1 - Noção de comportamento aditivo

May 24, 2016 | Author: Filipe do Amaral Alves | Category: N/A
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Módulo Nº 4 – COMPORTAMENTOS ADITIVOS

1 - Noção de comportamento aditivo Entende-se por comportamento aditivo ou dependência, qualquer atividade, substância, objeto ou comportamento que se tornou o centro ou foco principal da vida de alguém e afasta/exclui essa pessoa de outras atividades ou prejudicaa física, mental ou socialmente. As dependências físicas de diversos produtos químicos como o álcool ou as drogas e a dependência psicológica de atividades como o jogo compulsivo, o sexo, o trabalho, o exercício físico, as compras, a comida, … são igualmente patológicas e devastadoras para quem delas sofre.

O processo de dependência é uma síndrome de características psicológicas e comportamentais que se expressa em cada indivíduo de forma particular mas que exibe uma impressionante semelhança entre sujeitos dependentes, independentemente das suas circunstâncias específicas e vícios particulares. Características comuns nos sujeitos com comportamento aditivo:  



Baixa auto-estima e depressão; Obsessão evidente: atribuição de uma importância excessiva a uma determinada substância (ex: álcool) ou actividade/comportamento (ex: jogar computador, fazer compras); Pensamento direcionado apenas para aquele objecto, atividade ou substância (não consegue pensar em mais nada);

Psicopatologia Geral – Módulo 4 – Comportamentos aditivos

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Imunes às consequências adversas do seu comportamento e resistência à sua modificação; Persistência, inflexibilidade e repetição de um determinado comportamento; Um conjunto de defesas psicológicas que não deixam o sujeito reconhecer e admitir o problema (negação) e levam-no a ocultar a continuação do processo de dependência; Sintomas de abstinência: irritabilidade, ansiedade, agitação, perda de controlo; Dificuldades nas relações interpessoais: quebra no desempenho profissional, problemas com amigos, familiares, colegas de trabalho; Baixa auto-estima e depressão.

Tratamento: Consoante o tipo e grau de dependência poderá ser necessária a intervenção de uma equipa multidisciplinar ou apenas de um acompanhamento psicológico (psicoterapia) individual. Se tivermos conhecimento de familiares ou amigos viciados numa substância, atividade, objecto ou comportamento anómalo, devemos aconselhá-los a procurar ajuda. Exemplos: Vejamos alguns exemplos de comportamentos aditivos e compulsivos:

Transtornos alimentares Os transtornos alimentares constituem uma verdadeira "epidemia" que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Vivemos em uma sociedade na qual existe o culto da magreza. Assim, comer, um comportamento universalmente tido como agradável, torna-se alvo de preocupação de muitas pessoas. Como usufruir deste prazer sem sentir-se fora dos padrões sociais de saúde e beleza? Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional? De um modo geral, o pensamento doentio das Página | 2

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pessoas portadoras dessas patologias caracteriza-se por uma obsessão pela perfeição do corpo. Na realidade, trata-se de uma "epidemia de culto ao corpo". Essa "epidemia" multiplica-se numa população patologicamente preocupada com a perfeição do corpo e que está afetada por alterações psíquicas caracterizadas por distúrbios da auto-imagem, ou seja, uma representação pessoal incorreta do esquema corporal. A incidência dos transtornos alimentares tem aumentado de forma preocupante e já começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias. Esta busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar. Existem os transtornos alimentares mais tradicionais, que são a anorexia e bulimia nervosa, mas existem outros relacionados com a denominada "cultura do esbelto" – exercício físico em exagero, cirurgias plásticas, … Todos estes transtornos alimentares compartilham alguns sintomas, tais como o desejo de um corpo perfeito e a distorção da imagem corporal diante do espelho. Isto ocorre porque nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito temse convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspeto físico parece ser o único sinónimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde. Compulsão patológica para o jogo O jogo pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo vir a ser a única forma de prazer para algumas pessoas. O jogo patológico é um comportamento recorrente e persistente, que perturba os projetos pessoais, familiares e/ou ocupacionais. A pessoa com esse transtorno mantém uma preocupação constante com o jogo: planear a próxima jogada ou pensar em modos de obter dinheiro para jogar tornam-se o objectivo fulcral dos jogadores compulsivos. Estes afirmam estar mais em busca de "ação" do que de dinheiro. Ora, devido a essa procura de ação, apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para continuar, produzindo o nível de excitação desejado. Os indivíduos que sofrem deste tipo de dependência, continuam a jogar apesar de repetidos esforços no sentido de controlar, reduzir ou cessar o comportamento. Estão sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente. Existe ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a mente do jogador, fazendo com que passe a repetir o comportamento (dependência). O jogador compulsivo costuma tornar-se inconsequente, gastando aquilo que não tem, perdendo a noção de realidade. A síndrome de abstinência pode estar presente. Página | 3

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O comprador compulsivo Assim como os demais comportamentos compulsivos ou aditivos, o comprador compulsivo é, praticamente, um dependente do comportamento de comprar, precisando fazê-lo sem limites para se sentir bem, pelo menos bem naquele momento (para depois arrepender-se). O comprador compulsivo acaba por consumir coisas pelo fato de consumir e não pela necessidade do objeto que é consumido. Ir ao shopping sem realizar algumas compras parece tornar-se quase impossível. Muitas vezes sente-se culpado, porém, como em qualquer comportamento aditivo, o mais comum é perder o controlo da situação. Entretanto, é fundamental diferenciar o simples hábito de comprar do comportamento compulsivo para as compras. Comprar por impulso, mas não por compulsão, é adquirir um bem por sentir uma atração instantânea pelo produto, seja por causa da embalagem, do preço ou do apelo publicitário. Essas pessoas impulsivas pelas compras cometem ‘pequenas loucuras’ ao passar pelos corredores dos supermercados. Leva-se um iogurte ou um pacote de bolachas a mais. Já o compulsivo vai às compras como um viciado que sai de casa para jogar ou à procura de drogas, e a compulsão acaba por ser uma atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto. Trabalhar compulsivamente Com o objetivo de vencer profissionalmente, ganhar dinheiro, sobressair socialmente, tem sido glorificado pelo sistema cultural que a pessoa procure dar o melhor de si trabalhando. O trabalho pode ser utilizado como uma ocupação mental capaz de tomar o espaço de outros sentimentos ou pensamentos mais difíceis de serem vivenciados. Quando a atividade funciona como uma forma de esconder-se, fugir ou não ter que sentir ou pensar noutros problemas, a atividade de trabalhar pode tornar-se compulsiva, aditiva. Neste caso, o trabalho perde sua função natural, passando a ser prejudicial ao bem estar físico, familiar, psicológico e social do indivíduo. Na compulsão pelo trabalho a pessoa vai de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, excluindo da sua vida as opções do lazer, as pausas nos fins-de-semana, o convívio descontraído com a família, etc. A pessoa com uma compulsão pelo trabalho frequentemente exige dos outros o mesmo ritmo que tem para si, costuma criticar demasiado esses outros, exige perfeição, dedicação e devoção ao Página | 4

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trabalho, tal como elas próprias se comportam. E o próprio compulsivo para o trabalho sofre com sua situação. Normalmente são pessoas severas, isoladas, inflexíveis, perfecionistas, amargas e exageradamente “realistas”. Por causa destas características, os workaholics racionalizam tudo na vida, ocultam os seus próprios sentimentos, têm um contato mínimo com eles próprios e mantêm abafados seus conflitos íntimos. Para essas pessoas o trabalho é o seu escudo protetor e, melhor que isso, tratase de uma atitude fortemente enaltecida pelos valores sociais. Mas, na realidade, o workaholic também sofre, normalmente é um insatisfeito consigo mesmo, alimenta a fantasia de ser poderoso e reconhecido pelos seus ‘méritos’. Na verdade, toda essa voracidade para o trabalho pode estar a colmatar sentimentos de angústia por se considerar um pai omisso ou uma mãe ausente, um companheiro fugidio, etc.

Atividade Física Compulsiva A escravidão a que as pessoas das sociedades civilizadas se submetem quanto aos padrões de beleza tem sido um dos fatores socioculturais associados ao incremento da incidência do comportamento compulsivo para a prática de exercícios. É hábito que o ser humano moderno esteja moderadamente preocupado com seu corpo, sem que essa preocupação se converta numa obsessão. Mas, alguns complexos por se estar em desacordo com os padrões desejáveis, podem levar à obsessão pela beleza física e perfeição. Inicialmente a atividade física pode proporcionar prazer, relaxar, fazer com que a pessoa se sinta mais saudável e bonita. Este comportamento liberta substâncias no nosso cérebro, as endorfinas, responsáveis pelo prazer e bemestar. Mas quando isso se transforma num comportamento compulsivo, exercitar-se em excesso pode dar origem a problemas de saúde, atingindo as articulações, o aparelho respiratório e o coração. A atividade física compulsiva deve ser considerada um transtorno obsessivocompulsivo, tanto pela obsessão pela musculatura, como pela compulsão pelos exercícios e ingestão de substâncias que aumentam a massa muscular. Existe, também, uma fragrante distorção da imagem corporal, por parte das pessoas ‘viciadas no ginásio’.

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Didaticamente podemos dizer que existe uma grande semelhança entre comportamentos compulsivos e dependência química: a angústia provocada pela ausência, os sintomas emocionais da abstinência, tais como tremores, sudorese, taquicardia, etc., o caráter compulsivo e repetitivo, a importância que essa atitude ocupa na vida da pessoa, o comprometimento na qualidade da vida familiar, profissional, afetiva e social. É assim que, por exemplo, o ato de jogar tem praticamente o mesmo papel que a droga, ou álcool, a cocaína e outras substâncias psicoativas. O sistema emocional pode ficar comprometido quando se apresenta um comportamento compulsivo constante, comprometendo a realização satisfatória de outras atividades da vida da pessoa e proporcionando sofrimento significativo em outros aspectos.

Questões: 1 – Quando uma substância, como o tabaco, uma actividade, como as compras, um objecto, como o computador, ou um comportamento, como comer desenfreadamente, se tornou o centro principal da vida de alguém e afasta essa pessoa de outras atividades ou prejudica-a física, mental ou socialmente, dizemos que essa pessoa tem um comportamento _____________________ . 2 – Leia os tópicos relativos às características do comportamento aditivo. Conhece alguém cujo comportamento se enquadre nesta tipologia? Em caso afirmativo, descreva o comportamento dessa pessoa. Em caso negativo, ficcione uma qualquer adição e elenque alguns comportamentos inerentes à mesma. 3 – “Nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem- se convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspeto físico parece ser o único sinónimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.” - Concorda com a afirmação? Na sua experiência quotidiana, e no contato que estabelece com outros jovens, constata os fatos descritos acima? Justifique. 4 – “(…) apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para continuar, produzindo o nível de excitação desejado.” - Tente encontrar uma explicação para o comportamento acima referido. Página | 6

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5 – Que conflitos interiores podem tentar ser ocultados através do trabalho ou do estudo compulsivo? Recorra a exemplos para ilustrar a sua resposta. 6 – Inicie o seu portefólio na disciplina de Psicopatologia Geral. Poderá:  elaborar uma reflexão pessoal sobre os comportamentos aditivos estudados;  fazer uma pesquisa na internet de textos sobre a temática e incluir no seu dossiê (com testemunhos/relatos na 1ª pessoa);  fazer uma simples recolha de imagens e comentar as mesmas;  recolher o testemunho de um amigo, conhecido, familiar, que sofra deste tipo de transtorno psicológico;  Outro(s).

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