AS EXPRESSÕES FACIAIS-CORPORAIS DAS EMOÇÕES: O REVISOR EM SÉRIE E PARABÉNS

June 27, 2016 | Author: Márcia Bennert Fialho | Category: N/A
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ANAIS DO II CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA – ANDA Comitê Produção de Discurso Crítico sobre Dança– Julho/2012

AS EXPRESSÕES FACIAIS-CORPORAIS DAS EMOÇÕES: O REVISOR EM SÉRIE E PARABÉNS Alexandre Araújo de Oliveira (UFRN)

Alexandre Araújo de Oliveira, estudante da Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ingresso em 2010.) e bolsista da Iniciação Cientifica (Bolsa PROPESQ REUNI 2012) no Projeto Evolucionismo: contribuição e investigação da mente/corpo que dança, sob orientação do Prof. Dr. Marcos Bragato. E-mail: [email protected]

Resumo O presente trabalho propõe uma discussão sobre do papel das emoções em uma analise qualitativa entre dois solos de dança: Parabéns (Alexandre Tripiciano) e O Revisor em Série (Cristian Duarte/Leandro Berton). Por ser o corpo o lugar no qual a dança acontece, observamos a importância de um entendimento que contemple os mecanismos do corpo denominados emoções e sentimentos. Assim, lançamos um olhar com a perspectiva evolucionista que contrapõe a noção de obras artísticas quentes/emotivas ou frias/racionais. Palavras-chave: Evolucionismo, Expressões Emocionais Faciais-Corporais, Parabéns, O Revisor em Série. The Facial-Corporeal Expressions of Emotions: O Revisor em Série e Parabéns Abstract This paper proposes a discussion about the role of emotions in a qualitative analysis of two dance works: Parabéns (Alexandre Tripiciano) and O Revisor em Série (Cristian Duarte/Leandro Berton). Because the body is the place where the dancing happens, we observed the importance of understanding that addresses the mechanisms of the body called emotions and feelings. So, we throw a glance with the evolutionary perspective that opposes the notion of artistic works, hot/cold or emotional/rational. Keywords: Evolutionism, Facial-Corporeal Expressions of Emotions, Parabéns, O Revisor em Série.

Introdução À luz da perspectiva evolucionista, as emoções e os sentimentos estão fortemente entrelaçados e atuam com os processos decisórios. Por serem mecanismos de regulação da vida, as emoções permeiam por, praticamente, toda a vida do organismo, seja ou não de forma consciente. Para os evolucionistas, as emoções são à base de toda motivação, seja dos instintos ou apetites mais primitivos e essências como a procura por alimentos ou parceiros sexuais, ou impulsos e desejos mais

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refinados que nos levam ao sentimento de vingança ou nos fazem tomar determinadas decisões visando ganhos posteriores, por exemplo. De acordo com António Damásio (2004), as emoções ocorrem no teatro do corpo. Elas são ações ou movimentos. Manifestam-se no rosto, na voz ou em outras partes do corpo. Visíveis ou não, promovem comportamentos específicos, enquanto os sentimentos constituem o pano de fundo da mente (DAMÁSIO, 2004, p. 35). Os sentimentos ocorrem no teatro da mente e, também, contribuem para a sobrevivência do organismo. No entanto, de uma forma mais complexa eles são a consciência do estado corporal, dos apetites, das reações metabólicas e das emoções propriamente ditas. Por estarem presentes em quaisquer circunstâncias, e até mesmo nos processos cognitivos de tomadas de decisão, as emoções e os sentimentos também se encontram nos corpos que dançam. Mesmo em obras tidas como “frias” ou racionais. Os estudos nas Ciências Naturais não nos permitem que enxerguemos os corpos dançantes como “frios” ou “quentes” ou como totalmente racionais ou emotivos. Por isso, é possível a sugestão por caminhos diferentes na observação e entendimento do corpo que dança, e mostra como essas emoções e sentimentos estão presentes, mesmo que em níveis diferenciados.

Referencial Teórico A partir do modelo classificatório das emoções proposto por Antonio Damásio (2004) e o modelo das expressões faciais proposto por Paul Ekman (2011), apontamos à existência das emoções a qualquer momento em organismos saudáveis. As emoções estão presentes em variados níveis no corpo, consciente ou não, e não se pode apartar o corpo que dança dessa realidade. Em um estudo de dois solos de dança contemporânea, torna-se patente a presença das emoções e sentimentos de fundo. Por esse viés epistêmico, não se pode afirmar que obras coreográficas são isentas de emoções por serem racionalizantes.

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Objetivos Apontar a importância da discussão sobre o papel das emoções na perspectiva evolucionista e hipóteses das neurociências cognitivas aplicadas na leitura em um corpo que dança; Analisar como se dá as emoções e sentimentos no estudo qualitativo entre dois solos de dança contemporânea: O primeiro, Parabéns, criado e interpretado pelo dançarino e coreógrafo paulista, Alexandre Tripiciano e o segundo, O Revisor em Série, criado por Cristian Duarte e Leandro Berton, e interpretado pelo Leandro Berton.

Metodologia Revisão bibliográfica acerca dos conceitos de emoções e sentimentos propostos pelo Antonio Damásio, e dos mecanismos de expressão dessas emoções propostos pelo Paul Ekman no qual fazemos a aplicação no estudo qualitativo de dois casos. Análise qualitativa entre os solos de dança “Parabéns”, apresentado dentro da programação dos Seminários Avançados do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN e o solo “O Revisor em Série” apresentado na III Semana de Licenciatura em Dança. Ambos necessitaram de revisão em DVD.

Desenvolvimento Na perspectiva evolucionista, as emoções possuem um papel essencial à sobrevivência do indivíduo. Elas são indispensáveis para a manutenção da vida e estão presentes, em condições saudáveis, a todo o momento. No corpo que dança as vemos em uma posição privilegiada, pois o corpo em cena parece amplificá-las em seu nível fácio-corporal.

Parabéns No solo “Parabéns”, observamos uma sutil transição das emoções expressas. Este trabalho está, em grande parte, modelado pelas emoções de fundo, sendo assim seu desenho coreográfico assim como a qualidade de sua movimentação e a própria plasticidade de seus movimentos, estão embebidos por sentimentos de fundo como o cansaço e mal-estar. http://portalanda.org.br/index.php/anais

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No entanto, na ultima parte, a emoção de fundo parece alterar-se. Observamos, nesse momento de forma irônica, um misto de alegria e desdém. Assim, torna-se patente que emoções e sentimentos estão presentes do início ao fim do trabalho, norteando toda composição.

O Revisor em Série O “Revisor em Série” tem como ponto de partida o solo Pressa, criado e interpretado por Cristian Duarte, em 1998. Em parceria com o Leandro Berton, o trabalho surge, em 2009, tendo como pano de fundo a natureza do Self. A cena inicial possui o palco vazio. Ao fundo, saltos do intérprete são sonorizados. Leandro Berton adentra e percorre o palco com único e recorrente salto, como se o modo em que observa o mundo e a si mesmo fosse singular, o que de fato é. Aparentemente, há um abandono típico do embate emotivo: a face quer neutralidade, mas o corpo é impelido à tensão. Ao interromper a sequência de saltos, o quadro

se

altera:

os

marcadores

fácio-corporais

expressam

um

misto

de

alegria/satisfação e raiva/angústia. Seu corpo adquire uma postura mais excêntrica, com movimentos mais expansivos que permite a identificação das emoções ditas como positivas. Observamos um trânsito entre graus emocionais; assim em alguns momentos, o corpo se retrai realizando movimentos concêntricos nos sugerindo as emoções ditas negativas como a raiva e a angústia. A movimentação é lenta e contínua, como “suspensão” temporal. Desta forma amplificam-se os efeitos das emoções expressas no corpo do bailarino. Por esse motivo, a atmosfera adquire um tom um pouco rarefeito e percebemos que o corpo é quem altera a atmosfera da cena. Em seguida, interrompe abruptamente a rarefação da cena e adota uma “postura cotidiana”;

altera

tonicidade da movimentação

que, anteriormente, possuíam

qualidades espetaculares ou cênicas. Com auxílio de alguém da platéia, passa a se trajar de superstar. Observa-se a grande variação de emoções expressas nas faces de ambas às pessoas que estão no palco, enquanto se realiza o diálogo entre performer e platéia. Por fim, trajado de superstar e congruente à roupa, uma trilha pop sonoriza a cena. O intérprete adentra a platéia e pronuncia algumas frases de regozijo. Algo http://portalanda.org.br/index.php/anais

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curioso se realiza: o corpo e a face do bailarino não se alteram conforme a verbalização das frases, contradizendo o sentido semântico das palavras que profere. Contudo, podemos perceber uma ligeira mudança em seu tom de voz. Denunciando assim as emoções presentes mesmo que muito sutilmente.

Conclusão Tendo em mente a discussão teórica a cerca das emoções na perspectiva evolucionista, fica claro a presença das emoções em ambos os casos apresentados. Embora possa haver um distanciamento ou aproximação de um tipo de emoção universal ou estereotipada, não há, em momento algum, uma ausência total das emoções. Mas ainda existem diferenças na forma em que essas emoções são expressas em ambos os corpos: no solo “Parabéns” nota-se movimentos que estão embebidos pelas emoções de fundo; “O Revisor em Série”, por sua vez, traz em seu gestual as emoções estereotipadas, ou seja, as que foram moldadas no vasto tempo evolutivo, contrapostas por uma contínua e fina ironia.

Referências EKMAN, P. A Linguagem das Emoções. Tradução de Carlos Szlak. São Paulo: Lua de Papel, 2011. BRAGATO, M. Bípede sem Pelo: O Caso das Emoções. In: Cadernos do LINCC – Linguagens da Cena Contemporânea. Natal: EDUFRN, v. 3, n. 3, jul/dez., 2009. p. 50-79. DAMÀSIO, A. Em Busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Adaptação para o português do Brasil de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. ___________. O Erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. Tradução do autor. São Paulo: Companhia Das Letras, 1996.

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