DETERMINAÇÃO DA RELAÇÃO RESISTÊNCIA / RIGIDEZ E TEOR DE UMIDADE DA MADEIRA DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

May 15, 2020 | Author: Andreia Lage Cavalheiro | Category: N/A
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DETERMINAÇÃO DA RELAÇÃO RESISTÊNCIA / RIGIDEZ E TEOR DE UMIDADE DA MADEIRA DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage Morgana Cristina França 1, Alexsandro Bayestorff da Cunha 2 Resumo Neste trabalho, foi analisada a influência do teor de umidade sobre a densidade da madeira e as variáveis do ensaio de flexão estática. O material foi proveniente de reflorestamentos de Eucalyptus benthamii com 13 anos. A norma utilizada a campo foi a COPANT 458 e nos ensaios foi a NBR 7190. Para a obtenção do material em diferentes teores de umidade, foram confeccionados 100 corpos de prova, os quais foram ensaiados quando atingiam o teor de umidade pretendido no estudo, o qual foi obtido através da saturação, secagem e ambiente climatizado. A análise dos dados foi por meio da análise da variância e teste de tukey. Os resultados demonstraram que a densidade aumenta com o aumento do teor de umidade, porém estatisticamente, verificou-se que até o ponto de saturação das fibras não houve diferença. Quanto ao módulo de elasticidade e ruptura observou-se o contrário, à medida que madeira recebe umidade do ambiente, a rigidez e a resistência tendem a diminuir até o ponto supracitado, e a partir deste, permanece praticamente inalterada. Os resultados indicam ainda que a relação entre a madeira em estado de saturação e a 12% de umidade foi de 1,60 e 1,37 para os módulos de elasticidade e de ruptura, respectivamente. Palavras-chave: “Espécie Florestal Alternativa”, “Densidade”, “Resistência e Rigidez”. Determination of relation resistance / stiffness and moisture content of wood Eucalyptus benthamii Abstract In this study, were analyzed regarding influence of moisture content on wood density and the variables of the static bending. The material was reforestation of Eucalyptus benthamii with 13 years. The standard used in the field was to COPANT 458 and in the tests was to NBR 7190. To obtain the material at different moisture contents were prepared 100 samples, which were tested when they reached the desired moisture content in the study, which was obtained through the saturation, and drying air conditioned environment. Data analysis was achieved by analysis of variance and tukey test. The results showed that the density increases with increasing moisture content, but statistically, it was found that up to the saturation point of the fibers there was no difference. The modulus of elasticity and rupture was observed the reverse, as the timber receives the humidity rigidity and strength tend to decrease to the point above, and from this point, remains practically unchanged. The results also indicate that the relationship between the wood in a state of saturation and 12% moisture content was 1.60 and 1.37 for modulus of elasticity and rupture, respectively. Keywords: “Alternative Forest Species”, “Density”, “Strength and stiffness”. INTRODUÇÃO Quando se pensa em espécies de rápido crescimento para a produção de madeira, o gênero Eucalyptus é um dos mais utilizados, comportando várias espécies que se adaptam de forma fácil em vários ambientes, podendo abranger diversas necessidades madeireiras. Segundo Stape (1996), o gênero Eucalyptus está muito ligado aos processos produtivos e não produtivos em todo o Brasil, principalmente nas regiões sul e sudeste que formam o maior pólo consumidor e exportador de madeiras vindas de plantios florestais. Nestas mesmas regiões, além de ser usada da forma habitual como lenha, carvão, dormentes, chapas, entre outros, a madeira é usada para a construção de casas, móveis e estruturas (PEREIRA et al, 2000).

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Acadêmica do Curso de Engenharia Florestal, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, [email protected]

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Engenheiro Florestal, Dr., Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, [email protected]

Embora o eucalipto esteja cada vez mais presente no abastecimento da indústria moveleira, ele apresenta algumas restrições próprias de espécies de rápido crescimento. Isso se deve a pouco conhecimento sobre a tecnologia do gênero, sendo apontado como um dos principais problemas para a sua utilização (GONÇALEZ et al, 2006). Quando se referencia o gênero supracitado, o Eucalyptus grandis se destaca como o mais plantado em todo o Brasil, porém devido o clima frio pertencente à região serrana de Santa Catarina, a espécie que mais está sendo difundida é o Eucalyptus dunnii, mas, estudos vêm buscando outras alternativas que suportem o clima frio, pois o E. dunnii quando usado como madeira serrada apresenta grande quantidade de rachaduras, colapsos e empenamentos. Então, uma espécie que já está recebendo atenção e sendo estudada, devido ao seu potencial característico de sobreviver em baixas temperaturas é o Eucalyptus benthamii et Cambage (NISGOSKI et al, 1998). Como os demais eucaliptos, o E. benthamii possui uma madeira dimensionalmente instável, com índices elevados de contração e anisotropia, fatores que explicam a alta intensidade de defeitos observados na madeira serrada, mesmo em condições amenas de secagem, em temperatura ambiente e à sombra (HIGA, 2003). A madeira é moderadamente dura, adequada para uso em locais protegidos (HALL BROOKER, 1973). Diversos estudos vêm tentando apresentar quais são os fatores que afetam mais as propriedades físicomecânicas da madeira, além daqueles que podem estar inerentes a madeira. De acordo com Evans et al (2000), as características mecânicas da madeira são influenciadas principalmente pela densidade básica, porcentagem de madeira juvenil, largura dos anéis, teor de umidade, inclinação das grãs, do tipo e localização dos nós, entre outros. Panshin e De Zeeuw (1964), afirmam que a densidade básica vai aumentando conforme a idade da árvore e que as propriedades mecânicas vão sendo alteradas com a quantidade de extrativos, que pode vir a aumentar a compressão axial da madeira. Green et al (1999), apud Lobão et al (2004), citaram que as propriedades mecânicas são afetadas pela mudança do teor de umidade abaixo do ponto de saturação das fibras, diminuindo com o aumento desse teor. Oliveira (1997) citou que a resistência do gênero Eucalyptus pode variar de baixa a alta, e que isso se deve ao fato de existir mais de 600 espécies onde estas se adaptam aos mais diversos ambientes, tipos de solos e condições climáticas. Scanavaca Júnior e Garcia (2004), ainda afirmam que o módulo de ruptura e o módulo de elasticidade são os dois parâmetros mais avaliados em testes de flexão estática, sendo o MOE de maior importância na caracterização tecnológica da madeira, pois recebe uma força aplicada perpendicularmente ao eixo longitudinal da madeira, podendo assim representar a resistência da mesma. A umidade não pode ser considerada uma característica intrínseca da madeira, sendo seu estudo de fundamental importância por se tratar de um parâmetro que afeta o comportamento do material quanto à trabalhabilidade, estabilidade dimensional, resistência mecânica e durabilidade natural. Ela é um material orgânico, complexo, heterogêneo e altamente higroscópico, tendo a capacidade de retrair e inchar com a variação de umidade no ambiente. Onde essa variação, pode alterar as características de resistência mecânica dos elementos estruturais da madeira (OLIVEIRA e SILVA, 2003). De acordo com Oliveira (1998), conhecer a respeito da higroscopicidade da madeira é muito importante para a mesma ser usada de forma correta. Pois, tem-se conhecimento que quando a madeira é seca a um teor de umidade igual o próximo aquele de equilíbrio onde ela será estabelecida, os problemas em relação à umidade poderão ser eliminados ou reduzidos de forma significativa. Esse trabalho tem como objetivo analisar a influência do teor da umidade sobre a densidade da madeira, bem como as variáveis de módulo de elasticidade (MOE) e módulo de ruptura (MOR) no ensaio de flexão estática. MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização da matéria prima O material utilizado no presente estudo foi proveniente de reflorestamentos de Eucalyptus benthamii com 13 anos de idade da empresa Klabin, os quais estavam situados na cidade de Palmeira-SC. Para a realização do projeto, selecionou-se cerca de 10 toras com diâmetro entre 25 e 30 cm e comprimento de 2,4 m, de forma a avaliar a relação entre a resistência / rigidez da madeira e o teor de umidade em diferentes situações. De cada torete, foi retirado um semi-bloco central com 8 cm de altura, o qual deveria conter a medula e a casca, posteriormente foram retiradas vigas de 8 X 8 cm, onde na região central do material deveria ser retirada uma viga que contivesse a medula, a qual foi descartada. Das vigas foram retirados aproximadamente 100 corpos de prova para os ensaios de flexão estática para a obtenção das variáveis de módulo de elasticidade e módulo de ruptura. Salienta-se que o preparo do material desde a derrubada das árvores até a obtenção das vigas foi realizado de acordo com a norma COPANT 458 (1972) e que estas operações foram feitas pelas empresas / instituições parceiras no projeto, sendo as operações de derrubada, seccionamento em toretes, transporte foram feitos pela Klabin; desdobro em semi-bloco na Madepar e a secagem, confecção dos corpos de prova pela UNIPLAC.

Desenvolvimento do experimento Os ensaios tecnológicos foram executados de acordo com a NBR 7190, sendo que primeiramente os corpos de prova foram colocados em uma câmara climatizada, onde ficaram armazenados a temperatura de 20oC e 65% de umidade relativa. Na sequência, os corpos de prova foram separados em grupos de 10, dos quais 50 foram levados à saturação completa. Quando a saturação foi alcançada, o primeiro grupo de 10 corpos de prova foi pesado em uma balança de precisão e medido pelo método esteriométrico para a determinação do volume e consequentemente, obtenção da densidade. Este grupo foi submetido ao ensaio de flexão estática em uma máquina universal de ensaios para a obtenção das variáveis de interesse. Após 15 dias da retirada do material da água, outro grupo de 10 corpos de prova foram submetidos ao mesmo processo e assim sucessivamente até se esgotar os 5 grupos. Após o ensaio dos corpos de prova, as amostras foram colocadas em uma estufa a temperatura de 103+/-2oC, durante 7 dias para que atingissem 0% de umidade, e com isso conseguiu-se determinar o teor de umidade real que os corpos de prova apresentavam no momento do ensaio através da relação entre o peso úmido e seco da peça. Os outros 50 corpos de prova ficaram em estufa durante aproximadamente 7 dias a uma temperatura de 103+/-2oC até que sua estrutura ficasse totalmente seca. Após isso, eles foram pesados, periodicamente até a estabilização do seu peso. Com isso realizou-se o primeiro ensaio, quando ele ainda estava a um teor de umidade de 0%. Para a realização desse ensaio houve a necessidade dos corpos de prova serem pesados e medidos, pelo método estequiométrico, antes de ser efetuado o ensaio de flexão estática, para ser possível a determinação do volume e densidade. Depois do ensaio do primeiro grupo que se encontrava a 0% de umidade, desejou-se que os outros grupos atingissem a marca de 5%, 10%, 15% e 20% de umidade, para isso os 40 corpos de prova foram separados novamente em grupos de 10. Para saber quando os corpos de prova chegassem à umidade desejada, eles eram pesados secos e calculados através da fórmula do teor de umidade, anteriormente citada, o peso que deveriam ter para chegar a sua respectiva umidade. Para que isso ocorresse, os corpos de prova eram pesados diariamente. Quando eles atingiam o peso estipulado pela fórmula, era efetuada a medição de suas dimensões para futuramente ser determinado seu volume e sua densidade, para então ser realizado o ensaio de flexão estática na máquina universal de ensaio. Ensaios tecnológicos O ensaio de flexão estática foi realizado em uma máquina universal de ensaios com capacidade de força de 30 toneladas, a qual aplicava uma força com uma velocidade constante de 10 Mpa/min até atingir a ruptura do material, sendo que durante a execução do ensaio o programa da máquina registrava através uma curva de carga / deformação, para no final do mesmo calcular as variáveis de interesse (MOE e MOE). Os corpos de prova foram confeccionados com dimensões de 2 x 2 x 30cm, sendo o vão (distância entre os pontos de apoio de 24 cm) e o cabeçote de aplicação da carga posicionado de forma a atingir o corpo de prova no meio do seu comprimento. Determinação das variáveis da flexão estática (MOE e MOR) O MOE foi obtido com base na deformação de corpos de prova e a carga correspondente no limite proporcional de elasticidade (Equação 1), ou seja, ponto em que o material está com sua elasticidade total e a partir deste começará a apresentar deformação residual.

Equação 1 Onde: MOE = Módulo de elasticidade à flexão estática em kgf/cm2; PLP = Carga Aplicada no limite proporcional; L = Distancia entre o apoio e o ponto de aplicação da carga; dLP = Deformação no limite proporcional; b = Base; h = Altura. Além do Módulo de Elasticidade, determinou-se o Módulo de Ruptura (MOR), onde se determina o máximo de esforço que a madeira pode receber até ela vir a quebrar. Ela pode ser obtida através da Equação 2.

Equação 2

Onde: MOR = Módulo de Ruptura em Kgf/cm2; Pmax = Carga Máxima expressa em kg; L = Distancia entre o apoio e o ponto de aplicação da carga; b = Base; h = Altura. Determinação da densidade Para se comparar a densidade era necessário que as amostras apresentassem o mesmo teor de umidade, pois qualquer alteração pode vir a provocar mudança no peso, podendo levar dessa forma a um erro laboratorial. Além disso, o conhecimento da densidade é fundamental para que se tenha um conhecimento sobre a qualidade da madeira e para uma futura classificação da mesma. A densidade foi determinada com auxilio de uma balança analítica e do paquímetro, obtendo-se desta forma o peso e o volume, e consequentemente a variável de interesse. Análise estatística A análise dos dados foi realizada por meio da Análise da Variância que teve por objetivo a comparação das médias entre os tratamentos e caso houvesse diferença entre as variáveis analisadas aplicava-se o teste de Tukey a 95% de probabilidade. Salienta-se que nas tabelas, os números seguidos de letras iguais, não diferem estatisticamente a 95% de probabilidade, segundo o teste de Tukey. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Pode-se afirmar que existe uma relação direta entre densidade e teor de umidade da madeira, tendo em vista que à medida que é incorporada água nas estruturas celulares, seja água de impregnação em nível de parede celular ou água de capilaridade nos espaços vazios como o lúmem, o peso da madeira aumenta até que o material atinja seu estado de saturação e o volume aumenta na mesma proporção até o ponto de saturação das fibras (PSF), que está em torno de 32 a 35% para folhosas com porosidade difusa sem cerne distinto e 22 a 24% para coníferas e folhosas com porosidade em anexo, com cerne distinto. No entanto, na prática adota-se o PSF como 28 ou 30% de umidade. Na tabela 1, aplica-se as considerações realizadas anteriormente, onde os maiores valores de densidade estão nos tratamentos com teor de umidade acima de 70% de umidade, estando em torno de 1 g/cm3 e os menores valores abaixo de 30% de umidade, ou seja, em torno do PSF com exceção das amostras do tratamento 6 que ficaram com valores aos entrados nesta última faixa mencionada. Este fator pode ter ocorrido em função da posição de retirada das amostras ao longo do fuste, podendo ser amostras localizadas em sua totalidade no cerne e/ou na base do tronco onde estão localizados os tecidos de sustentação da árvore, os quais apresentam maior constituição celular, e portanto mais peso e maior densidade. Desta forma, a diferença estatística encontrada entre os diversos tratamentos já era esperada, mas não a homogeneidade dos dados entre 0 e 30%. Tabela 1 – Relação entre teor de umidade e densidade das amostras de Eucalyptus benthamii Table 1 - Relationship between moisture content and density of the samples of Eucalyptus benthamii. Tratamento Teor de Umidade (%) Média da Densidade (g/cm3) 1 0 0,63 ab 2 5 0,73 bc 3 10 0,65 ab 4 15 0,64 ab 5 20 0,71 abc 6 25 0,59 a 7 30 0,68 abc 8 35 0,74 bc 9 40 0,79 c 10 45 0,73 bc 11 50 0,86 cd 12 55 0,72 abc 13 70 1,07 e 14 75 1,03 e 15 80 0,95 de Na análise da Figura 1, pode-se colocar as mesmas considerações, porém fica mais fácil a visualização do incremento da densidade em função do aumento do teor de umidade até atingir teores de umidade próximos ao estado de saturação, que segundo as equações de cálculo de máximo teor de umidade, está em torno de 120%, considerando densidade a 0% de 0,63 g/cm3.

Figura 1 - Densidade do Eucalyptus benthamii em diferentes estágios de umidade Figure 1 - Density Eucalyptus benthamii at different stages of moisture Desta forma, como ocorre uma grande variação da densidade e consequentemente das demais propriedades físicas e mecânicas da madeira, é fundamental estabelecer valores fixos de umidade (0, 12, 15%) para comparação das propriedades entre as mais diversas espécies e também dentro da mesma espécie devido a outros fatores que influenciam na determinação da variável de interesse. Outro ponto a ser abordado é que a madeira deve ser sempre utilizada com a umidade próxima ao teor de umidade de equilíbrio higroscópico, que é função das condições de umidade relativa e temperatura do ar, próprios de cada região. Pigozzo (1982) afirmou que uma peça retirada da árvore recém derrubada tem um peso muito maior do que a mesma peça climatizada a 12% de umidade ou menos. Em estudos, Oliveira (1997) apresentou para as condições climáticas brasileiras, o teor médio de umidade de equilíbrio higroscópico para a madeira próximo a 15%, com algumas variações, dependendo de cada região e épocas do ano. Também no caso da distribuição de umidade dentro da árvore, concluiu existir variações significativas, pois a maior ou menor capacidade de retenção de umidade no lenho, está diretamente relacionada à sua densidade. Outro ponto que pode ser abordado com relação à importância da retirada da umidade da madeira até condições favoráveis de uso e/ou beneficiamento está o aumento da resistência / rigidez que posteriormente será abordado na análise do MOE e do MOR, redução da variação dimensional, redução da probabilidade do ataque de fungos, maior eficácia no tratamento contra organismos xilófagos e eficiência na aplicação de tintas e vernizes. Bodig & Jayne (1982), Kollmann & Côté (1984), Szucs (1992) propõem relacionar o módulo de elasticidade da madeira com a densidade a um teor de umidade constante, pois trata-se de parâmetro que mede a quantidade de madeira lenhosa dentro de um volume considerado, determinante na caracterização do material. Haselein et al (2002) citaram que abaixo do ponto de saturação das fibras há diminuição na resistência mecânica com o aumento do teor de umidade. Este trabalho confirma essa hipótese quando se confrontam com os dados expressos na Figura 2. Esses autores também encontraram valores inferiores de resistência mecânica para madeiras verde de Eucalyptus saligna de 10 anos de idade.

Figura 2 - Representação gráfica do módulo de elasticidade em função da variável teor de umidade da madeira. Figure 2 - Graphical representation of the modulus of elasticity as a function of the variable moisture content of wood

A figura 2 mostra o comportamento do módulo de elasticidade quando analisado em diferentes teores de umidade, onde ele comprova que a madeira apresenta maior rigidez quando está em níveis mais baixos de umidade, e sofre certa estabilidade quando a madeira chega a o ponto de saturação das fibras (28% - 30%), sendo esse representado pelo tratamento 7. Essa estabilidade se deve ao fato de a madeira não possuir mais água livre e sim apenas água na parede celular e nas ligações químicas, portanto, com a retirada da umidade destas estruturas, as mesmas tendem a se aproximar e formar um complexo mais compacto e resistente. Na tabela 2, enfatiza-se o que foi representado na figura 2, onde se pode observar que a análise estatística para os dados apresentou como melhores tratamentos os dois teores de umidade iniciais, 0 e 5% de umidade respectivamente, e os piores acima do ponto de saturação das fibras, próximo a 28% sem diferença estatística entre estes valores. Stangerlin et al (2010), estudando as propriedades de flexão estática da madeira de Carya illinoinensis em duas condições de umidade (12% e em estado de saturação) verificou as mesmas características mencionadas no presente estudo, onde de modo geral a presença de água na madeira reduziu substancialmente os valores de elasticidade e resistência, já que as médias apresentadas pelos corpos-de-prova submetidos as duas condições de umidade diferiram significativamente entre si. A alteração dos valores de elasticidade e resistência ocorre de forma distinta, em termos de magnitude, para cada tipo de ensaio mecânico, sendo que, normalmente, há uma diminuição das propriedades com o aumento do teor de umidade, até que o ponto de saturação das fibras seja atingido. Segundo Trevisan et al (2003) e Lima et al (1986) a única exceção que se tem são nos ensaios mecânicos de tração perpendicular as fibras, em que não são observadas diferenças significativas nas propriedades mecânicas da madeira verde e seca. Tabela 2 – Relação entre teor de umidade e módulo de elasticidade das amostras de Eucalyptus benthamii Table 2 - Relationship between moisture content and modulus of elasticity of samples of Eucalyptus benthamii Tratamento Teor de Umidade (%) Módulo de Elasticidade (kgf/cm2) 1 0 98962 d 2 5 106886.9 d 3 10 74942 c 4 15 51434.3 abc 5 20 65180.9 bc 6 25 38819.3 a 7 30 49569 ab 8 35 53100.1 abc 9 40 43285.8 ab 10 45 46594 ab 11 50 39431.5 a 12 55 31816 a 13 70 65215 bc 14 75 46791.5 ab 15 80 73267.89 c Haselein et al (2003) estudou as propriedades de flexão estática da madeira úmida e a 12% de umidade de um clone de Eucalyptus saligna smith sob o efeito do espaçamento e da adubação e observou que para a madeira desta espécie o MOE da madeira úmida foi 1,29 menor do que da madeira a 12% de umidade. Já para o MOR, o valor encontrado foi 1,4 vezes menor para a mesma relação. No presente estudo a relação entre estes dois estados de umidade foi de 1,60 para MOE e 1,37 para MOR. Esta relação demonstra a grande diferença de rigidez e resistência entre os dados encontrados. A Tabela 3 refere-se ao teste de médias realizado com o módulo de ruptura, onde mais uma vez ocorre uma similaridade com o teste de tukey para módulo de elasticidade. Nesse caso os valores de 15% até 55% de umidade para o MOR não diferem significativamente a um nível de 5% de probabilidade. E mais uma vez, o tratamento 6 (25%), se encontra fora desse parâmetro, devendo esse fato ser explicado pela localização que a madeira foi retirada da árvore para a fabricação do corpo de prova. Quando se analisa o módulo de ruptura, pode-se observar uma grande relação com o módulo de elasticidade, onde os mesmo apresentam maiores valores quando o teor de umidade é menor, além de ir decrescendo até o ponto de saturação das fibras, em torno de 28% de umidade, onde ocorre a estabilização destes valores.

Tabela 3 – Relação entre teor de umidade e módulo de ruptura das amostras de Eucalyptus benthamii Table 3 - Relationship between moisture content and modulus of rupture of the samples of Eucalyptus benthamii. Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Teor de Umidade (%) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 70 75 80

Módulo de Ruptura (kgf/cm2) 1041.83 de 1289.64 e 741.01 cd 614.78 abc 675.56 abc 394.9 a 509.42 abc 563.19 abc 538.84 abc 504.85 abc 531.3 abc 416.6 ab 766.65 cd 541.02 abc 709.49 bc

Figura 3 - Representação gráfica do módulo de ruptura em função da variável teor de umidade da madeira. Figure 3 - Graphical representation of the modulus of rupture due to the variable moisture content of wood. De acordo com o ensaio, foram encontradas evidências de diferenças signi ficativas, ao nível de 95% de probabilidade, entre os tratamentos, com relação à densidade, módulo de elasticidade e ruptura. Rejeita-se, portanto, a hipótese de nulidade. Deve-se dessa forma existir, pelo menos um contraste signi ficativo entre as médias de tratamentos, com relação à densidade, MOE e MOR médio. Assim permite-se analisar corretamente os dados pelo fato de o valor de F apresentar um valor superior ao valor de P. Sendo os valores: 28.947, 20.573 e 14.752, respectivamente para densidade, MOE e MOR. Isso comprova ser viável testar os diferentes teores de umidade entre si. As tabelas 1, 2 e 3 representam o teste de Tukey da densidade, do MOE e MOR respectivamente, onde fica evidenciado estatisticamente que apenas o tratamento 25%, 40%, 70% e 75% diferem significativamente de todos os outros, a um nível de 95% de probabilidade na variável densidade. Quando se trata do MOE pode-se afirmar que apenas os teores de umidade 0%, 5%, 10%, 25%, 50%, 55% e 80%, apresentam-se diferença significativa. Já, quando se analisa a variável MOR, pode-se concluir que há uma redução significativa da quantidade de tratamentos que não são estatisticamente iguais aos demais. Sendo que os mesmos são representados pelo tratamento 2 que tem como teor de umidade 5% e o tratamento 6 que apresenta umidade de 25%. Outra análise realizada nesse estudo foi à correlação existente entre os teores de umidade nas variáveis estudadas, sendo elas: densidade, MOE e MOR. A importância se deve a ela ser a medida padronizada da relação entre duas variáveis que indicam a força e a direção do relacionamento linear entre estas duas variáveis aleatórias. ARMSTRONG et al (1984) investigaram o efeito da densidade básica sobre o módulo de elasticidade à flexão estática, para diversas madeiras comerciais do mundo. Apresentaram um coeficiente de determinação, para a relação entre a densidade e o módulo de elasticidade de 0,79.

Quando se analisou as correlações, ficou comprovado que todas as variáveis sendo elas densidade, módulo de elasticidade e ruptura obtiveram maior relação entre os tratamentos 3 e 4, onde estes possuíam os teores de umidade de 10% e 15% respectivamente. Os valores apresentados nas correlações são de 0.91, 0.78 e 0.79 para a correlação do teor de umidade com a densidade, MOE e MOR respectivamente. CONCLUSÃO A densidade da madeira de Eucalyptus benthamii aumentou com o incremento do teor de umidade em função do aumento da massa e volume, sendo que até o ponto de saturação das fibras não houve diferença estatística entre os valores encontrados. Em relação ao módulo de elasticidade, verificou-se que abaixo do ponto de saturação das fibras houve diminuição na rigidez com o aumento do teor de umidade. Já o módulo de ruptura apresentou características semelhantes ao módulo de elasticidade, sendo que quando o teor de umidade se encontrava em menores níveis, o módulo de ruptura era maior, já em torno do ponto de saturação das fibras, o módulo de ruptura sofreu uma certa estabilidade. Em geral, pode-se dizer que o teor de umidade de 25%, representado pelo tratamento 6, é aquele que difere significativamente nas três variáveis analisadas, esse fato pode ser explicado pelo posicionamento em que a madeira foi retirada da árvore para a fabricação do corpo de prova. Houve uma alta correlação entre o teor de umidade e as variáveis de densidade, módulo de elasticidade e módulo de ruptura. AGRADECIMENTOS Empresa Klabin – Unidade Otacílio Costa – SC Madepar Indústria e Comércio de Madeiras Ltda UNIPLAC – Universidade do Planalto Catarinense UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS . NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, 1997. ARMSTRONG, J.P.; SKAAR, C.; DE ZEEUW, C. The effect of specific gravity on several mechanical properties of some world woods. Wood Science and Technology, v. 18, n. 2, p. 137 – 46, 1984. BODIG, J.; JAYNE, B.A. Mechanics of wood composites. New York: Van Reinhold Company, 1982. COMISSION PANAMERICANA DE NORMAS TÉCNICAS. Maderas: selección y collección de muestras. COPANT 458, 1972. Disponível em Usos potenciais do Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage. Colombo, PR. Dezembro, 2003. Acesso em 27 de março de 2012. EVANS, J.L.W.; SENFT, J. F.; GREEN, D. W. Juvenile wood effect in red alder: analysis of physical and mechanical data to delineate juvenile and mature wood zones. Forest Products Journal, v.50, n.7/8, p.75-87, 2000. GONÇALEZ, J.C. ; BREDA, L.C.S.; BARROS J.F.M.; MACEDO D.G.; JANIN, G.; COSTA, A.F.; VALE, A.T. Características tecnológicas das madeiras de Eucalyptus grandis W.hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana F. Muell visando ao seu proveitamento na indústria moveleira. Santa Maria: Revista Ciência Florestal, v. 16, n. 3, p. 329-341, 2006. HASELEIN, C. R.; BERGER, R.; GOULART, M.; STHAL, J.; TREVISAN, R.; SANTINI, E.J.; LOPES, C.L. Propriedades de flexão estática da madeira úmida e a 12% de umidade de um clone de eucalyptus saligna smith sob o efeito do espaçamento e da adubação. Santa Maria: Revista Ciência Florestal, v.12, n.2, p.147-152, 2002.

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