CONCENTRAÇÃO DE CHUMBO EM ALFACE CULTIVADA COM DIFERENTES ADUBOS ORGÂNICOS

November 28, 2021 | Author: Caio Prada Klettenberg | Category: N/A
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1 ISSN CONCENTRAÇÃO DE CHUMBO EM ALFACE CULTIVADA COM DIFERENTES ADUBOS ORGÂNICOS Simone Silva Macha...

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.63-70, 2008 ISSN 1517-8595

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CONCENTRAÇÃO DE CHUMBO EM ALFACE CULTIVADA COM DIFERENTES ADUBOS ORGÂNICOS Simone Silva Machado1, Pabline Rafaella Mello Bueno2, Marinna Barros de Oliveira3, Celso José de Moura4 RESUMO Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de dois diferentes compostos orgânicos – cama de frango e torta de mamona – e diferentes formas de aplicação do adubo sobre a concentração de chumbo da alface tipo crespa, da cultivar Mariane. Foram conduzidos três experimentos em uma empresa produtora de alface em sistema de cultivo tradicional, localizada no município de Aparecida de Goiânia-GO, em períodos diferentes, compreendendo o verão e o inverno, de março a setembro de 2004. Os tratamentos foram os compostos orgânicos: cama de frango, torta de mamona e ausência de adubação e as formas de aplicação dos compostos: a lanço e incorporado ao solo, no sulco de plantio e na cova. As fontes de variação composto orgânico e formas de aplicação não influíram estatisticamente na concentração de chumbo nas folhas de alface nos três períodos de cultivo estudados. No terceiro período do ano (AgostoSetembro) as amostras avaliadas apresentaram maior nível de chumbo, com exceção das amostras cultivadas sem adubação. Os maiores valores de chumbo foram encontrados nas amostras cultivadas com cama de frango, seguidas das cultivadas com torta de mamona. As concentrações médias de chumbo na alface produzida na empresa avaliada foram 1,38, 0,83 e 0,15 ppm peso fresco, respectivamente para as amostras adubadas com cama de frango, torta de mamona e sem adubação. Os teores de chumbo encontrados nas amostras cultivadas com cama de frango e torta de mamona foram superiores ao limite máximo permitido preconizado pelo Codex Alimentarius. Palavras chaves: Lactuca sativa, cama de frango, torta de mamona. CONCENTRACION OF LEAD IN LETTUCE CULTIVATED WITH DIFERENT ORGANIC FERTILIZERS ABSTRACT The aim of this work was to evaluate the effect of two different organic compositions - chicken manure and castor oil plant pie - and different forms of fertilizer application on the concentration of lead in the lettuce of cultivating Mariane. Three experiments were led in a company producing of lettuce in a traditional cultivation system, located in Aparecida de Goiânia-GO, in different periods, concerning the summer and the winter, from March to September of 2004. The treatments were the organic compositions: chicken manure, castor oil plant pie and manuring absence and the forms of application of the compositions: throw and incorporate to the soil, in the planting furrow, and in the hole. The organic compositions and the forms of application didn’t influence statistically on the concentration of lead in the lettuce leaves in the three studied cultivation periods. The appraised samples presented larger lead level in the third period of the year (August-September), except the samples cultivated without manuring. The largest lead values were found in the samples cultivated with chicken manure, followed by the ones cultivated with castor oil plant pie. The medium concentrations of lead in the lettuce produced in the appraised company were 1,38, 0,83 and 0,15 ppm fresh weight, respectively for the samples 1 Professora Doutora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás – Unidade de Ensino de Inhumas. End: Av. Universitária, s/n, Vale das Goiabeiras Inhumas – GO, CEP: 75400-000. Fone: (62) 3514 9516/3514 3909. Fax: (62) 3514-9500, e-mail: [email protected]. 2 Acadêmica do curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás (UFG). End: Rua Mamédio Calil nº111, Centro, Inhumas-GO, CEP: 75400-000. Fone: (62) 9252-7312, e-mail: [email protected]. 3 Acadêmica do curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás (UFG). End: Rua C263 nº36 Apto. 803, St. Nova Suíça, Goiânia-GO, CEP: 74280-260. Fone: (62)9929-4233 e-mail: [email protected]. 4 Professor Adjunto da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás (UFG). End: Rua R20 Qd.19 Lt.14, St. Itatiaia, Goiânia-GO. Fone: 3521-1537, e-mail: [email protected].

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fertilized with chicken manure, castor oil plant pie and without manuring. The lead concentrations found in the samples cultivated with chicken manure and castor oil plant pie were superior to the allowed maximum limit extolled by the Codex Alimentarius. Keywords: Lactuca sativa, chicken manure, castor oil plant pie. INTRODUÇÃO Os metais pesados podem se acumular nas partes comestíveis das plantas que são consumidas pelos homens e animais. A absorção dos metais pesados pelas plantas varia conforme a espécie, abrindo a possibilidade de adaptar os cultivos conforme o nível e o tipo de contaminação do solo. Geralmente, os níveis mais altos de concentração se dão nas folhas, e os mais baixos, nas sementes (Iretskaya & Chien, 1999). Segundo Simeoni et al. (1984), cereais, gramíneas, legumes e olerícolas tuberosas tendem a acumular menos metais do que plantas folhosas de crescimento rápido, como a alface. A presença de chumbo em alimentos pode resultar de várias fontes: absorção por plantas presentes em solos com concentrações elevadas desse elemento ou tratadas com pesticidas à base de arseniato de chumbo; deposição de Pb na superfície de vegetais consumidos por animais empregados no consumo humano ou consumidos pelo homem diretamente; adição inadvertida de Pb no processamento de alimentos; liberação de Pb de latas de conservas e cerâmicas usadas como utensílios na alimentação (Sapunar-Postruznik et al., 1996). O chumbo no solo é tido como um elemento não-essencial. Reage com vários componentes do solo o que diminui sua mobilidade. Compostos de chumbo como chumbo tetra etila colocados na atmosfera pelos veículos e pelas indústrias podem ser levados para longe e depositados pela chuva. É um dos metais móveis no solo (SANEPAR, 1997). O chumbo se acumula no organismo formando ligações covalentes (complexos), principalmente com grupos sulfídricos (-SH) de moléculas biológicas, e também com grupos amino e carboxílicos. A interação do Pb com o grupo–SH é considerada como o efeito toxicológico de maior significado (Oliveira, 2003). As principais ações tóxicas do Pb no organismo humano compreendem: biossítese do grupo heme, sistema nervoso, sistema renal, trato gastrointestinal e fígado. As principais vias de absorção do Pb inorgânico são os pulmões e

o trato gastrointestinal (Oliveira, 2003). O comitê da FAO/OMS (1994), acerca dos efeitos e limites de exposição ao Pb, afirma que a estimativa de queda do Quociente de Inteligência (QI) é de 1 a 3 pontos para cada aumento de 0,1 mg. L-1 de Pb no sangue de crianças. Em crianças, a absorção do chumbo ingerido é maior que nos adultos (Ziegler et al., 1978) e depende do tipo da dieta alimentar e do estado nutricional do indivíduo (Mahaffey, 1990). O efeito tóxico em crianças é maior porque o chumbo depositado nos ossos fica em constante mobilidade devido ao seu crescimento. O esqueleto, na primeira infância, aumenta quarenta vezes em relação à sua massa original, e durante esse período há uma maior capacidade de acumular chumbo (CPEHS/OPS, 1988; Murta, et al., 1993). Ziegler et al. (1978) mostraram que as crianças absorvem cerca de 40% do chumbo ingerido, enquanto que os adultos absorvem somente 5 a 10%. Aproximadamente metade da ingestão humana de Pb ocorre através de alimentos, dos quais mais da metade é de origem vegetal. A cadeia alimentar solo – planta – animal – homem caracteriza mais propriamente uma diluição do que um acúmulo. O fator de diluição é de aproximadamente 1000 e em áreas industriais poluídas é de apenas 100 (Tsuchiya, 1986). Devido à elevada toxicidade do chumbo, mesmo em nível de traços, as autoridades sanitárias mundiais estão preocupadas em estabelecer medidas para reduzir a concentração desse metal nos alimentos, uma vez que são considerados a principal fonte de ingestão desses contaminantes (Schaffner, 1981). Tendo em vista os graves problemas de segurança alimentar que podem ser condicionados pela ingestão de chumbo, este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de dois diferentes compostos orgânicos – cama de frango e torta de mamona – e diferentes formas de aplicação do adubo sobre a concentração de chumbo em alface crespa. MATERIAL E MÉTODOS Foram conduzidos três experimentos em

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uma empresa produtora de alface em sistema de cultivo convencional localizada no município de Aparecida de Goiânia, em Goiás. O primeiro foi realizado no período de março a abril de 2004, longo após o término de um intenso período de chuvas. O segundo foi conduzido no período de junho a julho de 2004, período de seca. E o terceiro experimento foi conduzido no período de agosto a setembro de 2004. Utilizouse alface do tipo crespa, da cultivar Mariane, com 45 dias de ciclo, produzida em sistema convencional. As mudas de alface foram preparadas em estufa, onde a semente foi plantada em cartela contendo substrato úmido (terra, serragem e casca de arroz) e vermiculita. A irrigação foi feita por aspersão, quatro vezes ao dia. Os tratamentos foram obtidos pelos compostos orgânicos e formas de aplicação dos compostos; dispostos em esquema de parcela sub-dividida, sendo o delineamento experimental em blocos casualizados, com quatro repetições. Os compostos orgânicos utilizados foram: cama-de-frango (com tratamento passivo de 40 dias, realizado no fornecedor) e torta de mamona, com aplicação de dose única (20t/ ha) para ambos, realizada no solo um dia antes do transplantio das mudas. Os compostos orgânicos foram distribuídos de três formas: a lanço e incorporado ao solo, no sulco de plantio e na cova, a uma profundidade de aproximadamente 10 cm. O terceiro tratamento foi constituído do cultivar plantado na ausência de adubação. Aos 45 dias as plantas foram coletadas, acondicionadas em embalagens plásticas limpas de primeiro uso e encaminhadas ao Laboratório de Físico-Química do Setor Tecnologia de Alimentos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás. As plantas foram lavadas em água corrente seguida de água destilada, de acordo com o procedimento recomendado por Miyazawa et al. (1999), e secas em estufa de circulação forçada de ar a 65°C, até atingirem peso constante. A seguir, as amostras foram trituradas e em extrato de digestão nítricoperclórica determinou-se o teor de chumbo por espectrometria de absorção atômica (Bataglia et al., 1983). Foi utilizado o espectrofotômetro de absorção atômica, marca Perkin Elmer, modelo 1100 B, equipado com corretor de deutério e lâmpadas de catodo oco de chumbo. Os dados de cada experimento foram submetidos à análise da variância e quando constatada a significãncia pelo teste F, os tratamentos foram comparados pelo teste de

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Tukey ao nível de 5% de probabilidade (Gomes, 1987). Utilizou-se o teste “t” para as amostras adubadas com cama de frango e torta de mamona, considerando-se os três períodos de cultivo, para a comparação das médias das concentrações de chumbo. A análise estatística foi realizada pelo programa Statistical Analysis Sistem for Windows, versão 8 (SAS, 1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os compostos orgânicos e as formas de aplicação não influíram na concentração de chumbo nas folhas de alface nos três períodos de cultivo (Tabela 1). A média encontrada no período AgostoSetembro nas amostras cultivadas em ausência de adubação foi a menor observada, e é inferior ao valor encontrado por Mohamed et al. (2003), 3,7 ppm de chumbo na alface, peso seco. Tahvonen & Kumpulainen (1998), citados por Mohamed et al. (2003), relatam, para alimentos produzidos na Finlândia, concentrações de chumbo em cereais na faixa de 9,0 µg kg-1 peso seco, e em alface os valores encontrados foram entre 1,1 e 4,5 µg kg-1 peso seco. Esses valores divergem da maior parte dos valores encontrados no presente trabalho para as plantas cultivadas com os compostos orgânicos, com exceção das amostras cultivadas com torta de mamona no período de Junho-Julho. Quanto às formas de aplicação, o menor valor médio observado foi no período JunhoJulho, para as amostras em que foi utilizada a distribuição do adubo no sulco de plantio. A aplicação a lanço apresentou o menor valor médio de chumbo, entre as três formas, no primeiro período do ano estudado, sendo em média 69,87% menor que o maior valor médio observado, que foi para a aplicação direta na cova. Já no período Agosto-Setembro, o maior valor médio encontrado foi para a aplicação a lanço, sendo este mais que o dobro do menor valor. Apesar da análise estatística não revelar di ferença significativa entre os períodos estudados, verificou-se que no terceiro período do ano (Agosto-Setembro) as amostras avaliadas apresentaram maior nível de chumbo, com exceção das amostras cultivadas sem adubação. Considerando que este foi o período de maior seca na região e de maior incidência de ventos e sabendo-se que a poeira é um dos principais veículos de transferência do metal para as plantas (Bolger et al., 1996), esta

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poderia ser uma das possíveis explicações para os resultados encontrados. Os valores para as concentrações de chumbo na parte aérea das plantas foram variáveis, sendo maiores as variações nas parcelas onde foram aplicados os compostos orgânicos, e menores nas parcelas na ausência de qualquer tipo de adubação. Com base nos

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teores médios de umidade das amostras (94,86% para as amostras adubadas com cama de frango e 94,49% para as adubadas com torta de mamona), os dados foram convertidos de matéria seca para matéria fresca. Nas alfaces cultivadas o teor médio de chumbo e intervalo de confiança da média foram apresentados na Tabela 2.

Tabela 1 – Médias de Pb (ppm peso seco) em função dos compostos orgânicos, formas de aplicação e época de produção, da alface crespa cultivar Mariane, Aparecida de Goiânia, GO, 2004. Alface TRATAMENTOS

Março-Abril

Junho-Julho

Agosto-Setembro

Cama de frango

13,16 a

13,7 a

53,77 a

Torta de mamona

12,44 a

3,89 a

28,47 a

Ausência de adubação

4,49 a

4,05 a

1,18 a

Valor do teste F

1,47 ns

0,47

ns

0,98 ns

Coef. de variação (%)

162,76

311,95

227,01

4,20a

3,08 a

36,19 a

Sulco

11,95 a

2,73 a

29,23 a

Cova

13,94 a

15,82 a

17,99 a

Compostos orgânicos

Formas de aplicação A lanço

ns

ns

1,22 ns

316,24

224,69

0,98

Valor do teste F

1,31

Coef. de variação (%)

167,99

Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo Teste Tukey.

*Significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns Não há diferença estatística.

Tabela 2 - Teores de Pb (ppm peso fresco) e intervalo de confiança da média da alface crespa cultivar Mariane cultivada com diferentes compostos orgânicos, Aparecida de Goiânia, GO, 2004. Composto orgânico

n

Média*

Máximo

Mínimo

Intervalo de confiança das Médias Lim. Lim. Inferior superior

Cama de Frango

36

1,38±3,20

13,41

0,04

0,29

2,46

Torta de Mamona

36

0,83±1,94

8,82

0,03

0,17

1,48

Sem Adubação

36

0,15±0,18

0,66

0,02

0,09

0,21

*Média: ppm ± Erro Padrão da Média.

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Estudos na Dinamarca relataram valores médios de 0,017 mg kg-1 de chumbo em hortaliças folhosas, sendo que 90% das amostras estavam entre os valores 0,005 e 0,042 mg kg-1 (VDF, 1997). Valores similares foram encontrados por Karlowski & WojciechowskaMazurek (1991) e Muller & Anke (1995) para alface, 0,031 e 0,098 mg kg-1 de chumbo, respectivamente. Observou-se que 72,22 e 77,78% das

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amostras de alface, produzidas com cama de frango e torta de mamona, respectivamente, possuíam plantas com os teores de chumbo inferiores a 0,3 mg kg-1. Nas amostras cultivadas na ausência de qualquer adubação, 83,34% das amostras possuíam concentração de chumbo inferior a 0,3 mg kg-1 e 16,6% entre 0,3 e 0,6 mg kg-1, todos com base no peso fresco (Figura 1).

Comparação dos teores de chumbo em alface 90 80 70 60 Amostras (%)

50

cama de frango

40

torta de mamona

30

ausência de adubação

20 10 0 0,3

Figura 1 - Comparação da distribuição de freqüência dos teores de Pb (ppm peso fresco) em alface crespa, cultivar Mariane, cultivada com diferentes compostos orgânicos, de Março a Setembro de 2004, Aparecida de Goiânia, Goiás. Os níveis de aceitabilidade de chumbo em alimentos na Holanda variam de 0,05 a 0,8 mg kg-1. Na Dinamarca e Alemanha a legislação é mais restritiva, com limites de 0,02 e 0,03 mg kg1, respectivamente (IDF, 1992). No Brasil, de acordo com a Portaria nº 685 de 1998 do Ministério da Saúde (Brasil, 1998) os limites máximos de tolerância para chumbo em alimentos é de 0,05 a 2,0 mg kg-1, porém não há referência direta às hortaliças. O Codex Alimentarius (FAO/WHO, 2001) recomendam limite máximo de 0,3 mg kg-1 de chumbo em vegetais. Comparados com estes limites para hortaliças, os teores de chumbo encontrados nas amostras avaliadas foram superiores, para aquelas cultivadas com os compostos orgânicos. Mantovani et al. (2003) encontraram valores para o chumbo em alface de 0,002 a 0,11 mg kg-1 de matéria fresca, o que coincide com os valores encontrados para a alface em ausência de adubação, em que os valores ficaram na faixa de 0,02 a 0,66 mg kg-1, com o valor médio de 0,15 mg kg-1, com base no peso fresco das plantas. Pelo teste de “t” não houve diferença nos

teores de Pb em alfaces adubadas com cama de frango e torta de mamona, ao nível de 5% de probabilidade e houve diferença entre as amostras sem adubação e as adubadas com os compostos orgânicos, levando-se em consideração todas as amostras avaliadas ao longo dos três períodos. Portanto, a provável fonte de contaminação de chumbo na produção, são os compostos orgânicos cama de frango e torta de mamona utilizados, com maior contaminação verificada pelo uso da cama de frango, o que corrobora com o fato dos maiores valores de chumbo encontrados estarem associados à aplicação direto na cova, onde o contato raiz-adubo seria maior. A extração química de metais pesados após longo período de aplicação de dejetos foi avaliada por Mcgrath & Cegarra (1992), levando a concluir que existem claras diferenças entre distribuição química de metais em solos tratados com dejetos de animais e solos tratados com fertilizantes químicos. Puschenreiter et al. (1999) concluíram que, após considerarem os vários modos de reduzir a transferência de metais pesados para a cadeia

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alimentar humana, os solos com nível moderado de poluição por metais pesados podem ser usados para horticultura e agricultura, se algumas precauções forem tomadas. Melo et al. (2000) apontam técnicas como a calagem e a adição de uma fonte de matéria orgânica ao solo. Pondera que é importante, também, a seleção da planta a ser cultivada, que deve ter capacidade limitada de absorver e transportar para a parte comestível os metais pesados que poluem o citado solo. Aumentar a matéria orgânica do solo com sua respectiva decomposição é importante, pois complexa os metais pesados, não disponibilizando-os para as plantas. É difícil se avaliar a ingestão diária total de Pb, pois ela varia amplamente entre populações e indivíduos, além do fato de que muitas informações da literatura não são comparáveis, impossibilitando interpretações mais seguras. Em 1972, o “Joint Expert Committee on Food Additives” estabeleceu como ingestão semanal tolerada provisória (ISTP) de chumbo o valor de 50 µg. kg-1 de peso corpóreo, para adultos, e 25 µg. kg-1 de peso corpóreo, para crianças; em 1993, adotou para todas as faixas etárias a ISTP de 25 µg. kg-1 de peso corpóreo (JECFA, 1993). Considerando um individuo de 60 kg, o valor seguro de ingestão de chumbo seria de 1500 µg por semana. Considerando que o peso médio da alface pesquisada no presente estudo foi de 200g por planta, as amostras forneceram valores médios de 276, 166 e 30 µg por planta, respectivamente para a alface cultivada com cama de frango, torta de mamona e na ausência de adubação. Com base na aquisição domiciliar per capita, na região Centro-Oeste, de alface igual a 0,611 kg por ano (IBGE, 2005), estima-se que o consumo semanal seja de apenas 12,73 g e dessa forma a alface em questão forneceria 17,56, 10,56 e 1,91 µg de chumbo por semana, valores que estão bem abaixo do limite permitido. Seguindo o mesmo raciocínio, o limite de consumo seguro, não considerando outros alimentos e/ou água contaminados, poderia ser de até 5,4, 9,0 e 50,0 plantas de alface por semana por pessoa de 60 kg de massa corporal, respectivamente, para cultivo em cama de frango, torta de mamona e em ausência de adubação. Mesmo considerando o maior valor encontrado em uma amostra, que foi de 13,41 mg kg-1 de chumbo, com um consumo tão reduzido de alface na região Centro Oeste, não haveria risco à população, pois a ingestão

Machado et al.

semanal de chumbo decorrente dessa hortaliça seria de 170,71 µg. Porém, há de se considerar que existam pessoas que consumam quantidades muito mais expressivas, e, neste caso, uma única planta de alface forneceria uma quantidade de 2.682 µg de chumbo. Considerando uma pesquisa com famílias assentadas em alguns municípios do Estado de São Paulo, em que o resultado para consumo médio per capita de alface foi de 8,471 kg em um ano (ITESP, 2005), ao final de uma semana, um indivíduo de 60 kg teria ingerido 2.366 µg de chumbo, com base no maior valor encontrado nas amostras. Em contrapartida, ao se considerar os valores médios, a maior ingestão seria referente às amostras cultivadas com cama de frango, de 243,54 µg de chumbo. Sob esta ótica, no presente estudo somente as plantas cultivadas na ausência de adubação seriam seguras quanto à presença de chumbo, pois o maior valor encontrado nestas amostras forneceriam uma quantidade de chumbo de 132 µg por planta. Uma pessoa, de peso médio 60 kg, poderia, então, seguramente consumir 11,36 plantas em uma semana. As concentrações de chumbo encontradas nesta pesquisa, revelaram uma escala de variação muito alta, o que sugere a realização de outros estudos, que contemple o monitoramento também do solo, para que se possa conhecer qual a fonte de contaminação da alface e desta forma criar mecanismos de prevenção desse agente contaminante, que é de alto risco à saúde do consumidor. CONCLUSÕES • Os compostos orgânicos e as formas de aplicação, não influíram na concentração de chumbo nas folhas de alface nos três períodos de cultivo estudados. • Os teores de chumbo encontrados nas amostras cultivadas com cama de frango e torta de mamona foram superiores ao limite máximo permitido preconizado pelo Codex Alimentarius. • Considerando o maior valor de chumbo encontrado em uma amostra e o consumo per capita anual de alface para a região Centro Oeste, haveria baixo risco à população, pois a ingestão semanal de chumbo decorrente dessa hortaliça estaria abaixo do ISTP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bataglia, O. C.; Furlani, A. M. C.; Teixeira, J. P. F.; Furlani, P. R.; Gallo, J. R. Métodos de

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