EDUCAÇÃO TUTORIAL NA UFG

May 14, 2017 | Author: Betty Campos de Carvalho | Category: N/A
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O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL NA UFG O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL NA UFG - realidades, concepções e perspectivas

‘‘A participação em um grupo PET possibilita mudanças notáveis na vida acadêmica de um estudante, uma vez que oportuniza vivências que interferem positivamente em vários campos do saber. Neste cenário, é possível ampliar a visão sobre o papel da formação e seu reflexo na prática profissional. [...] Além disso, a troca de experiências entre os alunos integrantes do grupo PET, oriundos de diferentes períodos do curso de graduação, oportuniza uma troca de saberes que se configura como uma tutoria aluno/aluno. [...] O estudante sai do ambiente de estudo com visão ampla, tendo diferencial pessoal e profissional, que faz com que ele esteja seguro do que sabe e do que quer’’.

realidades, concepções e perspectivas

ROGÉRIO FERREIRA ESTELAMARIS TRONCO MONEGO organizadores

O Programa de Educação Tutorial na UFG realidades, concepções e perspectivas

O Programa de Educação Tutorial na UFG realidades, concepções e perspectivas Rogério Ferreira Estelamaris Tronco Monego Organizadores

Dedicamos este livro a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para que o PET fosse hoje uma realidade transformadora na UFG.

PREFÁCIO

O Programa de Educação Tutorial na UFG – realidades, concepções e perspectivas tem como principal objetivo fomentar um debate plural acerca do PET, tendo como referência o seu desenvolvimento, desde 1994, na Universidade Federal de Goiás. Para alcançá-lo, temáticas centrais que dialogam com a filosofia do programa foram coletivamente definidas pelos autores e organizadas em capítulos. São elas: história e filosofia do PET; políticas públicas; integração da tríade ensino, pesquisa e extensão; formação na graduação; educação tutorial; trabalho e pós-graduação. Tendo por objetivo estabelecer uma primeira aproximação do leitor às referidas temáticas, é realizada a seguir uma breve descrição de cada um dos capítulos do livro. O capítulo 1 apresenta um breve histórico do PET, sua filosofia e mudanças ocorridas desde a sua criação, buscando evidenciar percepções e sentimentos de tutores do programa. Realiza-se uma reflexão sobre o fato de o PET vir mantendo sua condição de excelência na formação acadêmica brasileira de nível superior, ao mesmo tempo em que, ao longo de sua história, tem continuadamente lutado pela sua sobrevivência.

O segundo capítulo focaliza o compromisso dos grupos PET com as ações de políticas públicas e o envolvimento da comunidade petiana com a sociedade, buscando colocar em prática o compromisso social das universidades para a implementação de medidas articuladas com as políticas que visam trazer benefícios para a coletividade. O PET na integração da tríade ensino, pesquisa e extensão é a temática do terceiro capítulo. A universidade brasileira fundamenta-se nesta tríade; contudo, realizar e planejar atividades que congreguem os seus atores é muito complexo, principalmente no cenário atual, no qual as instituições de ensino superior (IES) se encontram com uma valorização marcante da pesquisa. Assim, o PET, ao desenvolver atividades que visam a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, remete a uma realidade diferenciada dentro das IES das quais faz parte, estimulando os petianos a uma formação ampla, diferenciada no mercado, pois desenvolvem durante sua passagem pelo PET habilidades pouco exploradas durante a graduação. São exemplos de atividades o ciclo de palestras realizado pelo PET Enfermagem, preparando o graduando para o mercado de trabalho, e o Encontro de Bioética, organizado e realizado pelo PETBio, atividades essas que visam desenvolver diversas habilidades

O Programa de Educação Tutorial na UFG

dos petianos, desde o planejamento do evento até a sua execução, tendo que lidar com público e palestrantes, assim como a realização de relatórios de atividades e prestação de contas. No âmbito da universidade pública, são inúmeras as oportunidades que os alunos dos cursos de graduação dispõem, com vistas a verticalizar seus conhecimentos, habilidades e práticas. Cada uma delas visa capacitar o aluno em um aspecto da formação, incluindo a iniciação científica, a extensão e cultura, a licenciatura e o empreendedorismo. Neste cenário, a educação tutorial oportunizada pelo PET traz uma possibilidade ampliada. Trata-se de uma vivência articulada do ensino, da pesquisa e da extensão, tendo como pressuposto a orientação de um professor tutor. A organização do grupo, com os limites e as possibilidades de cada um dos seus componentes, a troca de experiências e as atividades desenvolvidas em equipe, promove o compartilhamento do conhecimento, a ajuda mútua e a consequente construção da iniciativa, liderança, criatividade, responsabilidade, bem como uma melhor preparação para o mercado de trabalho. É neste contexto que o quarto capítulo propõe refletir sobre as múltiplas possibilidades de formação de um aluno de graduação que se vincule à educação tutorial no modelo proposto pelo MEC. 8|9

No capítulo 5, a partir das principais características identitárias dos grupos PET dos cursos de Educação Intercultural (Petli) e Licenciatura em Matemática (Petmat), ambos da UFG, a educação tutorial é reflexiva e criticamente debatida em um diálogo estreito com o objetivo geral do programa governamental que os regimenta. A formação para cidadania pautada na horizontalização dialógica das práticas educativas, visando ao protagonismo mútuo dos membros participantes dos grupos, é um princípio fortemente defendido a fim de caracterizar a educação tutorial. Nesta concepção, o papel do tutor é debatido, efetivando-se em uma mediação voltada para a valorização do compartilhamento, orientação, formação integral, trabalho colaborativo e, fundamentalmente, formação política. Duas atividades em desenvolvimento no Petli e uma abordagem reflexiva acerca das concepções gestoras e formativas que vêm sendo construídas no Petmat são apresentadas tendo por objetivo embasar as reflexões promovidas. O sexto capítulo tem como objetivo averiguar o modo pelo qual o Programa de Educação Tutorial (PET) na Universidade Federal de Goiás (UFG), a partir das experiências desenvolvidas pelos diferentes grupos, tem enfrentado as dimensões do trabalho e a sua relação com a formação.

O Programa de Educação Tutorial na UFG

Duas questões permeiam as reflexões: Como conduzir o bolsista-PET a ultrapassar a barreira da graduação e chegar à pós-graduação? Como transformar as atividades do PET em meios e condições para que o petiano tenha sucesso no mercado de trabalho? Para a sua elaboração, primeiramente, foi feita uma reflexão sobre a filosofia do programa para, posteriormente, refletir sobre o mundo do trabalho e sua ligação com a formação e, por fim, organizou-se um questionário que foi aplicado aos ex-petianos no sentido de subsidiar as reflexões por meio da narrativa de suas experiências com o programa. Finalizando o livro, o sétimo capítulo versa sobre as realidades dos grupos do Programa de Educação Tutorial na Universidade Federal de Goiás (UFG), as várias leituras do PET, com suas concepções, e as perspectivas do programa. Destaca as vertentes trabalhadas pelos grupos da UFG em busca da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, visando à formação de profissionais éticos, críticos e, acima de tudo, cidadãos. O diálogo entre os capítulos do livro é determinante no resultado apresentado neste capítulo, avaliando criticamente o histórico, o desenvolvimento e as perspectivas do programa no cenário da UFG, incluindo depoimentos de gestores e tutores dos grupos. Ao final, 10 | 11

busca promover uma síntese, além de fornecer informações para subsidiar uma construção dialogada que perpasse autores e leitores. Realizada essa breve descrição dos capítulos, vale ressaltar que os protagonistas do Programa de Educação Tutorial, os “petianos”, trazem consigo a vivência, a experiência compartilhada, as ações desenvolvidas, enfim, o universo PET. Por isso, por toda a obra, depoimentos de alunos que hoje participam dos grupos PET da UFG – e também de alunos egressos destes grupos – são evidenciados, fortalecendo o alcance dos conteúdos desenvolvidos. Fruto da coletividade PET da UFG, este livro revela a vontade que as pessoas envolvidas com o programa têm de vê-lo crescer de modo continuado e consistente, contribuindo para o desenvolvimento da universidade em seus diferentes campos de atuação. Os autores

sumário

15 Apresentação 19 Capítulo 1 PET: do treinamento à educação tutorial

39 Capítulo 2 O PET e as políticas públicas

55 Capítulo 3 O PET na integração da tríade ensino, pesquisa e extensão

71 Capítulo 4 Programa de Educação Tutorial: formação diferenciada na graduação

Capítulo 5

89 Educação tutorial como diferencial formativo: concepções em construção na Universidade Federal de Goiás

107 Capítulo 6 Programa de Educação Tutorial na Universidade Federal de Goiás: as dimensões do trabalho e da formação

131 Capítulo 7 Reflexões finais: realidades, concepções e perspectivas na UFG

APRESENTAÇÃO

O livro O Programa de Educação Tutorial na UFG – realidades, concepções e perspectivas vem preencher uma lacuna no que diz respeito ao resgate da história desse programa na Universidade Federal de Goiás, bem como de seus precursores, dando voz àqueles que acreditaram e que se dispuseram a, em 1994, começar aqui a trajetória do PET, que teve a sua ampliação a partir de 2006, com a constituição de novos grupos. As universidades brasileiras vivem na atualidade uma realidade de demandas constantes, tanto no que diz respeito a programas e projetos a serem implementados por estas instituições, quanto no que tange aos desafios postos para os processos formativos, cada vez mais impactados pelos avanços científicos e tecnológicos e pela velocidade da produção e socialização do conhecimento. O PET/UFG se insere nesse contexto e busca, por meio da articulação do ensino, da pesquisa e da extensão, promover ações que qualifiquem cada vez mais a formação profissional em todas as suas dimensões: científica, técnica, humana, ética e socialmente referendada. Atuantes nesse contexto e partícipes dessa história, os autores abordam com maestria a concepção de treinamento e sua evolução para a

concepção de Educação Tutorial, analisam o PET no contexto das políticas públicas e na perspectiva de integração da tríade ensino, pesquisa e extensão, destacam as perspectivas de uma formação diferenciada na graduação por meio do programa, passando pelas dimensões do trabalho e da formação e concluem refletindo sobre a realidade, as concepções e as perspectivas do PET na UFG. Escrito a várias mãos, cada capítulo reaviva a história, as lutas, embates e debates em prol da consolidação do Programa na UFG e no país, bem como as conquistas, muitas vezes expressas nos depoimentos apresentados ao longo do livro, por alunos que fizeram parte do programa. Atuantes, tutores e petianos se inserem nas discussões locais, regionais e nacionais, por meio da participação nos respectivos encontros e, principalmente, por meio da discussão e reflexão crítica sobre o papel, as características e os desafios postos para o programa em um contexto de expansão das universidades federais. Vale ressaltar a compreensão manifestada pelos autores de que o PET pode intervir de forma criativa no ambiente acadêmico por meio de suas ações, como também contribuir para a efetivação de mudanças na sociedade, para além tão somente de uma formação diferenciada.

O Programa de Educação Tutorial na UFG

Por fim, este livro, produzido de forma tão coletiva, retrata uma das características que se procura implementar no cotidiano do PET: o trabalho coletivo. É uma boa amostra para os interessados sobre o que é o programa, sua natureza, objetivos, fragilidades e potencialidades, como também um excelente retrato da trajetória do Programa de Educação Tutorial na Universidade Federal de Goiás. Goiânia, dezembro de 2013.

Sandramara Matias Chaves Pró-reitora de Graduação

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CAPÍTULO I

PET: do Treinamento à Educação Tutorial

Autores Maria Alves Barbosa Tutora do PET Enfermagem, UFG – Câmpus Goiânia Ellen Synthia Fernandes de Oliveira PROGRAD/UFG – Interlocutora do PET Romualdo Pessoa Campos Filho Ex-tutor do PET Geografia, UFG – Câmpus Goiânia Lana de Souza Cavalcanti Ex-tutora do PET Geografia, UFG – Câmpus Goiânia Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira Ex-tutora do PET Geografia, UFG – Câmpus Goiânia

O Programa de Educação Tutorial na UFG

Introdução Na década de 1970 do século XX, o ensino superior no Brasil era pautado principalmente pela Lei nº 5.540/1968 (Reforma Universitária de 1968), a qual, entre outros aspectos, extinguia a cátedra, instituía o vestibular classificatório, os cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, aglutinava as faculdades em universidades e criava o sistema de créditos. A partir daquela época, houve um processo de privatização sem precedentes do ensino no Brasil, e esse posicionamento teve continuidade e reflexos na sua qualidade nas décadas seguintes (Figueiredo, 2005). O Programa de Educação Tutorial (PET), destinado a apoiar grupos de alunos que demonstrassem potencial, interesse e habilidades destacadas em cursos de graduação das Instituições de Ensino Superior, idealizado pelo professor Claudio de Moura Castro, ex-diretor geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi criado no ano de 1979, denominado à época Programa Especial de Treinamento (DESSEN, 1995). 20 | 21

Dentre as justificativas para a sua criação, encontrava-se a busca de melhoria do ensino de graduação e a qualidade dos cursos de pós-graduação, visando suprir, por meio da formação acadêmica, necessidades nas diversas áreas do conhecimento científico e tecnológico do país.

Desde a minha primeira experiência profissional, como egresso do curso de Geografia, percebi que a experiência petiana havia me proporcionado noções de trabalho em grupo, liderança, autonomia e maturidade crítica. No atual trabalho, como servidor técnico-administrativo da UFG, essa experiência é ainda mais recorrente, devido à intimidade que havia construído outrora com o ambiente acadêmico. Leandro Caetano de Magalhães (egresso do PET Geografia)

Segundo Dessen (1995), a avaliação qualitativa do programa divide-se em fases, sendo denominada fase experimental (1979-1985) aquela em que ocorreu a implantação dos grupos a convite da Capes. A fase seguinte foi nomeada institucionalização (1986-1989), quando o PET passou a ser gerenciado em dois níveis: na Coordenadoria de Bolsas no País – denominação então existente na estrutura organizacional da Capes – e gerenciado também nos estabelecimentos de ensino superior. A fase expansão desordenada (1990-1992), caracterizou-se pelo aumento do número de grupos em relação à infraestrutura humana e material proporcionado pela agência de fomento. A quarta fase, consolidação (1993-1994), foi caracterizada pela reorganização do PET. Müller (2003) acrescentou uma quinta fase ao histórico do PET: a desestruturação do programa e articulação do movimento. Esta fase subdivide-se em duas: a primeira, que se caracterizou pela desestruturação do Programa internamente (1995-1997), e a segunda, a

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partir de 1998, decorrente desta, que deu espaço à articulação do Movimento em Defesa do PET. Em 1995, houve o lançamento do “Manual de orientações básicas PET” e, em dezembro de 1996, foi promulgada a Lei nº 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que sugeria a utilização de metodologias inovadoras de forma que levasse o aluno a construir seu conhecimento, sem depender exclusivamente do professor. Considera ainda que a educação precisa ser contextualizada, e as competências dos acadêmicos possam ser desenvolvidas com autonomia, mas de forma criteriosa, uma vez que o processo ensino-aprendizagem se estabelece por meio da observação, da reflexão e da teorização (USP, 2009). Nesse contexto, pode-se dizer que existe grande sintonia entre a atual concepção filosófica e os objetivos do PET com o que preconiza a LDB vigente no Brasil. Diferentemente de suas origens, o Programa de Educação Tutorial permite o desenvolvimento de habilidades para resolver problemas e o desenvolvimento do pensamento crítico entre os bolsistas, em contraste com o ensino centrado principalmente na memorização de fatos e informações. O PET de hoje visa oferecer uma formação acadêmica de excelente nível, pretendendo colocar no mercado de trabalho um profissional crítico e atuante. Para tanto, estimula a realização de pesquisas, a integração acadêmica com a futura atividade profissional e, para melhorar o ensino de graduação, propõe o desenvolvimento de novas práticas e experiências pedagógicas. Desta forma, os bolsistas PET, muitas vezes, são impulsionados a atuar como agentes multiplicadores de experiências e conteúdos 22 | 23

adquiridos, disseminando novas práticas entre a comunidade acadêmica e junto à população geral. Esse formato de aprender fazendo configura a indissociabilidade da tríade Ensino-Pesquisa-Extensão que deve estar sempre presente no planejamento de atividades de um grupo PET.

O PET na UFG Na Universidade Federal de Goiás (UFG), a Educação Tutorial por meio do PET teve inicio nos anos 1990, com a implantação do PET Geografia (1994) e de Enfermagem (1995), ambos em Goiânia. A prof.ª dr.ª Maria Iêda Almeida Burjack foi a primeira tutora do PET Geografia e a prof.ª dr.ª Maria Alves Barbosa, do PET Enfermagem. Com a política de expansão dos Grupos PET pela SESu, foram criados novos grupos na UFG: em 2006, por edital, foi aprovada a proposta para o curso de Engenharia de Alimentos construída pelo prof. dr. Celso José de Moura. Em 2007, outros dois grupos PET foram criados, sendo um do curso de Matemática, proposto pelo prof. dr. José Pedro Machado Ribeiro e o outro do

curso de Nutrição, cuja primeira tutora foi a prof.ª dr.ª Estelamaris Tronco Monego. No ano de 2010, foram contempladas cinco novas propostas, sendo então criados os seguintes grupos com seus respectivos tutores: PET Licenciatura Intercultural Indígena (Conexões de Saberes), pelo prof. dr. Rogério Ferreira; PET Ciências Biológicas, prof.ª dr.ª Renata Mazaro e Costa; PET Enfermagem (Câampus Jataí), prof.ª dr.ª Paula Regina de Souza; PET Cidade de Goiás, que envolve os cursos de Direito, Serviço Social e Filosofia, prof.ª dr.ª Maria Meire de Carvalho e o PET Engenharias (Conexões de Saberes), envolvendo os cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia de Computação e Engenharia Mecânica, prof. dr. Getúlio Antero de Deus Júnior. Desta forma, a UFG conta em 2013 com dez Grupos PET. Nos últimos editais de seleção de grupos PET, observa-se uma tendência da política governamental em estimular a vinculação dos grupos às áreas prioritárias e às políticas públicas de desenvolvimento, assim como a correção de desigualdades sociais regionais e a interiorização do programa. São oportunas as ações acadêmicas para reduzir a evasão de estudantes no âmbito dos cursos de graduação, para a criação de estruturas institucionais e pedagógicas adequadas à permanência

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de estudantes negros, pardos e índios, bem como de estudantes em condições de vulnerabilidade social e econômica na universidade, e também para a democratização do acesso ao ensino superior. Vale ressaltar que, ainda na fase de consolidação dos grupos na UFG, a comunidade acadêmica e, principalmente, os coordenadores dos respectivos cursos percebiam que o programa propiciava o desenvolvimento pessoal ao mesmo tempo em que oferecia oportunidade para uma formação de excelência aos seus bolsistas. Percebiam também que a integração entre bolsistas, outros acadêmicos e corpo docente era estimulada, motivando bolsistas e não bolsistas a participarem de atividades diferenciadas. Desde o início, a tutoria é considerada um elemento fundamental no desenvolvimento do grupo e de cada aluno individualmente, uma vez que, ao observar as potencialidades dos alunos, é possível orientá-los e contribuir para que eles construam seus próprios caminhos. Com a ampliação dos grupos PET na UFG, percebe-se hoje a sua importância, por meio da influência que o programa exerce nos cursos, atraindo o interesse de toda a comunidade acadêmica em também constituir novos grupos, o que já ocorre de modo permanente.

O PET é uma oportunidade ímpar para os alunos, pois permite que os mesmos ampliem os horizontes da mente, seja no desenvolvimento de projetos, seja no convívio social. Laura Vitória Rezende Dias (egressa do PET Engenharias – Conexões de Saberes) 24 | 25

Do risco de extinção do programa à sua reestruturação O PET tem uma história marcada pela luta e perseverança quanto à sua sobrevivência. Desde 1997, havia indícios de extinção do programa evidenciados por parte do MEC, inicialmente pela Capes e posteriormente pela SESu, caracterizados por atrasos no pagamento de bolsas aos alunos, não pagamento de bolsas a tutores, paralisação no processo de expansão dos grupos no país e insinuações de mudança do programa (MARTIN, 2005). Em decorrência das políticas adotadas na década de 1990, o Ensino Superior no Brasil sofreu o impacto do sucateamento das universidades públicas pelos cortes de verbas, pela não abertura de concursos públicos para professores e funcionários técnico-administrativos e também pelo risco de extinção dos programas destinados especificamente para a graduação, incluindo o então Programa Especial de Treinamento (FIGUEIREDO, 2005). O PET foi e é muito importante para minha formação profissional e pessoal, todo o sucesso e elogios que alcanço são frutos de um trabalho anterior de preparo, de estudo, de pesquisa que o PET me possibilitou. Laís Gonçalves Vitorino (egressa do PET Direito / Serviço Social / Filosofia – Cidade de Goiás)

Para constatar o real impacto do programa na melhoria dos cursos de graduação, a Capes solicitou avaliações externas, sendo uma realizada pelo Núcleo de Pesquisa do Ensino Superior da USP (Nupes/USP) e outra por uma comissão composta de três tutores,

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consultores de área do programa, acrescida de mais três professores sem vínculo com o PET. As avaliações se basearam nos resultados práticos da execução das atividades como, por exemplo, desempenho acadêmico, tipo e quantidade de atividades desenvolvidas e comparação quantitativa entre bolsistas PET, bolsistas de iniciação científica e alunos não bolsistas. Mesmo com os resultados sendo extremamente satisfatórios, a continuidade do PET ainda estava ameaçada (USP, 2009). No ano de 1997, correspondência enviada pela Capes às Instituições de Ensino Superior informava sobre a redução em 50% do número de bolsistas e de verbas destinadas ao Programa (MÜLLER, 2003). Permaneci na tutoria do PET-Geografia até 2002, portanto foram cinco anos, dos quais em sua maior parte, vivenciado por momentos de crise do programa. (Depoimento da prof.ª dr.ª Celene C. M. A. Barreira, ex-tutora do PET Geografia)

Em março de 1999, o PET teve sua extinção anunciada com o Ofício Circular nº 030/99/PR/Capes, que colocava 31 de dezembro de 1999 como data limite de funcionamento do PET (USP, 2009; BOLETIM PET, 1999; FIGUEIREDO, 2005). Aquele período foi marcado por uma árdua e difícil tarefa pela manutenção do PET no país. Tudo indicava que o PET estaria fadado a desaparecer. Mas as lutas travadas em vários momentos, numa demonstração por parte dos petianos de que essa não seria uma decisão a ser aceita pacificamente, 26 | 27

começou a fazer mudar as projeções que davam praticamente como certo uma mudança que significava profunda desfiguração na concepção do programa. (Depoimento do prof. Romualdo Pessoa Campos Filho, ex-tutor do PET Geografia) Creio que a articulação nacional dos programas foi algo inédito e diferenciado naquele momento da vida nacional e das Universidades. (Depoimento da prof.ª dr.ª Celene C. M. A. Barreira, ex-tutora do PET Geografia)

Neste conturbado ano de 1999, configurando uma ação de resistência diante do quadro de desvalorização do Programa, foi criada a Comissão Executiva Nacional do PET (Cenapet). A intenção da nova entidade era fortalecer os grupos por meio de um movimento representativo de tutores e alunos o qual pudesse estabelecer efetiva interlocução com os organismos federais responsáveis pelo programa. A Cenapet traz em seu regimento o princípio de defender os interesses e a filosofia do PET, bem como congregar os grupos, procurando estimular amplo debate acerca das questões que direta ou indiretamente dizem respeito à sua sustentabilidade em âmbito nacional. A articulação do segmento organizado do PET junto à sociedade, com o apoio do Congresso Nacional, revogou a decisão de se extinguir o programa por meio do Ofício da SESu 13300/SESu/MEC, Brasília, em 11 de novembro de 1999 (MARTIN, 2005). Em dezembro de 1999, o Programa foi transferido da Capes para Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC), ficando, a partir do ano 2000, sob a responsabilidade da Coordenação de Relações Acadêmicas

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da Graduação do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior – Depem (BRASIL, 2006). Esse período de transição novamente gerou dúvidas e questionamentos quanto à viabilidade do programa, indicando a necessidade de se manter a luta de tutores e bolsistas com setores do governo, em meio a dificuldades para a sua manutenção. A primeira década do século XXI manteve dúvidas quanto à sobrevivência do programa. As perspectivas não eram boas e diversos grupos no país se organizaram e, utilizando-se dos meios de comunicação disponíveis, dentre eles o canal de comunicação PETBR, que foi responsável pela sustentação do Movimento em Defesa do PET, articulando estratégias em defesa da continuidade do programa no meio universitário (MÜLLER, 2003). Essa luta levou o Programa a novos patamares. Talvez por se tratar de um programa visivelmente qualificado, proativo, o PET encontrava oposições mesmo dentro das instituições onde se inseria. Foi preciso, mesmo com uma mudança radical em termos de política governamental, manter o mesmo ritmo, pois se descobria que mesmo dentro de instâncias superiores do governo havia quem questionasse o programa e o considerasse elitista, conforme opinião expressa pelo então Ministro da Educação, Cristovam Buarque, em uma reunião da Executiva Nacional do PET no Ministério da Educação. O entendimento de que a luta não seria fácil reforçou a concepção e as orientações da Comissão Executiva Nacional em Defesa do PET de que seria preciso intensificar as mobilizações e buscar uma atuação 28 | 29

política em outras frentes. E assim foi feito. As manifestações de petianos ocorreram permanentemente em Brasília, acompanhadas de negociações junto a várias comissões parlamentares, redundando na criação de um grupo de apoio, composto de parlamentares que passaram a abraçar a causa petiana. Entretanto, a articulação também aconteceu em várias audiências realizadas em Assembleias Estaduais (RS, SC, PR, SP, MG, GO, PA), para discutir a questão do PET e externar apoio ao programa. Isto causou boa repercussão estadual e nacional (MÜLLER, 2003). Foi grande a participação dos alunos e tutores da Universidade Federal de Goiás, mas houve também apoio institucional e a localização geográfica de Goiânia facilitava o comparecimento dos petianos às reuniões em Brasília. (Depoimento da prof.ª dr.ª Maria Alves Barbosa, tutora do PET Enfermagem – Câmpus Goiânia)

A participação no grupo faz com que aprendamos a cada dia conviver com diferentes pensamentos e nos ensina a trabalhar em grupo, sempre respeitando a opinião do outro, uma vez que esse trabalho requer muita paciência e flexibilidade. Gabriela Rodrigues Alves (egressa do PET Enfermagem – Jataí)

Também foi necessário reforçar o apoio junto à Academia, tanto entre os reitores, através da Andifes, como entre os cientistas brasileiros. Para tanto, foi fundamental o VII Encontro Nacional dos Grupos PET (Enapet), que aconteceu em 2002 em Goiânia. Coincidindo com a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Enapet ocupou importantes espaços e conseguiu a visibilidade

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necessária para garantir a aprovação na Assembleia Geral da SBPC que suas atividades futuras ocorreriam paralelas a esse importante evento anual. Apesar de mudanças posteriormente ocorridas na sintonia entre SBPC e Enapet, a junção desses dois eventos significou um importante apoio à luta petiana. O Enapet tem como finalidade discutir temas importantes acerca da manutenção e do desenvolvimento do programa. Acontecem em locais variados e, nesta oportunidade, a comunidade petiana apresenta sua produção acadêmica, podendo, desta forma, contribuir para o desenvolvimento científico e social por meio de reflexões e trocas de experiências entre tutores e bolsistas de todo o país, além de outros palestrantes especialmente convidados para abordagem da temática proposta pelo evento. Quadro 1 – Lista de locais de ano de ocorrência dos Encontros Nacionais dos Grupos PET (Enapet). I ENAPET II ENAPET III ENAPET IV ENAPET V ENAPET VI ENAPET VII ENAPET VIII ENAPET IX ENAPET X ENAPET XI ENAPET

São Paulo Belo Horizonte Natal Porto Alegre Brasília Salvador Goiânia Recife Cuiabá Fortaleza Florianópolis

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 30 | 31

XII ENAPET XIII ENAPET XIV ENAPET XV ENAPET  XVI ENAPET XVII ENAPET XVIII ENAPET

Belém Campinas Manaus Natal Goiânia São Luís Recife

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Aos poucos, e graças à determinação de bolsistas e tutores, mesmo diante de tantas adversidades, e principalmente devido a essa insistência, o quadro começou a mudar. Os encontros nacionais de petianos e as ênfases mantidas nas palavras de ordens que reforçavam a necessidade de manutenção desse importante programa foram derrubando as resistências e dando uma nova configuração ao PET, reforçando-o em suas características, tornando-o um programa tutorial, efetivamente, e abrindo-se para o surgimento de outros grupos, situação que se manteve paralisada por muito tempo. (Depoimento do prof. Romualdo Pessoa Campos Filho, ex-tutor do PET Geografia)

A experiência do PET Geografia, que atuava em parceria com o PET Enfermagem, demonstra o grau de resistência e de persistência, acreditando que seria possível reverter um quadro negativo que se estendia pela década de 1990 até o início dos anos 2000. Na Enfermagem, o grupo permaneceu inseguro, mas coeso, fazendo seus planejamentos e relatórios de atividades e participando ativamente

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das atividades do movimento nacional na luta pela manutenção do PET, juntamente com o tutor e os bolsistas do curso de geografia. Os diretores dos cursos, participando de reuniões em Brasília, diziam aos tutores: O PET foi extinto. Esta declaração doía na alma, mas nós confiávamos numa saída exitosa para o PET. (Depoimento da prof.ª dr.ª Maria Alves Barbosa, tutora do PET Enfermagem – Câmpus Goiânia)

Por muito tempo permaneceu suspenso o pagamento aos tutores, enquanto as bolsas dos petianos atrasavam durante meses, sendo que o pagamento acumulado nem sempre significava a correção dos valores. Isso fazia com que fosse necessário encontrar alguma forma de manter os estudantes em dedicação exclusiva, o que nem sempre era possível. A instabilidade financeira preocupava, e era um fator que muitas vezes dava a impressão de que o programa não sobreviveria. De acordo com a professora Lana de Souza Cavalcanti, ex-tutora do PET Geografia, É um programa mais amplo quando comparado com os demais programas, pois não se fixa em um formato só de pesquisador, e sim de proporcionar o desenvolvimento de habilidades de um

Considero o PET mais do que uma atividade extracurricular, como diversas outras existentes na academia. O PET é defendido por muitos de seus apaixonados petianos – aqui me insiro como uma – como uma “filosofia de vida”. Mariana de Morais Cordeiro (egressa do PET Nutrição) 32 | 33

profissional que aprende a trabalhar em equipe com atividades coletivas, o “petiano” tem a oportunidade de vivenciar e lidar com desafios e ter atitudes que o diferenciam na sua formação como um todo, o que não encontraria em outros espaços.

O PET vem buscando reverter o “pensamento elitista” da época em que a criação de grupos estava voltada para um treinamento especial visando à formação de futuros pesquisadores. Um programa ainda com atividades e ações envolvendo estudantes dentro de um mesmo curso, ou seja, para poucos, e ainda tinha que conviver com algumas críticas, pois se descobria que, mesmo dentro do próprio curso, havia quem questionasse o programa e o considerasse elitista. (Depoimento da prof.ª dr.ª Lana de Souza Cavalcanti, ex-tutora do PET Geografia)

No ano de 2005, o Programa de Educação Tutorial foi oficialmente instituído pela Lei nº 11.180/2005 e regulamentado inicialmente por meio das Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006, nº 1.046/2007 e outras posteriores. A regulamentação do PET define como o programa deve funcionar, qual a constituição administrativa e acadêmica, além de estabelecer as normas e a periodicidade do processo de avaliação nacional dos grupos. Atualmente, o PET procura ampliar suas ações, aprofundando a formação de jovens universitários não só como pesquisadores, mas extensionistas, visando sua intervenção qualificada em diferentes espaços

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sociais, em particular, na universidade, e em comunidades populares. Vislumbra-se assim efetivar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Considerações finais A relação tutor-aluno no PET não assume funções de amparo, proteção ou defesa, mas de estímulo à busca de possibilidades, oportunizando ao aluno a ampliação do seu próprio conhecimento. O aumento da dimensão do próprio trabalho desenvolvido e o desenvolvimento da atividade em equipe – enriquecido com a discussão, a reflexão, a troca e a satisfação do trabalho conjunto – são potencialidades da educação tutorial. À época da implantação dos primeiros grupos PET na UFG, considerava-se que cada curso deveria e poderia criar seu próprio grupo dentro de suas condições de operacionalização, especificidades e necessidades. Atualmente, o PET pode ser interdisciplinar, não necessariamente vinculado a um curso específico, sendo esta uma alteração importante em relação às concepções iniciais do programa. Cada grupo contribui à sua maneira para a valorização e dinamização das ações na graduação dentro da universidade. Por fim, a história do PET revela que ele sobreviveu por meio da persistência e de muitas lutas, que não podem ser esquecidas. A geração de estudantes e tutores que suportaram os momentos de maiores 34 | 35

dificuldades deve ter o reconhecimento de todos os que passam pelo programa. Os que se inseriram no PET no início dos anos 2000 puderam observar outra realidade, pois conviveram com a consolidação e expansão de um programa que deve ser sempre defendido como eficaz para uma formação cidadã, garantindo a transição dos estudantes para a pós-graduação e uma entrada reflexivo-crítica no mercado de trabalho. O aprender fazendo, no PET, ocorre dentro de uma concepção que garante a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, e, principalmente, a base daquilo que é o sustentáculo da educação pública e de qualidade: o tripé ensino, pesquisa e extensão. Teria sido um grave erro a extinção do PET, pelo que ele significa para jovens que se dedicam integralmente durante sua graduação a comporem um perfil de estudantes que visa garantir mais qualidade ao curso de graduação, podendo elevar a universidade a níveis desejáveis em termos de aproveitamento e qualificação dos seus alunos.

Referências DESSEN, Maria Auxiliadora. O Programa Especial de Treinamento – PET: evolução e perspectivas futuras. Didática. São Paulo, n. 30, 1995. p. 27-49. FIGUEIREDO, Erika Suruagy A. de. Reforma do ensino superior no Brasil: um olhar a partir da história. In: Revista da UFG - Tema Ensino Superior, Órgão de divulgação da Universidade Federal de Goiás, ano VII, n. 2, dezembro, 2005, Disponível em:

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MARTIN, Maria da Graça Moraes Braga. O Programa de Educação Tutorial-PET: formação ampla na graduação. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Paraná, Santa Catarina. 2005. BOLETIM PET: informativo do grupo PET da engenharia civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Extinção do Programa Especial de Treinamento-PET, Porto Alegre, n. 12, set. 1999. Disponível em . Acesso em: 30 set. 2013. MÜLLER, Angélica. Qualidade no ensino superior: a luta em defesa do Programa Especial de Treinamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 176 p. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Pró-Reitoria de Graduação. Programa de Educação Tutorial PET/USP: Projeto de políticas e diretrizes pedagógicas 2009. São Paulo, 2009. 69 p. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2013.

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CAPÍTULO II

O PET e as políticas públicas

Autores

Colaboradores

Maria Alves Barbosa Tutora do PET Enfermagem, UFG – Câmpus Goiânia

Alex Borges Sodré; Maria Gabriela Lopes de Sousa; Thais Eugênia de Sousa; Brunna Rodrigues de Lima; Camila Canhete Ferreira; Daiany Padilha Vaz; Gabriela Torres Reis; Haissa Esmeraldo Silva de Lima; Iohanna Maria Guimarães Dias; Isabela Silva Levindo; Joana D’arc da Costa Ferreira; Julyana Calatayud Carvalho; Rayanne Rodrigues Fernandes; Sâmylla de Souza Marciano; Tanielly Paula Sousa; Vanessa Romeiro Vasco.

Maria Meire de Carvalho Tutora do PET/CCG, UFG – Câmpus Cidade de Goiás Flavio Pereira Diniz CIDARQ – UFG Rogério Ferreira Tutor do PET Educação Intercultural, UFG – Câmpus Goiânia

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Introdução

Para discutir as ações do PET e as políticas públicas faz-se necessário entender que, por um longo período, o acesso ao ensino superior no Brasil serviu apenas a uma pequena parcela da população, em sua maioria ligada às classes dominantes. Essa realidade mudou a partir da luta dos movimentos sociais que reivindicaram a efetivação das políticas afirmativas e dos programas de incentivo à educação. É importante ressaltar que o conceito de políticas públicas é aqui entendido como Estado em ação, na perspectiva de que é o Estado o responsável pela implantação de um projeto de governo, por meio de programas e ações voltadas para setores específicos da sociedade. Também é importante destacar que o Estado não pode ser reduzido à burocracia, aos organismos estatais que concebem e implantam as políticas públicas, já que estas são aqui compreendidas a partir de um processo de tomada de decisões que envolve órgãos públicos e diferentes agentes da sociedade 40 | 41

relacionados à política implementada (LIMA et al, 2010). Na dinâmica das sociedades capitalistas modernas, a política social pode se integrar aos interesses conflituosos vigentes, destacando o seguinte aspecto: [...] para a explicação da trajetória evolutiva da política social, precisam ser levadas em conta fatores causais concomitantes tanto com as exigências quanto com as necessidades, tanto problemas da integração social quanto problemas da integração sistêmica, tanto a elaboração política de conflitos de classe quanto a elaboração de crises do processo de acumulação. (OFFE, 1991, p. 36)

Com o projeto que gerenciei, pude desenvolver minhas habilidades interpessoais. Além disso, aprendi a ser mais crítica em relação às atividades acadêmicas, buscando sempre dar o meu melhor nos trabalhos. Laura Vitória Rezende Dias (egressa do PET Engenharias – Conexões de Saberes)

Neste sentido, as políticas públicas não podem ser reduzidas a políticas estatais, uma vez que se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais.

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Há, portanto, que se salientar a complexidade da implementação e do entendimento das políticas públicas ao longo do processo histórico brasileiro. No que tange à educação superior, atualmente podemos destacar a política de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que buscou a expansão e reestruturação das universidades, bem como a permanência dos estudantes por meio da política da assistência estudantil e o acesso, de forma a contemplar estudantes de baixa renda, escola pública, indígenas e afrodescendentes, por meio da expansão do número de câmpus e vagas nos cursos de graduação. Instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, o Reuni é uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) em reconhecimento ao papel estratégico das universidades federais para o desenvolvimento econômico e social do país. Nessa perspectiva, o Reuni teve como principais objetivos: [...] garantir às universidades as condições necessárias para a ampliação do acesso e permanência na educação superior; assegurar a qualidade por meio de inovações acadêmicas; promover a articulação entre os diferentes níveis de ensino, integrando a graduação, a pós-graduação, a educação básica e a educação profissional e tecnológica; e otimizar o aproveitamento dos recursos humanos e da infraestrutura das instituições federais de educação superior. (REUNI 2008 – Relatório de primeiro ano)

A política do Reuni surge aqui como exemplo de que a efetivação das políticas públicas perpassa por diversas instâncias da sociedade. É dever do Estado garantir os direitos dos cidadãos, portanto, as políticas 42 | 43

públicas precisam estar voltadas para a garantia dos direitos sociais. Para Guareschi (2004, p. 80), as políticas públicas perpassam: [...] conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em di-

A partir desta aproximação inicial à compreensão de múltiplos aspectos que tocam às políticas públicas, cabe contextualizar as estreitas relações existentes entre estas e o PET no âmbito da indissociabilidade das vertentes ensino, pesquisa e extensão preconizada para o ensino superior no Brasil. É nesta direção que caminham as seções subsequentes deste capítulo.

versas áreas. Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público.

Vale ressaltar que quando se atenta para a análise das políticas sociais como benefício para sociedade, faz-se necessário perceber como elas intervêm nas diversas faces da “questão social”, dentre as quais a desigualdade social, a violência, o analfabetismo, a pobreza, a fome, o desemprego e tantos outros. Atualmente no Brasil, o alvo das políticas públicas dirige-se aos grupos em estado de vulnerabilidade. Como exemplos, têm-se as políticas que visam proteger crianças, mulheres, homossexuais e idosos em situações de violência e maus-tratos, garantindo a plenitude de seus direitos. Há também políticas que planejam e executam meios para a inclusão social de negros, indígenas e pessoas que provêm de renda familiar baixa.

O PET no contexto das políticas públicas Diversos grupos PET implantados na Universidade Federal de Goiás trabalham com situações de vulnerabilidade existentes na sociedade, voltando suas ações para temáticas relacionadas aos direitos sociais, discutindo gênero, direitos humanos, diversidade sociocultural e sexualidade. Pensar os grupos PET em sintonia com as políticas públicas é ir para além da responsabilidade social, já que o conhecimento precisa ter caráter libertário. Dessa maneira, a premissa é que não haja acomodação diante da situação posta, mas sim cobrança da efetivação de políticas públicas que atendam aos direitos do cidadão. Essas políticas devem ser orientadas para diversos segmentos com a perspectiva de controlar e atenuar a situação de vulnerabilidade do cidadão.

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Os grupos PET, portanto, assumem o importante papel de trabalhar a favor da efetivação supracitada. As atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão, presentes nas ações dos grupos PET, têm contribuído para o trabalho de conscientização da população em geral quanto aos seus direitos fundamentais. Muitas destas atividades são operacionalizadas por meio de oficinas temáticas, buscando efetivar um diálogo crítico diretamente com a sociedade. Logo, para sustentar ações dos grupos PET, é essencial se ter consciência de que políticas públicas implicam em considerar a inclusão social. No Brasil, essas políticas puderam se efetivar após a Constituição Federal de 1988, denominada, inclusive, como “constituição cidadã”, pelo seu caráter de revolucionar vários aspectos da vida social do indivíduo. A Constituição busca, em sua essência, não excluir qualquer necessidade de direitos. Sendo assim, as políticas públicas hoje são feitas baseadas nestes princípios fundamentais. Principalmente na última década, o governo federal conseguiu um quadro de mudanças que mostra essa característica essencial da inclusão, principalmente dentro das universidades, com a implantação da política de cotas e de distintos programas voltados à dinamização dos processos inclusivos. Com as mudanças regimentais ocorridas no PET ao longo de sua história, o programa hoje se volta de modo importante para o contexto da inclusão. Com o novo cenário governamental, grupos sociais que até então se encontravam em situação de vulnerabilidade histórica e social possuem, na atualidade, maiores oportunidades 44 | 45

de acesso e permanência no ensino superior público e de qualidade. Apesar da amplitude de direitos do cidadão, os problemas sociais são complexos e, por isso, devem ser tratados de forma coletiva, reconhecendo as desigualdades existentes. Daí a relevância da efetivação das políticas públicas no atendimento às necessidades individuais e coletivas. Em relação ao ensino superior, espaço em que se organizam os grupos do PET, é importante denunciar o equívoco histórico de se conceber a universidade como meio de impor o conhecimento produzido, visto que ela tem o importante papel de facilitar sua construção em conjunto com a sociedade, rompendo com os muros que existem nessa relação.

O aluno petiano deve estar sempre atento a tudo que o cerca, ele não se foca em apenas um ramo, ele é capaz de pensar a universalidade para várias hipóteses. Laís Gonçalves Vitorino (egressa do PET Direito / Serviço Social / Filosofia - Cidade de Goiás)

Atualmente, as universidades buscam romper com o caráter assistencialista, passando a contribuir com a sociedade por meio do desenvolvimento de projetos fundamentados em problemas sociais concretos, situados no tempo presente e em sintonia com a realidade vivenciada pelas comunidades, exercendo assim as chamadas políticas públicas inclusivas. Cabe destacar que o PET tem hoje importante função no que tange ao fortalecimento dessa busca. Esse entendimento é compartilhado pela maioria dos alunos egressos do programa, fato que ficará mais explicitado na próxima seção.

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Percepções do aluno egresso do PET na UFG Os caminhos trilhados pelos egressos de grupos PET da UFG indicam que ocupam papéis diferenciados nos espaços em que atuam, com destaque para as ações diretamente relacionadas com as políticas públicas. Nesta seção, serão colocados em foco alguns depoimentos desses egressos, buscando estabelecer um diálogo entre os seus entendimentos e as reflexões acerca do tema central do capítulo. Os depoentes, no entanto, não serão identificados, em função de um acordo de anonimato previamente estabelecido. O PET tem um compromisso social de apresentar resultados de suas pesquisas e projetos, e desenvolver ações sociais em benefício da comunidade.

Partindo desta compreensão, o aluno egresso considera ainda que existem várias formas de executar essas ações para que elas dialoguem com as políticas públicas vigentes: [...] uma delas é fazer parcerias com a prefeitura, para que mais ações sejam executadas na comunidade, desenvolver e aplicar projetos voltados para o benefício comunitário.

As políticas públicas são essenciais para a promoção de atividades que valorizem a sociedade. Para operacionalizar isto, tem-se a atuação importante das universidades. A partir da formação integral trabalhada nos grupos do PET da UFG, os bolsistas desenvolvem o seu potencial para explorar campos extraescolares, envolvendo a população em um 46 | 47

modelo participativo, compartilhando a vida pública com a realidade econômica, social e política de forma autônoma, extrapolando interesses particulares ou limitados a metodologias de ensino antiquadas. Desta forma, torna-se importante que a academia possibilite [...] oportunidades de compartilhar opiniões, conhecimentos, realizando cursos, aulas, projetos voltados para a sociedade, elaboração de pesquisas que beneficiem a comunidade em si.

Em consonância com esta compreensão explicitada pelo aluno egresso, é preciso destacar, especificamente, o papel da extensão universitária, junto a qual se encontram, de modo integrado, ensino e pesquisa. O Programa de Extensão Universitária (Proext), criado pelo Ministério da Educação em 2003, tem como um de seus objetivos a vinculação da extensão universitária à implementação de políticas públicas sociais prioritárias em diferentes campos. Esta concepção, de extensão universitária vinculada às políticas públicas, está relacionada à construção histórico-social da extensão universitária no Brasil e aos esforços do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex). É a extensão universitária como instrumento de política pública, construída com base em uma proposta de articulação entre a dimensão acadêmica e a dimensão social desta, focada em políticas públicas voltadas para a inclusão social. Entre as políticas sociais, podemos ressaltar: políticas de direitos humanos e de desenvolvimento social e econômico, tais como: atenção integral à família; combate à fome; erradicação do trabalho infantil; combate ao abuso e à exploração sexual

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de crianças e adolescentes; juventude e desenvolvimento social; promoção e/ou prevenção à saúde; violência urbana; desenvolvimento urbano; atenção à pessoa idosa, à pessoa portadora de deficiência e às populações indígenas e quilombolas; garantia dos direitos das mulheres em situação de violência; políticas de redução das desigualdades sociais e promoção da inclusão produtiva; geração de trabalho e renda e desenvolvimento agrário. Abrem-se, portanto, aos grupos PET, ricas possibilidades de atuação, demonstrando sua força como instrumento que pode expandir a universidade para além dos limites de seu espaço físico, agregando-a de modo transformador aos contextos sociais em que ela se insere. Ou seja, o PET contribui para que a universidade cumpra efetivamente seu papel sociopolítico, fator necessário para superação de visões elitistas que ainda hoje ocupam espaços privilegiados na universidade. No que diz respeito à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, trabalhos interdisciplinares vêm sendo efetivados em abordagens pluritemáticas articuladas com políticas públicas de inclusão socioeconômica e/ou sociocultural. Os grupos do PET, portanto, vêm contribuindo com o processo de universalização da justiça social. Reforçam-se, assim, os

No lado pessoal, o convívio com pessoas diferentes; aprender a escutar e debater ideias de maneira respeitosa foram coisas muito importantes. André Luiz Medeiros (egresso do PET Biologia) 48 | 49

princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, ficando evidente a importância de o programa buscar associar-se às políticas públicas vigentes.

As ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pelo PET potencializam a integração da universidade à comunidade em geral, com programas desenvolvidos e voltados para esse fim. Na área de saúde são

As finalidades propostas pela LDB estão ligadas à formação de cidadãos capacitados, qualificados e comprometidos em atender às necessidades da sociedade, estabelecendo com ela uma relação de reciprocidade, contribuindo, assim, para as transformações sociais, propiciando ainda, segundo o aluno egresso: [...] uma ligação direta do PET com as políticas públicas de educação. Um exemplo disso é a realização de pesquisas nessa área que beneficiam a sociedade, apresentando resultados de pesquisas para a comunidade acadêmica, e desenvolvendo projetos voltados à comunidade de estudantes de ensino médio.

Um dos desafios da Universidade é identificar os problemas sociais e definir soluções para auxiliá-los. As ações do PET integram-se a este desafio, na expectativa de proporcionar condições mais favoráveis para o desenvolvimento da população. Nesse sentido, o egresso diz o seguinte:

exemplos os eventos voltados para a conscientização das pessoas quanto à importância da boa alimentação, higiene e saúde, prática de esporte e lazer.

Em sua maioria, os depoimentos dos alunos egressos acenam para a importância sociopolítica do PET. Isso evidencia que, para além do rigor acadêmico-científico, a formação promovida por meio da educação tutorial agrega elementos que multiplicam as potencialidades dos estudantes em formação, estabelecendo um ciclo formativo diferenciado, o qual posiciona estudante e comunidade como protagonistas de ações transformadoras que a um só tempo contribuem para o desenvolvimento da população em geral e o desenvolvimento humano de quem media ações de inclusão.

Considerações finais As reflexões suscitadas neste capítulo buscaram sensibilizar o leitor para o fato de os grupos PET

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terem a oportunidade ímpar de fomentar o aperfeiçoamento das relações humanas e sociais. As possíveis ações que se apresentam aos grupos, em sua diversidade, podem ser operacionalizadas sob a ótica da viabilidade de se aprender fazendo. Neste contexto, além de o PET exercer o seu papel social de modo independente, ele pode também atrelar suas temáticas de ensino, pesquisa e extensão às políticas públicas de inclusão. Essas ações influenciam diretamente nos modos de vida e valores da população, afetando suas relações interpessoais, agindo em prol do conhecimento e do empoderamento da sociedade. Além disso, trabalham a favor dos próprios mediadores das ações, visto que estes se formam por meio do trabalho colaborativo, do compartilhamento, da solidariedade, enfim, de valores que potencializam sua formação geral. É nessa direção que um egresso do PET da UFG aponta que “é importante percebermos que o grupo tem como objetivo auxiliar a formação de colegas da graduação, além de atingir a comunidade em geral”. Pode-se então identificar a importante relação do PET como articulador da aproximação dos acadêmicos ao cotidiano da comunidade, desenvolvendo o olhar crítico dos petianos para os problemas reais da população. Neste contexto, ressalta-se o fato de o PET ter como função formar profissionais diferenciados, social, política e culturalmente engajados. Neste processo formativo, é importante articular desenvolvimento acadêmico e interação modificadora com a comunidade, “contribuindo com os valores morais, éticos e sociais”, como diz um egresso do PET da UFG. Por fim, é importante dizer que o conhecimento produzido no PET tem força suficiente para impelir à modificação da coletividade de acordo com 50 | 51

as necessidades vigentes. Inseridos nas universidades, os grupos do PET guardam estreita relação com as políticas públicas, possibilitando a emancipação tanto dos petianos quanto da sociedade envolvida. Logo, quanto mais as ações do Programa buscarem essa aproximação, mais resolutivas serão suas ações, modificando de forma criativa o ambiente acadêmico e contribuindo para a transformação qualitativa da sociedade.

Referências BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 9.ed. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9394. Brasília, 1996. ________. MEC. Reuni 2008 – Relatório de primeiro ano. Disponível em: . Acesso em 23 Nov. 2013. COSTA, F.J. Política pública voltada ao incentivo do ensino, pesquisa e extensão da educação superior brasileira: o caso do PET – Programa de Educação Tutorial. 48 f. 2011. Monografia (Bacharelado em Administração)—Universidade de Brasília, Brasília, 2011. FREIRE, D.L.; ANANIAS, S.P. Universidade, diversidade cultural e responsabilidade social: capacitando jovens lideranças em países em reconstrução. Revista de Educação do Cogeime. Ano 21, n. 40, janeiro/

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junho, 2012. Disponível em: . Acesso em 23 Nov. 2013. GUARESCHI, N. Problematizando as práticas psicológicas no modo de entender a violência. In: STREY, Marlene. (Org.). Violência, gênero e políticas públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. LIMA, Paulo Gomes; ARANDA, Maria Alice M; LIMA, Antonio Bosco. Estado, políticas educacionais e gestão democrática da escola no Brasil. Anais do XV ENDIPE. Belo Horizonte, 2010. Disponível em: . Acesso em: 02 Ago. 2013. OFFE, Claus. Algumas contradições do Estado Social Moderno. Trabalho & sociedade: Problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. V. 2, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991.

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CAPÍTULO III

O PET na integração da tríade Ensino, Pesquisa e Extensão

Autores

Colaboradores

Cristiane José Borges Tutora do PET Enfermagem, UFG – Câmpus Jataí

Bruna Fernandes da Silva; Lara Thaiane Souza Pereira; Leticia Lopes Dorneles; Lorrayne Emanuela Duarte da Silva; Mikael Henrique de Jesus Batista; Natália Oliveira de Assis; Norrama Araújo Santos; Odeony Paulo dos Santos; Renata de Souza Cyrino; Samantha Ferreira da Costa Moreira.

Renata Mazaro e Costa Tutora do PET Ciências Biológicas, UFG – Câmpus Goiânia Marise Ramos de Souza PET Enfermagem, UFG – Câmpus Jataí

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Introdução

Esse capítulo tem como objetivo defender a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como base dos projetos do PET no Brasil e na UFG. A temática da indissociabilidade desta tríade nas universidades brasileiras vem sendo discutida no cenário da educação superior há décadas, em especial após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual traz no Artigo 207 que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". A indissociabilidade se refere a algo que não pode ser separado, ou seja, não pode ser desenvolvido ou estudado em partes isoladas. Tauchen e Fávero (2011) consideram este um princípio ao mesmo tempo paradigmática e epistemologicamente complexo. Afinal, demanda o envolvimento e a ampliação das percepções dos sujeitos, os quais terão 56 | 57

de construir relações, interações e interconexões, produzindo conhecimentos a partir dos problemas reais e detectados no contexto social, no qual estão inseridos. E que possam ser acessíveis à formação dos novos profissionais e aos mais variados segmentos da sociedade. Assim, a mudança epistemológica e paradigmática ocorre quando o sujeito, por meio da compreensão da totalidade que constitui a universidade, admite participar e integrar a experiência de autoprodução e de coprodução.

Talvez a resposta esteja na própria “atmosfera” do que é ser PET, em um estímulo constante de se aprimorar, de vivenciar a Universidade em amplitude, em buscar algo para além da graduação. Nos dois anos em que participei do PET meu instinto científico, aqui o geográfico, sempre foi estimulado, seja nos debates, nos grupos de estudos, seja nos eventos acadêmicos, o que me motivou a estender essas experiências a uma pós-graduação. Leonardo de Castro Araújo (egresso do PET Geografia)

A articulação dessa tríade oferece inúmeras vantagens, dentre elas a de ser fator orientador da qualidade da produção universitária, porque propõe como necessária a tridimensionalidade do fazer universitário autônomo, competente e ético, além de possibilitar que o conhecimento científico tenha um diálogo permanente com as demandas sociais. Outra vantagem é o reconhecimento dos limites e das peculiaridades de cada uma dessas três atividades (MOITA; ANDRADE, 2009). É importante ressaltar que se as atividades da tríade forem desenvolvidas de maneira isolada ou apenas em relações duais não contemplarão a formação preconizada nos preceitos legais para a formação de profissionais de nível superior. Ações universitárias que favoreçam apenas a articulação entre o ensino e a

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extensão identificam uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea, porém com carência da pesquisa, a qual é responsável pela produção do conhecimento científico. Por outro lado, se forem associados ensino e pesquisa, ganha-se em avanços científicos, mas se incorre no risco de perder a compreensão ético-político-social conferida quando se pensa no destinatário final desse saber científico, ou seja, a sociedade em geral. E, quando se articula extensão e pesquisa, e se desvaloriza o ensino, perde-se a dimensão formativa que dá sentido à universidade (MOITA; ANDRADE, 2009). Em harmonia com o pensamento dos autores supracitados, compreende-se que o princípio de indissociabilidade da tríade garante a pretendida integração desses saberes com a produção de conhecimento, assim como as características particulares de cada uma das três atividades acadêmicas e a permanente articulação entre elas.

O PET e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão no contexto da graduação é preconizada pelo PET, iniciativa da Capes concretizada em 1979 e posteriormente transferida para a tutela do MEC, na década de 1990. O PET foi criado na perspectiva de atender aos princípios que orientam a indissociabilidade presente nas universidades, além de contribuir para a melhoria da formação acadêmica, tendo como objetivo complementar o ensino superior que, em geral, tem um conjunto qualitativamente 58 | 59

limitado de constituintes curriculares. Portanto, visa potencializar a qualidade dos cursos de graduação, bem como estimular um exemplo de modelo pedagógico para a universidade, de acordo com os preceitos estabelecidos na Constituição Brasileira de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 2006). A Portaria nº 343, de 24 de abril de 2013, tem como escopo alterar dispositivos estabelecidos na Portaria MEC nº 976, de 27 de julho de 2010, a qual dispõe sobre normas e diretrizes do programa. A portaria no 343/2013 reforça a indissociabilidade no PET, sendo que a integração dessa tríade almeja contribuir para o melhoramento da formação acadêmica dos alunos de graduação, bem como formular novas estratégias de desenvolvimento e modernização do ensino superior no país (BRASIL, 2013). Outro aspecto relevante preconizado pela Portaria no 343/2013 é o de que atividades que proporcionam a indissociabilidade propiciam uma atuação profissional pautada pela cidadania e pela função social da educação superior, viabilizando aos discentes envolvidos com o PET várias oportunidades de vivenciar experiências, muitas vezes, não presentes em estruturas curriculares convencionais, o que, consequentemente, favorece uma formação global com ampliação do senso crítico-reflexivo. No cenário universitário, apesar dos anos de lutas e discussões para consolidar o preceito constitucional da indissociabilidade dessa tríade, ainda efetivamente, poucas são as ações acadêmicas que possibilitam o alcance desse objetivo, sendo o PET um dos programas mais significativos para contemplar o princípio.

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Os grupos PET são formados por um tutor, que é um professor com titulação de doutorado ou mestrado, doze bolsistas e até seis voluntários. A criação de um grupo atende ao previsto em um edital elaborado pelo MEC. Atualmente, os candidatos a tutores redigem o projeto para criação de um grupo, dentro das possibilidades existentes nos editais, desde grupos envolvidos com um curso somente de graduação até aqueles que envolvem diversos cursos, denotando um forte caráter interdisciplinar. Esse projeto é então avaliado pela comissão interna da IES, pontuado, e, após esse processo, os projetos melhores pontuados são submetidos ao MEC para concorrer com os demais projetos das várias IES do Brasil. A SESu é a instância final de avaliação e aprovação dos projetos. Nos últimos anos, os grupos do PET tiveram uma expansão em torno de 100%. Mesmo em universidades que possuem grupos PET, é comum observar que existem docentes que priorizam somente o ensino de graduação e/ou de pós-graduação; há aqueles que realizam pesquisas que estão, na maioria das vezes, vinculadas aos programas de pós-graduação (CHAMLIAN, 2003) e, há ainda, os que se dedicam com maior ênfase aos programas de extensão. Segundo Dias (2009), existem professores que realizam práticas de ensino, extensão e pesquisa; no

O maior mérito do PET é justamente essa indissociabilidade entre a pesquisa, ensino e extensão, por permitir uma formação integrada do aluno, para além das práticas profissionais, mas para a vivência humana e social. Mariana de Morais Cordeiro (egressa do PET Nutrição) 60 | 61

entanto, elas são desenvolvidas separadamente, não refletindo o verdadeiro significado de sua indissociabilidade nos cursos de graduação. Os grupos PET buscam desenvolver projetos respeitando a tríade, e essas atividades têm como objetivo oferecer aos alunos uma formação ampla, contribuindo assim para a interdisciplinaridade, a atuação coletiva, o aprimoramento intelectual e a formação cidadã (BRASIL, 2010; SILVA, 2009). O graduando que participa de um grupo PET é capaz de lidar com a diversidade sociocultural presente não somente dentro do ambiente universitário mas também na comunidade de forma geral, desenvolvendo a reflexão crítica, contribuindo para formação contextualizada e articulada no ensino, na pesquisa e na extensão. Por esta razão, o grupo do PET contribui para o processo de formação profissional, primando pela competência tanto no mercado de trabalho convencional como na continuidade da formação acadêmica, e, fundamentalmente, para uma formação cidadã. Vale salientar que, de acordo com Goergen (2010), o foco das atividades desenvolvidas na educação superior, geralmente, não está direcionado para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, que sejam capazes de contribuir para a construção de uma sociedade ética e solidária; o foco, ao contrário, é outro: instruir e habilitar para o mercado de trabalho. Mas, apesar dessa constatação, a perspectiva atual da educação superior se volta para a formação do sujeito autônomo que, embora participante ativo da vida social e econômica, sabe preservar a distância e a capacidade de julgar a partir de critérios referenciados no seu sentido humano. No sentido de atender às reais premissas da formação cidadã é que o grupo PET permite que os participantes sejam atores ativos de todo o processo ensino-aprendizagem.

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A integração entre ensino, pesquisa e extensão buscada pelo PET cria o ambiente ideal para a construção de cidadãos e profissionais qualificados. Essa dinamização no processo educacional promove a identificação dos próprios valores e a superação de limites encontrados no processo de formação dos indivíduos (MORAIS et al., 2012). Essa realidade presente no PET é distinta de muitos outros programas institucionais, pois é comum observar programas que se restringem ou à pesquisa, ou ao ensino, ou à extensão, isoladamente. Dessa forma, o PET se torna um instrumento educacional ímpar em uma universidade. Apesar de os grupos PET terem como pilar de trabalho esse princípio da indissociabildiade, executá-lo requer muita habilidade que, na maioria das vezes, é conquistada pela tentativa-erro, pois a maioria dos tutores não foi formada sob esse princípio, assim como os alunos participantes do grupo, que vivem na realidade de suas graduações cenários bem direcionados, ou para graduação ou para pesquisa ou para extensão (MARTINS, 2007). Ressalta-se que nos últimos anos somente as relações duais entre os componentes dessa tríade foram incentivadas, ou seja, ensino-extensão,

ensino-pesquisa ou extensão-pesquisa. Portanto, as dificuldades são variadas e frequentemente relatadas nos encontros dos grupos PET, sejam em nível local ou nacional. Isso remete a uma reflexão, sob uma lógica pedagógica, que o ensino seja desenvolvido juntamente com a pesquisa e a extensão, envolvendo processos metodológicos e criando um novo paradigma nas universidades para que o aluno seja o ator principal do processo de aprendizagem. E que esse aluno, ao se formar, possa exercer sua profissão sob a ótica da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, tornando-se um cidadão ativo e modificador da comunidade na qual estará inserido. Existem diversos fatores que contribuem para a desarticulação da tríade, gerando ações fragmentadas em projetos de pesquisa, extensão e ensino, cada um com objetivos e ações diferentes. Quando se dá ênfase a apenas um desses fatores, surge talvez o principal responsável pela desarticulação. Durante muito tempo, o ensino era o único priorizado, ou seja, era suficiente que o aluno tivesse compromisso e dedicação apenas nesse âmbito. Posteriormente, a pesquisa tomou espaço, criando importância dentro da formação do aluno. A partir de 2004, o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) orientou a extensão como 62 | 63

uma ferramenta de transferência do conhecimento gerado na universidade para a comunidade, e sua interferência no desenvolvimento regional e nacional. Como reflexo, as políticas públicas na última década incentivam a extensão, permitindo ao graduando a percepção da necessidade de intervir na comunidade e implementar os resultados da pesquisa, desenvolvendo cidadania, articulação com os setores públicos e privados e espírito crítico (CARBONARI; PEREIRA, 2007).

O maior mérito do PET é agregar ensino, pesquisa, extensão e gestão como nenhum outro programa dentro das universidades é capaz. O PET faz do petiano um ser pensante e reflexivo, possibilitando uma formação completa e única. Laís Gonçalves Vitorino (egressa do PET Direito / Serviço Social / Filosofia – Cidade de Goiás)

Refletindo ainda sobre a desarticulação da tríade, é comum os grupos PET programarem e executarem atividades pontuais e assistencialistas, entendendo-as erroneamente como extensão universitária. Como exemplos, programar uma atividade específica em uma comunidade, ou local comunitário, como um parque, fazer uma intervenção única em um dia, como explicar sobre educação ambiental, aferir a pressão arterial, verificar taxa de glicemia, apresentar uma encenação teatral sobre reciclagem, entre outros. Contudo, essas atividades não têm continuidade, não se tornam presentes na comunidade e nem tampouco a comunidade ajuda a programá-las, não há participação ativa da comunidade no projeto, ou seja, este não é construído em diversas mãos. Isso decorre da própria dificuldade do tutor, assim como do grupo, em compreender o que é extensão universitária. Novamente, volta-se à formação universitária

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vivida pelos tutores e os petianos, que na maioria das vezes teve como prioridade o ensino ou a pesquisa ou, na melhor das situações, a relação dual entre eles. A extensão universitária vem pouco a pouco ganhando corpo na vida universitária, sendo que o conhecimento e a experiência na área estão sendo desenvolvidos principalmente nas últimas décadas. Um exemplo está nos aportes financeiros direcionados às pró-reitorias que lidam com essa temática, tais como os editais Proext que, nas duas últimas versões, disponibilizaram milhões de reais para projetos e programas extensionistas, montantes muito semelhantes a grandes editais na área de pesquisa. E no ano de 2013 a coordenação do PET, via SESu, solicitou aos tutores que enviassem projetos para concorrer ao edital do Proext, vendo nele a possibilidade de obtenção de verbas para os grupos PET exercerem suas atividades.

Vivências da articulação ensino, pesquisa e extensão em grupos PET da UFG Os grupos PET da UFG possuem inúmeras atividades e projetos que contemplam a tríade ensino, pesquisa e extensão. No entanto, apresentam-se aqui, a título de exemplos, algumas atividades desenvolvidas pelos grupos PET Ciências Biológicas – Câmpus Goiânia e PET Enfermagem – Câmpus Jataí. O projeto intitulado “Ciclo de Estudo e Produção Científica” tem sido desenvolvido desde 2010, a partir de sua criação, pelo PET Enfermagem 64 | 65

– Câmpus Jataí. O projeto consiste na capacitação de petianos com a finalidade de proporcionar o conhecimento de ferramentas de construção e elaboração de atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como o desenvolvimento de habilidades para melhorar a relação interpessoal entre acadêmicos e comunidade. A dinâmica de desenvolvimento do projeto se dá a partir das reuniões ordinárias do grupo PET que acontecem uma vez ao mês. Nelas, os petianos realizam um debate tendo por objetivo definir um tema a ser estudado no mês subsequente. O tema pode ser desenvolvido pelos próprios petianos – o que desenvolve a habilidade do ensino – ou por convidados, em geral professores da instituição. Esse convite é articulado pelos petianos. Esse grupo de estudo é aberto para a participação da comunidade em geral, em especial a universitária, configurando-se como uma atividade de extensão. Vale ressaltar que a comunidade pode e deve sugerir assuntos para o ciclo de estudos e produção científica. Esses, na maioria das vezes, estão relacionados com conhecimentos que propiciam um melhor desenvolvimento nas atividades de ensino, extensão e pesquisa, tais como: noções de bioestatística, redação científica, relações interpessoais, novas regras ortográficas, pesquisa no Datasus, entre outros. Na perspectiva de praticarem o que aprenderam, os petianos devem desenvolver uma atividade de pesquisa. Atualmente, eles estão realizando projetos de pesquisa tendo como suporte o banco de dados secundários (Datasus). É válido mencionar que os projetos são escritos pelos petianos, cabendo a eles a organização de todas as ações realizadas no ciclo de estudo e produção científica. Esse projeto tem contribuído para formação cidadã dos bolsistas do PET Enfermagem

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– Câmpus Jataí, visto que eles vivenciam ações que articulam a tríade ensino, pesquisa e extensão. O grupo PET Ciências Biológicas (PETBio) da UFG, também criado em 2010, tem experimentado esta articulação por meio de projetos recentemente aprovados pela agência de fomento de pesquisas do estado de Goiás (Fapeg) e Ministério da Educação (Proext/MEC). Ambos trabalham a indissociabilidade da tríade, voltados para duas realidades sociais importantes: educação e drogas de abuso. Em um deles, serão elaborados vídeos de curta metragem sobre o tema drogas de abuso que, depois de finalizados, serão disponibilizados junto às escolas da rede estadual de ensino; o outro trabalhará o ensino de ciências e biologia em classes hospitalares, que são locais onde as crianças hospitalizadas podem continuar o ensino durante o período de internação, evitando a perda do ano letivo. Sua concepção envolveu os petianos que tiveram de buscar articulações com os setores públicos envolvidos e avaliar as possibilidades de execução do projeto com uma visão crítica. Uma atividade anterior que proporcionou a vivência da tríade ensino, pesquisa e extensão executada pelo grupo PETBio foi a organização e realização do Encontro de Bioética no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG em 2011, já na sua segunda edição em 2013. Foi um evento pioneiro no ICB, elaborado a partir do diagnóstico de que os alunos, sejam da graduação, sejam da pós-graduação, não se envolviam com essa temática, mesmo sendo este o instituto da UFG que mais utiliza animais de experimentação, deparando-se constantemente com questões bioéticas no seu dia a dia. Nela, os petianos puderam organizar um 66 | 67

evento vinculado a tema recorrente em seu mundo acadêmico, entrar em contato com palestrantes, organizar toda a estrutura do evento, aprender com as palestras e discussões geradas por elas e desenvolver a capacidade de transcrever falas e elaborar um livro. Esta é, portanto, uma das atividades do grupo que contemplam a indissociabilidade da tríade.

Reflexões finais Há inúmeras atividades que visam a indissociabilidade colocada em foco neste capítulo, sendo vivenciadas pelos grupos PET da UFG. Mas existem também muitas dúvidas e dificuldades para serem solucionadas. O limite entre relações duais dessa tríade e a completa indissociabilidade é tênue, pois muitas vezes as atividades do PET sucumbem àquelas, seja por inexperiência do grupo ou mesmo do tutor, seja por pressupostos orientadores vinculados ao curso ao qual o grupo está inserido. Contudo, a busca constante para promover atividades que visam contemplar ensino, pesquisa e extensão universitária é corrente dentro de um grupo PET, o que o torna especial e único dentro de uma instituição de ensino superior. O fundamento mais importante para trabalhar a indissociabilidade está em garantir ao petiano uma formação cidadã, levando-o a conectar-se criticamente ao seu ambiente de trabalho, à sua comunidade, buscando valorizar o social em suas atividades profissionais e analisar criticamente sua inserção no mercado de trabalho. São várias as perspectivas para o PET dentro da UFG, mas concretizar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão em suas atividades

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é fundamental para diferenciar o programa dos demais disponibilizados na instituição, pois se enfoca a formação cidadã, profissional e ética para os alunos envolvidos no PET.

Referências BRASIL. Manual de orientações básicas: Programa de Educação Tutorial - PET. Brasília: 2006. BRASIL, MINISTÉRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Portaria n. 343, de 24 de abril de 2013, publicada no Diário Oficial da União em 25/04/2013. p. 24 e 25. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. CARBONARI, M.E.E.; PEREIRA, A.C. A extensão universitária no Brasil, do assistencialismo à sustentabilidade. Revista de Educação da Anhanguera Educacional. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2013. CHAMLIAN, H.C. Docência na universidade: professores inovadores na USP. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 41-64, março, 2003. DIAS, A.M.I. Discutindo caminhos para a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Educação Física, v. 1, n. 1, p. 37-52, ago. 2009. 68 | 69

GOERGEN, P. Educação instrumental e formação cidadã: observações críticas sobre a pertinência social da universidade. Educar, Curitiba: Editora UFPR, n. 37, p. 59-76, maio/ago. 2010. MARTINS, I. L. Educação tutorial no ensino presencial – uma análise sobre o PET. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2013. MOITA, F.M.G.S; ANDRADE, F.C.B. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 41, p. 269-393, maio/ago. 2009. MORAIS, R.R; JALES, G. M.L; SILVA, M.J.C; FERNANDES, S.F. A importância do PET-Saúde para a formação acadêmica do enfermeiro. Trabalho, educação e saúde, Rio de Janeiro, v.10, n.3, nov. 2012. SILVA, T.L.G; ANDRADES, B; MORAES, M.L.A. Educação tutorial em cena: Uma perspectiva dos tutores de Porto Alegre. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS. Rio Grande do Sul, 2009. TAUCHEN, G; FÁVERO, A. O princípio da indissociabilidade universitária: dificuldades e possibilidades de articulação. Linhas Críticas, Brasília, DF, v.17, n. 33, p. 403-419, maio/ago. 2011.

CAPÍTULO IV

Programa de Educação Tutorial: formação diferenciada na graduação

Autores

Colaboradores

Estelamaris Tronco Monego Tutora do PET Nutrição, UFG – Câmpus Goiânia

Alyce Inês Santos Lima, Ana Paula Guimarães de Moraes, Andressa de Sousa Licio, Anna Hiria Souza e Silva, Ariadne Elias Rodrigues, Bárbara Nadinne Nepomoceno de Sousa, Cássia de Siqueira Nunes, Clara Sandra de Araujo Sugivaki, Cléia Patrícia Rodrigues Grabowski, Cristina Camargo Pereira, Elisa da Silva Nascimento, Gabrielle de Lima Borba, Jéssika Dayane Pereira Soares, Láisa Gomes Dias, Lays Serafim Ribeiro, Lenicia Batista Mamede, Maria das Graças Freitas de Carvalho, Marília Araújo Silva, Meike Barp, Paula Pereira Marot, Stephanny Barbosa e Silva, Taynara Rezende Silva, Ulliane Basso Camargo, Victória Guimarães Ernesto.

Celso José de Moura Tutor do PET Engenharia de Alimentos, UFG – Câmpus Goiânia

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A teoria sem a prática vira “verbalismo”, assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade. Paulo Freire, 1996

A análise das Diretrizes Curriculares no contexto da formação do aluno de graduação permite que se identifique ser oportuno “incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa” . É com este contexto que o aluno de graduação se depara ao ingressar na universidade. São novos métodos de ensino que exigem outro ritmo de estudo e se tornam um desafio adicional ao estudante. O docente 72 | 73

do ensino superior é um especialista em seu campo de conhecimento e nem sempre domina a área educacional e pedagógica, sendo necessário, nesse caso, que a instituição de ensino disponibilize recursos que favoreçam a nova realidade do processo ensino-aprendizagem do aluno.

O primeiro contato com a área da Educação Matemática me deu um novo brilho nos olhos. Hoje, mestrando em Educação em Ciências e Matemática na UFG, lembrome com orgulho da resposta que dei na prova de seleção do Grupo PET-MAT e a resposta que dei na seleção do mestrado: quanta mudança! Mudança que não seria possível sem o desenvolvimento que o PET me proporcionou. Obviamente, a graduação me apresentou uma gama de conhecimentos, mas foi no PET que realmente entendi uma série de conceitos, de teorias, de realidades. O leque se abriu, conheci muito mais coisas. Não sei se foi assim para todos os petianos do Brasil, mas eu não consigo enxergar como seria a minha graduação sem participar das atividades do PET. Luiz Fernando Ferreira Machado (egresso do PET Matemática)

Segundo Stephen Kanitz, “o papel da Universidade, atualmente, é levar o graduando a pensar e tomar decisões”, acrescentando à essência do indivíduo a atitude de “caminhar com suas próprias pernas”, diferentemente do ensino médio e dos cursos preparatórios para vestibular, no qual o ato de decorar fórmulas e respostas prontas, na maioria das vezes, interessa mais do que o aprendizado de fato. A aprendizagem deve ir além da aplicação imediata, impulsionando o sujeito a criar e responder desafios, a ser capaz de gerar tecnologias e manter a habilidade de aprender e recriar permanentemente. Ou seja, a graduação deve se transformar em locus de construção e produção do conhecimento em que o aluno atue como sujeito da aprendizagem, como afirma o Plano de Extensão Universitário . O PET faz parte desses recursos, propondo desenvolver conhecimentos específicos; despertar e aprimorar habilidades para trato com indivíduos e grupos sociais

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diversificados e ser um empreendedor. Em adição a isso, espera-se que um aluno PET seja capaz de conviver com diferentes opiniões, trabalhar em equipe e, em decorrência disso, desenvolver a autoconfiança. Durante a graduação, este programa tem como objetivo formar alunos com uma visão transversal do ensino, da pesquisa e da extensão, tendo como pressuposto a educação tutorial. Articulando a qualidade do ensino com a preparação para a vida profissional, busca oferecer uma formação acadêmica diferenciada, cujo produto sejam profissionais críticos e atuantes, focados na cidadania, na função social da educação superior e nas reflexões envolvendo temas éticos, sociopolíticos, científicos e culturais (MEC, s.d.). A participação em um grupo PET possibilita mudanças notáveis na vida acadêmica de um estudante, uma vez que oportuniza vivências que interferem positivamente em vários campos do saber. Neste cenário, é possível ampliar a visão sobre o papel da formação e seu reflexo na prática profissional. Esse amadurecimento é adquirido por meio do contato mais intenso com professores e outros profissionais, que atuam em diferentes segmentos da área de atuação profissional. Além disso, a troca de experiências entre os alunos integrantes do grupo PET, oriundos de diferentes períodos do curso de graduação, oportuniza uma troca de saberes que se configura como uma tutoria aluno/ aluno. O desenvolvimento das atividades aliado à necessidade de cumprimento de uma carga horária compatível com a bolsa recebida, faz com que os participantes do grupo desenvolvam a habilidade de gerenciar 74 | 75

seu tempo de forma a desenvolver suas atividades acadêmicas e aquelas relativas ao grupo PET. Esta habilidade, de forma socializada com os demais colegas do grupo, se converte em estudo, desenvolvimento dos trabalhos em equipe e momentos de lazer coletivizados.

ele pode contribuir para o seu crescimento. A liderança é um papel rotativo no grupo, do qual todos deveriam participar, pois isso não contribui somente para o grupo, para uma maior organização e desenvolvimento, mas vai além disso, contribuindo no crescimento pessoal, entendendo como

O perfil de cada grupo define sua estrutura organizacional, algumas vezes estruturada semelhantemente a uma instituição ou empresa, o que faz com que se familiarizem com modelo comum no mercado de trabalho. Os grupos PET-NUT e Petengali se organizam por meio da figura do líder – aluno que durante três meses exerce a função de fazer a interlocução entre tutor e grupo; acompanhar a execução do plano de trabalho e administrar conflitos. Esta atividade permite ao estudante exercer a escuta, motivar o grupo buscando a excelência no desempenho individual e também da equipe, identificar recursos, processos e prazos, para alcançar o cumprimento dos objetivos do plano e, especialmente, conduzir um plano de trabalho com todas as suas fragilidades e um grupo com toda a sua diversidade. Entrar no PET já é uma superoportunidade, mas se tornar líder desse grupo te faz entender realmente do que ele faz e como

lidar com um grupo de pessoas tão distintas, mas sabendo respeitar as opiniões e visando a satisfação de todos. (aluna do PET-NUT/UFG)

Tutor(a) e estudantes participantes dos grupos PET acreditam que os alunos não podem se tornar meros depositários de informações. O Programa de Educação Tutorial é um instrumento para formar indivíduos capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los. Para que isso ocorra, os grupos se preocupam em auxiliar desde a escolha do curso dos estudantes que ainda não ingressaram na universidade. Com isso, espera-se que o estudante entre na universidade mais consciente de sua decisão, reduzindo a evasão e mesmo a frustração profissional. A construção coletiva do planejamento anual permite ao aluno o exercício de trabalhar com metas além de permitir a inclusão de conteúdos e ações

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requeridos pelo grupo. Assim, o plano torna-se um diversificado elenco de ações que visam contribuir para a formação daquele grupo responsável por sua construção. No ensino, os grupos olham para duas situações: quando atores ou quando receptores do processo de aprendizagem. Como atores desse processo se envolvem em ações de apoio acadêmico a alunos do curso de graduação que apresentem dificuldades acadêmicas, promovem ciclos de debates, eventos, palestras e oficinas cujo publico varia conforme a temática escolhida. Na segunda situação, promovem grupos de discussão; sessões de estudo; cursos de curta duração, nos quais o(a) tutor(a) promove ou articula a promoção de atividades capazes de atender aos objetivos propostos pelo grupo. Estas ações contribuem para o amadurecimento dos alunos; ampliam a visão sobre a profissão e o mercado de trabalho e ainda promovem a constante atualização técnica, com uma visão diferente daquela vivenciada na sala de aula. Além disso, atividades com este caráter estimulam o senso crítico e o confronto de ideias entre os participantes. As visitas técnicas a estabelecimentos que desenvolvem atividades vinculadas ao mercado de trabalho destes alunos, além da vivência em um curto período,

Como egressa posso dizer que o PET contribuiu para a minha inserção em um programa de mobilidade. Realizei um intercâmbio para Portugal do Programa Santander Bolsas Luso-Brasileiras, no período de janeiro de 2013 a junho do mesmo ano. Com os trabalhos publicados em eventos, as atividades de extensão, pesquisa e ensino e ainda o tempo que estive no programa, minha nota na análise de currículo para a seleção da bolsa foi satisfatória. Assim ocupei a única vaga destinada à saúde. Hoje posso dizer que foi através do grupo que pude publicar diversos trabalhos científicos e, com isso, melhorar o meu currículo. Gabriela Rodrigues Alves (egressa do PET Enfermagem – Jataí) 76 | 77

junto a um profissional que atua no mercado de trabalho, proporcionam aos graduandos vivenciar a realidade de suas respectivas profissões. Este é um anseio de estudantes desde o momento em que iniciam suas atividades no curso. Conhecer os aspectos práticos daquilo que se aprende em sala de aula auxilia na verificação de hipóteses e permite aplicar a teoria vivenciada na sala de aula. Essa atividade é enriquecida com a participação de profissionais já inseridos no mercado e de empresas e instituições que contratam esses profissionais, aumentando a interação universidade-mercado de trabalho. Conhecer o projeto político pedagógico do curso deveria ser comum a todos os estudantes; no entanto, a grande maioria não o conhece, talvez por falta de incentivo. Assim, grupos PET inserem esse tema de discussão em seus planejamentos, tendo a oportunidade de conhecer as diretrizes curriculares, o projeto pedagógico e mesmo vivenciar as atividades relacionadas à coordenação pedagógica do curso. As oportunidades que surgem para o aluno egresso do PET ao buscar sua inserção no mercado de trabalho, seja a pós-graduação, seja as instituições de ensino ou mesmo a iniciativa privada, tem sido fartamente pró-PET, evidenciando que este aluno, com seu currículo consolidado e sua experiência acumulada, apresenta condições de seguir diferentes possibilidades no mundo do trabalho. O PET é uma oportunidade ímpar para se abrir portas no mercado de trabalho e no desenvolvimento pessoal e profissional. Ser petiano é um orgulho! (egresso do grupo Petengali/UFG)

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Soares e colaboradores (2010), em estudo sobre a inserção de ex-alunos do PET/UFBa no mercado de trabalho, verificaram que, dentre os egressos, 77,1% cursaram/cursam uma pós-graduação. Todos os entrevistados atribuíram ao PET valores profissionais positivos, de modo que sua experiência colaborou para a inserção dos egressos no mundo do trabalho, evidenciando a eficácia do programa. Gonçalves et al. (2007) verificaram em estudo sobre ex-petianos do curso de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas que, dentre 50 currículos analisados, 56% dos egressos possuíam mestrado, 52% doutorado, 50% mestrado e doutorado, 10% pós-doutorado, e que de todos os currículos avaliados, 38% dos egressos encontravam-se na pós-graduação, 50% atuando no mercado de trabalho e 12% haviam concluído mestrado e/ou doutorado, porém não foram obtidas informações sobre a atuação atual. Os autores atribuíram ao PET participação na vida profissional destes ex-alunos ao analisarem os dados obtidos pela pesquisa, visto que o PET integra ensino, pesquisa e extensão. Também em estudo semelhante para avaliar a colocação de ex-bolsistas do PET no mercado

profissional, Rigo e colaboradores (2008) perceberam entre os depoimentos de ex-petianos que estes apontavam o programa como uma das experiências mais intensas em suas trajetórias acadêmicas, sendo lembrado como um diferencial na sua formação e na sua vida profissional. Quanto à procura por cursos de pós-graduação, dos 46 ex-petianos participantes da pesquisa, dois eram doutores, onze mestres, dezenove especialistas, três cursando especializações, além de vários em processo de formação em programas stricto sensu. Os autores concluíram que esses dados indicavam que os ex-petianos da universidade possuíam uma tendência a dar continuidade aos estudos, procurando inserirem-se em programas de pós-graduação, e também revelando que houve um número significativo de ex-petianos que conseguiram ingressar em programas stricto sensu (mestrado e doutorado), espaços bastante concorridos, honrando ainda mais a participação do PET nos dados obtidos (RIGO et al., 2008). Dentro da construção de uma vida acadêmica, os alunos buscam participar de projetos de pesquisa, projetos de extensão e quaisquer atividades que enriqueçam o currículo. O Programa de Educação Tutorial vem de encontro com essa busca, apoiado 78 | 79

no tripé ensino, pesquisa e extensão que se traduz em uma experiência extremamente enriquecedora no aspecto pessoal e acadêmico. Diante disso, os alunos que têm a oportunidade de integrar um grupo PET são valorizados pelos docentes e por toda a comunidade acadêmica a qual pertencem. Um aluno petiano tem portas abertas dentro da universidade para diversos projetos e é muito valorizado e requisitado para atividades acadêmicas exatamente por se tratar de um programa com alto nível de exigência acadêmica.

O PET fortalece nossas práticas culturais e tradicionais como povos indígenas. As atividades acadêmicas atribuídas aos estudantes ligados ao PET, sob orientação do professor-tutor, constituem-se na manutenção de um excelente rendimento acadêmico durante nosso curso de graduação, em nossa participação e organização de eventos, projetos e programas de pesquisa, ensino e extensão, dentro e fora da universidade. Rivaldo Warinimytygi Tapirapé (aluno do PET Licenciatura indígena)

Além disso, vários alunos egressos de grupos PET relatam o quanto foi enriquecedora a experiência, os aprendizados, a consistência na construção do currículo e a abertura das portas para o mundo pós-universidade, demonstrando ainda mais a importância desse tipo de programa. O PET permite uma visão mais ampla em comparação aos demais estudantes universitários, por participarem no planejamento e na execução de atividades de ensino, pesquisa e extensão [...] as atividades estimulam as estudantes, melhorando a qualidade do ensino de graduação do país e as relações com a comunidade. (aluna do PET-NUT/UFG)

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O conhecimento prático é feito de experiências, orientado para a ação, derivado da experiência pessoal e da transmissão oral de conhecimentos, adquirido pela prática e pelo confronto de experiências, ligado ao modo pessoal e profissional de agir. Ele envolve um conjunto complexo de conhecimentos orientados para a prática que existe, quer no nível dos argumentos práticos, quer da reflexão na ação. A vivência mostra essa experiência na atuação profissional, proporcionando a geração de conhecimentos diante de situações práticas no ambiente de trabalho. Assim, o aluno petiano, exposto a diversas ações práticas, torna-se capacitado para solucionar problemas e vê o conhecimento teórico sendo aplicado a esta prática. Ele se torna ativo, dinâmico e atento, aprendendo a superar situações de improviso, a organizar ações e desenvolve a capacidade de liderança. Portanto, o aluno petiano termina sua formação tendo um conhecimento prático além do que é oferecido pela universidade. Ele sai do ambiente de estudo já com experiência em atividades realizadas no mercado de trabalho e com visão ampla, tendo diferencial pessoal e profissional, que faz com que o estudante esteja seguro do que sabe e do que quer. O curso de graduação em Nutrição da Universidade Federal de Goiás tem como objetivo uma formação generalista, humanística e crítica, pautada em princípios éticos, com reflexões sobre a realidade econômica, política, social e cultural. Sabe-se que a alimentação e a nutrição são fundamentais para promoção, manutenção e recuperação da saúde, tanto no âmbito individual quanto no coletivo (SILVA, 2008). Por isso, o grupo PET-NUT não podia ser diferente com a visão de capacitar o 80 | 81

futuro profissional dos alunos a atuar com vistas à segurança alimentar e à atenção dietética em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e a nutrição são essenciais, contribuindo, desta maneira, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A relação entre o PET e os demais alunos da graduação inicia-se quando eles conhecem o programa, sendo, de forma geral, um bate-papo entre amigos ou participando de alguma programação organizada pelo grupo. Assim, surge um maior interesse em fazer parte do programa. A influência, oportunidades e crescimento pessoal, como também ética profissional, eleva-se cada dia mais após o ingresso no PET. O elo professor e PET é bastante importante, tanto para a graduação como para os docentes. Os professores da graduação, de modo geral, veem no grupo PET uma forma de interação maior com os graduandos, não só com os integrantes do grupo mas com todos os alunos, por meio das atividades realizadas, participando de palestras e levando informações para os graduandos, proporcionando maior convivência e conhecimento acadêmico. Assim como o tutor professor, que é de grande importância dentro do grupo PET, pois além de levar todas as informações que são requeridas, dá todo apoio no programa de ensino, pesquisa e extensão aos seus alunos petianos, o professor tutor não será mais uma pessoa responsável apenas por transferir seu conhecimento para o aluno universitário, ele tem como principal objetivo facilitar o aprendizado autônomo do aluno, ajudando-o para que possa obter bom aproveitamento do curso e das oportunidades que lhe são oferecidas.

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As atividades acadêmicas atribuídas aos estudantes ligados ao PET, sob orientação do professor-tutor, constituem-se, dentre outras: na manutenção de um excelente rendimento acadêmico durante seu curso de graduação; na participação e organização de eventos, projetos e programas de pesquisa, ensino e extensão dentro e fora da sua faculdade; e, ainda, na publicação de artigos e apresentação de trabalhos acadêmicos em periódicos e eventos de natureza científica. Como contrapartida, dependendo do perfil institucional, o aluno fará jus a uma certificação, que não somente lhe garante horas de atividades complementares mas também um importante passaporte para programas de mestrado e doutorado. Visando que a interação aluno, professores e grupo PET disponibiliza uma formação de pessoas autônomas que desenvolvam em conjunto um pensamento investigador, criativo e crítico e atitudes cooperativas e éticas para enfrentar as novas situações que se depararão no futuro, com a esperança de poderem intervir na realidade para superar e combater as injustiças. Uma educação integral, crítica e de qualidade é importante para que o cidadão constate a relevância de valores, tais como: a curiosidade, a humildade, a honestidade, a verdade, a razão e a ética, que são características fundamentais no mercado de trabalho hoje em dia. O grupo PET contribui muito para o futuro profissional de seus integrantes. Através do grupo, os alunos possuem a oportunidade de terem vivência em diversas áreas da profissão para a qual estão cursando uma graduação. No caso do PET NUT, dentre as áreas contempladas três são mais evidentes nos projetos, que são as áreas de docência, clínica e UAN (Unidade de Alimentação e Nutrição). Os alunos estão sempre em contato com elas. A experiência acadêmica na área de docência que 82 | 83

o PET NUT proporciona pode ser exemplificada pelo apoio que os alunos dão à execução de núcleos livres, a organização de cursos de atualização ou palestras dentre as demais atividades do campo de ensino. Além de haver também uma aproximação entre o aluno PET e os professores da faculdade. O PET contribui para o engajamento dos estudantes de graduação com o próprio curso, com a sociedade e com a formação pessoal, pois, a partir das relações estabelecidas em grupo, proporciona: compromisso coletivo, facilitando a adaptação em trabalhos de grupo; autonomia e responsabilidade, pois participa ativamente da elaboração do planejamento anual, contribuindo para a formação de vínculos entre professores-doutores e alunos, gerando oportunidades de trabalho diretamente com pesquisadores qualificados e, assim, assegurando experiências acadêmicas em diversas áreas, bem como qualidade da formação acadêmica. Além disso, o programa contribui para a formação de profissionais melhor preparados para interagir com a comunidade científica.  O incentivo à pesquisa, ofertado por meio da bolsa, estimula o estudante a focar os seus estudos, contribuindo para a elevação da média global e, desse modo, aumentando a sua produtividade.

Além disso, o PET contribui para a expansão da visão do aluno para fora da faculdade, devido aos projetos de extensão que o PET dele exige, e para um reconhecimento maior entre os funcionários da universidade, tanto professores quanto técnico-administrativos e alunos. O aluno PET tem um nome e um diferencial em relação a um aluno comum, pois exerce as três atividades que compõem o tripé de uma universidade pública: ensino, pesquisa e extensão.

Considerações finais Como conclusão, reiteramos o papel da formação ética e pedagógica, cujo produto espera-se ser um ente capaz de se inserir de forma critica e com potencial de autonomia no mundo do trabalho, a partir da intencionalidade da formação calcada no ensino, na pesquisa e na extensão universitária. O olhar sobre a proposta executada pelos grupos PET em questão neste capítulo nos evidencia elementos que são um diferencial para esse(s) aluno(s), com destaque para a interdisciplinaridade e a superação da repetência e evasão; a complementaridade formativa; a integração ensino,

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pesquisa e extensão; a qualificação para a pós-graduação e inserção no mundo do trabalho, tendo a possibilidade da educação tutorial na mediação deste processo. Por outro lado, a sobrecarga de atividades do tutor e dos alunos, aliada às múltiplas possibilidades do PET, são grandes desafios a ser vencidos. Encontrar formas de superar o aulismo e a grade curricular engessada que entende a formação a partir do conteudismo e abrir espaço para novas formas de ensino, apoiadas em docentes que superam seu conteúdo estrito e abrem-se para a transversalidade do conhecimento e a interdisciplinaridade na formação, são desafios a ser superados.

Referências CENAPET. Projeto para expansão do PET de 2007 a 2013. Disponível em: . Acesso em: 27 Mar. 2013. CONSELHO FEDERAL DE NUTRIÇÃO. Inserção dos Nutricionistas no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 13 Abr. 2013. CONSELHO FEDERAL DE NUTRIÇÃO. Resolução n. 380/2005. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência, por área de atuação, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em 13 Abr. 2013. 84 | 85

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura). GONÇALVES, R.S.; CAMARGO, E.S.; CORRÊA, M.F.; TAVARES, V.E.Q. Influência do programa de educação tutorial na formação pessoal e profissional dos acadêmicos de agronomia da Universidade Federal de Pelotas. Anais. Pelotas: XVI Congresso de Iniciação Científica-pesquisa e Responsabilidade Ambiental, 2007. KANITZ, S. Palestras para se pensar. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2013. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Superior. Programa de Educação Tutorial. Manual de Orientações Básicas. s.d. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_co ntent&view=article&id=12228&Itemid=486>. Acesso em: 23 jul. 2013. MORIN, E. Ciência com consciência. (Revista e modificada). Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. MÜLLER, A. Qualidade no ensino superior: a luta em defesa do programa especial de treinamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

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RIGO, L.C.; QUINTANA, J.C.; CRUZ, P.P.; SILVA, S.G.; HARTWIG, C.P. Conhecimento, formação e memórias discentes: um estudo a partir do PET/ESEF. Movimento, v. 14, p. 71-85, 2008. SILVA, N.F. O que o nutricionista faz pelo Brasil. Brasília (DF): Conselho Federal de Nutrição, 2008. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2013. SOARES, F.F.; DUPLAT, C.B.; FERREIRA, L.P.L.; RÉGIS, M.R.S.; REIS, S.R.A.; MATOS, M.S. Impacto do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia na formação profissional dos seus ex-bolsistas. Revista de Pós-graduação, São Paulo, vol.17, n.3, p. 143-150, 2010. UNIBRASIL. A importância do Programa de Educação Tutorial (PET). Disponível em: . Acesso em: 27 mar. 2013.

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CAPÍTULO V

Educação tutorial como diferencial formativo: concepções em construção na Universidade Federal de Goiás

Autores

Colaboradores

Rogério Ferreira Tutor do PET Educação Intercultural, UFG – Câmpus Goiânia

Alexsandra Carlos Souza, Ana Paula Azevedo Moura, Anna Beatriz Costa Vieira, Antônio Samuru Xerente, Bismael Ipaaramy Tapirapé, Cintia Maria Santana da Silva, Creuza Prum Kroi Krahô, Douglas José Vieira de Campos, Edvan Guarany Silva, Fábio Moreira de Araújo, Gabriela Camargo Ramos, Gabriela de Araújo Achegaua, Giovanna Marques Inácio, Humberto Irineu Chaves Ribeiro, Iranildo Arowaxeo I Tapirapé, José Anthony Novak de Faria, Lara Camilla Alves Santos, Leandro Cruvinel da Silva, Lorena Lopes da Costa, Luana de Oliveira Santos, Luara Laressa Ferreira dos Santos Lima, Luiz Fernando Ferreira Machado, Maria dos Reis Pandy Corredor, Rivaldo Warinimytygi Tapirapé, Roseana Nascimento Gavião, Samuel Saburua Javaé.

José Pedro Machado Ribeiro Tutor do PET Matemática, UFG – Câmpus Goiânia

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Introdução

Ao longo de sua história, o PET tem buscado consolidar uma concepção educacional que possa potencializar a formação de alunos de graduação nas universidades brasileiras. Entretanto, nos caminhos trilhados pelo programa, muitas mudanças têm ocorrido, revelando um processo dinâmico na formação de diretrizes/concepções capazes de refletir os paradigmas educacionais da contemporaneidade. Ao investigar este movimento, fica claro que a concepção inicial de 1979, ano de surgimento do PET, mostra-se bastante diferente da que o Ministério da Educação procura hoje estabelecer (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2006). Em sua origem, a sigla PET advinha das letras iniciais de Programa Especial de Treinamento, denominação contraditória se comparada às atuais diretrizes do programa. Afinal, treinamento remete à ideia de adestramento, repetição de procedimentos, poda de criatividade, características que não refletem os princípios formativos atualmente defendidos pelas instituições universitárias públicas brasileiras. Na perspectiva da 90 | 91

época em que o PET surgiu, buscava-se formar grupos de excelência em áreas e instituições de ensino superior escolhidas diretamente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sendo que os critérios decisórios não eram definidos de modo partilhado com a totalidade das universidades. Em 2004, a sigla PET passou a identificar Programa de Educação Tutorial, buscando transcender a incoerência presente no nome anterior dado ao programa. Mas, para além do nome, princípios diferenciados surgiram como fruto de mudanças pouco a pouco conquistadas no decorrer do tempo. Oportunizou-se, assim, a construção de novos caminhos. Porém, ainda hoje, torna-se fundamental (re)significar a educação tutorial, tendo em vista a dificuldade manifestada por tutores quanto à construção de uma configuração de grupo coerente com as atuais diretrizes acenadas pela Secretaria de Educação Superior (SESu), unidade do MEC responsável pelo PET em âmbito nacional. Esta dificuldade tem sido observada tanto nos últimos eventos nacionais do programa (Enapet) quanto nos eventos regionais. É importante destacar que uma interpretação equivocada de tutoria pode conduzir a práticas educacionais contrárias ao atual objetivo geral do programa, a saber: Promover a formação ampla e de qualidade acadêmica dos alunos de graduação envolvidos direta ou indiretamente com o programa, estimulando a fixação de valores que reforcem a cidadania e a consciência social de todos os participantes e a melhoria dos cursos de graduação. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2006, p. 7)

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É oportuno alargar o debate acerca do tema “educação tutorial”. A continuidade deste texto estará pautada nesta tarefa, procurando dar sentido ao tema central em um diálogo plural com o objetivo do PET. No entanto, não há intenção de fechá-lo ou conduzi-lo a uma definição estrita. A ideia é abrir possibilidades de ação, alicerçando-as nas concepções de educação tutorial em construção no grupo Petli/UFG – formado por alunos(as) indígenas do curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) – e no Petmat/UFG – grupo formado por alunos(as) do curso de Licenciatura em Matemática do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da UFG. É necessário dizer que, apesar de a educação tutorial não ser compreendida de modo único pelos grupos PET da UFG, as ideias que serão desenvolvidas a partir da próxima seção refletem significativamente a dimensão conceitual que pouco a pouco vem ganhando corpo nesta universidade.

Educação tutorial: concepções em construção Realizando uma aproximação mais estreita à educação tutorial, um primeiro aspecto que necessita ficar claro é que a tutoria jamais deve ser confundida

As experiências práticas tidas enquanto petiana me instigaram a ter mais conhecimento teóricoprático, responsabilidade, organização, desinibição, consciência política, liderança e espírito coletivo. Mariana de Morais Cordeiro (egressa do PET Nutrição) 92 | 93

com a construção de laços de dependência entre tutor e aluno, muito menos com a noção hierárquica de que, por um lado, tutor é quem detém conhecimento e, por outro, aluno é mero tutelado, alguém que necessita receber conhecimentos prontos e acabados de modo passivo. Esse alerta se faz importante, visto que diante do debate educacional contemporâneo a formação para cidadania se faz elemento fundamental. Ou seja, o que se espera é a horizontalização dialógica dos procedimentos educacionais, como defendem Freire (1965, 2002), D’Ambrosio (1997, 2009) e Santos (2010). Um olhar crítico sobre a trajetória do PET permite evidenciar que o conceito de tutoria inicial assentava-se sobre bases teóricas distintas daquelas que hoje são defendidas no cerne do PET. Tanto tutela quanto tutoria vêm do verbo latino tueri, sua raiz etimológica, significando vigiar, proteger, cuidar, governar, supervisionar. Nesta perspectiva, o sentido original do termo pode motivar a constituição de ações educacionais estereotipadas, paternalistas, tradicionais, vinculadas à compreensão de que o tutor deve estar posicionado hierarquicamente em um plano superior ao do aluno, que necessita ser governado (SEMIÃO, 2009).

Esta não é a concepção de tutoria defendida pelos autores deste texto, uma vez que compreendem ser o protagonismo de cada membro participante do grupo PET um princípio forte da educação tutorial. Todos necessitam atuar como sujeitos ativos tanto da construção de conhecimento quanto da gestão de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão. Essa é uma compreensão necessária quando o objetivo é compor um grupo em que o diálogo seja elemento central para a constituição das relações humanas. Portanto, a formação de um grupo que tenha por objetivo organizar-se em uma perspectiva tutorial terá como fundamento a não hierarquização. Enraizado nesta diretriz, mesmo que cada membro assuma funções e lideranças distintas no contexto do processo gestor do grupo, isso não irá ganhar o significado de ordenação de poder, ou seja, não significará a formação de graus diferenciadores de níveis de poder, mas sim o fortalecimento do protagonismo mútuo. Todos elaboram, todos criam, todos opinam, todos assumem funções de liderança. O grupo, coletivamente, constrói e assume decisões (BARNIER, 2001). A partir desse entendimento, o papel do tutor se efetiva na valorização do compartilhamento, da troca, da orientação, buscando a formação integral

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e cidadã de todos. Nesse processo, o próprio tutor é continuamente formado, transformando-se a cada dia no contexto dinâmico de amadurecimento do grupo. Deve ficar claro que a educação tutorial assume a formação política como aspecto central para a supracitada horizontalização dialógica. Afinal, no âmbito de um grupo que visa à transformação como possibilidade estreitamente vinculada à ação, o exercício de cidadania precisa construir-se a partir da autocompreensão de cada membro como sujeito político, como gestor, como agente de mudança. A partir desta configuração inicial aqui defendida para a educação tutorial, a qual – como já dito – não se pretende fechar em um conceito, surgem outros fatores desejáveis para o andamento salutar das atividades de um grupo PET. O estímulo continuado da aprendizagem individual e coletiva é um deles. Outro fator importante, complementar a este, é a minimização de conflitos por meio da busca compartilhada de acordos. A superação de dificuldades que cotidianamente surgem passa necessariamente por esses dois aspectos, contribuindo para a construção de um ambiente formativo a um só tempo amigável e eficaz. Para a SESu/MEC, extensão, pesquisa e ensino, tríade que fundamenta o papel das universidades brasileiras, são vertentes que devem ser trabalhadas de modo indissociável no âmbito do PET. Essa compreensão muito contribui para a construção de uma educação tutorial harmonizada às ideias defendidas neste texto. Contribui também para uma visão holística e transdisciplinar de mundo, motivando ações transformadoras pautadas em objetivos não subjugados a determinadas partições de conhecimento ou especificidades técnicas (D’AMBROSIO, 2012). 94 | 95

Logo, um paradigma que rompe com a supervalorização das especialidades pode se erguer no seio das universidades brasileiras por meio dos processos formativos em construção nos grupos PET. O encorajamento do trabalho colaborativo se apresenta como busca continuada, como energia motora para o desenvolvimento das atividades planejadas pelo grupo PET. Deste modo, faz-se importante que os seus membros compreendam que a organização do grupo se dá de modo dinâmico, precisando contar com a mediação de todos. Nesse sentido, a prática de orientação exercida rotineiramente pelo tutor apresenta-se, na realidade, como papel de cada membro, ampliando-se como meio formativo para a autonomia, isto é, como fundamento para a consolidação da educação tutorial (BAUDRIT, 2009).

Acredito no poder formador do PET especialmente no que se refere à constituição do sujeito crítico e ético. Leandro Caetano de Magalhães (egresso do PET Geografia)

A formação de lideranças múltiplas surge vigorosa no ambiente educativo até aqui configurado. É importante, no entanto, esclarecer que essa formação de modo algum intenciona sobrepor um ser humano ao outro ou estabelecer processos fundamentados em hierarquias. No desenvolvimento de cada projeto/atividade, a ideia é propiciar um espaço dialógico mediado por um sujeito em busca de amadurecer as tomadas de decisão que, em última instância, são construídas e decididas pelo grupo.

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Como se vê, são diversas as vertentes presentes na educação tutorial, o que exige do grupo PET competências muitas vezes não valorizadas em programas tradicionais voltados à formação discente. Os fundamentos e as diretrizes até então evidenciados procuram deixar claro que se a presença de cada membro do grupo PET se constituir de modo solidário, sendo compreendida como imprescindível a todos, então a educação tutorial estará alicerçada em uma dinâmica orgânica com possibilidades efetivas de alcançar os propósitos elencados pelo projeto do grupo.

tutorial na UFG. Como consequência, de modo secundário, buscou também caracterizar minimamente o perfil necessário ao profissional que pretende atuar, no âmbito desta universidade, como tutor do PET. Neste contexto, deve ficar claro que, além de atender a um perfil desejado, é necessário também que o tutor tenha identificação estreita com o projeto desenvolvido pelo grupo, bem como se preocupe com a formação crítica dos alunos acerca do papel que eles desempenham na sociedade, o que transcende em muito a necessária formação científica do profissional.

Cabe, portanto, tanto ao tutor quanto ao aluno, o desenvolvimento continuado de competências de cunho motivacional, pedagógico, interacional, gestor e, entre outros, comunicacional. Neste sentido, merece destaque o fato de a atuação eficaz do tutor transcender em muito o domínio de conteúdos específicos ou a solidez de uma produção científico-acadêmica, visto que sua atuação necessariamente perpassa por outras esferas, tais como dinamismo, flexibilidade, descentralização, bom relacionamento interpessoal, personalidade gestora, entre outras.

Na próxima seção, serão exploradas atividades que vêm sendo realizadas pelo grupo Petli e aspectos da filosofia gestora e formativa em desenvolvimento no Petmat. A ideia é oportunizar ao leitor uma visualização mais palpável das concepções de educação tutorial defendidas neste capítulo.

Esta seção teve por objetivo central apresentar concepções em construção acerca da educação

Educação tutorial na UFG: experiências formativas no Petli e no Petmat Nesta seção, serão brevemente explanadas duas atividades em desenvolvimento no Petli e uma abordagem reflexiva acerca das concepções gestoras e formativas que vêm sendo cotidianamente 96 | 97

construídas no Petmat. A partir das principais características identitárias destes grupos, intenciona-se promover um diálogo com as referências construídas na seção anterior acerca da educação tutorial. Em razão da escassez de recursos didáticos específicos hoje presente nas realidades indígenas da região Araguaia-Tocantins, muitos professores indígenas estão fazendo uso, a contragosto deles próprios, de recursos didáticos contextualizados em outras realidades, os quais comumente desrespeitam os seus saberes, valores, desejos, enfim, suas culturas. Diante desta realidade e da consciência crítica de cada membro do grupo Petli sobre essa situação, buscou-se coletivamente construir uma atividade que pudesse contribuir para a superação deste quadro. Surgiu assim a Oficina de Produção de Recursos Didáticos, objetivando consolidar uma oficina permanente voltada à produção de recursos didáticos específicos para as distintas realidades dos professores indígenas em formação. A ideia central é atender às necessidades locais de cada escola indígena de modo contextualizado e, portanto, significativo à sua comunidade. A primeira produção do grupo se encontra em fase final de editoração no formato de um livro multilíngue voltado aos artesanatos indígenas das dez diferentes etnias participantes do grupo. A construção coletiva deste material foi efetivada principalmente por meio do desenvolvimento de pesquisas conduzidas por cada um dos alunos do grupo em suas realidades de origem. Os pesquisadores por todo o tempo buscaram respeitar as concepções da comunidade. Esse cuidado se fez importante a fim de não causar rupturas no âmbito das sociedades indígenas.

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Cinco artesanatos de cada etnia são focados no livro, totalizando cinquenta. A abordagem escolhida pelo Petli foi de explanar sobre a importância de cada artesanato para sua cultura de origem, bem como sobre o modo de confeccioná-lo. Os textos são escritos na língua de origem de cada autor, mas todos são apresentados também em língua portuguesa. A razão desta escolha é fortalecer um diálogo de natureza intercultural entre as distintas etnias participantes da produção e, ainda, promover um diálogo geral que alcance realidades para além de seus territórios. Afinal, trata-se de uma forma importante de o não indígena aprender com os saberes das tradições indígenas. Nesta breve caracterização da oficina e da sua primeira produção, percebe-se que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão se faz presente de modo consistente na atividade, fazendo com que a visão holística e transdisciplinar de mundo assumida pelo Petli se concretize. Esse é um primeiro aspecto que dialoga de modo estreito com a concepção de educação tutorial explanada na seção anterior. Soma-se a esse aspecto, o protagonismo que cada aluno e professor em formação assume na atividade, levando-o a se constituir como sujeito da construção do conhecimento. Neste movimento, o debate, a reflexão, a análise e a crítica dos recursos didáticos atualmente utilizados nas escolas de suas comunidades, bem

O PET promove encontros entre os acadêmicos, o que propicia a integração social e a divulgação dos conhecimentos indígenas e não indígenas. Edvan Guarany (aluno do PET Licenciatura indígena) 98 | 99

como a interação com a comunidade em que vivem, os colocam em posição ativa, interventiva e transformadora dos processos que formam suas realidades sociopolíticas e culturais. Na composição do livro, efetivou-se um processo não hierarquizado, movimento que fez do diálogo horizontal premissa necessária na constituição do trabalho colaborativo. Todos mutuamente estimularam-se a aprender e a ensinar. Nas pesquisas que realizaram em suas aldeias propiciaram forte aprendizado individual por meio da troca com sua comunidade de origem. Na troca entre os membros do Petli, saberes de culturas diferenciadas foram compartilhados, propiciando o crescimento coletivo. A natureza da oficina deixa claro que solidez acadêmico-científica não garante ao tutor o cumprimento do seu papel no contexto da educação tutorial. Cabe a ele transcender o tradicionalismo acadêmico, aproximando-se de outros elementos, tais como descentralização, flexibilidade, dinamismo, bom relacionamento interpessoal em busca da formação integral e cidadã de cada membro do grupo do qual participa. O Coral Aoxekato constitui outra importante atividade desenvolvida pelo Petli. Trata-se de um coral de natureza intercultural, com a participação

direta de alunos de todas as etnias participantes do curso de Educação Intercultural da UFG, bem como de pessoas da sociedade não indígena que reconhecidamente apresentam compromisso social e político com as causas indígenas. O coral, além de constituir-se como espaço artístico-cultural, vem se tornando meio de transformação das relações interculturais, posicionando o professor indígena em formação como protagonista dos processos de que participa. As práticas do canto e da dança têm se tornado meios dialógicos que oportunizam a todos inserir-se no coral como sujeito. Não se trata de um coral convencional, mas sim de um prazeroso espaço de aprendizagem colaborativa. De caráter multilíngue, oportuniza a todos os participantes o encontro com saberes outros, conhecimentos indígenas compartilhados entre diferentes etnias. Os cantos e as danças que compõem o repertório são originários de diferentes realidades de todo o mundo, com ênfase naqueles germinados nas raízes indígenas dos protagonistas do coral. É fundamental compreender que essa atividade possui caráter de extensão, porém não se limita a ela, visto que os cantos e as danças indígenas, em sua maioria, compreendem uma realidade

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maior, envolta por mitos de origem, rituais, valores, enfim, conhecimentos contextualizados em diferentes realidades indígenas. Estes foram valorizados pelo Petli por meio de buscas investigativas nas aldeias. Logo, a prática de pesquisa acerca dos rituais, cantos e das danças indígenas e seus significados ancestrais é parte importante das atividades do coral. Além disso, uma meta continuada é reverter os conhecimentos erguidos a partir das práticas de extensão e pesquisa a favor de práticas pedagógicas interculturais nas escolas indígenas, fazendo desta ação também uma atividade de ensino. Ou seja, a um só tempo ela constitui extensão, pesquisa e ensino, mostrando-se potencialmente integradora e voltada a uma visão transdisciplinar de conhecimento. É importante destacar que o Coral Aoxekato conta com um diferencial em relação aos corais convencionais: a coordenação e a regência de cada canto ou dança é assumida por um representante distinto que o conduz em acordo com os seus saberes étnicos tradicionais. Deste modo, são respeitadas as diferentes culturas participantes do movimento, inclusive no que tange à possibilidade ou não de determinado canto ou dança participar do repertório do grupo. Sabe-se que muitos cantos se relacionam diretamente com rituais sagrados e que, por essa razão, não podem ser retirados dos seus contextos de origem. Por isso, o Coral Aoxekato efetiva-se com compromisso ético, entre todos os envolvidos, de respeito e valorização de cada uma das culturas participantes. Vale destacar que “aoxekato” é um termo da língua apyãwa/tapirapé que se relaciona com o ato de cumprimentar o outro de modo cordial, com alto astral e alegria. A beleza sonora da palavra, bem como o seu significado, têm refletido as atividades do grupo. 100 | 101

Nesta segunda atividade, brevemente descrita, o protagonismo de cada membro volta a aparecer como elemento central, apresentando-se como variável caracterizadora das ações do grupo. Todos atuam como orientadores, todos compartilham saberes. A efetividade da aprendizagem coletiva experimentada por estas duas ações do Petli – oficina e coral – deixa transparecer o potencial da educação tutorial como meio promissor na formação dos alunos de graduação das universidades brasileiras. Analogamente, no âmbito do grupo PET do curso de Licenciatura em Matemática do IME/UFG – Petmat, pode-se visualizar um movimento de ações pautadas na educação tutorial que se harmonizam fortemente com os princípios até aqui defendidos neste texto. Tendo recém completado seus seis anos de idade, o Petmat – criado em setembro de 2007 – carrega em seu histórico grande número de atividades que têm contribuído significativamente para a formação do licenciando em Matemática. Assim, em busca de potencializar o debate acerca da educação tutorial cabe discorrer sobre as concepções e as ações do grupo que surgem como representativas e visibilizadoras de sua dinâmica de funcionamento. Desde sua gestação, e até o atual momento, o Petmat desenvolve atividades e projetos substanciados por uma visão de mundo e concepções de formação docente construídas coletivamente a partir da experiência acadêmico-social dos alunos e de seu tutor, profissional que media as atividades do grupo desde o seu início. Bolsistas e tutor atuam coletivamente em prol da construção de conhecimentos que, ao serem compartilhados, resignificam continuadamente o modo de atuação do grupo. Para tanto, quatro princípios são os propulsores das ações propostas

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e realizadas pelo Petmat, a saber: democrático, autogestor, dialógico, colaborativo. A gestão do grupo parte de várias reuniões realizadas semanalmente, sendo que os encaminhamentos de cada projeto são estabelecidos e decididos em reuniões específicas. Contudo, a concepção, planejamento e avaliação de todas as ações se realizam na reunião periódica, espaço em que todos os participantes do grupo possuem liberdade de expressão, manifestando de forma democrática suas opiniões acerca de cada tema proposto. O debate que se constrói a respeito de cada tema – administrativo ou acadêmico – pauta-se na autogestão, buscando tomadas de decisões coletivas e consensuais em que as intervenções ocorrem em igualdade de condições. Permeia este espaço uma incessante reflexão sobre o fazer coletivo e colaborativo de modo a ressignificar e minimizar as relações de poder entre os sujeitos partícipes do grupo. A educação tutorial compreendida pelo Petmat possibilita romper com a lógica dominante, vivenciando ações efetivas de respeito mútuo e, deste modo, propiciando a construção de relações dialógicas em todas as vertentes de sua atuação. Refuta-se, portanto, qualquer tipo de autoritarismo opressor. Nesta perspectiva, as atividades e projetos do grupo vivenciam um fazer de todos a partir dos seguintes aspectos: confiança e corresponsabilidade acerca da proposição e do desenvolvimento de ações; diálogo crítico-reflexivo a favor da construção de conhecimentos significantes para o grupo; desenvolvimento de competências que oportunizam administrar e mediar conflitos e tomadas de decisão; construção de novas práticas de autoavaliação e autogestão; ação do tutor como 102 | 103

mediador que contribui com o bom andamento das ações individuais e coletivas do grupo; valorização do poder criativo e intelectual dos membros do grupo, pressupondo que todos podem alcançar maturidade suficiente para o bom desempenho do trabalho, afinal compreende-se que todos são sujeitos ativos do processo.

de alunos e tutores no contexto do Programa de Educação Tutorial coordenado pela SESu/MEC.

Considerações finais: educação tutorial como diferencial formativo

As concepções e experiências apresentadas no decorrer deste capítulo não intencionam constituir modelos ou padrões, mas apontar possibilidades formativas de potencial inovador. A educação tutorial, como aqui compreendida, tem força para alcançar resultados efetivos no que concerne à formação cidadã de participantes de grupos PET. Isso difere bastante da tendência formativa tradicional que, ao explorar de modo compartimentado e mecânico determinadas facetas do conhecimento, não trabalha favoravelmente à formação integral do aluno. Esta tendência permanece fortemente presente nas universidades brasileiras, dificultando a formação de cidadãos criticamente compromissados com as transformações sociais, políticas e culturais necessárias para a construção de uma sociedade mais representativa do povo que a compõe.

As concepções de educação tutorial apresentadas neste capítulo, ambientadas em projetos e processos gestores que vêm sendo desenvolvidos por dois grupos PET da UFG – Petli e Petmat –, buscaram mostrar caminhos possíveis, não definitivos e em permanente construção, para a formação

Deste modo, a educação tutorial surge como uma importante alternativa. Como preconiza o objetivo do programa PET evidenciado na introdução deste capítulo, ela trabalha a favor de uma formação ampla e de qualidade acadêmica. Nesta direção, estimula a construção de valores de

Deste modo, o Petmat toma como meio a diversidade do grupo para a construção de caminhos dialógicos e reflexivos em prol do fazer colaborativo e de práticas transformadoras das relações opressoras e não democráticas, visando cada vez mais a humanização das pessoas ao desenvolver, assim, práticas sustentadas e realimentadas por um processo de conscientização crítica da realidade vivida por todos.

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cidadania, corroborando para a formação de uma consciência social e política potencialmente transformadora. Espera-se que as ideias trabalhadas neste espaço possam alavancar outras e, assim, motivar amplo debate acerca da temática colocada em foco nestas páginas. Afinal, a troca de experiências no contexto da educação tutorial poderá germinar novas e plurais luzes, o que é desejável quando se valoriza o compartilhamento e a construção coletiva do conhecimento sob a filosofia do trabalho colaborativo, da não hierarquização e do protagonismo de alunos e tutores.

Referências BARNIER, Gérard. Le tutorat dans L’enseignement et la formation. Paris: L’Harmattan, 2001. BAUDRIT, Alain. A riqueza de um método pedagógico. Porto: Porto Editora, 2009. D’AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 2012. D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade em transição. Campinas: Papiros, 1999. D’AMBROSIO, Ubiratan. A era da consciência: Aula magna do primeiro curso de pós-graduação em ciências e valores humanos no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 1997. 104 | 105

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CAPÍTULO VI

Programa de Educação Tutorial na Universidade Federal de Goiás: as dimensões do trabalho e da formação

Autores

Colaboradores

Eguimar Felício Chaveiro Tutor do PET Geografia, UFG – Câmpus Goiânia

Ana Caroline Pereira da Silva, Ângela Maria Martins Peixoto, Bernardo de Azeredo Peclat Ribeiro Camelo, Bruno Henrique Castro de Andrade, Déborah Evellyn Irineu Pereira, Edvan Jhunhor da Silva Oliveira, Euma Campos Barreira, Gilberto Lopes Filho, Helena de Moraes Borges, Hudson Henrique de Souza Lopes, Jéssyca Tomaz de Carvalho, João Luiz Andrade Leitão, João Marques De Souza Neto, João Paulo Barbosa Silva, João Pedro Reis Lopes, José Ilário Ribeiro Neto, Larissa Camilo Nunes, Laura Vitória Rezende Dias, Leila Sobreira Bastos, Thaís da Silva Santos, Marco Antônio Araújo de Souza, Maria Luisa Matias dos Santos, Matheus Jucá Delmondes, Ricardo Cherubin, Ricardo Henrique Fonseca Alves, Rosemar Aquino de Rezende Junior, Thalles Augusto Machado dos Santos, Wálisson Gôbbo de Águas, Wallison Carvalho da Costa, Yuri Rodrigues Alves Bernardes.

Getúlio Antero de Deus Júnior Tutor do PET Engenharias (Conexões de Saberes), UFG – Câmpus Goiânia

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Introdução

É dever de um programa que ousa aglutinar as esferas de pesquisa, de ensino e de extensão em suas atividades diárias e substanciais, ter de fazer a si mesmo uma pergunta central: como conduzir o bolsista-PET, ou o petiano, a ultrapassar a barreira da graduação e chegar à pós-graduação? Esta questão certamente tem outro sentido: como transformar as atividades do PET em meios e condições para que o petiano tenha sucesso no mercado de trabalho? Essas interrogações certamente ancoram num legado rico e difícil da filosofia central do programa: a necessidade de desenvolver uma formação integrada que, num só termo – e num único processo – seja capaz de oferecer as possibilidades para que o petiano e também o tutor formem e reformulem a sua consciência participativa e o seu tirocínio crítico, ao mesmo tempo em que tenha competência técnica e profissional.

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Ao colocar o pleito dessa maneira, algo desponta nas condutas dos diferentes grupos PET: há que se ter práticas curriculares, atividades extensionistas, elaboração de pesquisas, senso pedagógico que não se prenda ao mero formalismo acadêmico, próprio de um estilo de formação universitária que, muitas vezes, gera uma formação distante do mundo real, do grito da realidade, de suas peripécias, de suas inovações, de seu clamor e, especialmente, de seus conflitos e de suas possibilidades. Em função disso, poder-se-ia dizer que a formação petiana deve se vincular ao mundo do trabalho, todavia, sem subordinar-se a ele. Na mesma medida, não deve desprezar o mercado das profissões, os novos requisitos técnico-práticos pertinentes ao novo escopo do trabalho de uma sociedade urbana que centra suas atividades em tecnologias, criatividade, informação, comunicação, imagem, intercâmbio, entre outras, sem contudo esquecer a dimensão ética e política que, verdadeiramente, sustenta as grandes transformações sociais, dando a elas sentidos e significados. Acrescenta-se que um desafio evidente para qualquer educando e, especialmente, para o petiano, é ter capacidade de protagonizar a sua recorrente atualização, uma vez que as mudanças da realidade, nas sociedades globalizadas contemporâneas, ocorrem de maneira acelerada, multidimensionalizada e diferenciada nos lugares. No mundo do tempo acelerado, dos espaços conectados, certamente exige-se um novo sujeito – e um novo modo de formar e de se atualizar. Desta maneira, ao Programa de Educação Tutorial (PET) cabe criar meios de o petiano ter iniciativa, atitude, capacidade de problematizar

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a sua realidade, buscar alternativas. Gerar uma cultura da ação parece ser um dos diferenciais do bolsista PET. Desde as atividades mais simples, como cuidar da própria sala, alimentar o sítio, cuidar dos painéis informativos, desenvolver matérias para o informativo interno, saber acolher os novos bolsistas, até outras com maior sofisticação, como falar em público, desenvolver técnicas de escrita, comandar reuniões, apresentar trabalhos em congressos, escrever artigos, reunir com pró-reitores – e outras atividades similares – têm sido, com frequência, um diferencial na formação desse aluno autônomo. O procedimento de envolver-se ao invés apenas de desenvolver; ou de participar no lugar de apenas fazer parte e, notadamente, o sentido coletivo do fazer pedagógico posto a uma crítica constante entre todos, pode exigir de tutores e bolsistas maiores esforços que lhes inquietam. Todavia, o retorno da aprendizagem atende aos requisitos do mundo contemporâneo: saber fazer por meio do saber relacionar; relacionar para intervir – e para gerar motivação, vontade de trabalhar, de produzir e de estar junto. O presente capítulo, ao tomar como pressupostos as considerações enunciadas, tem como objetivo principal apresentar resultados do acúmulo de experiências diferenciadas do que tem sido realizado nos grupos do

Na minha experiência profissional, o PET me apresentou diversas situações diferentes que me proporcionaram uma boa experiência no campo profissional, executando diferentes funções ao mesmo tempo. André Luiz Leal Medeiros (egresso do PET Biologia)

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PET da Universidade Federal de Goiás (UFG). Entretanto, com o intuito de refletir a ligação necessária e fundamental da formação petiana ao mundo do trabalho na forma contemporânea e os desafios colocados para uma formação continuada, tratar-se-á de apresentar pontos que poderão contribuir para que, em processo contínuo de avaliação e reformulação, os programas da UFG, a partir das experiências realizadas, avancem mais, clareiem seus rumos e ajustem a relação entre si em forma de um trabalho compartilhado, aberto e comprometido.

O PET e o mundo do trabalho: uma nova filosofia? O Programa de Educação Tutorial (PET) foi oficialmente instituído pela Lei nº 11.180/2005 e regulamentado pelas Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006 e nº 1.046/2007. A regulamentação do PET define como o Programa deve funcionar, qual a constituição administrativa e acadêmica, além de estabelecer as normas e a periodicidade do processo de avaliação nacional dos grupos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013a). A Portaria nº 976 do Ministério da Educação (MEC), de 27 de julho de 2010, publicada no

Diário Oficial da União (DOU) em 28 de julho de 2010 (BRASIL, 2010a), trouxe inovações para a estrutura do PET como, por exemplo, a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, a união do PET com o Programa Conexões de Saberes, a definição de tempo máximo de exercício da tutoria, a aproximação com a estrutura acadêmica da Universidade e a definição de estruturas internas de gestão do PET (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013a). Entretanto, mais recentemente, a Portaria nº 976/2010 teve dispositivos alterados pela Portaria nº 343, de 24 de abril de 2013, publicada no DOU no dia 25 de abril de 2013 (BRASIL, 2013). Dessa forma, pode-se compreender o PET como o Programa de Educação Tutorial desenvolvido em grupos organizados a partir de cursos de graduação das instituições de ensino superior (IES) do Brasil, orientados pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, com os seguintes objetivos recentemente ampliados: VI - introduzir novas práticas pedagógicas na graduação; VII - contribuir para a consolidação e difusão da educação tutorial como prática de formação na graduação; e VIII - contribuir com a política de diversidade na instituição de ensino superior (IES), por meio de ações afirmativas em defesa da equidade socioeconômica, etnicorracial e de gênero.

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Esses objetivos são amplos e vão muito além dos objetivos exigidos no mundo do trabalho. Por outro lado, cabe ao Estado aproveitar oportunidades ou propor ações preventivas diante de situações de risco à sociedade por meio de políticas públicas. É importante realçar que essas políticas, no caso da América Latina, muitas vezes foram marcadas por práticas populistas. Mas no caso de calamidades, por exemplo, é papel do Estado indicar alternativas que diminuam as consequências que elas trarão à população, em especial para a mais pobre, que será mais atingida. É importante deixar claro que as decisões acabam por privilegiar determinados setores, nem sempre direcionadas para a maioria da população. Analisar ações em escalas diferentes de gestão permite identificar oportunidades, prioridades e lacunas. Quem passou a integrar o Grupo PET, após o Edital de Seleção nº 9 PET 2010 – MEC/SESu/Secad (BRASIL, 2010b)? Políticas públicas direcionaram praticamente metade das vagas para o “PET/Conexões de Saberes” nesse edital público. Será que o “novo PET”, como muitos o chamam a partir da publicação desse edital, modificaria a formação dos alunos participantes no PET, em especial, quando se considera o mundo do trabalho? A resposta vai muito além do mundo do trabalho e está alinhada com a política nacional do governo federal ligada às cotas raciais que afeta principalmente as instituições federais de ensino superior (IFES) no país (BRASIL, 2012a). Mas para entender isso, é importante compreender o que era o Programa Conexões de Saberes e o Programa de Educação Tutorial na sua forma original e o que passou, desde então, a ser a filosofia do “novo PET” no propósito da Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC). 112 | 113

Desde 2003, o programa Conexões de Saberes oferecia a jovens universitários das classes populares a possibilidade de adquirir e produzir conhecimentos científicos e, a partir disso, intervir em seu território de origem. Além disso, o programa possibilitava o monitoramento e a avaliação, pelos próprios estudantes, do impacto das políticas públicas desenvolvidas em espaços populares. Os participantes do programa recebiam apoio financeiro e metodológico (PORTAL DO OBSERVATÓRIO DE FAVELAS, 2013a). Ao ingressar no Programa Conexões de Saberes, o universitário tinha aulas de inclusão digital e política, recebia informações sobre metodologia de pesquisa e extensão e ganhava uma típica bolsa de iniciação científica. Em contrapartida, os estudantes conexistas, como eram chamados, juntamente com seu professor orientador, desenvolviam atividades em diversos projetos e/ou programas (PORTAL DO OBSERVATÓRIO DE FAVELAS, 2013a). Na UFG, destacaram-se a Escola Aberta, oficinas e ações educativas destinadas às escolas públicas e trabalhos de pesquisa e extensão como ações afirmativas, discussões sobre gênero e raça, dentre outros. As experiências dos bolsistas foram registradas no livro Caminhadas UFG, um produto ímpar previsto no programa (PORTAL DO OBSERVATÓRIO DE FAVELAS, 2013b). Por outro lado, desde a sua criação em 1979 até final do século XX, o Programa de Educação Tutorial (PET) foi voltado para atividades vinculadas à pesquisa na graduação e em algumas universidades foi enquadrado como um programa elitista. Angelica Müller (2003), em entrevista com o professor Antônio Newton da Rocha Pimenta (coordenador do PET/CAPES entre 1992 e 1997), realizada no dia 28 de

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março de 2012 em Brasília, analisou as decisões da Capes com relação ao PET a partir das seguintes perguntas: “Como era a relação da Capes com o PET antes da administração de 1994?”; “O que o senhor pensa a respeito dessa crítica feita à elitização do PET?”; “Por que transferir o PET para a SESu?”; “O que houve com a documentação?”; e “Como o senhor vê o futuro do PET?”. Outros entrevistados por Angelica Müller (2003) expressaram opiniões diferentes, o que mostra diferentes visões sobre o PET entre negação do mérito do PET e a sua valorização e de seu movimento (Müller, 2003). Não resta dúvida de que a luta em defesa do PET e a construção da nova filosofia do PET impactada em 2010 contribuíram para a elaboração do Edital nº 11, de 19 de julho de 2012 (PET) do MEC (BRASIL, 2012b). Será que são mera coincidência a oferta do “Lote II” (foco no trabalho com comunidades populares urbanas, campo, quilombola ou indígenas, voltados à diversidade social) e do “Lote III” (formação de Grupos PET na área específica de Engenharia) nesse edital ou confirma a nova filosofia do PET? É digno de nota de que o termo “PET/Conexões de Saberes” desapareceu nesse edital. Isso mostra claramente que há novos desafios colocados para o Programa

de Educação Tutorial, não somente para o mercado de trabalho, mas também em todos os níveis de formação mais ampla que se pretende dar aos alunos participantes do PET. Portanto, nesse novo contexto, se confirma uma nova filosofia do PET em curso, pautada na inserção de novos objetivos dados ao Programa de Educação Tutorial (BRASIL, 2013), não se esquecendo da incorporação do Programa Conexões de Saberes por meio do “PET/Conexões” (BRASIL, 2010a; BRASIL, 2010b) e a recente Política Nacional de Ações Afirmativas (BRASIL, 2013), bem como do Programa Ciências Sem Fronteiras (PORTAL DO PROGRAMA CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS, 2013), que mudou a universidade brasileira e – por que não dizer? – a filosofia do PET. Será que o PET estabelecerá uma nova relação com o mundo do trabalho a partir do acolhimento de novos estudantes que estão adentrando os espaços da universidade? E indo mais além: como todas as recentes mudanças na Política Nacional da Educação Superior irá afetar o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão nos diversos grupos do PET? É preciso pensar seriamente nisso! E como ficarão evidenciadas neste capítulo, a nova filosofia integrada do PET e as novas relações estabelecidas com o mundo do trabalho 114 | 115

contemporâneo impulsionam as atividades de todos os grupos do PET da UFG, ampliando a formação dos egressos de muitos cursos de graduação e – por que não? – da pós-graduação.

O mundo do trabalho contemporâneo e o desafio da formação Há um conjunto de considerações feitas por intelectuais e membros de movimentos sociais que afirmam a dificuldade da universidade brasileira em desenvolver uma formação intelectual com função prática. Essas considerações tendem a argumentar que é fácil o tipo de cultura acadêmica, geralmente fechada em si mesma, criar uma espécie de linguagem e saber fora da realidade.

Como egressa do grupo PET posso afirmar que o programa contribuiu de forma inigualável para minha formação acadêmica. O PET possibilita várias formas de inserção no mercado de trabalho, ele foi crucial para que eu pudesse ter condições de ser uma profissional melhor e de destaque, inclusive com boas propostas de trabalho dentro da própria graduação. Laís Gonçalves Vitorino (egressa do PET Direito / Serviço Social / Filosofia – Cidade de Goiás)

Um paradoxo parece desdobrar dessas posições ou indicar uma premissa que não possui solução fácil: a relação entre teoria e prática, entre forma integrada e capacidade de inserção social. O paradoxo poder-se-ia tornar um problema: como gerar uma formação autônoma e não divorciada da realidade? No caso específico do PET, a questão pode ser esclarecida: como criar meios de o aluno petiano se preparar para o mundo objetivo do trabalho ao mesmo

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tempo lhe garantindo capacidade de liderar mudanças, influenciar em decisões que podem ultrapassar o modo como o mundo do trabalho está delineado? Para refletir estas indagações convém esboçar uma interpretação do mundo do trabalho. Ou seja, convém averiguar que realidade desafia o petiano, como formar-se para inserir.

Da enxada à rede: o trabalho atual no cerne do espaço contemporâneo

Trata-se de uma operação mais universal e profunda: o trabalho ganha contornos do saber científico, se organiza em rede, possui a mediação de equipamentos que torna possível não apenas alavancar forças, mas registrar, controlar, atualizar informações, medir, refazer, dispor-se a outro regime de funcionamento. Operou-se mudanças em torno da gestão do trabalho, da organização das classes sociais, do rendimento, entre outras. Ao falar do assunto, Guimarães e Rocha (2008, p. 24), apresentam a seguinte constatação: [...] o século XX foi marcado por transfor-

O que está posto atualmente no mundo do trabalho não é apenas a mudança, por exemplo, do uso da enxada numa imagem quase lírica de um camponês que, à tarde, retorna de sua lavoura próxima à sua casa para reencontrar a esposa e os filhos em detrimento de imensas lavouras de cana-de-açúcar ou de soja a perderem de vista, sem nenhuma pessoa para fazer as vistas oscilarem nas paisagens uníssonas. Não se trata apenas da substituição de equipamentos manipulados pelos músculos em função de outros regados a motor; também não se trata apenas de um efeito exuberante: o aumento da produção e da produtividade.

mações no mundo do trabalho decorrente da crise de produção e manutenção na forma de acumulação capitalista. Esta crise determina as condições de mercado de trabalho, principalmente na correlação de força entre capital x trabalho. Os trabalhadores do sistema capitalista ficaram à mercê das oscilações da forma de gestão do mundo do trabalho, ou seja, aumento na situação de vulnerabilidade social, aumento da precarização das condições de trabalho, desregulamentação de direitos trabalhistas e flexibilização do trabalho no modelo neoliberal. 116 | 117

Conforme explicado pelos autores, as mudanças no mundo do trabalho atingem vários segmentos sociais e repercutem em sentidos políticos, econômicos e culturais. De fato, refazem o modo como os países investem em setores de pesquisa e na universidade. Ao mesmo tempo, exigem do Estado e das entidades gestoras outras maneiras de enfrentar a realidade. Constata-se também que essas mudanças adentram o mundo da escola e Liedke (1997, p. 62) explica que De um modo geral, as mudanças no conteúdo do trabalho têm implicado alterações nos requisitos de formação escolar e técnica dos trabalhadores: leitura, interpretação de textos, escrita de textos com sintaxe complexa, noções básicas de matemática, conhecimentos técnicos na área de produção, química, conhecimentos básicos de física e, até mesmo, a capacidade de reconstrução na memória do trabalho vivenciado, para tornar-se capaz de detectar o erro e o porquê de sua ocorrência, e o modo como evitar que ocorra novamente, envolvendo conteúdos de história e geografia (relações espaço e tempo). Essas mudanças requerem um treinamento da capacidade de pensamento lógico, formal. Nesse sentido, as transformações do conteúdo requerido das qualificações de trabalhadores elevam demandas de formação técnico-escolar.

O espectro geral da transformação do mundo do trabalho, os vínculos com a produção fabril, com a agricultura, com o cotidiano, com a formação e também a sua relação com as crises operam mudanças em leis, nas grades curriculares dos cursos e também em paradigmas fabris, na organização da gestão e em bandeiras sociais, bem como na construção de novos conceitos.

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Por isso, é que expressões e reivindicações como “formação continuada”, “organização em rede”, “processos de tecnificação” e “paradigma da qualificação” estão presentes no que se tem denominado de processos produtivos intensivos. Cabem aos órgãos como às universidades, sindicatos e movimentos sociais – e no caso específico à formação petiana – enfrentar e agir neste novo “ordenamento do mundo do trabalho da sociedade global e informacional”. Esses novos conceitos e paradigmas ajustam as instituições e os grupos em novos modelos de produção, de gestão e gerenciamento, a partir, por exemplo, da emergência da “fábrica corporativa”, do crescimento da “agricultura de precisão”, da ramificação dos “serviços flexíveis” e dos desafios do desemprego estrutural. Não à toa que crescem a atenção, os estudos e as pesquisas para as novas modalidades de gestão, tais como a “gestão do negócio”, a “gestão da existência”, a “gestão de recursos humanos”, a “gestão dos pequenos grupos produtivos” ou dos “arranjos produtivos locais”. E junto a esses tipos de gestão, surgem novas modalidades de trabalho e de atividades como o consultor, o produtor de imagens, o assessor, o avaliador de precisão, o gerente técnico, entre outras.

O PET contribuiu no sentido da formação ampliada e enriquecimento de meu currículo, que repercutiu na aprovação em dois concursos públicos (municipal e federal) e também na aprovação do Mestrado em Geografia. Leandro Caetano de Magalhães (egresso do PET Geografia) 118 | 119

E outras profissões surgem demonstrando o que se denomina flexibilização do trabalho, tais como os olheiros que procuram moças para modelarem. Surgem, no plano informal, jovens universitários que fazem malabarismos nas esquinas das metrópoles e exercem sondagens percepcionais unindo campos da arte contemporânea ao ato de conquistar gorjetas. Neste contexto, o crescimento de trabalhadores informais cria uma diferenciação que envolve a fabricação de doces, roupas íntimas e bordados, enquanto outros tornam-se vendedores de biscoitos. Ao pé dessas atividades há o surgimento de cooperativas, institutos, associações, programas independentes, organizações não governamentais (ONGs), associações de moradores, entre outras. Ou seja, um sentido organizativo por baixo – ou de base – emerge tentando lastrear a renda, nutrir uma possível garantia de conquistá-la.

Experiências de formação para o trabalho e a pós-graduação A nova filosofia integrada do PET e as relações daí estabelecidas com o mundo do trabalho contemporâneo impulsionam as atividades dos grupos do PET da UFG. Ao ler o depoimento da ex-petiana constata-se isso. Vejamos: O Programa de Educação Tutorial (PET) tem uma forma diferente de incentivar, de auxiliar o graduando durante a academia. Outros programas abarcados pela universidade abrangem um ou outro aspecto da tríade da mesma: ensino, pesquisa ou extensão. Já o PET

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aborda uma visão mais ampla, mais realista sobre o exterior da universidade. Durante a graduação, tive inúmeras experiências, mas durante os dois anos de participação no grupo PET-Bio os aprendizados foram e são extremamente relevantes. Atualmente, trabalho na coordenação de uma escola de ensino particular e o trabalho em grupo, a responsabilidade, o respeito à opinião do próximo e a organização de eventos são, sem dúvidas, devido ao PET. Os dois meses que fiquei na liderança do grupo refletem hoje no meu desenvolvimento profissional, pois é muito complicado liderar, e não chefiar. De fato, a contribuição do PET para minha vida profissional após a graduação é totalmente evidente e satisfatória. Sou uma profissional melhor, porque fui petiana. (Ana Carolina Fernandes Lopes, ex-petiana do grupo PET Ciências Biológicas, egressa do curso de Biologia da UFG)

O depoimento alusivo à sua participação demonstra o papel do programa na formação de liderança que, posteriormente, respinga positivamente na vida profissional. O contentamento em participar do programa é justificado por dois elementos centrais: a formação acadêmica e a profissional. Na mesma direção aponta o relato do ex-bolsista do grupo PET do curso de Geografia. Ele diz que O PET teve participação fundamental na constituição do profissional que sou hoje. Graças às experiências que vivi no PET desenvolvi senso de liderança, que me permitiu participar ativamente da dinâmica social, política e cultural dos locais de trabalho pelos quais 120 | 121

passei até aqui. Em todos esses locais, fui incentivador da busca por capacitação e formação continuada, bem como instigador de questões profissionais e de carreira que não poderiam ser deixadas de lado, mas que, porém, vinham sendo esquecidas por alguns de nossos colegas. Falo com muito orgulho que minha capacidade de me posicionar e argumentar sobre aquilo que penso e considero o melhor foi desenvolvida e lapidada no PET. Foi com essas características, apreendidas ou melhoradas no Programa de Educação Tutorial, que atuei em coordenações e equipes diretivas, chegando a ser indicado a concorrer à direção em uma dessas instituições. Hoje, sou professor do IFG e, mesmo tendo iniciado como efetivo na instituição apenas em outubro do ano de 2012, já exerço o cargo de coordenador das áreas acadêmicas. (John Carlos, ex-petiano do grupo PET Geografia, egresso do curso de Geografia da UFG)

Digo que o PET não só contribuiu como foi o grande responsável por eu estar já há três anos como consultora técnica de um renomado grupo de pesquisa da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás e pela minha inserção no mestrado. Mariana de Morais Cordeiro (egressa do PET Nutrição)

A sua vitória em concurso que lhe gera as condições para a reprodução da sua vida, inclusive o seu cargo de liderança é reforçado com elementos centrais para o sujeito contemporâneo: a capacidade de se posicionar, argumentar, expor e intervir. O seu olhar positivo ao programa – com destaque ao sentido de liderança – reforça algo que parece ser uma premissa do mundo

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do trabalho contemporâneo: ter a capacidade de intervir, criar demandas, organizar a própria ação. O sentido de participação, tão enfatizado no programa, como a formação em nível integrada, são predicações destacadas no depoimento da petiana que se tornou enfermeira. O PET contribui no meu trabalho profissional após a graduação, pois gerou em mim uma maior proatividade em relação aos problemas vivenciados na prática profissional, principalmente no trabalho administrativo que desenvolvo enquanto enfermeira, bem como nas atividades de educação permanente. O aprendizado que obtive com a organização de eventos também foi muito importante para que eu desenvolvesse atividades semelhantes em meu campo de trabalho. (Layz Alves, ex-petiana do grupo PET Enfermagem – câmpus Goiânia, egressa do curso de Enfermagem da UFG)

Nesta mesma direção é a avaliação de outro petiano que destaca a importância de participar da universidade. Ora, ao perceber que apenas a sala de aula não basta, “participar da universidade” exige outros níveis de formação, o ex-petiano do programa de Geografia está demonstrando que o processo formativo requisitado no mundo global, a partir do chamado trabalho terciário, solicita o sentido coletivo da vivência acadêmica. Além desse sentido estrito – profissional e acadêmico –, convém perceber que o trabalho em grupo expõe a diferença de história de vida, de visão de mundo e de modo de operar a participação na universidade. 122 | 123

Isso recai no plano individual e em quesitos como a fala em público, o modo de se relacionar com o outro, a capacidade de ouvir. Assim expõe o ex-petiano: Pelo princípio básico que norteia o PET – grupo formado por alunos de diferentes etapas (períodos) da graduação, com as mais variadas concepções de método, ciência e realidade –, minha inserção no mundo do trabalho foi menos árdua do que eu tinha em mente, isto porque, a partir de minha convivência com os petianos e o tutor, aprendi a expressar satisfatoriamente a minha opinião frente a um debate ou a uma situação conflituosa, assim como aprendi a respeitar o posicionamento do outro, mesmo não concordando com tal posicionamento. O PET me propiciou o respeito ao outro e à minha colocação frente aos demais, elementos imprescindíveis na realidade de mercado atual, o qual visa profissionais bem capacitados, críticos e conscientes do contexto que vivem. (Luan do Carmo, ex-petiano do grupo PET-GEO, egresso do curso de Geografia da UFG)

Os depoimentos apresentados ainda mostram experiências de formação para o trabalho e a pós-graduação, na formação ética, para o trabalho, para a convivência e para a pesquisa. Vejamos: No período em que fiz parte do programa desenvolvi pesquisas e me identifiquei com essa atividade; assim que me formei já ingressei no mestrado. Hoje, percebo a importância de não me acomodar e procurar me atualizar sempre, seja na participação de cursos, seja na elaboração e planejamento de atividades do meu trabalho, o que exige de mim criatividade, trabalho em equipe, entre outros. (Maisa

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Carolina de Castro Lima, ex-petiana do grupo PET Enfermagem, egressa do curso de Enfermagem da UFG, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFG) Com as experiências adquiridas no PET, e as várias discussões que tivemos sobre o mundo acadêmico, sobre a educação em todos os aspectos e também do universo profissional, entendi o quanto é importante adquirir novos conhecimentos e qualificações para ser um profissional diferenciado no mercado de trabalho. O exemplo, da professora doutora e tutora e minha orientadora na graduação e agora no mestrado Renata Mazaro e Costa, me motivou a sempre buscar conhecimento e a melhorar cada vez mais. Sinto que entrei totalmente despreparada para enfrentar os desafios da graduação, mestrado, doutorado e profissional e estou saindo mais forte para encarar qualquer adversidade que vier e convicta do que eu realmente quero para o meu futuro. (Monaliza Lopes dos Santos, ex-petiana do grupo PET-Bio, egressa do curso de Biologia da UFG)

Os dois depoimentos ilustram a assertiva que é, hoje, apontada como central no processo de formação: a necessidade de o aluno se integrar de maneira inteira nas três dimensões da universidade, a saber, o ensino, a pesquisa e a extensão. Além disso, percebe-se que a formação para o trabalho e para a cidadania se juntam nas experiências narradas. É interessante observar, também, que a maioria dos grupos PET recém-formados na UFG ainda não possuem egressos nos seus respectivos cursos de graduação, como é o caso do grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes). Mas será que contribuem para a formação do 124 | 125

mercado de trabalho e para a pós-graduação? Evidentemente que sim! Por exemplo, é importante lembrar que o PET/Conexões de Saberes destaca-se por cumprir certos requisitos adicionais ao Programa de Educação Tutorial tradicional (BRASIL, 2010a) (BRASIL, 2010b). Esses requisitos podem ser parcialmente alistados: (a) seleção de estudantes que se originam das classes populares; (b) oferta de curso de língua estrangeira; e (c) oferta de curso de formação humanística. A seleção de estudantes com essa origem acaba ampliando a possibilidade da inclusão desses estudantes no mundo do trabalho e na pós-graduação devido à natureza intrínseca do PET. Já a oferta do curso de língua estrangeira para os petianos do grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes) da UFG foi um grande desafio desde a sua concepção por “força de edital” (BRASIL, 2010b). Entretanto, o próprio tutor do grupo ofereceu em 2011 e 2012 os seguintes cursos na plataforma Moodle de Ensino a Distância (EaD): (a) Curso English for Engineers (Nível 1); e (b) Curso English for Engineers (Nível 2) (PORTAL DO GRUPO PET – ENGENHARIAS (CONEXÕES DE SABERES), 2013). Em 2013, o governo federal constatou uma deficiência no ensino de língua estrangeira do estudante

brasileiro de graduação que se candidata ao Programa Ciências Sem Fronteiras (PORTAL DO PROGRAMA CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS, 2013). Para resolver de vez o problema, o próprio governo lançou uma plataforma de inglês on-line para universitários brasileiros denominada de My English Online (MEO) (PORTAL DO MY ENGLISH ONLINE, 2013). Cada curso possui cinco níveis que duram no máximo seis meses. Dessa forma, o grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes) aderiu ao MEO em 2013, desativando o Curso English for Engineers, anteriormente oferecido pelo tutor do grupo. A participação de bolsistas do grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes) nos quatro níveis na plataforma MEO é obrigatória, sendo que o último nível (nível cinco) é opcional, no qual o preparatório para certificados pode ser obtido. Entretanto, o tutor do grupo recomenda fortemente o último nível para quem desejar ir à frente com os estudos na pós-graduação e – por que não? – melhor inserção no mundo do trabalho. É interessante observar como as políticas públicas acabam mudando o cenário para tantos jovens universitários brasileiros, não somente para os petianos dos grupos PET/Conexões de Saberes, mas também para todos os petianos de grupos PET.

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A oferta do curso de Formação Humanística em Conexões de Saberes também foi um desafio para o tutor do grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes). Como a oferta de uma nova disciplina com carga horária de 32 horas seria oferecida para os petianos e ainda ser oferecida para outros estudantes da UFG? A solução encontrada foi ofertá-la como disciplina de núcleo livre. Assim, a oferta da nova disciplina possibilita uma mudança de atitude e de pensamento crítico do “mundo real” para estudantes de outros cursos de graduação da UFG, além do grupo de estudantes dos cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e de Engenharia de Computação. A disciplina é dividida em três módulos: (a) Conexões de Saberes (Parte 1 e 2); (b) Ser (In)Diferente; e (c) Políticas Públicas. Os projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pelo grupo PET – Engenharias (Conexões de Saberes) e a forma de trabalho do grupo baseada na administração privilegiam uma formação mais ampla para os petianos (PORTAL DO GRUPO PET – ENGENHARIAS (CONEXÕES DE SABERES), 2013). Acredita-se que toda a experiência adquirida irá contribuir muito para a atuação no mercado de trabalho e também para uma futura pós-graduação de egressos do grupo. Da mesma forma, é possível fazer essa inferência para todos os grupos PET da UFG, como apresentado anteriormente.

Referências BRASIL. Portaria nº 976 do Ministério da Educação (MEC), de 28 de julho de 2010. Altera dispositivos da Portaria MEC nº 591, de 18 de junho 126 | 127

de 2009, com as alterações da Portaria MEC nº 975. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 jul. 2010. p. 103-104. BRASIL. Edital de Seleção nº 9 PET 2010 – MEC/SESu/SECAD, de 2 de agosto de 2010. Edital de Seleção nº 9 PET 2010 – MEC/SESu/SECAD. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 ago. 2010. Seção 3. p. 41-42. BRASIL. Decreto nº 7.824 da Presidência da República, de 11 de outubro 2012. Regulamenta a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 out. 2012. Seção 1, p. 6-7. BRASIL. Edital de Seleção nº 11 PET 2012 – MEC/SESu/SECAD, de 23 de julho de 2012. Edital de Seleção nº 11 PET 2012 – MEC/SESu/ SECAD. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 jul. 2012. Seção 3. p. 47-49. BRASIL. Portaria nº 343 do Ministério da Educação (MEC), de 24 de abril 2013. Altera dispositivos da Portaria MEC nº 976, de 27 de julho de 2010, que dispõe sobre o Programa de Educação Tutorial–PET. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 abr. 2013. Seção 1. p. 24-25. PORTAL DO PROGRAMA CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS. Portal do Programa Ciências Sem Fronteiras. Disponível em: . Acesso em: 7 maio 2013.

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CAPÍTULO VII

Reflexões finais: realidades, concepções e perspectivas na UFG

Autores Ellen Synthia Fernandes de Oliveira PROGRAD/UFG – Interlocutora do PET Renata Mazaro e Costa Tutora do PET Ciências Biológicas, UFG – Câmpus Goiânia

O Programa de Educação Tutorial na UFG

Introdução

O pressuposto que orienta a construção deste capítulo é o papel do Programa de Educação Tutorial (PET) na formação proposta pelos cursos envolvidos na Universidade Federal de Goiás, num diálogo de questões importantes para o ensino superior, a exemplo da educação tutorial e da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Neste sentido, ao se constituir em um capítulo de síntese desde o histórico do programa, estágio atual e perspectivas, tenta-se traduzir uma iniciativa institucional que caracteriza uma ação integrada da comunidade petiana e da vontade da gestão superior em consolidar o PET na UFG. E toda essa integração é destacada no depoimento do prof. Edward Madureira Brasil, reitor da UFG, na gestão 2006-2013: [...] a grande virtude desse programa é que ele trabalha com o conceito da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, que está na gênese e origem da universidade, mas que na prática não 132 | 133

caminha com o nível de integração que gostaríamos. Na concepção do programa e nas exigências para a sua criação, no qual esses componentes têm que estar presentes, o estudante tem a possibilidade de uma formação mais completa ao passar por um Programa de Educação Tutorial. Percebemos claramente a desenvoltura dos estudantes que são egressos do PET quando eles já estão em outras fases, o quanto eles evoluem rapidamente como profissionais. Eles conseguem dar soluções a problemas práticos com muito mais facilidade. Os estudantes PET são estudantes “multitarefas”: ora eles são cerimonialistas e até garçons em eventos, ora são pesquisadores, ora são extensionistas na completa concepção da palavra. É um crescimento fabuloso para o estudante.

Subjacentes a essas questões, os autores também sinalizam para os desafios políticos, administrativos e acadêmicos que permeiam toda e qualquer tentativa de mudar o que está posto, dando passos seguros no rumo dos avanços que se pretende para a educação brasileira.

Concepções A filosofia pela qual o PET foi criado ao longo de sua trajetória desencadeou o debate sobre o papel da educação superior e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Esse debate tem colaborado para que inovações curriculares sejam concretizadas, a fim de desencadear a experiência da educação tutorial, que é multiplicadora de novas ações e, assim, melhorar a condição humana, a formação cidadã dos atores do programa e daqueles que, de alguma forma, são apreciados com suas ações.

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A mudança do ensino e, sobretudo, do indivíduo por meio do PET, como instrumento de valorização da cidadania, pode também propor novos desafios para as instituições de ensino, como a criação de políticas educacionais integradoras com a referida tríade. Nesse contexto, o programa contribui para o compromisso de uma formação social no diálogo e na implementação de políticas públicas sociais prioritárias. A experiência da educação tutorial, como multiplicadora de novas ações nas instituições de ensino superior, tem possibilitado repensar as teorias e metodologias de ensino e os currículos acadêmicos vividos no PET, além de permitir ultrapassar a fronteira disciplinar por meio da interdisciplinaridade. Reforça ainda os princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), buscando associar os trabalhos desenvolvidos com as políticas públicas vigentes. Esta importante característica de direcionar as atenções às políticas públicas vigentes mostra um cenário de preocupação com a realidade atual observada principalmente nas instituições públicas de ensino superior. Assim, discute-se no capítulo inicial a proposta de ações acadêmicas para o combate à evasão de estudantes no âmbito dos cursos de graduação, além de criar estruturas institucionais e pedagógicas

O Programa de Educação Tutorial é atualmente um dos maiores programas formadores proporcionados pelas Universidades. Ao abraçar ensino, pesquisa, extensão e gestão, torna o aluno capaz de atuar de forma universal de fato, resgatando a formação proposta pela universidade. Laís Gonçalves Vitorino (egressa do PET Direito / Serviço Social / Filosofia – Cidade de Goiás) 134 | 135

adequadas à permanência de estudantes negros, pardos e índios, bem como de estudantes em condições de vulnerabilidade social e econômica na universidade e à democratização do acesso ao ensino superior. A expansão dos grupos PET no Brasil constitui um exemplo de que a experiência da educação tutorial está dando certo e que pode ajudar as instituições a modificarem sua maneira de ver as relações educacionais. Seguindo essa tendência, a UFG vem vivenciando esse salto na qualidade do ensino por meio dessa expansão, com dez grupos PET, os quais estão fortalecidos no objetivo da troca de saberes e na formação de profissionais capazes de pensar a sociedade brasileira, mais precisamente, a região Centro-Oeste, nos seus mais diferentes níveis e projetos. Para isso, a experiência da indissociabilidade entre a tríade é uma busca constante que deve mover as ações dos grupos PET no Brasil e, consequentemente, na UFG. Essa expansão é explicitada em outro depoimento do reitor da UFG, prof. Edward Madureira Brasil: O PET na UFG experimentou nos últimos anos um crescimento rigoroso que eu atribuo a dois fatores. Primeiro, uma política do próprio MEC que expandiu os grupos no país e, segundo, pela maior percepção e preparo da instituição para concorrer aos editais desse programa. Nesse sentido, é com satisfação que vi na nossa gestão o PET se consolidar como alternativa de formação para os estudantes. Isto já era realidade em muitas outras universidades. Aqui o PET se tornou realidade de forma intensa mais recentemente.

Toda a trajetória de luta acadêmica nacional representou não só a manutenção do PET, mas evidenciou sua importância na formação de

O Programa de Educação Tutorial na UFG

cidadãos perseverantes, com consciência crítica e engajados na construção de uma universidade mais democrática. No entanto, ainda têm-se uma tarefa a cumprir: não apenas recuperar as perdas resultantes das inúmeras tentativas de extinção do programa, mas também batalhar pela sua expansão em todo o ensino de graduação. Refletir sobre o cenário cotidiano dos grupos PET exige comportamentos e atitudes semelhantes aos que os futuros profissionais em formação deverão ter em seus ambientes de trabalho. A interação entre pessoas de um mesmo grupo PET ou entre indivíduos de diferentes grupos da instituição e fora dela enriquece a formação acadêmica e pessoal dos estudantes contemplados com a participação no programa. O nível elevado das discussões existentes no ambiente do PET, oriundo do desenvolvimento dos seus integrantes, prepara de forma eficaz os indivíduos para a vida. Mas toda essa formação citada, desde os capítulos anteriores deste livro e reforçada aqui, não seria possível caso a essência do PET não estivesse baseada na dimensão do ensino tutorial. É evidente que o período em que um acadêmico permanece no PET desde o seu ingresso, por no mínimo dois anos, é um tempo importante para que haja trocas efetivas de experiências e conhecimentos, tanto entre tutor e acadêmico quanto entre os estudantes da mesma ou de diferentes instituições. Essa formação é um diferencial que foge do ensino convencional, quando comparado com outros programas, além de extrapolar o nível técnico. Pode-se citar a seguinte expressão: “O jeito PET de ser”, pois pensar os grupos PET é pensar em uma filosofia pautada na essência e efervescência política intrínseca 136 | 137

do programa, que gera o ambiente ideal para a constituição de cidadãos responsáveis e profissionais altamente qualificados. Nesse sentido, afirma a prof.ª Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira no exercício da função de tutora no período de 1997 a 2002: Mais aprendi do que ensinei, pois esta função contribui decisivamente para o desenvolvimento de uma nova postura acadêmica, a de observar e acompanhar o aluno em suas múltiplas dimensões, pois, antes de ser aluno, ele é indivíduo no sentido amplo do termo, que tem enormes desafios a enfrentar para se tornar um bom profissional.

Realidades

O maior mérito do PET é o desenvolvimento do trabalho em equipe. Laura Vitória Rezende Dias (egressa do PET Engenharias – Conexões de Saberes)

Os grupos da UFG estão em consonância com os vários aspectos do Programa de Educação Tutorial: alguns privilegiam uma formação fortemente cidadã, oferecendo aos seus participantes a possibilidade de desenvolver habilidades de diálogo, resolução de conflitos, criatividade e liderança, visando à formação de um profissional ativo política e civilmente; outros estão marcados pelo interesse de desenvolver

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competências para um mercado de trabalho ativo, com uma demanda globalizada. No geral, são grupos que destacam a pró-atividade, o desenvolvimento acadêmico e o empreendedorismo. Assim, todos os grupos são estimulados pelo trabalho em equipe, desenvolvendo novas habilidades, tais como lidar com o grande público e ter a autoconfiança e a iniciativa pessoal fortalecidas. Nesse cenário de diferentes olhares sobre o mesmo tema, os grupos PET realizam suas atividades de forma ímpar quando comparados aos demais programas institucionais, pois visam à vivência articulada entre ensino, pesquisa e extensão e a formação de um profissional cidadão. Desenvolver atividades que congreguem a tríade básica da universidade pública é uma tarefa muito árdua, que demanda planejamento e entendimento sobre o papel de cada ator. Desse modo, muitos grupos têm resultados relevantes que demonstram essa indissociabilidade, como, por exemplo, o estudo sobre artesanato das diferentes etnias presentes no Petli; o encontro de bioética realizado pelo PETBio; as atividades de envolvimento com a comunidade que promovem a saúde e o bem-estar no passeio ciclístico realizado na primavera, que é promovido todo ano pelo

PET-Engali, e do qual participa a maioria dos grupos do PET da UFG; as ações do grupo Petnut na área de nutrição clínica e nas unidades de alimentação e nutrição. Nesse ponto sobre a indissociabilidade, é importante destacar a organização e a realização do XIV Enapet em Goiânia em 2011, uma atividade que congregou todos os grupos PET da UFG, dos mais antigos aos mais recentes, formados de acordo com o edital de 2010. Naquele momento, entre as dificuldades surgidas e o esforço para transpô-las, observou-se que os grupos formaram ligações de amizade e profissionalismo, tanto entre tutores quanto entre petianos, tornando a realidade do PET mais presente entre os grupos da UFG. A formação de um profissional ativo e diferenciado no mercado também é preocupação constante nos grupos PET, pois ao fortalecer o(s) curso(s) de graduação nos quais estão inseridos, visam disponibilizar oportunidades diferenciadas para os graduandos que completam ou enriquecem a matriz curricular. Muitas dessas atividades têm o objetivo de preparar o graduando para um mercado de trabalho globalizado e competitivo, que necessita de maturidade emocional, liderança e criatividade. Assim, vários grupos dentro de suas 138 | 139

atividades estimulam essas habilidades, visando tornar o petiano mais preparado para o mercado. São exemplos as atividades vivenciadas no PET Engenharias (Conexões de Saberes) que vão desde curso de inglês até apresentação do grupo Clown para criatividade, desinibição e postura; as visitas técnicas desenvolvidas pelo Petengali em locais de trabalhos potenciais para os petianos e para os alunos da graduação em Engenharia de Alimentos; os diversos momentos de discussão que ocorrem nos vários grupos, bem como o desenvolvimento de atividades de ensino. Todas essas atividades almejam preparar o petiano para o mercado de trabalho. A formação diferenciada não retoma o conceito elitista que havia no PET, no primeiro momento de sua origem no Brasil. Ao contrário, nos grupos da UFG, ao objetivar-se a preparação do acadêmico para o mercado, tenta-se oferecer oportunidades que não estão presentes na matriz curricular do curso. É importante ressaltar que as atividades têm como fundamentação desenvolver a inteligência emocional, a confiança e a flexibilidade, preparando os petianos para lidar com as oscilações existentes entre as equipes de trabalho no mercado profissional, no qual serão inseridos após a graduação. O PET na UFG também responde às políticas da SESu que estão pautadas em estimular a criação de grupos que favoreçam a inclusão e a diversidade. Nesse cenário, a UFG possui três grupos que atendem a essas políticas. São eles: Petli, PET Engenharias (Conexões de Saberes) e PET Cidade de Goiás. Dessa forma, a interdisciplinaridade é uma perspectiva a ser consolidada em futuro próximo na instituição.

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Perspectivas O PET tem sido muito estimulado nestes últimos anos na UFG, muito em resposta aos editais de expansão do PET pela SESu, muito pela característica da instituição em incentivar o programa, creditando a ele capacidade para melhorar os cursos de graduação, nos quais estão instalados, e para a formação diferenciada dos alunos que participam do programa, reconhecendo nela a possibilidade concreta de um mecanismo modificador. Neste sentido, o depoimento da prof.ª Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira, tutora do PET Geografia em 1997, reforça essa perspectiva do PET na UFG: Atualmente, o formato mudou para melhor. Tive a oportunidade, quando fui Pró-Reitora de Graduação da UFG de atuar na interlocução com o MEC por meio do Forgrad, na defesa da manutenção do programa e de sua inserção efetiva pela via do ensino de graduação, o que se concretizou em 2005. E, desde então, creio que a fórmula se aprimorou, inclusive por um aspecto que antes era considerado negativo, o de que o programa criava uma espécie de “elite” entre os alunos de graduação. Este aspecto, creio que está relativizado, é uma prova evidente do

Quando formada, atuando como profissional, será mais fácil a convivência com as pessoas. Gabriela Rodrigues Alves (egressa do PET Enfermagem – Jataí) 140 | 141

vigor e da capacidade do grupo de se rearticular e encontrar formatos e vias que favoreçam o seu desenvolvimento. Portanto, o que gostaria de ver: um grupo em cada curso da UFG.

Uma realidade recente aflorada na instituição gerou uma demanda para discussões importantes no PET. Atualmente, há grande número de programas institucionais que oferecem bolsas, mas o surgimento do programa Ciências sem Fronteiras afastou parte dos petianos dos grupos. Isso promoveu uma situação ímpar entre os grupos, ou seja, uma elevada rotatividade de alunos, o que dificulta o andamento dos projetos, uma vez que são desenvolvidos em perspectivas pelo menos anuais. A formação do CLAA – Comitê Local de Acompanhamento e Avaliação – em atendimento à Portaria nº 976, de 27 de julho de 2010, alterada pela Portaria nº 343, de 24 de abril de 2013, trouxe inovações para a estrutura do PET como, por exemplo, a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, a união do PET com o Programa Conexões de Saberes, a definição de tempo máximo de exercício da tutoria, a aproximação com a estrutura acadêmica da universidade e a definição de estruturas internas de gestão do PET.

Essa instância administrativa passou a cumprir papel importante para integração e comunicação entre os grupos, que começaram a discutir mais seus problemas, as soluções e a participação em projetos conjuntos, como, por exemplo, o passeio ciclístico, de iniciativa do grupo Petengali. O futuro do PET na UFG depende de sua consolidação dentro da instituição e de sua valorização junto aos programas de pós-graduação, que, em muitos casos, pontuam a participação do petiano com valores menores em relação àqueles candidatos que participaram de programas exclusivos de iniciação científica. Isso muitas vezes ocorre porque grande parte dos docentes desconhece o que é o PET, e, dessa forma, a visibilidade do programa dentro da instituição deve ser um tema constante em nosso presente e no futuro próximo. É notório que os reflexos da educação tutorial na formação universitária caracterizam uma dimensão indissociável do processo de modernização das instituições de ensino superior. Reforça esta perspectiva o depoimento do prof. Edward Madureira Brasil: [...] é claro que esse programa deve ser valorizado

pelas

administrações

das

O Programa de Educação Tutorial na UFG

universidades no sentido de fortalecê-lo sempre e institucionalizá-lo o máximo possível. Porque é uma ferramenta realmente poderosa na formação do estudante. Os reflexos do PET na universidade também são percebidos com clareza, pois as unidades que possuem grupos PET “andam mais depressa” na integração de ensino, pesquisa e extensão. É notório que as unidades já contempladas pelo programa hoje têm muito mais facilidade de integrar conhecimentos e trabalhar de forma conjunta. É interessante salientar que outra característica que tem o PET é a integração não só do “tripé” que sustenta a universidade, mas também a integração dos conhecimentos. Os eventos são concebidos de modo a trabalhar de forma conjunta, envolvendo estudantes de diferentes formações. Nesse sentido, estimula o convívio de estudantes de diferentes áreas. Eles trabalham juntos refletindo sobre as questões do dia a dia. Isso está também na origem de sistemas importantes para o país, como no Sistema Único de Saúde, que preconiza uma formação multiprofissional. Esta formação integrada deve ser uma característica que deve permear todas as atividades. A nossa formação se originou da reunião de faculdades isoladas. Essa cultura disciplinar ainda é muito forte, e o PET vem

O PET é um programa que tem seus objetivos voltados para a melhoria de nossa formação acadêmica por meio do desenvolvimento de atividades diversificadas. Além de contribuir para a elevação da qualidade de nossa formação acadêmica, o PET estimula a formação de futuros profissionais e docentes de alta qualificação humana, científica, tecnológica e técnica, valorizando sua atuação profissional pela cidadania, bem como sua função social. Rivaldo Warinimytygi Tapirapé (aluno do PET– Licenciatura indígena)

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contribuir para que se tenha uma cultura interdisciplinar, reforçando o conceito de interdisciplinaridade. Uma tendência é a interiorização do programa para todos os câmpus da UFG, o que motiva a integração desta universidade. Integram-se as várias áreas da UFG, os sustentáculos da universidade. Integram-se as unidades acadêmicas, as diferentes profissões e ainda os diferentes câampus. Incluir é a palavra, o PET inclui [...].

A palavra “incluir” citada no depoimento do reitor reforça uma tendência explicitada nos capítulos iniciais, deixando claro o cenário atual, no qual as universidades abandonaram o caráter assistencialista e passaram a contribuir com a sociedade por meio da elaboração de projetos fundamentados em problemas sociais concretos, situados no tempo presente e em sintonia com a realidade vivenciada pelas comunidades, exercendo assim as chamadas políticas públicas inclusivas. A expansão de novos grupos PET também é uma meta futura, pois, ao atender-se os editais com projetos institucionais, visa-se a melhoria do ensino como um todo, pois há necessidade de oportunizar mudanças dentro dos cursos de graduação da UFG e consolidar o programa na instituição, expandindo para os câmpus do interior, como Catalão, Jataí e Cidade de Goiás.

Referências BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/1996. Brasília: 1996.

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© Rogério Ferreira, 2013 © Estelamaris Tronco Monego, 2013 Capa Rogério Ferreira Comissão de Divulgação do XVI ENAPET ASCOM/UFG Revisão Luís Araujo Pereira Revisão Editorial Maria das Graças Monteiro Castro Projeto gráfico e Editoração Eletrônica Ricardo Rafael Campos Conselho Editorial Dalva Eterna Gonçalves Rosa Gisele de Araújo Prateado Gusmão Lawrence Gonzaga Lopes Marilda Shuvartz Ricardo Antônio Gonçalves Teixeira Valquíria da Rocha Santos Veloso

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) F368p Ferreira, Rogério, org.

O programa de educação tutorial na UFG./ Rogério Ferreira e Estelamaris Tronco Monego. - Goiânia : Prograd/Funape, 2013. 148 p. ISBN: 978-85-8083-121-4 1. Programa de educação tutorial – UFG 2. Monego, Estelamaris Tronco, org. I.Título CDU 37.018

Este livro foi composto em Revival 555 BT e os títulos em Delicious. O miolo foi impresso em papel Offset 75gr e a capa em papel Supremo 240gr

O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL NA UFG O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL NA UFG - realidades, concepções e perspectivas

‘‘A participação em um grupo PET possibilita mudanças notáveis na vida acadêmica de um estudante, uma vez que oportuniza vivências que interferem positivamente em vários campos do saber. Neste cenário, é possível ampliar a visão sobre o papel da formação e seu reflexo na prática profissional. [...] Além disso, a troca de experiências entre os alunos integrantes do grupo PET, oriundos de diferentes períodos do curso de graduação, oportuniza uma troca de saberes que se configura como uma tutoria aluno/aluno. [...] O estudante sai do ambiente de estudo com visão ampla, tendo diferencial pessoal e profissional, que faz com que ele esteja seguro do que sabe e do que quer’’.

realidades, concepções e perspectivas

ROGÉRIO FERREIRA ESTELAMARIS TRONCO MONEGO organizadores

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