski. Os dois mencionados polônicos são membros do Conselho dos Leigos

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Crônicas junto à reitoria da MCP no Brasil. Dentro da cerimônia da saudação, crianças entregaram flores aos Hierarcas, ao Padre Superior Geral, ao Conselheiro da Nunciatura Apostólica e ao Padre Provincial. A seguir o conselheiro da Nunciatura Apostólica, Monsenhor Tomás Grysa, leu a bênção do Papa Francisco e uma mensagem especial do Arcebispo Giovanni d’Aniello – Núncio Apostólico no Brasil. O Arcebispo Dom Moacyr Vitti iniciou a solene liturgia em língua portuguesa, a seguir presidida pelo Primaz da Polônia em língua polonesa. A palavra de Deus foi proclamada nas duas línguas. Após a leitura do Evangelho pelo Padre Provincial Casimiro Długosz, pronunciou o seu sermão o Primaz da Polônia. O Padre Reitor da MCP traduziu o seu pronunciamento. No contexto de um esboço da história da Missão Católica Polonesa, o Protetor Espiritual dos emigrados poloneses disse que “a coletividade polônica no Brasil demonstra a sua atividade étnica e não se esquece das suas raízes”. Esse despertar do polonismo está relacionado com a eleição do Papa João Paulo II. O culto do Papa Polonês propaga-se cada vez mais, não apenas no seio da comunidade polônica, mas também entre os fiéis brasileiros. “Como Primaz da Polônia e Protetor Espiritual da emigração polonesa, desejo depositar nas mãos do Pe. Ricardo Głowacki, Superior Geral da Sociedade de Cristo para os Poloneses Emigrados, as minhas sinceras expressões de reconhecimento e de agradecimento pela Vossa contribuição para a pastoral dos emigrados” – agradeceu o Arcebispo Kowalczyk. O Primaz da Polônia expressou a sua alegria em razão do despertar do espírito polonês entre os descendentes dos colonos poloneses. “Deste lugar, desejo portanto agradecer a todas as pessoas e organizações que de qualquer forma contribuem para inscrever no mosaico étnico brasileiro a nossa presença polonesa, juntamente com as suas variadas manifestações” – disse o Arcebispo Kowalczyk. Em sua reflexão, o Arcebispo de Gniezno aludiu igualmente aos 95

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Crônicas anos da recuperação da independência da Polônia. Como assinalou, numerosas gerações de poloneses convenceram-se de quanto é preciso apreciar a liberdade da Pátria. Enfatizou o valor do amor à Pátria, que se expressa no amor e na oração. “Esse amor expressa-se igualmente na corresponsabilidade de nós todos pelo atual e futuro formato da Polônia. Cada um de nós, de acordo com a sua vocação e as suas possibilidades, deve preocupar-se com a segurança, a força, o desenvolvimento e o sábio, permanente e responsável cultivo do dom da liberdade na Polônia, nossa Mãe” – enfatizou o Primaz da Polônia. A oração dos fiéis foi expressa em língua polonesa e portuguesa. Durante a preparação das oferendas, foram trazidos ao altar símbolos referentes aos três acontecimentos vivenciados durante a liturgia. Um banner com o texto do decreto pelo qual o Arcebispo metropolitano de Curitiba – Dom Manuel da Silveira d’Elboux (1950-1970) – instituiu a paróquia de S. João Batista; um banner representando o logotipo da MCP e uma relação dos nomes dos reitores, bem como um buquê de rosas brancas e vermelhas expressando o amor à Polônia por ocasião dos 95 da sua independência. Antes do encerramento da solene Eucaristia, o reitor da MCP expressou a gratidão a Deus pela graça de vivenciar estas três solenidades: os 95 anos da independência da Polônia, os 60 anos da Missão Católica Polonesa no Brasil e os 48 anos da paróquia de S. João Batista. Convém esclarecer que desde o momento da instituição da paróquia no dia 1 de novembro de 1965 realizam ali a pastoral os sacerdotes da Sociedade de Cristo. Expressando a gratidão diante de Deus por tantas graças demonstradas diante da Polônia, da comunidade polônica brasileira e da comunidade paroquial, o reitor da MCP agradeceu a todos pela participação na liturgia e pelo envolvimento na vida da Igreja e da comunidade polônica. Por ocasião dos 60 anos da MCP, ele entregou uma medalha que grava a memória desse jubileu. Além dos Hierarcas, do Padre Superior Geral, do Padre Provincial e do Monsenhor Tomás, representante da Nunciatura Apostólica, receberam a medalha cerca de 30 pessoas engajadas em prol da promoção dos valores e das tradições polonesas no Bra-

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Crônicas sil. Havia entre essas pessoas cidadãos brasileiros, padres, irmãs religiosas e representantes da comunidade polônica. Para o encerramento, o nosso Digníssimo Arcebispo Dom Moacyr ganhou um livro dedicado ao falecido Pe. Benedito Grymkowski SChr, e o Primaz da Polônia, os Superiores religiosos (o Padre Superior Geral, o Padre Provincial e o Monsenhor Tomás, da Nunciatura Apostólica) ganharam quadros com paisagens paranaenses representando os famosos pinheiros, dos quais, nas conferências ascéticas, falava-nos há anos (quando éramos noviços em Ziębice e seminaristas em Poznań) o Servo de Deus Pe. Inácio Posadzy, tão fascinado pelo Brasil e pela colônia polonesa que ali vivia. Ele foi capaz de nos transmitir esse “bacilo” com a sua característica mensagem poética, comunicada através da sua rica eloquência. As esposas dos nossos muito dedicados e engajados membros do Conselho dos Leigos juto à MCP entregaram os presentes que mencionei acima. A gratidão expressa verbalmente pelo reitor da MCP e a entrega dos presentes vinham acompanhadas de calorosos aplausos dos numerosos fiéis, em sinal de aceitação, respeito e agradecimento às mencionadas pessoas. Em seguida o Arcebispo Dom José Kowalczyk – no final da solene Eucaristia – entregou ao reitor da MCP a Medalha Primacial “Pelos méritos em prol da Igreja e da Nação”. Após o encerramento da solene Eucaristia, que se prolongou por mais de duas horas, dirigimo-nos ao salão paroquial para o solene almoço, durante o qual nos foi servido o famoso e saboroso churrasco, bem como outros petiscos. Na tarde daquele dia, acompanhei o Primaz da Polônia e o seu secretário, Pe. Tadeu, na visita que fizeram à nossa Casa Provincial. O nosso Digno Protetor Espiritual dirigiu-se primeiramente à capela da casa, para uma oração conosco. Depois o Primaz da Polônia visitou a igreja de S. Pedro e S. Paulo, bem como a casa paroquial, pela qual nos guiou o Pe. Alceu Zembruski

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Crônicas SChr – pároco e vice-provincial ao mesmo tempo. Após um jantar comum, um encontro no salão com os nossos colaboradores e residentes da casa e com os nossos hóspedes, o Digno Hóspede voltou para pernoitar na paróquia de S. João Batista.

Correspondência enviada por ocasião dos 60 anos da MCP no Brasil

SECRETARIA DE ESTADO Seção Primeira – Assuntos gerais

Vaticano, 11 de novembro de 2013. Reverendo Padre, Sua Santidade Francisco, informado a respeito das comemorações dos 60 anos de existência e atividade da Missão Católica Polonesa no Brasil, unese espiritualmente com os Pastores e Fiéis e envia a Sua paternal saudação. Durante a sua viagem ao Brasil em 1980, o Beato João Paulo II, aludindo aos 150 anos da presença dos poloneses nesse país, lembrou: “Esteve profundamente enraizada a Cruz nos corações dos Vossos antepassados, avós, pais e mães, dos quais Vós sois os herdeiros e que em Vós vivem hoje. [...] Porquanto sabemos bem como foi difícil a vida deles em terra estranha. Eles deixavam o seu país de mãos vazias, por vezes talvez famintos. Partiam, no entanto, com a profunda fé neles incutida pelos pais, com a cruz, o sinal da salvação profundamente enraizado em seus corações, e isso foi a sua força e vitória. [...] Preservaram a língua, a fé, os ritos e os costumes. Logo que construíam a sua casa, edificavam igrejas ou capelas [...]. E faziam isso sem

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Crônicas poupar sacrifícios. Edificavam sozinhos, oferecendo o seu trabalho e o material de construção. Contanto que Cristo pudesse residir entre eles”. O Bem-Aventurado Papa apelava: “Não deixeis de olhar para a cruz de Cristo, porque nela encontrareis a Vós mesmos, o Vosso dia de hoje e de amanhã. Dirijo-me com um apelo especial à geração jovem, a Vós, crianças e jovens. Assumi essa herança conquistada e resgatada com o esforço, o trabalho, o sacrifício e a oração dos Vossos antepassados. Assumi essa herança e desenvolvei-a. Trabalhai pela glória de Deus, pelo Vosso bem, pelo bem da sociedade e do país em que viveis. Para o bem da Igreja neste país. Deus está convosco, a Igreja está convosco e, de acordo com a missão que lhe foi confiada por Cristo, vai se esforçar por sair ao encontro das Vossas necessidades. O Papa está convosco”. (Curitiba, 5/7/1980). O Santo Padre Francisco, fazendo suas essas palavras, une-se na ação de graças com todas as comunidades em todo o Brasil pelos 60 anos da pastoral promovida pela Missão Católica Polonesa no Brasil. Aos sacerdotes, as pessoas consagradas e a todos os fiéis envolve com a sua oração e, pedindo a oração em sua intenção, cordialmente concede a todos a sua Bênção Apostólica. Com expressões de respeito + Arcebispo Angelo Becciu Substituto ___________________ Reverendíssimo Padre Pe. Dr. Zdzislaw Malczewski SChr Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil Rua Hermínio Cardoso, 119 82600-200 Curitiba-PR BRASIL

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Crônicas NUNCIATURA APOSTÓLICA Prot. n 3622/13 Brasília, 5 de novembro de 2013. Reverendo Padre,

O Jubileu que celebrais é um importante acontecimento eclesial, que sem dúvida renovará a vida cristã de todos os membros da Missão Católica Polonesa no Brasil. Rezo para que esse seja um momento do despertar de uma nova força dos valores evangélicos com o objetivo de promover a confiança, a solidariedade, a fé e outros valores destinados a dar um novo brilho à vida humana e ao Reino de Deus. Expresso o desejo de que a celebração dos 60 anos da Missão Católica Polonesa no Brasil se torne um estímulo para a realização dos empenhos pastorais de cada um dos seus membros e, neste Ano da Fé que se encerra, invoco de maneira especial a bênção do Todo-Poderoso para que vivais na fidelidade às exigências da Vossa fé. Expressando com grande respeito a minha saudação diante de Sua Excelência Dom José Kowalczyk, Arcebispo Metropolita de Gniezno, Primaz da Polônia e Protetor Espiritual dos emigrantes poloneses, desejo assegura a todos as minhas orações diante do Senhor e, invocando abundantes graças celestiais, envio a minha especial Bênção Apostólica. Fraternalmente, em Cristo, Arcebispo Giovanni d’Aniello Núncio Apostólico

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Crônicas _________ Reverendo Pe. Zdzislaw Malczewski SChr Rua Guilherme Ihlenfeldt, 1037 82620-035 Curitiba-PR DIOCESE DE PORTO NACIONAL Porto Nacional, 4 de novembro de 2013. Revmo. Padre Zdzislaw Malczewski Reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil Curitiba Reverendíssimo Padre Reitor, Agradeço cordialmente por me ter convidado a Curitiba para as solenidades relacionadas com a festa da Independência da Polônia e os 60 anos da Missão Católica Polonesa no Brasil. Infelizmente, em razão de compromissos anteriormente assumidos, que não posso adiar, não poderei participar da solene comemoração dos mencionados aniversários sob a presidência do Primaz da Polônia, o Arcebispo Dom José Kowalczyk. Uno-me convosco pela oração e cordialmente saúdo. Que essa solene comemoração seja a nossa alegria comum! Em Cristo Senhor, Dom Romualdo Matias Kujawski Ordinário da Diocese de Porto Nacional (TO)

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Crônicas RESUMO – STRESZCZENIE

10 listopada 2013 r. odbywały się uroczystości związane z powstaniem i działalnością Polskiej Misji Katolickiej w Brazylii. Uroczystej Mszy św. koncleebrowanej przewodniczył J. E. Arcybiksup Metropolita Gnieźnieński Józef Kowalczyk, Prymas Polski. Rektor PMK w Brazylii opisuje przebieg tych uroczystości. Zamieszczamy także niektóre listy, jakie nadeszły do rektoratu PMK z okazji obchodzonej rocznicy.

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Efemér ides EFEMÉRIDES –ANO DE 2014 Janeiro 01. Em nome de Deus iniciamos o ano novo! Que a Sua graça nos acompanhe em todos os empreendimentos espirituais e que promovem a cultura polonesa! Neste dia, na casa paroquial de Campo do Tenente-PR, faleceu o Pe. Eduardo Maciejewski SChr, que por longos anos trabalhou como sacerdote polônico no Brasil. 02. O Bispo ordinário da diocese de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Dom Francisco Carlos Bach, presidiu a santa Missa solene pelo falecido Pe. Eduardo. Logo após a Eucaristia, o reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, em companhia do Pe. Casimiro Przegendza e do Pe. Adalberto Bernat, presidiu as cerimônias da despedida do falecido sacerdote. 06. Na igreja paroquial em Bateias, perto de Campo Largo-PR, é celebrada uma santa Missa concelebrada pelo falecido Pe. Eduardo. A Eucaristia foi presidida pelo vice-provincial Pe. Alceu Zembruski e concelebrada por 17 sacerdotes. Esteve presente também o diácono Jonas. Os fiéis da paróquia local, bem como representantes de outras paróquias onde o Pe. Eduardo havia trabalhado, igualmente participaram da santa Missa. Na ocasião, o sermão foi pronunciado pelo reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil. Logo após a Eucaristia, realizou-se o rito da despedida e da deposição do corpo do falecido sacerdote num túmulo do cemitério local. 17. Ocorre o aniversário da morte do Servo de Deus Pe. Inácio Posadzy SChr – cofundador da Sociedade de Cristo e grande apóstolo dos emigrados poloneses.

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Efemér ides Fevereiro 10. Em São Mateus do Sul, no estado do Paraná, realiza-se a exposição em memória de Edmundo Gardolinski, um eminente líder polônico e engenheiro -arquiteto que realizou importantes obras no Brasil. Participaram do encontro o prefeito municipal, representantes da câmara municipal e da fundação cultural da cidade, historiadores e jornalistas, os filhos de Edmundo Gardolinski, representantes da comunidade polônica local e o cônsul-geral da Polônia em Curitiba. A exposição constava de diversas pranchas que apresentavam fotografias de autoria de Edmundo Gardolinski e de um filme documentário. Houve também a apresentação de uma brochura dedicada a Gardolinski, escrita pela historiadora rio-grandense Profa. Thaís Janaína Wenczerowicz. 12. A professora e historiadora gaúcha Thaís Janaína Wenczerowicz encontrase com o Pe. Zdzislaw, reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, com o objetivo de analisar projetos de pesquisa comuns relacionados com a coletividade polônica no Brasil. Com certeza, o prolongado diálogo travado trará no futuro frutos concretos em forma de publicações relacionadas com a colônia polonesa no Brasil. 13. Nesta data ocorre o primeiro aniversário da morte do Pe. Benedito Grzymkowski SChr. Na igreja paroquial de S. João Batista, em Curitiba, às 19 horas foi celebrada uma solene Eucaristia, presidida pelo Pe. Aloísio Laimann SChr. O Pe. Zdzislaw Malczewski fez uma reflexão com base na Palavra de Deus proclamada, no contexto dos 47 anos de vida missionária do Pe. Benedito, inclusive dos 7 anos do seu trabalho na paróquia, sem esquecer do seu grande envolvimento na causa da comunidade polônica brasileira. 16. Sua Excelência o Arcebispo de Gniezno, Dom José Kowalczyk, Primaz da Polônia, outorgou quatro Medalhas Primaciais a representantes da comunidade polônica brasileira. As mencionadas medalhas foram enviadas ao reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, que em nome do Primaz da Polônia

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Efemér ides as entregaria aos homenageados. De acordo com o cronograma aceito, tais medalhas foram outorgadas a eminentes membros da comunidade polônica brasileira nos lugares de sua residência. A primeira delas foi entregue em Curitiba, capital polônica do Brasil. Durante uma solene Missa na igreja de S. João Batista, em Curitiba, o Pe. Zdzislaw – reitor da MCP no Brasil, entregou ao Prof. Mariano Kawka a Medalha Primacial “Pelos méritos em prol da Igreja e da Nação”. O Prof. Mariano é filho de emigrantes poloneses, professor e tradutor de diversos livros da língua polonesa para a portuguesa, e faz parte da equipe redatorial do periódico Polonicus, bem como do Conselho de Leigos junto à reitoria da MCP no Brasil. 17. Em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, realizou-se uma videoconferência de escolas polonesas e brasileiras inaugurando a sua cooperação educacional. Algumas escolas médias de Santa Catarina assinaram acordos de cooperação e intercâmbio cultural com escolas médias na Polônia. Do lado brasileiro, participaram do encontro diretores e representantes de escolas médias das localidades polônicas de Itaiópolis, Jaraguá do Sul e Indaial, e do lado polonês –representantes de escolas em Poznań, Sokołów Podlaski e Stoczek. Estiveram presentes também representantes administrativos e educacionais de ambas as partes. A cooperação se realizará com base em cartas de intenções assinadas pelas escolas polonesas com a Secretária de Educação de Santa Catarina. No âmbito dessa cooperação, está previsto o intercâmbio cultural e de experiências educacionais. Dela não somente deverão resultar vantagens culturais, mas também uma contribuição para o incremento do interesse pela cultura e língua polonesa em meio à juventude polônica, bem como a promoção da Polônia e da comunidade polônica local entre os brasileiros. 22. Durante uma solene Missa concelebrada na igreja polonesa no Rio de Janeiro, o Pe. Zdzislaw – reitor da MCP no Brasil entregou ao Sr. Tomás Lychowski a Medalha do Primaz da Polônia “Pelos méritos em prol da Igreja e da Nação”. O compatriota homenageado é um líder polônico de destacada atividade, poeta e pintor. 164

Efemér ides 25-25/03. Com a cooperação da Embaixada da Polônia, do Consulado Honorário da Polônia em Belo Horizonte, do Instituto Histórico Judaico de Minas Gerais e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, foi inaugurada a exposição “O Reformador do Mundo”. A exposição se compunha de 21 pranchas contendo fotografias de arquivos, informações biográficas e trechos de obras de Janusz Korczak. Foi organizada pelo Ministério das Relações Exteriores da Polônia em razão das comemorações do “Ano de Korczak”, com base em materiais fornecidos pelo Museu Histórico de Varsóvia, pela Fundação “Korczakianum”, pela Associação Polonesa Janusz Korczak e pelo Guetto Fighter’s House de Israel. A exposição foi aberta na Biblioteca Frei Alberto Antoniazzi e estaria aberta de 25 de fevereiro a 25 de março de 2014.

Março 16. Na igreja paroquial da colônia Dom Pedro II, nos arredores de Curitiba, realiza-se uma incomum solenidade. O Pe. Lourenço Biernaski CM celebra uma Missa de ação de graças pelos 60 anos da sua vida sacerdotal. 18. Inauguração da exposição “A arte polônica no Brasil”, na cidade de Ponta Grossa, estado do Paraná, que ficaria aberta até o dia 18 de abril. Trata-se de uma exposição itinerante, e já foi apresentada em Cruz Machado, no Paraná. Nessa edição, sob a supervisão de Schirlei Freder, são apresentadas obras como: escultura, pintura, desenho, ilustrações e fotos de artistas como: Everly Giller, Heliana Grudzien, Márcia Széliga, Mari Ines Piekas e Schirlei Freder. Uma novidade dessa exposição foi uma coleção de cartazes que se encontra na Casa da Cultura Brasil-Polônia em Curitiba. As autoras dos cartazes são as artistas polônicas: Dulce Osinski, Everly Giller, Heliana Grudzien e Márcia Széliga. Nesta data faleceu mais um sacerdote polônico, o Pe. João Nowinski SChr.

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Efemér ides 18-25. Representantes de 17 universidades, da Conferência dos Reitores Acadêmicos das Escolas Polonesas do Ministério da Ciência e da Educação Superior e da Fundação do Desenvolvimento do Sistema de Educação da Polônia participaram de uma missão educacional no Brasil. No programa da delegação houve mais de quinze eventos, incluindo encontros com estudantes, com dirigentes de universidades brasileiras, oficinas, apresentações e participação em feiras educacionais. Essa missão polonesa enviada ao Brasil foi organizada no âmbito da campanha do Ministério da Ciência e da Educação Superior “Ready, Study, Go! Poland”. Na composição da delegação polonesa encontravam-se representantes das seguintes universidades: Universidade de Varsóvia, Universidade Jagiellônica – Cracóvia, Universidade da Silésia, Politécnica de Varsóvia, Politécnica de Wrocław, Politécnica de Gdańsk, Academia de Mineração e Metalurgia de Cracóvia, Politécnica de Opole, Universidade de Medicina de Gdańsk, Universidade de Medicina de Poznań, Universidade de Medicina de Wrocław, Universidade Ambiental de Wrocław, Escola Superior de Oficiais da Força Aérea de Dęblin, Collegium Civitas. O programa da delegação envolveu a programação de um “Dia polonês” na Universidade de Brasília (19/03). Realizaram-se também encontros com representantes do governo brasileiro: Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Tecnologia e Inovação, Ministério das Relações Exteriores. Além disso, houve encontros com professores e chefes de departamentos da Universidade de Brasília; com as instituições brasileiras CNPq e CAPES e com representantes da comunidade polônica. Em Curitiba (22/03) e no Rio de Janeiro (24/03), a delegação polonesa promoveu uma oferta das escolas superiores polonesas na feira “Salão do Estudante” – uma das maiores feiras educacionais no Brasil, da qual participam mais de 500 expositores de 20 países e que é visitada por cerca de 90 mil estudantes e representantes de instituições dedicadas à educação.

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Efemér ides 21. O Cônsul-Geral da Polônia em Curitiba, Sr. Marek Makowski, ofereceu em honra da delegação das escolas superiores polonesas um jantar na Sociedade Polono-Brasileira Marechal José Piłsudski. Para o encontro com os dirigentes das escolas polonesas foram convidados representantes da coletividade polônica.

Maio 12. Nesta data, no âmbito da 12ª Semana de Museus, a Casa da Cultura Polônia-Brasil promoveu os seguintes eventos: 1) palestra sobre gestão de projetos na área cultural com a administradora Schirlei Mari Freder; 2) palestra: O conceito de “coleção” aplicado em acervos museológicos e arquivísticos: relato de experiências com Tatiana Dantas Marchette, doutora em História pela UFPR; 3) exposição de cartazes das artistas Everly Giller, Dulce Osinski, Heliana Grudzien, Márcia Széliga e Emília Piaskowski; 4) palestra do CônsulGeral da Polônia, Sr. Marek Makowski, sobre o tema “integração europeia e participação da Polônia na União Europeia”; 5) Sarau de poesia polonesa, sob a coordenação dos professores Piotr Kilanowski e Marcin Raiman, com a participação dos alunos do curso de Letras-Polonês da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 16. Em Brasília, dentro das comemorações da “Semana da Europa”, no Espaço Cultural Instituto Cervantes, houve uma apresentação da poesia europeia nas línguas originais e em tradução para o português. O Prof. Henryk Siewierski – coordenador da cátedra Cyprian Norwid de Estudos Poloneses na Universidade de Brasília – apresentou a poesia polonesa. 17. O papa Francisco nomeou como novo arcebispo metropolitano de Gniezno e primaz da Polônia o bispo Dom Adalberto Polak. Desde 2001 ele exerce a função de secretário-geral da Conferência do Episcopado da Polônia. Por

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Efemér ides ofício ingressa na composição da Presidência e do Conselho Permanente da Conferência do Episcopado da Polônia e passa a pertencer à Comissão Comum de Representantes do Governo da Polônia e do Episcopado. É também membro do Conselho Pontifício para Assuntos da Migração e dos Viajantes. Ele conciliava a função de secretário-geral do Episcopado com o ministério episcopal na arquidiocese de Gniezno, onde desde 2003 era bispo auxiliar. A entronização do arcebispo Dom Adalberto Polak na catedral metropolitana de Gniezno realizou-se no dia 7 de junho de 2014. Como metropolita, na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo ele recebeu em Roma o pálio das mãos do papa Francisco. 24. No território da República Federativa do Brasil, em duas circunscrições da comissão eleitoral, em Curitiba e Brasília, os cidadãos poloneses puderam participar das eleições ao Parlamento Europeu. Na noite deste dia, na filmoteca de Curitiba, realizou-se um encontro com Andres Bukowinski, um conhecido cineasta do Brasil que recebeu diversos prêmios internacionais pelos seus filmes comerciais promovendo diversos produtos. 26. A Sociedade Polonia, no Rio de Janeiro, organizou um sarau poético dedicado a Paulo Leminski. A poesia polono-brasileira do poeta curitibano foi apresentada por Laura Miranda e Tomás Lychowski. 27. Em São Mateus do Sul, cidade situada a cerca de 180 quilômetros ao sul de Curitiba, no auditório do Hotel Sada’s, realizou-se a apresentação do livro de Gerson César Souza, um autor brasileiro, dedicado ao Pe. Tiago Wróbel, um grande líder em meio aos colonos poloneses nos primeiros tempos do estabelecimento deles naquela região do Brasil meridional. Publicado em português e polonês, o livro leva o título Estrela de Jacó / Gwiazda Jakuba.

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Efemér ides 28. Na Assembleia Legislativa do Paraná realizou-se uma sessão solene em homenagem a João Paulo II, durante a qual foram homenageadas personalidades selecionadas ligadas à Igreja da cidade. A solenidade foi organizada graças à iniciativa do deputado estadual Ney Leprevost. A sessão solene foi honrada pela presença do Arcebispo metropolitano Dom Moacyr J. Vitti. Entre os homenageados com um diploma naquela ocasião houve diversos padres e muitas pessoas engajadas nas paróquias de Curitiba. Entre os homenageados houve um polonês, o Pe. Zdzislaw Malczewski SChr, pároco da paróquia de S. João Batista e reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil.

Junho 04. No Museu Paranaense, em Curitiba, foi aberta a exposição “Liberdade, soberania, democracia: Polônia, 25 anos”, apresentando aos brasileiros e à comunidade polônica acontecimentos da recente história da Polônia e as mudanças políticas que influenciaram não somente a Polônia, mas todo o mundo do século XX. 08. No Santuário de S. José em Kielce, na Polônia, o Pe. Casimiro Długosz SChr – provincial da Sociedade de Cristo na América do Sul – celebrou uma solene Missa de ação de graças pelos 25 anos do seu ministério sacerdotal. Juntamente com o aniversariante concelebraram dez sacerdotes, tendo à frente o Pe. Ricardo Głowacki SChr – superior geral da Sociedade de Cristo. 15. A peregrinação do reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil à Cidade Eterna iniciou-se neste domingo, 15 de junho. Ele se encontrava em meio aos fiéis durante a oração do meio-dia do Papa Francisco na Praça de São Pedro, diante da basílica do Vaticano. 16. O reitor da MCP no Brasil participa de uma audiência com o Papa, que se realiza na Praça de São Pedro, no Vaticano. Uma incontável multidão de fiéis

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Efemér ides de tantos países e regiões do mundo. O papa inaugurou um ciclo de catequeses sobre a Igreja fundada por Jesus Cristo. Estando em meio a tantos fiéis vindos de diversas partes do mundo, pode-se compreender melhor a natureza da IGREJA CATÓLICA. Graças ao Pe. Leszek, da Rádio Vaticano, conseguimos um excelente lugar, no primeiro setor do lado direito... A Igreja aberta a todas as culturas, línguas e nações, repleta do Espírito Santo, para ir com alegria ao encontro do mundo com a mensagem do Evangelho! 19. Na sua peregrinação à Cidade Eterna, o reitor da MCP no Brasil teve a graça de concelebrar uma santa Missa junto ao túmulo do grande polonês e Papa João Paulo II. Todas as quintas-feiras, às 7 horas da manhã, é celebrada uma Missa em língua polonesa junto ao túmulo de João Paulo II. Neste dia o reitor da MCP encontrou-se dentro de um grupo de sacerdotes poloneses, irmãs religiosas e diversos poloneses reunidos para na Eucaristia comum apresentar a Deus os nossos agradecimentos e pedidos! A todos aqueles que trago em meu coração – familiares, amigos, paroquianos, a minha congregação religiosa, a comunidade polônica no Brasil – eu apresentei a Deus por intermédio do nosso Grande Santo! Que DEUS seja bendito por essa grande graça de poder celebrar a santa Missa no dia de hoje dedicado à Eucaristia! 24-26. Na sede da Secretaria da Conferência do Episcopado da Polônia em Varsóvia, realizou-se sob a presidência de Sua Excelência o Bispo Dom Wiesław Lechowicz – presidente da Comissão da CEP para Assuntos da Emigração Polonesa – uma reunião dos reitores e coordenadores da pastoral polônica, com a participação de 15 representantes de MCPs vindos de diversos países do mundo. 26. Na residência dos bispos de Curitiba faleceu repentinamente, aos 73 anos de idade, o Arcebispo metropolitano Dom Moacyr J. Vitti. Recomendamos ao Deus Misericordioso o falecido Pastor da Igreja em Curitiba. Que descanse em paz!

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Efemér ides Julho 01. Na manhã de hoje, faleceu repentinamente em Curitiba o cônsul polonês Jacek Szczeniowski. Na tarde do mesmo dia, realizaram-se as cerimônias do sepultamento, presididas pelo Pe. Lourenço Biernaski CM. 01-12. No Teatro Guaíra, em Curitiba, realiza-se a 53ª edição do Festival Folclórico e de Etnias do Paraná. Participam do festival dois conjuntos polônicos de Curitiba: o Junak e o Wisła. 03. O Grupo Folclórico Junak, de Curitiba, apresenta-se diante do público no Teatro Guaíra. 07. Na igreja de S. Vicente de Paulo, em Curitiba, é rezada uma Missa de sétimo dia pelo falecido cônsul polonês Jacek Szczeniowski. 10. No Teatro Guaíra, em Curitiba, apresenta-se o Grupo Folclórico Wisła, acompanhado pelo Coral João Paulo II, da igreja de S. Estanislau. 23. O Santo Padre aceitou a renúncia ao cargo, feita em razão da idade pelo ordinário da diocese de Zé Doca, Dom Carlo Ellena, no estado de Maranhão. Para o seu lugar nomeou o Pe. João Kot, 52 anos, oblato da Maria Imaculada. O religioso polonês trabalha no Brasil há vinte anos e até então era pároco em Campo Alegre do Fidalgo, no estado do Piauí. O Pe. João Kot é originário de Maków Podhalański. Após o ingresso na Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada e a realização da formação religiosa, foi ordenado sacerdote em 1992. Além da filosofia e da teologia, estudou também história da Igreja. Após dois anos de prática em Siedlce, viajou para as missões no Brasil. Colaborou com a revista dos oblatos Caminhos Missionários.

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Efemér ides Agosto 05. Na cidade de São Mateus do Sul, situada o Sul do Paraná, onde 70% dos habitantes são de origem polonesa, realizou-se a inauguração da exposição “Arte brasileira polônica”. O evento foi organizado pela Casa da Cultura Polônia-Brasil, em cooperação com a organização Braspol, as autoridades do município de São Mateus do Sul e o Consulado Geral da Polônia em Curitiba. A exposição, composta de quadros e imagens gráficas de noves artistas polônicas concentradas na Casa da Cultura, é itinerante, já foi apresentada em Ponta Grossa e permaneceu em São Mateus do Sul até o final de agosto. Nos meses seguintes seria apresentada em diversas outras localidades. As coordenadoras da exposição são as artistas Adriana Kmiec e Juliana Kudlinski. A inauguração realizou-se na Casa da Memória de São Mateus do Sul e participaram dela representantes das autoridades municipais, entre os quais o secretário da cultura D. C. Gugelmin Distéfano Wiltenburg, o presidente da Fundação Cultural J. C. Janowski, o presidente da Braspol Rizio Wachowicz, a diretoria da seção local da Braspol, o cônsul-geral M. Makowski e a ViceConsulesa Dorota Ortyńska. 14. O Cônsul-Geral da Polônia em Curitiba, Sr. Marek Makowski, ofereceu um jantar solene para saudar a Vice-Consulesa Dorota Ortyńska. Para o jantar na Sociedade Tadeu Kościuszko foram convidados os líderes polônicos. Os representantes da coletividade polônica tiveram a ocasião de conhecer a nova representante da Polônia em Curitiba e de conversar com ela. 24. No Parque João Paulo II, em Curitiba, realizaram-se as solenidades em honra de Nossa Senhora de Monte Claro. A celebração foi presidida pelo Pe. Zdzislaw Malczewski SChr – reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil. Ele também fez uma reflexão a respeito da presença da Senhora de Monte Claro na história da nação polonesa.

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Efemér ides Em Brusque, no estado de Santa Catarina, realiza-se o VIII Encontro Cultural Polonês, do qual participaram mais de 600 pessoas. A promotora do evento foi a Fundação Cultural José Walendowski. A solenidade foi iniciada com uma Missa em língua polonesa e portuguesa no Santuário Azambuja. Os participantes tiveram a ocasião de ouvir cânticos poloneses e o hino nacional polonês executado pelo conjunto Krak Trio de Cracóvia. A Missa foi celebrada pelo Pe. Ladislau Milak, que nasceu no Brasil e já há 22 anos reside permanentemente em Cracóvia, bem como pelos padres Nélio Schwanke e Alnino Milani. Na sede da Associação Beneficente Santos Dumont houve um almoço com um cardápio tipicamente polonês, seguido por apresentações dos conjuntos Krak Trio e Trio Edelweiss. Neste ano, honraram o encontro com a sua presença a I Secretária e Cônsul da Embaixada da Polônia em Brasília, Sra. Dorota Bogutyn, pela Vice-Consulesa do Consulado Geral da Polônia em Curitiba Sra. Dorota Ortyńska e pelo secretário do Consulado, Sr. Paulo Kochanny. Esteve presente também o secretário de turismo de Santa Catrina, Sr. Valdir Rubens Walendowsky. A Sra. Dorota Bogutyn chamou a atenção para o significado desse acontecimento para a preservação dos vínculos entre o Brasil e a Polônia. Ela se mostrou comovida em razão da amistosa recepção que lhe foi proporcionada pela comunidade polônica que participou das comemorações de Brusque. A Sra. Dorota Ortyńska enfatizou a especial solicitude do consulado geral na área do apoio a tais eventos, da aproximação entre as nações e do estímulo ao turismo na Polônia. O presidente da Fundação, Sr. João Paulo Walendowsky, expressou os agradecimentos a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o sucesso do encontro. Convém enfatizar que as comemorações tinham também por objetivo os 145 anos da imigração polonesa no Brasil. De acordo com uma lei municipal, o dia 25 de agosto é em Brusque o Dia da Imigração Polonesa. 28. Abertura da exposição intitulada “Natureza brasileira – olhares e inspirações” na Seção da Associação “Comunidade Polonesa” em Cracóvia. Nessa exposição de pintura, desenho e fotografia, apresentaram os seus trabalhos as artistas polônicas do Brasil, representantes da Casa da Cultura Polônia-Brasil

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Efemér ides em Curitiba: Schirlei Maria Freder, Everly Giller, Heliana Grudzien, Dulce Osinski, Maria Ines Piekas e Márcia Széliga.

Setembro 06. Nesta semana a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba, recebeu uma delegação da Universidade da Silésia em Katowice. O principal objetivo dessa visita foi o acerto da cooperação entre as universidades, com a análise da possibilidade da abertura de um leitorado de língua polonesa na PUC do Paraná. Além dos encontros oficiais com as autoridades da universidade, inclusive com o reitor Prof. Waldemiro Gremski, renomado representante da comunidade polônica local, as professoras Jolanta Tambor, Agnieszka Tambor e Carolina Graboń apresentaram um breve curso de língua polonesa para principiantes, além de seminários relacionados com linguística, cultura polonesa e cinema polonês contemporâneo. 07. O estandarte branco e vermelho esteve presente durante o desfile militar realizado neste dia no Rio de Janeiro, para comemorar os 192 anos da independência. Os anos se passam, mas em cada 7 de setembro a bandeira branca e vermelha tremula alto, desde o início do desfile, na Avenida Presidente Vargas. Por muitos anos foi conduzida por um pelotão de valorosos soldados poloneses juntamente com veteranos brasileiros da II Guerra Mundial. Pelos heróis de Monte Cassino, do Levante de Varsóvia e de diversas outras batalhas, onde sempre tremulou o estandarte com a Águia Branca sobre a bandeira branca e vermelha. Hoje quase todos os veteranos de uma nação que em 1939 repelia sozinha um ataque traidor, residentes no Brasil, já não estão aqui presentes. Eles passaram para a guarda eterna. No entanto o estandarte nacional de Frederico Chopin, Nicolau Copérnico, Adão Mickiewicz e Maria Curie-Skłodowska não foi deixado de lado, como o de uma das 19 nações aliadas. Desta vez a sagrada missão foi cumprida pelo capitão e engenheiro Inácio Felczak, presidente da Associação dos Ex-Combatentes Poloneses.

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Efemér ides 10. A cátedra de língua polonesa da Universidade Federal do Paraná, com a colaboração da Casa da Cultura Polônia-Brasil, do Consulado Geral da Polônia em Curitiba, da Braspol e do Restaurante Barsóvia, organizou na sede da Sociedade Tadeu Kościuszko a “Noite Polonesa – um encontro com a Alta Silésia”. As representantes da Universidade da Silésia apresentaram aos numerosos interessados (mais de cem pessoas) curiosidades a respeito da cultura, do dialeto, do cinema e do folclore da Silésia. Foi uma grande atração a degustação de petiscos regionais, e a noite foi coroada pela apresentação do filme Barbórka, do diretor Maciej Pieprzyc. 24. Na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, ocorre a promoção do evento “Jan Karski e os Justos entre as Nações do mundo”. A programação envolveu: 1) espetáculo poétido “... busco as palavras que não existem...” – a poesia polonesa perante o Holocausto, direção de Piotr Kilanowski; 2) seminário “Jan Karski e os Justos entre as Nações do mundo, com a participação de: Aleksandra Piasecka-Till (“O imperativo moral de Henryk Sławik, um herói desconhecido”); Alicja Groczyla Ferreira (“Irena Sendler – uma vida de doação”); Carlos Henrique Wencland Reiss (“Dilemas éticos num mundo não determinista: um tributo aos Justos entre as Nações através das sagas de Aracy de Carvalho, Luiz Souza Dantas e do casal Jan e Anna Puchalski”); Marcin Raiman (“Raoul Wallenberg e os judeus húngaros: história de um herói sem túmulo”); Piotr Kilanowski (“Jan Karski e os senhores da humanidade”).

Outubro 02. Encontram-se em Curitiba pesquisadores poloneses interessados na preservação dos arquivos da comunidade polônica brasileira: o Dr. Dariusz Kuzmina – professor da Universidade de Varsóvia e diretor do Instituto de Informação Científica e Biblioteconomia da mesma universidade; o Dr. Krzysztof Smolana – professor na Universidade de Varsóvia e funcionário do Arquivo

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Efemér ides Público de Varsóvia e o Prof. Robert Brzóska – funcionário do mencionado Instituto. Eles realizaram um trabalho no bairro de Abranches, envolvidos na coleta e organização dos materiais referentes à Sociedade Ladislau Jagiełło, à escola polonesa e à paróquia de S. Ana para a Biblioteca Polônica Digital da Universidade de Varsóvia. Na casa paroquial da paróquia de S. Ana, no bairro curitibano de Abranches, realizou-se um jantar oferecido pelo Pe. Odair Miguel Gonçalves dos Santos, pároco local, e pelo conselho paroquial em honra dos pesquisadores poloneses. Para esse jantar foram convidados também o Bispo Dom Rafael Biernaski – administrador da arquidiocese de Curitiba, o Sr. Marek Makowski – Cônsul-Geral da Polônia em Curitiba, o Pe. Fabiano Spisla – provincial dos padres vicentinos e o Pe. Zdzislaw Malczewski SChr – reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil. Participou também do jantar o Pe. Lourenço Biernaski CM, decano dessa congregação religiosa detentora de tantos méritos para a comunidade polônica e a Igreja. Compareceram também outros padres vicentinos de origem polonesa das paróquias vizinhas, bem como irmãs vicentinas, além de representantes da coletividade polônica local. 04. O Papa Francisco publicou a sua Mensagem por ocasião do Dia do Migrante (2015). 06. Faleceu em Curitiba a Sra. Irena Jadwiga Łoś. Ela nasceu em Płock no dia 24 de julho de 1922. Desde 1943 foi soldado do Exército Nacional. Participou do Levante de Varsóvia, trabalhando como enfermeira. Após a capitulação, foi levada a um campo de prisioneiros na Alemanha, de onde, após a libertação pela I Divisão Blindada em abril de 1945, foi enviada ao II Corpo na Itália, e posteriormente removida para a Inglaterra. Em 1947, após a desmobilização, casou-se com o tenente Estanislau Łoś e emigrou ao Brasil, onde seu marido já tinha familiares. Por muitos anos trabalhou no Hospital Evangélico em Londrina. Após a aposentadoria mudou-se para Curitiba, onde faleceu no dia 6 de outubro.

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Efemér ides Irena Łoś pertenceu à Associação dos Ex-Combatentes Poloneses no Brasil e possuía o posto de subtenente do Exército Polonês. Foi distinguida com a Medalha do Exército Polonês (1949), com a Cruz do Exército Nacional (1967) e com a Medalha Pro Memoria (2005) do Departamento dos Combatentes e das Pessoas Perseguidas. Era uma grande aficionada da cultura polonesa, especialmente da literatura. Publicou um opúsculo de traduções dos mais belos contos e novelas dos escritores poloneses. Sempre participou de bom grado e ativamente da vida polônica e dos eventos promovidos pelo Consulado da Polônia em Curitiba. 14. Encontram-se com o Pe. Zdzislaw – reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil – quatro professores da Universidade de Rzeszów. O amistoso encontro teve como tema a problemática histórica e a atual coletividade polônica no Brasil. 18. Em Vitória de Santo Antão (Pernambuco), arquidiocese de Olinda e Recife, realizou-se a solenidade da sagração episcopal do antigo cura dessa paróquia, o missionário polonês Pe. João Kot, OMI. O novo bispo foi nomeado pelo Papa Francisco ordinário da diocese de Zé Doca (Maranhão). O reitor da MCP no Brasil participou desse importante acontecimento para a Igreja. 21. Nesta data, na sede da Associação Nacional de Escritores Brasileiros, em Brasília, ocorreu um encontro literário do ciclo “Quintas-Feiras Literárias”. Para participar desse encontro foi convidado o Prof. Henryk Siewierski, professor da Universidade Brasília, ensaísta, poeta e tradutor da literatura polonesa. Em sua palestra sobre o tema “A poesia polonesa contemporânea”, o Prof. Siewierski apresentou ao público brasileiro a poesia de Czesław Milosz e Wisława Szymborska. O palestrante intercalou a sua apresentação com trechos de poemas desses poetas poloneses. Durante o encontro, a Embaixada da Polônia foi representada pela III Se-

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Efemér ides cretária Anna Józefowicz, que em nome do Embaixador agradeceu ao Prof. Siewierski pela propagação da literatura polonesa no Brasil. O encontro serviu também de ocasião para informar o público presente a respeito da adesão da Polônia ao programa brasileiro “Ciência sem fronteiras”. 25. O Consulado Geral da Polônia em Curitiba organiza o “II Encontro brasileiro dos ex-alunos de universidades polonesas”. O encontro realizou-se na Sociedade Tadeu Kościuszko, em Curitiba. 27. Faleceu em Tarnów o Pe. Tadeu Adamczyk, que por muitos anos foi missionário no Brasil.

Novembro 06. No auditório do Liceu de Educação Geral Rui Barbosa, em Varsóvia, realizou-se um simpósio por ocasião dos 85 anos da Sociedade Polono-Brasileira, com a colaboração do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada do Brasil em Varsóvia. 08. Em Porto Alegre acontece a 60ª edição da Feira do Livro. O domingo 8 de novembro foi na mencionada Feira o Dia da Polônia, durante o qual houve apresentação de painéis, sessão de autógrafos, exposição, projeção de filmes e outras atividades culturais. 16. Na igreja de S. Estanislau, em Curitiba, a pedido do Cônsul-Geral da Polônia Sr. Marek Makowski, o Pe. Zdzislaw Malczewski – reitor da MCP no Brasil – presidiu a solene Missa de ação de graças pelos 96 anos da Independência da Polônia. Foram concelebrantes os padres Lourenço Biernaski CM e Eduardo João Guc SVD. Após o Evangelho o reitor da MCP pronunciou um sermão relacionado com essa ocasião. O Coral João Paulo II, com os seus cânticos, adicionou o clima adequado à celebração da Eucaristia. As Irmãs da Sagra-

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Efemér ides da Família, como sempre presentes nas nossas festas polonesas e polônicas, tiveram uma numerosa participação nessa celebração de ação de graças. Um bom número de polônicos e brasileiros – amigos da Polônia – participou da mencionada Missa solene. No final da celebração falou o Sr. Marek Makowski – Cônsul-Geral da Polônia. Ele enfatizou a importância dessa celebração da Independência da Polônia e agradeceu a todos pela oração comum. Logo após a Missa, os presentes reuniram-se no salão paroquial. O Sr. Cônsul Marek apresentou os professores da Universidade da Silésia, que apresentaram aos participantes do encontro uma palestra intitulada “Os bons costumes da velha Polônia”. Após o término dessa interessante aula, foram servidos refrigerantes e pratos poloneses. Como sempre, as conversas se prolongaram, o que costuma acontecer em tais ocasiões. Neste mesmo domingo (16 de novembro de 2014) à tarde, na sede do Consulado Geral da Polônia em Curitiba, realizou-se a II Reunião do Conselho Polônico junto ao Consulado Geral. Participam do mencionado Conselho representantes da comunidade polônica de três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Sr. Cônsul Makowski apresentou aos presentes o programa governamental relacionado com a colaboração com a diáspora polonesa no mundo para os anos 2015-2020. Seguiu-se uma discussão a respeito do documento, e os membros presentes do Conselho apresentaram as suas propostas quanto a formas de animação para a comunidade polônica no Brasil. O reitor da MCP no Brasil é membro do mencionado Conselho Polônico e participou do encontro dominical. 20. No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, faleceu Samuel Klein, 91 anos, nascido na Polônia. Ele emigrou ao Brasil durante a II Guerra Mundial. Foi o fundador e o proprietário da grande rede de lojas Casas Bahia. 28. Na sede da Embaixada da Polônia, no âmbito do Ciclo de Música Polo-

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Efemér ides nesa, realizado pela Cátedra Cyprian Norwid, sob a direção do Prof. Henryk Siewierski, realizou-se um recital de música polonesa. Essa iniciativa despertou um grande interesse, razão por que os seus idealizadores pretendem repetir o projeto nos anos seguintes. O Ciclo de Música Polonesa é uma ocasião para familiarizar o público brasileiro com obras dos mais eminentes compositores poloneses, raramente executadas no país. No programa do recital encontrou-se o Estudo Revolucionário de Frederico Chopin, bem como obras de Inácio Paderewski, Carlos Szymanowski e Vitoldo Lutosławski. O quarteto Polish Piano Ensemble, composto de Milena Kędra (pião), Maria Sławek (violino), Janusz Pisarski (viola) e Bárbara Łypik-Sobaniec (violoncelo) executou a composição de Ladislau Żeleński Quarteto para piano op. 61. No concerto da pianista Milena Kędra e do quarteto por ela dirigido, Polish Piano Ensemble, encontraram-se os aficionados da música polonesa, membros do corpo diplomático e estudantes do Departamento de Música da Universidade de Brasília.

Dezembro 03. Na igreja de S. Estanislau, em Curitiba, foi celebrada uma Missa de ação de graças em razão de um jubileu incomum: celebraram os 60 anos de vida consagrada as Irmãs Franciscanas da Sagrada Família: Geraldina Tartas, Miriam Gaioski, Stella Franzoi e Úrsula Tartas; os 70 anos: a Irmã Lidia Ales; os 75 anos: a Irmã Olga Zerek, e os 80 anos – a Irmã Jerônima Chulis. 05. O Parlamento da Polônia deliberou que o ano 2015 será o Ano de São João Paulo II. Os deputados aprovaram por unanimidade a resolução “em razão da obrigação moral e do profundo respeito diante de uma personalidade que exerceu uma influência tão significativa não apenas sobre o destino da nossa nação, mas também do mundo contemporâneo”. [...] “Que o motivo condutor de todas as iniciativas que enriquecerão este ano sejam as palavras de João Paulo II pronunciadas há anos em Monte Claro: ‘Estou alerta – o que significa também: sinto-me responsável por essa grande e comum herança que se cha-

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Efemér ides ma Polônia. Esse nome define a nós todos. Esse nome obriga a nós todos’”. Além disso, o Parlamento enfatiza na mencionada resolução os enormes méritos e o envolvimento de João Paulo II “no processo do renascimento da independência da nossa pátria e a sua enorme contribuição para a propagação da mensagem universal sobre a dignidade e os direitos do homem que permanecerão para sempre na nossa memória. Sua vida foi um testemunho de fé para milhões de pessoas no mundo inteiro, e o seu doloroso afastamento uniu todos os poloneses, independentemente da religião e das convicções”. Na resolução os deputados lembram que em abril de 2015 ocorre o décimo aniversário da morte e o primeiro da canonização “do grande polonês, o Santo Padre João Paulo II”. 13. O Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba organizou em Curitiba, o Teatro do Canal da Música, o 8º Festival Infanto-Juvenil de Folclore Polonês para os grupos folclóricos poloneses, envolvendo as categorias: Infantil – de 5 a 10 anos e Juvenil – de 10 a 15 anos.

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